terça-feira, 20 de novembro de 2012

I - APONTAMENTOS PARA UM ESTUDO SOBRE A VIDA E OBRA DE LOUIS LEGÈR VAUTHIER. A década 1830-40.


Frank Svensson - Prof. Titular de História da Arquitetura e do |Urbanismo - UnB.


.        Louis Legèr Vauthier  1815 - 1901


A França entrara num período de diversidade de regimes políticos sucedendo-se de 1789 até o fim do século XIX. Um período marcado pela débâcle dos grandes proprietários de terra; da aristocracia que havia baseado nela o seu poder, e pela instalação da alta burguesia, já economicamente preponderante como poder político.    O país vinha de uma condição sobremodo agrária, sua população vivendo da terra, os burgos comunicando-se por canais, os caminhos percorridos por pedestres, diligências e carroças. Cada departamento geralmente tendo somente uma cidade raramente com mais de 20.000 habitantes.  Além da capital só Lyon e Marselha possuíam algo acima de 100.000 habitantes.

Desenvolveram-se, no entanto, fatos de grandes consequências em diferentes pontos do país permitindo antever o surgimento de uma era de maquinismo industrial. Não simplesmente marcada pela existência de máquinas, mas também de profissões da indústria que à partir da Inglaterra pouco a pouco invadiam o campo e as cidades francesas. Gerando assentamentos junto a cursos d’água, uma forma de força motora ainda limitada e condicionada do ponto de vista de localização. O maquinismo industrial só se liberaria quanto a isso quando baseado na máquina a vapor, nova força motora versátil quanto a potencia e a localização.


O pai

O pai de Louis, Pierre Légèr Vauthier, engenheiro chefe, nascido em Boulogne (Seine) em 15 de outubro de 1784, havendo ingressado na École Polytechnique em 1801 e na École des Ponts et Chaussées em 1803, nomeado aspirante em 1 de dezembro de 1807, engenheiro em 1 de dezembro de 1808, foi empregado sucessivamente nos departamentos de la Loire, de la Haute Garonne e de la Dordogne, principalmente em serviços de navegação.

Enviado em 1816 para o departamento de Finisière passou em 1818 a servir a marinha, de inicio no porto de Brest, depois em 1824 no porto de Toulon. Retornando a servir no interior do país em 1825, foi ligado ao serviço de la Compagnie dos canais da bacia do rio Corrèze e do rio Vézère, e depois aos estudos desenvolvidos para a navegação do rio Dordogne. Nomeado engenheiro chefe para este serviço em 1 de novembro de 1838 foi encarregado em 1843 do serviço do departamento de Corrèze, depois em 1846 da lª seção da navegação de rio Loire. Faleceu em 29 de novembro de 1847; quando era encarregado de estudos relativos ao armazenamento de águas na parte superior da bacia do rio Loire.

A carreira do pai de Louis Lèger Vauthier como engenheiro está ligada a trabalhos científicos de valor, e que Dupuit1 cita várias vezes em seus estudos sobre o movimento dos cursos d’água. Esses trabalhos estão resumidos em duas memórias inseridas em Sur la théorie du mouvement permanent des eaux courantes e na descrição de experiências feitas em Roanne por Pierre Vauthier e por seu filho Louis, engenheiro de pontes e estradas.

Este ultimo trabalho foi publicado em Rouanne em 1847 e em les Annales em 1848. (TARBE DE SAINT-HARDOUIN, F.P.H. Notices biographiques sur les ingénieurs des ponts et chaussées, etc. 1884).

Em relatórios de trabalho apresentados por Louis Lèger Vauthier em Pernambuco é mencionada correspondência trocada com seu pai sobre a rede de esgotos de Recife.

1 - Arsène Jules Emile Juvénal Dupuit (1804-1866). Engenheiro eminente em vários ramos, em particular no da economia política. Em 1844 publicou De la Mesure de l’utilité des Travaux Publics e em 1849 De l'influence des péages sur l'utilité des voies de communication. Encarregado logo após da direção do serviço municipal de Paris, onde se ocupou sobremodo do suprimento de água e do serviço de esgotos, publicando até o fim de sua carreira artigos de economia política e tratados nos diversos ramos de seu domínio.


Graduação

Vauthier seguiu a carreira do pai sendo admitido em l’École Polytechnique em 1834, classificado em 7º lugar. Em 1836 é admitido à l’École des Ponts et Chaussées, classificado em 4o lugar de sua turma tendo concluído o curso em 1838.


Primeiro estágio

Da direção da escola L. L. Vauthier recebe em 1 de maio de 1837 a designação de estágio prático seguinte: 
“Sereis empregado durante a campanha de 1837 no departamento de Serviços Especiais do rio Dordogne. Sob as ordens de Vauthier (seu pai) engenheiro chefe.  É-lhe recomendado que se dirija sem demora a seu destino. Avisaremos ao Sr. Prefeito e ao Sr. Engenheiro em chefe que estarás em Montignac dia 30 de maio. Recebereis em Paris uma soma de 172 francos pela primeira metade de vosso estágio e 122 por custos de viagem. Semelhante soma vos será pago para vosso retorno antes de partir. Encarreguei o Sr. Engenheiro em Chefe de me fazer conhecer exatamente o dia de vossa chegada.

            Sendo vossa instrução prática o objeto essencial de vossas atividades, tereis o cuidado de manter um diário no qual anotareis sucessivamente as observações e experiências de que fores encarregado, principalmente aquilo que possa interessar às artes ou ao trabalho de Engenheiro.

            Prevenirei ao Sr. Engenheiro em chefe que este diário será tido sob seus cuidados; permitireis também a ele vos fornecer as explicações e conselhos dos quais necessitares.  Ao fim do estágio, ele vos fornecerá o certificado mais ou menos favorá-vel que deverá emitir conforme o artigo 27 do regulamento de 25 de agosto de 1804.

Eu vos recomendo expressamente de entregar esse diário ao Senhor Engenheiro em chefe antes de 10 de novembro. Não será levado em conta quando da classificação ao fim do próximo ano escolar se não estiveres em condições, voltando a Paris, de justificar a satisfação dessa condição.

Vos recomendo ainda de não perder de vista que vosso retorno à Escola é rigorosamente no dia 20 de novembro.
Receba, Senhor, a certeza de minha consideração.
O Conselheiro de Estado. Diretor Geral de Pontes, Estradas e Minas.
Para Sr. Vauthier, aluno de 3a classe à l’École Royale des Ponts et Chaussées. “ 
           

Os cursos d’água como vias de comunicação

Vauban, grande arquiteto militar, admirador incondicional da riqueza hidrográfica da França e de seu potencial, induzira Luis XIV a realizar grandes trabalhos para tornar os rios navegáveis quase após suas nascentes até a foz dos mesmos. O vale do rio Dordogne, aonde veio estagiar Vauthier, era um desses canteiros de obras. No século XIX tal interesse havia aumentado dada a concorrência e a rivalidade comercial dos países europeus.

Essa experiência de Vauthier com relação aos cursos d’água sob orientação inicial de seu pai vai ter sequência em vários de seus projetos futuros  dos quais os principais serão para cursos d’água em Veneza e para a retificação do rio Ebro em Espanha. Mas nem todos os projetos iniciados no Antigo Regime chegaram a bom termo dado a carência financeira que seguiu à Revolução e marcou o período de Restauração. Some-se a isso a concorrência imposta à navegação fluvial pelo surgimento das ferrovias. O avanço das mesmas, contemporâneo ao Segundo Império, muda os hábitos e modifica as paisagens, redistribuindo as oportunidades econômicas das cidades.


O interesse por caminhos de ferro 

            Em 1 de maio de 1837 Louis Vauthier dirige-se ao Diretor Geral da Ecole des Ponts et Chaussées nos seguintes termos:

            Sr. Diretor Geral,
            Ultimamente tive a honra de Vos por a par do desejo de permanecer alguns meses junto ao Sr. . . . (Ilegível, possivelmente Perrier) para estudar praticamente e de maneira especial a construção de máquinas à vapor e particularmente de maquinas locomotivas.

            Num momento em que se procura suprimir inteiramente a administração da direção dos caminhos de ferro, pode que não lhe seja indiferente que alguns engenheiros de Pontes e Estradas procurem se amparar de um dos ramos mais interessantes dessa grande (?) após Curie (?) afim de não deixar à Inglaterra nem a pessoas independentes do corpo o monopólio exclusivo da criação de máquinas locomotivas. Tal é pelo menos o ponto de vista do Sr. Perrier ( ?) no qual me fez entrever os resultados duma (?) perto dele e é assim que teria se dirigido a vós Senhor Diretor Geral.

            Não pondo em dúvida a bondade com a qual vós acolhestes minha solicitação e, persuadido da condescendência demonstrada ao satisfazê-la se as exigências do trabalho não se opuserem, eu convirei, portanto, Senhor Diretor Geral que vossas urgentes ocupações não fizessem perder, talvez, um momento de vista quanto vós vos ocupeis de acertar a lista de minhas atribuições ou estágios; é com tal pensamento que quero novamente apresentá-la.

Daignez agréer l’assurance du profond respect avec lequel je suis,
Monsieur le Directeur général,
Vosso humilde e muito obediente diretor.
L. L. Vauthier
A M. le Directeur général des Ponts et Chaussées.
_ _ _ _ _ _ _

  
A máquina a vapor

Em 1779 os irmãos Périer começam a produzir máquinas a vapor em sua fábrica em Chaillot. Só em torno de quarenta até 1791, vendidas na França e no estrangeiro, dada a interrupção durante a Revolução, tendo que se esperar a Restauração do Império para a retomada da fabricação. Em 1810 havia uma quinzena funcionando na França; em 1820 65 estabelecimentos as possuíam e 625 em 1830. Eram grosseiras, volumosas e barulhentas não se valendo de mais que 10 por cento da energia com que eram alimentadas.

Mesmo que as rodas d’água fossem ainda, em 1830, o motor mais utilizado pela indústria e que algumas eram acionadas por engrenagens movidas a cavalo ou a bois, a máquina a vapor fornece sempre uma energia mais considerável e principalmente mais fácil de mobilizar e de multiplicar. Elimina os inconvenientes provocados por falta de água, ou pelo gelo de inverno ou pela seca do verão. A máquina a vapor funciona em qualquer condição de tempo e não importa em que estação do ano. O aumento de lucro deixa de ser condicionado pela incerteza do clima; é acelerado o ritmo de trabalho; o tempo morto inerente às antigas formas de energia desaparecem.2

2. Levasseur: Histoire des classes ouvrières et de l’industrie em France de 1789 à 1870, vol I, p. 627. 
    

Marc Sèguin (1786-1875) e seus irmãos, Camille, Paul, e Charles

            Não é possível falar de maquinismo industrial na França sem citar os irmãos Seguin com os quais Vauthier teve vários pontos de contato ao longo de sua vida profissional. Marc, um dos professores da École Politechnique (?) é o mais conhecido em razão de suas invenções (o cabo de fios de ferro, a locomotiva à caldeira tubular, etc.), bem como por suas aplicações técnicas (a ponte suspensa de Tournon-Tain sobre o Reno, a estrada de ferro de Saint-Etienne à Lyon, etc.), mas igualmente em razão de seu desejo de ser reconhecido como sábio em dedicação exclusiva. Desde 1838, ele se retira dos negócios para consagrar-se inteiramente à reflexão científica e técnica. O segundo irmão, Camille (1793-1852), foi homem de negócios por excelência entre os irmãos Seguin. Administrou as companhias da família que lhe devem o elevado grau de expansão e de insumos, por vezes consideráveis, realizados entre os anos 1820 e 1850 : a construção de pontes pênsil por toda a França, e mesmo na Itália e na Espanha, às quais se somou a cobrança de pedágio durante muitos anos; a tentativa de uma companhia de rebocadores à vapor; a construção e depois a exploração comercial da linha férrea de Saint-Etienne a Lyon; a construção de uma parte da ferrovia entre Paris e Versaille (margem esquerda); o  engajamento na indústria de extração de carvão no entorno de Saint Etiénne; a concepção e edificação da primeira estação de Perrache em Lyon; compreendendo o desenvolvimento do bairro e um vasto projeto industrial, estudos de iluminação a gás de hulha nas cidades da região, etc., etc.. Um exemplo não só característico, mas da maior importância ao curso da primeira fase do capitalismo industrial vivenciado por Vauthier durante sua graduação na França.3

Em Pernambuco Louis Lèger Vauthier faria construir uma ponte pênsil sobre o rio Capibaribe no que veio a ser o bairro de Caxangá.
         
3. Ver de Charles C. Gillispie o prefácio do livro de Michel Cotte : Le fonds d’archives SEGUIN. Aux origi-nes de la révolution industrielle ne France, 1790-1860. Archives départamentales de l’ Ardèche, 1997.

A Paris de Vauthier

A Restauração descortinara um período de liberdade de expressão. Nos salões aristocratas nos bairros de Saint-Germain e Chaussée d’Antin discutia-se livremente política e literatura. Chateaubriand fizera-se famoso com Pequeno conto americano; Átala; René e o Gênio do Cristianismo. Balzac conquistara os salões e os jornais de Paris com a novela Les Chouans. Ninguém, como ele retratara tão bem a vida de província e captara a ingênua confiança na supremacia urbana. Estudantes e intelectuais atacavam o acadêmico e o clássico. Victor Hugo desertando do Partido Monarquista afirmara: O romantismo não está com nada, o liberalismo em matéria de literatura é que é. O liberalismo literário tornar-se-á tão popular quanto o liberalismo político.

A visão de mundo

Sobre a formação da visão de mundo de Vauthier devemos primeiro salientar o ambiente político-ideológico de sua vida escolar. O pensamento da época tem raízes nas Luzes e na Revolução Francesa, proclamando como um direito fundamental a igualdade de todos os cidadãos à admissão aos cargos públicos segundo a capacidade dos mesmos. O recrutamento igualitário por concurso inverteria inteiramente o antigo recrutamento elitista por origem social. Desenvolveria entre os politécnicos um ideal meritocrático. Uma mudança fundamental em relação ao Antigo Regime no qual a admissão era reservada aos privilégios do berço.

O período escolar de Vauthier é marcado principalmente pelas ideias dos proto-socialistas Saint-Simon e Charles Fourier. Comum a estes é não se aterem enfaticamente ao passado por mais rico que tenha sido, mas apontarem para o futuro anunciando ambos mudanças sociais por vir. São pensadores que abrem o caminho para o corpo teórico revolucionário de Marx. Vauthier foi seu contemporâneo, mas não encontramos nenhuma indicação de relacionamento direto entre os dois. São os três primeiros que nitidamente comparecem na formação de sua visão confiante na emancipação do mundo que o caracterizará por toda a vida.

Saint-Simon percebe viver uma época plena de possibilidades, em particular o desenvolvimento das ciências, que lhe parecem anunciar um progresso das técnicas sem precedente. Estimula-o buscar a síntese das ciências, ultrapassar as Luzes e abrir o caminho da positividade. O homem e as ciências são o objeto de sua curiosidade científica. Saint-Simon dá prosseguimento às pesquisas de Montesquieu em matéria de ciência sociais. Incorpora à ciência a política e o socialismo como comenta Engels em seu livro Anti-Düring: “Em 1816 Saint-Simon proclama a política ciência da produção e anuncia a inclusão da mesma na economia. Se a ideia de que a situação econômica é a base das instituições políticas, só aparecendo de forma incipiente a passagem do governo político dos homens para uma administração das coisas e para uma direção das operações de produção, ou seja a abolição do Estrado, do que se tem ultimamente feito tanto ruído, encontra-se já claramente enunciado aqui”.

        Saint-Simon considera sua época como uma transição que abre a possibilidade de planificar racionalmente a sociedade. Tem por principio primeiro o de que o homem deve trabalhar. Sua obra é um hino à técnica e suas premissas são os ideais socialistas. Compõe-se de vários livros para construir aquilo que denominou de sistema industrial. Com a sociedade industrial surgiria o reino da produção para todos. Concebe um partido industrial, composto de artistas, banqueiros, artesãos, advogados. Reconhece a classe operária, mas sem considerá-la uma força política como tal. Usando os termos classe operária e proletariado não expressa a mesma realidade social da época de Marx. Visa, sobretudo as classes pobres, de mendigos, pobres artesãos e camponeses que sobrevivem graças a trabalhos alternados na cidade, na fábrica e no campo.

          À sua principal obra denominou O Novo Cristianismo. Nela expõe sua opinião sobre o cristianismo. Propugna por uma nova religião capaz de proporcionar bem-estar a todos. Ataca o Vaticano vendo-o como quartel general de jesuítas que dominam toda a sociedade, persuadindo os laicos a se deixarem dirigir por clérigos. Acusa o Papa de conduta governamental contrária aos interesses morais e físicos da classe indigente. Pronuncia-se por um socialismo não democrático mas mais tecnocrático, ou seja o poder deve ser exercido por empresários industriais, mas para o bem de todos, porque a sociedade deve ter por base os homens se conduzirem como irmãos.
_ _ _ _ _

            Charles Fourier liga-se a Saint-Simon na crítica da Revolução Francesa vendo-a mais como um acontecimento político do que econômico-social. A influencia das Luzes lhe foi decisiva, mas criticou-as por sua exagerada tendência de tudo passar pelo crivo da razão. Para ele essa revolução fracassara por não haver atacado o problema social tendo como elemento central a questão das paixões. Queria adicionar um fator afetivo que permitisse ir além do racional.

            Fourier elabora sua teoria das paixões humanas para provar a necessidade do aparecimento da sociedade socialista. Segundo ele são próprias do homem doze paixões: o gosto, o tato, a vista, o ouvido, o olfato, a amizade, a ambição, o amor, familismo ou sentimento de paternidade, a cabala ou paixão pela intriga, a paixão por mariposas, ou tendência a diversidade, a composta ou instinto gregário. Entende o homem como substancialmente bom. Trata-se de criar uma sociedade que favoreça a plena satisfação das paixões humanas, seu desenvolvimento e seu florescimento.

          A partir destas premissas, Fourier esboça o quadro da ordem social, cuja célula é a falange, composta de diferentes séries de produção. Todos os membros da falange tem direito ao trabalho. De bom grado e obedecendo em um todo a suas paixões, enrolam-se nos diferentes grupos de produção. O trabalho é considerado na falange como uma necessidade, como uma fonte de gozo. A ausência de especialização estreita que mutila o homem sob o regime burguês, contribui para isso. No curso da jornada, cada membro da falange muda de ocupação várias vezes. Assim se satisfaz  necessidade de mariposar a necessidade de variedade própria do homem. Fourier dizia dos homens do porvir que sua ativa intrepidez venceria todos os obstáculos, que para eles, a palavra impossível, não existiria. Na sociedade futura os interesses do indivíduo coincidirão com os da sociedade. Chegar-se-á a uma abundância de bens materiais, como resultado de um trabalho criador e altamente produtivo. A distribuição na falange se faz, essencialmente, de acordo com o trabalho e o talento: 5/12 das entradas para o trabalho e 3/12 para o talento. Sob uma foram rudimentar, Fourier expressa a ideia de supressão da oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, entre a cidade e o campo.

            Fourier acreditava na possibilidade de criar falanges no capitalismo. As falanges seriam agrupadas num sistema de falanstérios. Dirigia-se aos ricos, a quem confiava seus projetos na esperança de obter subvenções para executa-los. A fim de atrair os capitalistas prometia-lhes os 4/12 restantes das entradas. Igual aos demais socialistas utópicos ignorava a missão histórica do proletariado não podendo assim apontar uma saída eficaz para libertar a humanidade da escravidão capitalista.


Victor Considerant

Victor Considerant foi professor de L. L. Vauthier e amigo constante. Foi homem político e teórico socialista, discípulo de Charles Fourier, fundador chefe da Escola Societária a qual L. L. Vauthier frequentara em Paris. Era ainda membro da Internacional e franco-maçon. Em 1832 abriu uma livraria, falansteriana que funcionou até 1850. Dela enviava livros e exemplares da revista La Phalange consagrados ao Novo Mundo Industrial e editada na École Polytechnique, os quais L. L. Vauthier colportava em Recife propagando as ideias fourieristas de forma militante.
_ _ _ _ _

Eu gostaria de mencionar um quarto nome influente na formação da visão de mundo de Vauthier, o de August Blanqui, mais conhecido por sua posterior liderança na Comuna de Paris. Em arquivos em Paris pode-se encontrar fac-símiles de correspondência trocada entre eles a partir do Brasil.

A formação profissional de Vauthier deu-se na transição das engenharias militares para as civis. Os alunos politécnicos conjugavam o caráter militar ao universitário. Entre 1835 e 1839 participaram de vários movimentos insurrecionais liderados por August Blanqui, resultando em 1839 em detenções de estudantes poli-técnicos. Vauthier, então, aceita um convite para vir trabalhar em Recife, interrompendo seu curso, seu noivado e suas práticas profissionais. Há de se perguntar se o convite para trabalhar em Recife não lhe foi conveniente e confortável. Interrompe sua formação profissional na França a qual só concluirá enviando um trabalho de conclusão de curso a partir de Recife em 1838. Separa-se de sua querida noiva com a qual virá se casar no consulado da França em Recife 1939. No Brasil continua sua militância politico partidária inicialmente fourierista ao mesmo tempo em que deixa em Recife exemplos de engenharia e arquitetura da maior importância para a história das mesmas no Brasil.

Obs. Num próximo conjunto de apontamentos abordar-se-á O período brasileiro de Luis Lèger Vauthier.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário