domingo, 16 de agosto de 2015

ARQUITETURA E HUMANISMO -- DO HUMANISMO DE ONTEM À ARQUITETURA DE HOJE



Carlos Antonio Leite Brandão  - Professor de História da Arte e da Arquitetura da UFMG. Mestre e Doutor em Filosofia pela UFMG. Dentre suas principais publicações destacam-se:      A formação do homem moderno através da Arquitetura, (1999) e Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti (2001). Ambas pela Editora UFMG. 


HUMANISMO LATO SENSU
O consumo, a tecnociência, o imediatismo, o pragmatismo extremo, o individualismo e a perda da historicidade de uma tradição e de projetos de futuro compartilhados em nossa existência são elementos que fazem do humanismo um termo desgastado, diante do caráter feérico de nossa contemporaneidade e da prevalência de uma cultura material, em que todo espírito parece exilar-se. Acrescente-se a isso a perda da cidade, tanto em sua dimensão física de urbs quanto em sua dimensão política de polis. Não encontramos ambiente e cultura comuns nos quais podemos nos identificar e que sejam um pouco mais largos que o círculo familiar e comunitário. Esse ostracismo faz do humanismo algo estranho e nostálgico, como a lembrança de uma referência primordial contra cuja dissolução resistimos na esperança de desvendarmos o que seja o humano do homem, se ainda há lugar para ele e se vale a pena partirmos ao seu encontro.

A história da filosofia ocidental entende o humanismo de várias formas. Encontramos sua origem entre os gregos, perseguindo uma ciência da natureza e do agir humano, a Metafísica e a Ética, com base na autonomia da razão diante do espaço comum a todos os indivíduos e do universo que os cercava visando a compreendê-lo e torná-lo um cosmos familiar e habitável. Formar o ser humano em função da comunidade em que se está inserido e constituir um universo compreensível eram os eixos em torno dos quais se estruturava a educação e a cultura grega, desde as Artes até à Ciência e à Filosofia.

Uma vez que o homem é um animal político, como diz Aristóteles, e está profunda-mente vinculado à cidade, a realização plena de suas potencialidades só ocorre no âmbito desta e com seus concidadãos, e não na natureza bruta ou na vida privada. É como cidadão, mais do que como indivíduo, que o ser humano deve se formar. Essa formação foi traduzida pelos pais do humanismo latino -- Cícero, Plínio, Quintiliano, Horácio, Sêneca e outros -- como studia humanitatis, os estudos que contribuíam para formar no jovem as qualidade próprias da humanitas, em suma, para humanizá-lo.1  

Era no plano da polis, da história, da filosofia e do direito, sobretudo, que essa educação da humanitas se desenvolvia. A teologia e a transcendência cristãs aprofundaram o Humanismo além do caráter antropocêntrico com que foi pensado entre os romanos e associaram-no à ideia de Deus e de uma espiritualidade não plenamente coincidente com a dimensão mundana e terrena em que transcorre a existência. O Humanismo cristão se faz da descoberta de Deus dentro do indivíduo: o homem toma-se a morada de Deus e esta é a razão de sua grandeza, como sugere-nos Santo Agostinho em De Civitate Dei (XXII, 24, 3-5). Para o homem medieval é como pessoa, mais do que como indivíduo e como cidadão, que ele se realiza. 2

Seja criando um abismo entre os dois universos, o da razão e o da fé, o mundano e o divino, seja procurando conciliá-los, a Idade Média tencionou o humano do homem e obrigou-o a movimentar-se entre os polos da imanência e da transcendência, do presente e da vida eterna. Enquanto disciplina, cumpria a esse Humanismo conciliar o dogma cristão com o saber antigo, sem destruí-lo, realizar a união de uma natureza, já pene-trada de elementos divinos, com uma sobrenatureza onde se pretende encontrar, por meio dos livros bíblicos, a revelação; (...) realizar a união do mundo da natureza e do mundo da graça.3 Assim considerado, o Humanismo medieval se liga ao do Renascimento e ao mundo moderno ou, ao menos, prepara-o, como proposto por vários medievalistas dos séculos XIX e XX, ao retirarem o medievo do mundo das trevas em que ele foi colocado, sobretudo a partir do Iluminismo.

Sem dúvida, é certo não voltar a promover a ruptura total entre o período medieval e os primórdios da Modernidade, tal como Michelet e Burckhardt o fizeram ao definir o Renascimento como a descoberta do homem e do mundo, o que se lê em Kultur der Renaissance in Italia (1860), talvez o trabalho que maior influência teve em nossa noção de Renascimento. O interesse pelo homem e pelo mundo não foi ausente na Idade Média e o estudo dos clássicos ocorreu nas suas várias renascenças, como o demonstra Panofsky. 4

Contudo, isso não apaga as diferenças e distinções do Humanismo renascentista, as quais devem ser recolhidas em chaves diversas daquelas de Michelet e Burckhardt, como veremos adiante. O mundo moderno, recolhendo as tradições gregas, romanas e cristãs, conceberá a realização do ser humano enquanto tal em três planos: em sua dimensão racional diante do mundo natural que o cerca; em sua dimensão política diante dos seus semelhantes e de sua sociedade e de sua tradição histórica; e em sua dimensão transcendente ou metafísica diante do Absoluto, no qual se deposita toda  ideia de Bem e de Verdade que não se sujeita ao relativismo e às contingências. Com o liberalismo e o mercado modernos, os valores e a mentalidade do mundo privado invadiram o mundo público, e a realização do humano do homem aproximou-se de sua realização como indivíduo singular, sem maiores compromissos com o universo físico  e político que o cerca, e em prejuízo tanto de sua realização como animal político quanto corno pessoa.

Bastam-nos esses momentos para verificarmos que o Humanismo não foi um conceito homogêneo e o que se entendeu por humano do homem não permaneceu a mesma coisa ao longo da história. Ao contrário, ofereceu-nos entendimentos diversos e mesmo contrários que não foram propriamente se substituindo ou alternando-se uns aos outros, mas conflitando-se contemporaneamente entre si até chegarem a nós e tornarem cada vez mais complexa a tarefa de realizarmos nossa humanidade. O Humanismo pensado a partir do cidadão e do bem comum colide com o Humanismo pensado como pessoa ou a partir do indivíduo moderno e de sus no plano privado, como predomina em nossos dias.

Repensar o Humanismo hoje tem o propósito fundamental de recolocá-lo a partir do cidadão e do mundo público, com seus deveres e direitos, e não a partir do indivíduo e sua noção restrita de valores, direitos e prazeres. Significa levar ao primeiro plano a construção de uma república onde o bem comum serve como valor e critério maior para a ação particular, sem que, com isso, se perca a realização individual e pessoal de cada um de nós. Para isso, vamos nos servir do século XV e da Renascença italiana para desenvolver os modos de pensar e agir próprios a uma humanitas distinta do humano e do mundo do consumo, da tecnociência, do imediatismo, do pragmatismo, do ego-centrismo, da cultura material e da perda da historicidade de uma tradição e projetos comuns. Apoiaremos nele para recobrar, em nós e para nós, a cidade enquanto polis, urbs e res publica e para repensarmos a ciência e a técnica a serviço de nossa humanitas e como instrumentos de nossa liberdade e expansão de nosso ser, e não como entidades autônomas às quais nossa humanitas é obrigada a servir sem questionar.


HUMANISMO STRICTO SENSU
O sentido mais rigoroso de Humanismo deriva dos studia humanitatis, as humanidades ou ars liberalis, que protagonizaram a educação do homem renascentista. Umanista e umanesimo são termos que se difundiram, ao que parece, a partir da tradicional Universidade de Bolonha, na segunda metade do século XV italiano -- como na Sexta sátira de Ariosto em que se lê: senza quel vizio son pochi umanisti -- mas, já no final do século XIV, o estudo dos clássicos greco-romanos era ciceroniamente designado por studia humanitatis e entendido como aquele voltado para educar o homem em sua humanidade, integrar e aperfeiçoar seu espírito e, por esta razão, o mais valioso.5

O humanista aparece inicialmente como o professor ou leitor dos clássicos, nas cadeiras de humanitas ou umanità do ensino escolástico, e generaliza-se, no século XVI, para referir-se a todo aquele que estuda os clássicos sem ser necessariamente um professor. Entre os séculos XIV e XVI, porém, e tal como apontamos ao introduzir o termo em sentido amplo, o entendimento de humanismo adquiriu nuanças diversas, como na Idade Média, no Renascimento e na Reforma. Mesmo se referido apenas ao Renascimento, varia o que ele designa. Diante da sua origem em torno dos estudos clássicos, Émile Faguet distingue o humanista do homem do Renascimento. Um estudioso dos clássicos não é, necessariamente, um renascentista.

Contrapondo-se a tal orientação, A. Renaudet considera que o espírito que move o estudo dos clássicos no século XV é bem diverso daquele da Idade Média e não se limita ao domínio da pura literatura, do estilo e da expressão em busca de uma forma perfeita do latim e de um apuro técnico concernente apenas ao mundo das letras. Se o objeto da literatura clássica e mesmo o acervo de autores é ainda o mesmo, muda-se radicalmente o modo de lê-los e de ver a Antiguidade e sua relação com o presente.  Há no Renascimento uma força intelectual, moral e política que dá ao estudo dos clássicos um outro objetivo, sentido e função educativa do homem e da sociedade que se pretende transformar: reencontrar um ideal perdido da natureza humana e reformar o ser humano e a sociedade, intelectual e moralmente, com vistas a fazê-los melhores do que foram até então.6

O Renascimento cria, por assim dizer, um tipo mais alto de Humanismo, menos técnico e escolástico e com penetração, apelo e amplitude maiores, visando a transformar hábitos, valores e procedimentos até tornar os homens melhores do que são ou tais como deveriam ou poderiam ser, como alcançado entre os antigos, ou até superando-os, como o Brunelleschi exaltado por Alberti na dedicatória do Da Pintura:

Quem haverá tão insensível e invejoso que não louve o arquiteto Pippo, vendo aqui uma construção tão grande a se elevar ao céu, ampla a ponto de cobrir com sua sombra todos os povos da Toscana, feita sem o auxílio de travamento ou quantidade grande de madeira? Uma tal obra, que se julgava impossível em nossos tempos, não foi provavelmente --  se não estou errado --  nem sabida nem conhecida dos antigos.7

Esse trecho revela-nos como a tarefa humanista, ultrapassando o mundo das letras, ecoa em outros campos como na construção dos edifícios e cidades, também cotejados com o antigo e pensados como símbolos da grandeza projetada que marcaria o homem renascentista italiano e, especialmente, toscano. Ressoa na dedicatória como a cúpula feita por Brunelleschi para a catedral de Florença ultrapassa a dimensão estética e adquire funções éticas, cívicas, pedagógicas e políticas mais proeminentes: ela integra e representa a comunidade toscana, confere grandeza à sua capital, testemunha o ideal de cidade ou república que se pretende construir e estimula os homens a desenvolverem suas potencialidades em um grau tal que equipara ou supera os antigos, como se exemplifica com Brunelleschi. No Renascimento, a atividade humanista ultrapassa o mundo das letras e se estende aos outros conhecimentos e artes em que o espírito opera, sempre tenso e num misto de angústia e esperança, entre a frustração e a salvação, entre a pulsão de vida e a de morte. Um Humanismo que, por abrir-se para enfrentar as contingências e os riscos concretos da vida, traz dentro de si um anti-humanismo que nem a própria Renascença quis esconder. Alberti, protótipo do humanista renascentista para Burckhardt, é simultaneamente o primeiro anti-humanista. Dessa tensão é que emerge a vitalidade do intelectual, do cientista e do artista do Quattrocento.

Temos aí um Humanismo ativo e político, a perpetrar um ideal e uma ética da ação no mundo público. Nesse mundo público, o homem encontra o ambiente favorável para realizar suas potencialidades, construir sua liberdade e aperfeiçoar suas relações com seus concidadãos e com as instituições, valores e hábitos comuns. Esse Humanismo relaciona o mundo clássico e das letras ao mundo do século XV e aos outros campos do conhecimento. Um Humanismo que não apenas recebe a Antiguidade, mas que a interpreta lá no seu tempo e a coloca em função do presente, de modo a construir neste uma forma de vida superior, um ser humano melhor que, com a ajuda da educação, encontre a liberdade de desenvolver suas potencialidades e alcançar sua máxima nobreza e plenitude.

Por tentar conceber essa forma mais alta do humano, trata-se de um Humanismo que, além de ativo, carrega também uma componente utópica indissociável. Essa utopia, realizada na cúpula do Duomo florentino, funciona como um polo a vetorizar as ações humanas, inclusive as técnicas e construtivas das ars illiberalis ou mechanica. É ela o que se expõe nas cidades ideais do período, projetadas para fornecerem uma imagem da harmonia pretendida não só para a cidade enquanto corpo físico, urbs, mas também enquanto corpo político, polis. Essa utopia ativa, cujo similar talvez se encontre nos protagonistas da arquitetura modernista do século XX, como Brasília e Lúcio Costa, é o que sustenta o homem do Quattrocento e o projeto renascentista. Não encontramos sua força na Idade Média e nos humanismos posteriores ao Renascimento, como nas reformas religiosas ou em Lutero, ao atacar o conhecimento, a cultura e a filosofia, consideradas por ele incapazes de salvar-nos de nossa condição miserável.

Ao incorporar essa utopia laica e ativa, temos um outro Humanismo em que o estudo das humanidades se associa ao das artes e das ciências, em que investigar o passado é também investigar o presente, em que a tradição e o novo se articulam, assim como o contingente e o universal. Nele, a realidade concreta é cotejada tanto com o passado quanto com as utopias do futuro, as necessidades se associam aos desejos e o ser humano e a sociedade que somos são tensionados pelo que deveríamos ser. O projeto utópico com vista ao futuro e a visita à Antiguidade são perfeitamente compatíveis: tratam-se de instrumentos através dos quais se desafia o presente instável e os homens tais como são, abrindo espaço para o advento de um mundo melhor e dos homens tais como deveriam ser. Cumpre-nos, aqui, explorar as dimensões desse Humanismo de modo a que possa servir para prospectar não só o homem que devemos ser, mas também os edifícios e cidades em que esse homem pode vir a se desenvolver.

Conjugando-se os sentidos desse humanismo renascentista em vários campos -- letras, artes, humanidades, política, religião, ciência, dentre outros -- foram também vários os conceitos de homem no Renascimento. É mais próprio falar de humanismos -- o que inclui inclusive o anti-humanismo de um certo Alberti, de um certo Donatello ou de um certo Leonardo Da Vinci -- do que um único conceito de homem e de Humanismo, da mesma forma que talvez melhor seja falarmos de renascimentos, em vez de um Renascimento homogêneo e passível de ser reduzido a um denominador comum. Além disso, o interesse pelo homem e pelo mundo não foi ausente no medievo, corno vimos na primeira parte deste estudo, variando apenas o modo com que estes foram considerados e o interesse mais sistemático com que o Quattrocento investigou sua dignidade, mesmo para concluir que esta não existia ou que era inferior até à dos animais, como os apólogos, o Musca, o De canis ou o De equo animante, para atermo-nos apenas à obra de Alberti, nos demonstram.

Não sendo ausente do medievo o interesse pelo homem e pelo mundo, a transição para o Humanismo renascentista não é abrupta. Já Petrarca renovara no século XIV a finalidade da filosofia e da gramática, orientando o estudo delas para a pesquisa do homem em si mesmo e não apenas para apurar tecnicamente a escrita: com Petrarca, exprimir-se é também uma forma de conhecer-se, investigar as próprias potencialidades, criar um homem e um mundo novos e não apenas especular e debater ideias abstratas: mais que scientia, sua filosofia é sapientia, centrada na ética e dirigida não ad speculandum, sed ad opus inventum subiectum... homo. 8   E sua religiosidade, menos que de dogmas, é moral e aprofunda o sentimento do homem como personalidade individual que aspira sua plenitude ou umanhitas. Por outro lado, o primeiro tratado humanístico sobre a dignidade do homem, de B. Facio é de inspiração monástica e, portanto, medieval. A forte herança recebida pelos primeiros humanistas fizeram com que eles fossem muitas vezes considerados ainda como medievais.

Mas, se a herança é a mesma, o modo de usá-la é bem diverso dos intelectuais escolásticos e é isto o que confere uma descontinuidade e uma especificidade aos intelectuais do Quattrocento. Mesmo que a passagem do medievo e seu Humanismo aristotélico para o Renascimento e seu humanismo cívico não seja tão abrupta como sugere Hans Baron, nem por isso deixamos de assistir, no século XV, ao advento de orientações inéditas para o homem conquistar sua virtude e ajudar-nos a conquistar a nossa, seis séculos depois.9

Não é colocar em relevo os valores humanos, mas reorientar o estudo das humanidades para uma dimensão cívica e política que marcou o Humanismo renascentista para Baron. Kristeller, autor profícuo para introduzir uma  abordagem mais rigorosa e menos mistificada da concepção renascentista do homem, vê aquele interesse mais sistemático concentrar os studia humanitatis de Salutati e Bruni, dois dos primeiros humanistas do Renascimento, em sentido estrito, nos campos da retórica, poesia, história e filosofia moral, enquanto que, no final do medievo, eles se concentravam na gramática, no estudo do latim e no aprendizado da versificação segundo os modelos da literatura clássica. 10  A mudança principal não foi em relação aos autores estudados, mas no modo de considerá-los e aplicá-los à formação de um novo homem ativo diante da sua cidade e distante do homem contemplativo do modelo cristão. 11

Com Colucio Salutati e Leonardo Bruni, dentre outros, o posto central passa a ser ocupado pela retórica, em que se recupera o valor dos discursos para a vida pública, produzidos no ambiente das repúblicas citadinas e capazes de formar aquele homem e sociedade novos e livres, que só podem ser educados no espaço das cidades e no meio das disputas próprias à vida republicana. Com isso, o proto-humanismo de Petrarca, voltado para a reforma moral e o autoconhecimento individual, se  expande para o nível público, cívico e político e para englobar a família, os amigos e a pátria. Essa expansão, destacada na concepção do humanismo cívico de Baron, escapa ao olhar de Burckhardt, que compreende o humanismo mais como ação individual isolada do que como ação coletiva do corpo político em que atuam os cidadãos.12 

Além disso, os renascentistas estudam também os gregos, lidos no original. Isso, associado à ênfase na retórica, provoca mudanças tanto nos gêneros e estilos literários quanto também nos conteúdos, visões, ideias e objetivos dos escritos: o interesse do estudo passa a recair mais no sentido e significado deles do que em seus modos e técnicas estilísticas; o poder persuasivo, convincente e educativo dos textos ganha primazia em relação à busca de uma forma elegante, tal como a expressividade da pintura de Giotto foi eleita para renovar a pintura renascentista, dar-lhe um sentido moral e opor-se à elegância aristocrática e vã do gótico tardio, como a de Simone Martini.13

Mais independentes da religião e da teologia e enquadradas com vistas à cidade, à vida ativa e à formação dos homens e sua felicidade terrena, a filosofia moral e a ética tomam-se centrais na indagação filosófica procedida em tomo de temas relevantes para a comunidade, e não em tomo de vãs disputationes entre doutrinas. Também nesse aspecto o autor de referência foi Cícero, considerado na Idade Média como defensor do afastamento do mundo e, como tal, criticado por Petrarca. Leonardo Bruni cria um outro Cícero para o início do século XV florentino e faz dele o símbolo da convicção humanista de que a virtude só pode atingir a perfeição através de uma vida política ativa. 14

Esse studia humanitatis do primeiro Renascimento excluía a lógica, disciplina fundamental da escolástica anterior, pois era justamente contra as deduções abstratas e os silogismos dominantes na ciência e na filosofia do século XIII que os intelectuais do Quattrocento dirigiram suas maiores baterias, como já denunciara Petrarca e que verificaremos mais tarde em Lorenzo Valia, em meados do século XV. 15  O conhecimento por comparação, proporção e analogias, mesmo tendo raízes medievais, torna-se aí um procedimento privilegiado para substituir a lógica escolástica e proceder a novas leituras do mundo e da história. Tendo em vista o poder persuasivo perseguido pela retórica, tais analogias, comparações e metáforas são fundamentais para o caráter ativo e formador pretendido pelos novos humanistas.

O estudo da história, por exemplo, deixa de considerá-la como um depósito de fatos para vê-la dotada de sentido moral e fonte de significados que se entrelaçam ao presente, como em A flagelação de Cristo, de Piero della Francesca, e o instrumento fundamental para fundar a identidade das cidades e ensinar as novas gerações a realizar o humano do homem. No Renascimento, essa educação toma-se prioritária uma vez que a dignidade ou humanidade do homem não pode ser transmitida por herança e nem é recebida por dom ou inspiração divinos. Ela é conquistada e construída, em exercício permanente como recomendava Alberti, acessível a todos e adquirida por mérito e não por privilégios de qualquer ordem. Não é uma graça ou talento, mas o fruto do trabalho, atividade, experiência e convivência em que nos aplicamos durante toda a vida.

Por sua dimensão ativa e educativa, cumpre que o humano do homem se conquiste e se manifeste no mundo público, simultaneamente. Este humano do homem os renascentistas chamavam de virtu -- derivada de vir, "homem" -- adquirida não pela fé, herança ou pura contemplação, mas pela reflexão e diálogo próprios à cidade e à dimensão política e ativa de nossa existência individual, mas que está indissociável-mente vinculada à polis, à civitas. Essa dimensão exige do humanista não ser apenas um estudioso ou literato, mas um cidadão útil para a cidade, seja como homem público, seja como indivíduo privado:

Para o humanista, não resta dúvida de que não existe transmissão hereditária da virtü e de que, portanto, é preciso adquiri-la ao longo da vida e manifestá-la através de atos por todos conhecidos e que sirvam à cidade e não apenas aos próprios interesses mesquinhos. O caminho para atingir esse patamar da exis-tência é indicado pelo próprio jovem, que desde a infância se dedicou com afinco ao estudo das letras. f...1 Os studia humanitatis permitem, assim, aos homens ao mesmo se vincular ao passado, no que ele teve de gran-dioso, e pensar sua época como algo a ser construído pela ação livre daqueles que forem capazes de grandes ações. 16

Por esse caráter construtivo que associa o estudo à ação no presente e expandindo as conquistas da primeira geração, o Humanismo ultrapassa decisivamente o reino das letras e faz da arte habilidade, engenho, ética e razão, os promotores fundamentais da dignidade do homem e da virtude, às vezes, mais até que as ars liberalis em que o Humanismo se fundou, como desconfia Alberti no De commodis litterarum atque incommodis e no Defunctus. Por essa razão, por exemplo, Leonardo da Vinci veio a se apresentar, não sem um certo orgulho, como orno sanza lettere, um homem sem letras.

Na escola neoplatônica da segunda metade do século XV, o Humanismo passa a ser uma matéria mais de profissionais e eruditos e expande-se para a metafísica, o que talvez não fosse visto com bons olhos pelos protagonistas do início do Quattrocento.  O Platão físico e moral que alimentara a renovação de Salutati e Bruni, por exemplo, é substituído pelo Platão metafísico e teólogo que passou a predominar. Em M. Ficino, por exemplo, a dignidade do homem repousa na sua semelhança com Deus e sua posição central que enlaça todo o universo e constitui sua unidade. E para Pico della Mirandola, a dignidade do homem está em sua universalidade e capacidade de admirar a obra divina, amar a beleza e meditar sobre a razão do mundo.

Portanto, ao aproximar-nos do Cinquecento, o humanismo repropõe um caráter mais contemplativo ao lado daquele ativo, que continua atuante como se vê no mesmo Pico, e sua paixão pelo tema da liberdade enquanto escolha que o homem faz para si próprio; em Pomponazzi, e a sua virtude moral em que se realiza a essência humana; e em Maquiavel.17  Contudo, a componente ativa parece enfraquecer, como depõe-nos o expressionismo trágico do último Donatello, a pintura alegórica e melancólica de Botticelli, ou a leitura dos clássicos não mais voltada para a formação do homem completo e de uma humanidade integral, mas, novamente, para a elegância literária ou da vida social, como se ressalta em O cortesão, de B. Castiglione, onde a cultura torna-se um ornamento de corte.
Nesses exemplos, aponta-se um afastamento da vida cívica e um desejo de transcendência e alienação que se difundirá no século XVI. Mesmo que não seja talvez correto dizer que o humanismo político ou cívico converteu-se em metafísico a partir da segunda metade do século XV, o fato é que o Humanismo mudou diante da complexidade crescente dos problemas ou das outras variáveis transmitidas pela tradição e encontradas entre os antigos, como a dimensão trágica da Antiguidade, os escritos satíricos e os desenhos monstruosos e anticlássicos, estudados em Pompéia ou nas ruínas arquitetônicas do helenismo. Assim como se verificava que os exemplos da arquitetura herdada não coincidiam perfeitamente com as regras e proporções definidas no tratado vitruviano ou na linguagem canônica, imaginada para a arquitetura, nos tratados que se multiplicaram a partir do De re aedificatoria, também as questões citadinas não se enquadravam mais docilmente nas tópicas das cidades do passado ou nos autores preferidos dos primeiros humanistas. Diante dessa incongruência, o anti-humanismo, o pessimismo, o abandono das cidades e o refúgio nas villas campestres ou na vida contemplativa tencionaram fortemente aquela dimensão cívica e ativa que reluzira no horizonte do primeiro Humanismo.18

Da mesma forma, a arte que primara no início do século XV pela construção de obras voltadas para o fortalecimento da vida pública das cidades -- seja em sua dimensão simbólica, como vimos na cúpula de Brunelleschi, seja em sua dimensão prática, como no Hospital dos Inocentes, do mesmo autor -- agora se volta mais para servir às pessoas privadas do que à comunidade ou às grandes guildas que patrocinaram seu desenvolvi-mento inicial. À semelhança do pós-modemo em relação ao moderno, o humanismo da segunda metade do Quattrocento e do século seguinte, como em Montaigne, volta-se contra si próprio. O anti-humanismo é a consciência crítica do humanismo aplicada sobre si e sobre o seu próprio tempo. Melhor, contudo, é talvez não vermos humanismo e anti-humanismo como dois momentos contrapostos sucessivos, assim como não há dois Albertis, dois Brunis ou dois Donatellos, mas concebermos o movimento renas-centista como tensão entre polos em luta permanente, desde o seu início, como aquela entre a virtii e a fortuna, obrigando-nos a sempre estar em constante movimento, exercício e vigília, como o olho alado, a efígie que Alberti cunha para si próprio. Em resumo, o caráter inicial erudito e literário do Humanismo medieval expande-se até à moral, à ética, à física e à metafísica, dando margem a um pluralismo de conceitos sobre o homem e sua dignidade, muitas vezes contraditórios entre si. O próprio homem será visto como ser em conflito, impossível de reduzir-se a uma única dimensão, como é magistralmente exposto por Alberti e prenunciado em Petrarca, ao intuir os riscos do conhecer-se a si próprio através dos estudos dos clássicos:

O estudo dos antigos se cruza, sistematicamente, com a meditação sobre o homem como indivíduo real e sobre seu destino, sobre sua história terrena e sobre o seu agir. [...] A dimensão humana que em Petrarca se exprime é uma sofrida coexistência de contrários sem possibilidade de solução sobre o plano da vida. O significado do homem está na tormentosa relação dele consigo próprio que nem mesmo a fé, nunca pacificada, pode sanar. 19

O pluralismo, as correlações e sínteses entre os vários campos e modos em que nossa dignidade se realiza ou não, dá ao Humanismo renascentista um caráter problemático e tenso ao mesmo tempo em que o define. Por exemplo, às vezes num mesmo autor ou artista, como Donatello, em suas sucessivas fases, ou em Alberti num único momento (como por volta de 1450, quando, simultaneamente, ele trabalha no De e raedificatoria e no Momus), a ideia da excepcionalidade humana convive com a que lhe é contrária e complementar: o homem não tem dignidade ou poder algum e chega a ser a pior e mais absurda das criaturas. Daí se seguirá, por exemplo, a plasticidade e flexibilidade monumental do pensamento, como em Leonardo ou Shakespeare, o caráter assistemático da filosofia renascentista, como em Nicolau de Cusa em ou Giordano Bruno, e o ceticismo que encontramos  em Alberti e Montaigne. 20

Além disso, na busca de uma síntese ou, ao menos, de fazer operar o método do conhescimento por comparação e proporção, vários tempos e momentos da história humana são vistos em correspondência e colocados em diálogo entre si. Por isso, Maquiavel se vestia com sua melhor roupa para ir à biblioteca encontrar e conversar com os antigos e Piero della Francesca, em A flagelação de Cristo, associa a cena bíblica com a da sua cidade contemporânea. E, colocando os seres e espaços em relação, as várias disciplinas e conhecimentos fecundam-se reciprocamente. Outras fontes literárias e cenas do seu próprio tempo passam a fornecer temas para a pintura, além das Sagradas Escrituras e das cenas celestiais; poesia, ciências e artes se alimentam reciprocamente até ao ponto de tornarem-se indistintas como nos trabalhos técnicos, anatômicos e pictóricos de Leonardo da Vinci; nos poemas, pinturas e esculturas de Michelangelo; na arte política e na literatura de Petrarca, Dante, Salutati e Bruni; nas gravuras e teorias médicas de   A. Vesalius ou na magia e ciência em Giordano Bruno. Mesmo o simples agrupamento das artes como poesia, artes figurativas e música, fundamental para a construção futura do moderno sistema das artes -- que hoje parece se desintegrar como apontam o cinema ou a arte digital -- foi impensado até o Renascimento.21

A transdisciplinaridade, entendida como aquilo que está aquém ou além das disciplinas, é característica fundamental desse humanismo camaleônico, expandido e polimorfo do Renascimento em que o legível, o dizível e o visível deslizam entre si.22
Por serem essas transdisciplinaridade e diluição de fronteiras do espaço, do tempo e das disciplinas fundamentais para a produção do conhecimento contemporâneo, cumpre-nos também investigar o Humanismo do século XV e proporcioná-lo ao pretendido ou possível para o século XX1.23


VIRTÚ E FORTUNA
O motivo central do Humanismo renascentista foi fazer a virtü prevalecer sobre a fortuna e, com ele, fecharemos esta prospecção de suas ruínas. Essa virtü se conquista tanto no campo moral e individual quanto no campo político e institucional, ambos a serem transformados. No Dante da Monarquia (1309-1313) a reforma política e institucional é condição para a reforma moral, como em geral dentre os humanistas escolásticos, mas no da Divina Comédia (1313) a reforma moral parece preceder à político-institucional. Também Alberti, no século seguinte, verá na conquista da virtü moral através da educação a base sobre a qual erguer a reforma política e institucional que garanta à república e seus cidadãos, soberania e liberdade, paz e felicidade. Os maiores inimigos dessa liberdade e soberania são, para os florentinos do início do século XV, a tirania e as ameaças externas à cidade. Em meados desse século, depois de assinada a paz com Milão, reaparecem como maiores inimigos as disputas internas entre facções e entidades privadas, que ameaçam a estabilidade e a preservação da república, como os signori florentinos. Diante disso, a realização da virtit política prioriza preservar o espírito público, a energia e disposição dos cidadãos em garantir sua soberania e sua liberdade, mais do que em aperfeiçoar a máquina governamental. Apá-ticos, fracos e sem espírito público, a república decai, e é este o motivo principal que possibilitou sua perda na Antiguidade Clássica, segundo o ponto de vista de Bruni. Estudar Cícero nas novas chaves propostas por Petrarca significava buscar a vir virtutis, acessível a todo homem, através da educação, não apenas para nela instruir-se teori-camente, mas também para empreender ações virtuosas e em prol da cidade. Essa educação desenvolve-se em vários campos e não apenas nas letras e nas artes, mas também na moral, nas armas e nas ciências, campos diversos nos quais a mesma virai se conjuga de várias formas para combater a fortuna, também insidiosa em todos esses campos.

Na Idade Média, e ainda em Dante, a fortuna tinha uma força menor e era entendida mais como a Providência Divina do que como ameaça oriunda da dimensão temporal. Na medida em que nossa vida na terra era entregue às mãos de Deus e os acontecimentos não pareciam determinados pela ação humana, a fortuna se confundia com um destino imposto a nós de modo inapelável. No Renascimento, a fortuna deixa de ser Providência Divina e seculariza-se. Em Alberti, inclusive, ela passa a ser interna ao próprio homem, a dilacerá-lo, dividi-lo e incitá-lo sempre à bybris, à loucura e aos atos mais absurdos, trágicos e sem sentido como a mania de edificar (libide aedificandi) ou de querer saber mais do que lhe é permitido por sua condição ou a de guerrear constantemente ou a nunca estar em paz ou satisfeito com nada. 24

No Renascimento, a fortuna e sua volubilidade interfere nos acontecimentos, rompe as coisas humanas, causa-nos aflições e impede-nos de ser feliz. O Humanismo é a arma com que usamos contra ela e pretendemos dominá-la, fazendo-nos senhores de nosso próprio destino, soberanos de nossa vontade e livres, tanto na vida individual como na vida coletiva. Assim como a fortuna, a virtú era conhecida dos medievais, mas é no Renascimento que ela ganha valor ativo e coletivo, não bastando apenas conhecê-la, mas incorporá-la, operá-la e convertê-la em ação para o proveito da polis e da realização de nossa felicidade terrena. É na conquista dessa virtit -- liberdade, soberania e domínio de si e do seu destino --, e não na sua graça divina ou na riqueza ou na nobreza da linhagem familiar, que reside a dignidade do ser humano. Fazendo operar a virtit, conquista-se uma permanência e uma estabilidade não sujeita aos golpes da fortuna, domina-se as vicissitudes e adversidades, conquista-se a honra e o louvor públicos.

O motivo virtü vince fortuna do Humanismo do início do Quattrocento enfraquece durante a segunda metade do século XV e perde toda a fé no início do século XVI. Em parte, isso se deve ao triunfo dos signori, ao avanço dos valores privados sobre a esfera publica e a terrível crise das cidades que irá culminar no saque de Roma (1527) e a volta definitiva dos Médicis para Florença (1530), calando-se o clamor pela liberdade e sepultando-se a tradição republicana. Da mesma forma que deserta-se da política e da vida pública, a cidade é abandonada e proliferam as villas ao seu redor, para as quais se retiram os cidadãos proeminentes. Os tratados deixam de se dirigir aos cidadãos para se dirigir aos príncipes e aos círculos restritos, como em O cortesão, assim como a filosofia, a arte e a arquitetura, agora mais cultivadas dentro das academias e territórios particulares, sob o patrocínio de um mecenas, do que no mundo público, patrocinado pelas guildas. Desfocada a cidade, desfoca-se a virtü e fica-se sem saber como almejá-la ou mesmo de qual virtü se trata.

Nos humanistas do Quattrocento tratava-se de uma virtü única e acessível a todos através da educação. Mas, em Maquiavel, a virtü do governante pode não ser mais a mesma do cidadão comum e a virtude política e pública pode não mais coincidir com a virtude privada. E essa virtude privada, cada vez mais identificando-se com as virtudes morais e cristãs, perde seu caráter operativo e deixa de traduzir-se em ações virtuosas. Verba e real se separam. No lugar da liberdade, da soberania e da realização de nossas potencialidades, busca-se como valor maior a segurança e a conservação da paz. E em vez de as energias serem direcionadas para o bem comum, voltam-se agora para os interesses particulares colocados acima dos da comunidade. Aí, como diz Maquiavel, nasce uma comunidade corrupta e desigual, a qual não pode gozar a liberdade. 25

A pergunta dos humanistas tardios do final do século XV e início do XVI é a mesma que nos aflige: nessa situação, como retomar a virtü, o Humanismo, a liberdade, a soberania e a república? E de que virtü,  Humanismo, liberdade, soberania e república se trata, hoje? Esse ideal republicano, para Maquiavel e Patrizi, não pode ser retomado a partir do povo corrupto e desigual e da democracia populista assumida por Florença após a revolução de 1494. Mas apenas a partir dos príncipes virtuosos. O tom de Guicciardini, mais pessimista, considera esgotada completamente a tradição republicana e impossível ela ser restaurada num povo completamente corrompido. À exceção desse ceticismo de Guicciardini, a resposta dos humanistas tardios considera fundamental estudar sistematicamente as repúblicas do passado, pois é nela que se encontram as lições úteis ao presente, tal como o orgulho cívico, o valor da liberdade, a importância da virtus e da ação comprometida com a coisa pública, o acolhimento de todos os cidadãos igualmente na cidade e envolvidos num projeto de república comum e do homem que deveríamos ou poderíamos ser. Formatar esse Humanismo e republica-nismo num projeto atual é um modo de avistar o novo homem, uma nova cidade e uma nova república.

Avistando-os, passamos a almejá-los e, portanto, começamos a nos assenhorear de nosso destino e tornamo-nos melhores e mais livres do que somos atualmente, seja como indivíduos, seja como membros da cidade, entendida ôn tanto como corpo político como corpo físico arquitetônico e urbanístico, concebido para o Humanismo, hoje.


ARQUITETURA E HUMANISMO, HOJE
Talvez o nosso maior desafio, hoje, seja o de inventar um novo homem. Esse também foi o desafio fundamental dos humanistas no início do Renascimento. Antes de mais nada, eles tiveram de elaborar um projeto dos modelos de ser humano e de cidade, contrapostos aos homens e às cidades existentes, com seus valores, hábitos e modos de pensar e viver. Esse projeto recebeu o nome de Humanismo e a humanidade que ele descreve não existiu plenamente naquela época, nem antes e nem depois. Permanecendo apenas como projeto,  e Alberti percebeu isso nos homens das letras do seu tempo, ele se arruína, estiola-se em sua incapacidade de vir ao mundo para transformá-lo e aos seus habitantes. Por essa razão, os autores desse projeto deram-lhe um caráter ativo, arriscaram-se em fazê-lo obra e introduzi-lo na cidade real.  Reflexão e ação fecundavam-se reciprocamente: verba e res permanecem tencionando-se, mas unidas, e o pensamento se traduz num artefato, num artefazer, numa ação destinada a melhorar o mundo ao redor. No humanista habita também o artista, incluindo aí quem trabalha com a arte da política e a arte das palavras voltadas para dar-nos a ver este mundo e este homem melhor, bene beateque vivendum como diria Alberti. 26

Pensar a arquitetura e o urbanismo humanista implica, portanto, reavermos a capacidade de imaginar futuros modelos de homem, sociedades e cidades que lhes sejam convenientes e condizentes ao que devemos ser e ao que pensamos como o humano do homem, hoje. Descrever cidades, explicar cidades ou pensá-las no futuro apenas como o desdobrar de nossa condição empírica presente e seguindo uma lógica causal, a partir dos dados atuais, é abolir a imaginação que confere ao Humanismo o seu vigor, a sua paixão, a sua persuasão e a sua capacidade de transformar os homens e o mundo em tomo de uma ideia do que desejamos ser e de um mundo melhor do que o que temos. De pouco adianta explicar ou descrever cidades e edifícios, se eles não nos persuadem de nada.

Edifícios e cidades se fazem para atender tanto ao homem real quanto a uma ideia de homem e sociedade por nós pretendidos. Quando se perde o homem real, arquitetura e urbanismo tomam-se especulação inútil e vã, presa a sofismas e a disputationes de uma nova escolástica, movida por uma lógica abstrata desprovida de qualquer sentido como a dos medievais, como em silogismos econômicos, em deduções da tecnocultura ou em elegâncias formais e cortesãs. Aprende-se a técnica da escrita e do latim de Cícero, mas não se compreende o humano que nasce e vive nos seus textos. Desfila-se como na corte de um quadro de Simone Martini, mas cega-se à expressão da vida clamada por Giotto.

Assim também tem sido feita a arquitetura contemporânea, a mover-se a esmo como à espera de um novo humanismo, perdida em arabescos e revelações messiânicas que se sucedem umas às outras, num comércio de novidades e acúmulos carentes do sentido humano e ativo, que dá precisão à mão e forma aos traços. Cumpre, diante dos textos e obras de arquitetura, passadas e contemporâneas, o mesmo tipo de transformação realizada por Petrarca nas leituras de Cícero: em vez de instruir o leitor em competências técnicas e fraseologias elegantes e sofisticadas, busca levá-lo a cultivar a virtude única, a virtus, o humano do homem, a vir virtutis que é a meta de toda educação, como se lê nas Disputações tusculanas. Quando se perde de vista o homem ideal a habitar o nosso projeto, edifícios e cidades perdem sua capacidade de formar-nos e transformar-nos, tomam-se pragmáticos, financistas, estilistas, burocráticos ou cronistas sociais, a reboque do empírico mais banal e vil, do utilitarismo das relações sociais e econômicas, do espetacular e bombástico das formas e técnicas reluzentes nas páginas das revistas, sobretudo especializadas, mas que carecem de um projeto de ser humano e portanto de todo sentido e Humanismo. Enfim, fica-se sempre a reboque de um destino que nos é imposto sob várias formas ou do mero desdobrar-se do mesmo, desprovido de qualquer tipo de humanidade.

Talvez não haja arquitetura e urbanismo sem projetarmos a humanidade do homem que queremos cultivar, sem a aliança com as humanidades e, sobretudo, com a poesia em que este homem e esta humanidade fazem sua aparição. Talvez por isso, a última cidade e república que projetamos tenha sido Brasília. As que vieram a seguir foram a mera repetição do mesmo que de há muito não toleramos, mas que insistimos em descrever, explicar, remendar e repetir. Talvez por sermos homens de muitas informações, mas de poucas visões, capazes de multiplicarmos formas e tecnologias até a ponto de colocarmo-nos a serviço delas e deixarmos de perguntar pelo sentido do que fazemos ou do que criamos. Aí nos sujeitamos ao destino, à fortuna que prevalece sobre a virtü .
  
Quando se perde o homem tensionado pelo que é e pelo que deve ser, e da mesma forma os espaços em que ele habita ou se imagina habitando, vai-se o arquiteto e ficam, no seu lugar, o santo, o messiânico, o cínico, o pragmático, o burocrata, o tecnólogo, o financista, o estilista e o boateiro: sem virtü perdemos a soberania sobre nós próprios, nossa autarkhéia, e deles nossa vida fica à mercê.

O Humanismo inventou um homem para si, para fazer face às instabilidades e crises experimentadas em todos os domínios do real, assim como inventadas e projetadas foram várias cidades favoráveis, para que este homem adquirisse a virtü, que vence a fortuna, e aprendesse a viver na polis, a fazer dela o bem maior e para ela destinar o melhor de suas ações, valores, riquezas e obras. O vínculo entre o homem que se inventa e a cidade que para ele se projeta repercute a dimensão ativa e cívica que distinguiu a educação pretendida no início do século XV: só a cidade desenvolve a virtii, ativa nossas potencialidades, e é nela que conquistamos a máxima e verdadeira liberdade. Sua soberania é a condição primeira para que isso aconteça. Num solo de ruínas floresceu o lirismo e a espiritualidade da poesia de Petrarca, desejosa de atravessar a massa opaca e fossilizada de seu tempo. Nesse solo também cresceu o Humanismo renascentista, a conferir frescor aos clássicos e imaginação para os homens conquistarem o humano de si próprios, na medida em que encontravam os autores e as obras dos antigos. Esse solo de ruínas é também o nosso: seco e sem caminhos, como um deserto, cindido do mundo da virtú. Esse solo parece retomar ciclicamente na história, junto com o Humanismo, embora nunca da mesma forma, seja na Antiguidade, no Renascimento ou hoje.

Encontrar os humanistas do século XV não significa copiá-los, mas tornar-nos dignos deles e prospectar essa dignidade e humanidade em face da deles e no confronto com a história, uma vez que o presente é opaco demais para dar-nos a imagem daquilo que deveríamos ser e para a qual deveríamos nos orientar. Falar do Humanismo renascentista não é voltar ao passado, mas falar de coisas que interessam ao presente, ao nosso contexto e às nossas questões mais localizadas. Evocá-lo é evocar a nós mesmos, despertando, por exemplo, nossa capacidade de fazer projetos e inventarmos um homem e um mundo melhores do que aqueles que herdamos e que o destino parece nos impor. Ser humanista, hoje, é antepor um projeto a este destino, uma virtis à fortuna ou sorte que incide permanentemente sobre nós e à qual costumamos nos entregar quando não nos orientamos para adquirir a humanidade do homem, pauta dos humanismos anteriores e daquele a ser elaborado para o nosso século XXI. O motivo central do Humanismo renascentista foi o combate da virtü contra a fortuna, pois é justamente nele que o homem conquista-se a si mesmo, assume a responsabilidade de construir sua vida e felicidade em terra, realiza suas potencialidades, forma-se em plenitude e, portanto, alcança a sua máxima e verdadeira liberdade.

A cidade e seus edifícios e instituições, públicos e privados, providenciam o ambiente em que esse combate e aquele projeto se realizam. Pensar a arquitetura e o urbanismo humanistas implica em pensá-los como promotores daquela virtis, como instrumentos para a construção de um corpo político com o qual podemos nos identificar e dentro do qual podemos agir, conquistar o humano do homem que deveríamos ou poderíamos ser, educar-nos e projetarmos no futuro a imagem em que nos reconhecer e deixar impresso nosso caráter e nossa herança aos que nos seguirão. Ao inventar um homem e projetá-lo no mundo, os humanistas do Quattrocento inventaram também um passado, investigaram-no não propriamente como um arqueólogo, mas como quem inventa um mito necessário para a compreensão do que somos, do que fomos e do que seremos. O futuro que esse projeto pretende construir funda-se num passado, numa origem verossímil que damos a nós e à nossa história para ganharmos o impulso necessário para nos lançarmos à órbita pretendida.

Dar-se um passado e uma origem é o modo pelo qual nos fundamos e compreendemos hoje aquilo que pretendemos ser amanhã, seja como indivíduos seja como membros de um corpo político. Elaborarmos o mito em que se funda a nossa cidade, a nossa república e a nossa identidade é um encontro com uma história verossímil a ligar -- seja como reta, arco, círculo, mosaico ou palimpsesto -- nossa suposta origem ao nosso futuro. O fundamental para reinterpretarmos o caráter ativo e cívico ou funcionário do humanismo cívico -- como caracterizamos o modelo de homem e de arquitetura alber-tianos para distingui-lo do santo e do cínico e que bem serviria para distinguir-se também do burocrático, do pragmático, do financista e do tecnólogo de nossos dias -- é que o pensamento deixe de partir do indivíduo e do interesse privado, para se fundar no interesse pela cidade e pelo bem comum, que tenha como pressuposto a certeza de que o homem se faz mais homem e mais livre em contato com outros homens, no espaço público, do que nas tiranias da intimidade e dos prazeres privados. 27

O que o humanismo cívico colocou para sua época foi a necessidade de formular valores que estivessem associados à capacidade de agir na cidade em nome dos interesses da própria cidade. Nesse sentido, o elogio da vida ativa pode ser transposto para nossos dias não pela oposição à vida contemplativa, mas em confronto com o ideário liberal contemporâneo, que tende cada vez mais a suprimir o pólo da ação, supondo poder associá-lo sempre à mística da ruptura radical. 28

É a república, a polis, o que ativa nossos talentos e potencialidades e permite-nos conquistar a soberania e a liberdade, enquanto cidadãos e enquanto corpo social. De modo a preservá-la, cumpre dedicarmos a ela o melhor de nossos esforços e mantermos a energia com que defendê-la e ao bem público prioritário. Assim como a apatia e a fragilidade do espírito público diante das ambições privadas e dos interesses das facções arruinou a soberania, a liberdade e a república na Antiguidade, como avaliado por Bruni, a mesma ameaça se coloca em nossos tempos e é preciso que as ações, inclusive arquitetônicas e urbanísticas, se dirijam para a manutenção da energia e primazia do valor público do espaço. Isso, inclusive, redireciona a própria arquitetura do espaço privado, a ser projetado em função do mundo público, ao contrário do que hoje domina: a visão de estar o espaço público em função do mundo privado e a cidade e o bem comum em função dos interesses restritos e dos quais seriam a simples somatória.

Pretendermos um projeto humanista, hoje, implica em identificar, tanto os inimigos atuais a serem combatidos e que fragilizam o mundo comum, quanto providenciar os estímulos, as forças e sentidos e energias. capazes de ativarem nossas potencialidades, talentos  Uns e outros não são mais os mesmos da Antiguidade ou do Renascimento. Ou, ao menos, disfarçam-se em outras formas de tiranias menos explícitas e mais softs, contudo, muito mais devastadoras. Daí a importância de se desenvolver a relação do Humanismo com a arquitetura também em torno da noção de república.

N o t a s
1 - VAZ, Henrique C. de Lima. Humanismo hoje tradição e missão aqui o. p. 13-14. Sobre esse breve texto baseia-se o argumento  desenvolvido.
2 - A noção de pessoa surge quando se transfere ao indivíduo a existência absoluta de Deus, com as ideias de perfeição que lhe são inerentes e que já habitam e constituem interiormente o espírito ou o humano do homem, antes que elas se aqui deixem contagiar pelo mundano. Noção cristã, a pessoa é tida como o ser humano em cuja alma habita o Absoluto frente ao qual ele deve justificar-se. Cf. VAZ. Humanismo  e missão, p. 17.
3 - RENAUDET, A. Autour d'une définition de l'Humanisme, p. 39.
4 - Cf. PANOFSKY, Erwin. Renacimiento y renacimientos en e! Arte occidental, 1975.
5 - Sobre a origem do termo humanismo e dos studia bumanitatis nos séculos XIV e XV, sua difusão no século XVI e seu uso relativamente raro até o final do século XIX, cf. CAMPANA, Augusto. The origin of the word "humanist", 1946. Campana, por sua vez, remete-nos aos estudos de ZABUGHIN, Vladimir. L'umanesimo dinanzi al problema della vita. Atti del Terzo Congresso della Società Filosofica Italiana, Rome, 1909; SABBADINI, Remigio. II metodo degli umanisti. Florence, 1920; e ROSSI, Vittorio, Il Quatrocentto, Millan, 1955.
6 - Cf. RENAUDET. Autour d'une définition de l'Humanisme, p. 12-16. Sobre o novo olhar do Renascimento aplicado ao mesmo cabedal de conhecimento disponibilizado na Idade Média, cf. GARIN, Eugenio. Rinascite e rivoluzioni, 1992.
7 - Utilizamos aqui a tradução de Antônio Silveira Mendonça em ALBERTI, Leon Battista. Da pintura, p. 68.
8 - Cf. BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, p. 32.
9 - The humanism of the fourteenth century, which had retained the characteristics of medieval aloofness from the world, was now transformed into a civic Humanism. The rewaking of the ancient spirit became a parallel in the intelectual sphere to Donatello's and Brunelleschi's rediscovery of Antiquity in the domain of art. BARON, Hans. In Search of florentine civic humanism, p. 13.
10 - Cf. KRISTELLER, Paul O. Concetti rinascimentali dell'uomo e altri saggi, 1978.
11 - A transformação radical imposta por homens como Bruni, Palmieri, Poggio Braciolini e outros foi a de, aproveitando o retorno aos textos da Antiguidade, que na verdade havia se iniciado ainda no século XII com a `redescoberta' da filosofia aristotélica, voltar a pensar nas atividades próprias à vida na cidade como fazendo parte do que de melhor podia-se fazer ao longo de nossa existência. Tratava-se, assim, de recuperar a dignidade da política, utilizando-se de um conjunto de textos antigos cujas referências eram totalmente diferentes das que haviam presidido a reflexão nos séculos anteriores." BIGNOTTO, Newton (Org.). Pensar a república, p. 51.
12 -  Sobre essa diferença entre os humanismos descortinados por Baron e Burckhardt, cf. BIGNOTTO. Humanismo cívico hoje. In: . (Org.). Pensar a república, p. 49.
31 - Giotto transforma a imobilidade icônica em uma imponência monumental, a tragédia em drama; a medida da qual não escapa é a medida moral pela qual o sentimento não exaspera, mas se traduz em ação. A catarsis do drama está na evidência de seus motivos morais, na coerência da ação." ARGAN, Giulio Carlo. Storia dell'arte italiana, v. 2, p. 3.
14 - Cf. BARON, Hans. In search of florentine civic humanism, p. 21.
15 -  Sobre toda a formação e os sentidos das disciplinas adquiridos diante do novo olhar do humanismo cf. BIGNOTTO. Origens do republicanismo moderno, p. 151-160.
16 - BIGNOTTO. Origens do republicanismo moderno, p. 158 e 160. Da mesma forma lemos em Baron que o humanismo visava a uma "education that inspired men to take part in daily life and in the public affairs of the community. At this point the citizens' ideas merged with the humanistic mode of thought". BARON. In search of florentine civic humanism, p. 13.
17 Sobre Maquiavel e o Humanismo, cf. SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno, 1999; e BIGNOTTO. Maquiavel republicano, 1991.
18 - 0 caso paradigmático do próprio Leonardo Bruni, a oscilar entre os dois polos e a desconfiar dos caminhos da república florentina ao final de sua vida, em 1444, ilustra bem, a mudança ocorrida no Humanismo, como descrito em BIGNOTTO. Origens do republicanismo moderno, p. 192-204. Também Alberti, no mesmo período, oscila entre os dois modos de vida e os manifesta claramente no conflito entre Lionardo e Gianozzo, no terceiro livro do Della Famiglia, em que o primeiro defende o caráter cívico e participativo do humanismo enquanto o segundo recomenda a quem tem negócios privados a não misturar-se nos negócios políticos. Cf. ALBERTI. Il libri della famiglia (a cura di Ruggiero Romano e Alberto Tenenti), 1969.
19 - GARIN. Rinascite e rivoluzioni, p. 86-88. Sobre a mudança no propósito da leitura dos clássicos em Petrarca, cf. BRANDÃO. Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, p. 35.
20 - Sobre a diversidade de correntes filosóficas já dentro do medievo, a prefigurar a assistematicidade da filosofia renascentista, cf. a segunda parte de KRISTELLER. Concetti rinascimentali dell'uomo e altri saggi, 1978.
21 - Um resumo da "pré-história" do sistema moderno das artes constituído no século XVIII, desde os gregos e passando pelo Renascimento, encontra-se no oitavo capítulo de KRISTELLER. Concetti rinascimentali dell'uomo e altri saggi, 1978.
22 - Sobre o caráter transdisciplinar e o Humanismo renascentista, cf. BRANDÃO. Transdisciplinaridade: aquém e além das disciplinas, 2003, n. 5. Disponível em: e BRANDÃO. A letra da arquitetura e a arquitetura da letra, 2003.
23 - Recomendamos ainda, de forma a complementar o desenvolvimento do Humanismo no Renascimento e os principais problemas historiográficos a ele concernentes o primeiro capítulo de BRANDÃO. Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, 2000.
24 - Cf. BRANDÃO. Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, p. 249-259. De Alberti conferir principalmente o Theogenius.
25 - Sobre Maquiavel e sobre o combate entre virtii e fortuna, aqui desenvolvido, baseamo-nos sobretudo em SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno, p. 91-210.
26 - Cf. BRANDÃO. Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, especialmente p. 126-133.
27 - Cf. BRANDÃO. Quid Tuna? O combate da arte em Leon Battista Alberti, especialmente p. 126-133.
28. - BIGNOTTO. (Org.). Pensar a república, p. 63. (Grifos meus).


BIBLIOGRAFIA

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VAZ, Henrique C. de Lima. Humanismo hoje tradição e missão. Belo Horizonte: PUC Minas, Instituto Jacques Maritain, 2001. 48p.