sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PREFÁCIO DE UMA ANTOLOGIA COORDENADA PELO PROFESSOR ALDO PAVIANI SOBRE VIOLÊNCIA URBANA


Frank Svensson  
Professor titular aposentado FAU-UnB

Amai-vos uns aos outros e proletários de todo o mundo uni-vos são as conclamações historicamente mais significativas que de distintas épocas ecoam em nossa cultura cristã ocidental capitalista. Uma varreu mundo quando o conhecimento ainda era acentuadamente marcado pela imaginação do desconhecido. Quando o mundo captado pelos sentidos levava a incipientes abstrações. A outra conclamação é expressão do avanço técnico científico e da resultante configuração social. Dá-se numa era em que já se dispunha de poderosos instrumentos produtores de conhecimento objetivo crítico como a universidade e as agremiações obreiras.

Ambas conclamações não perderam sua atualidade e não perderão enquanto persistir mal resolvida a questão da propriedade privada. Estamos adentrando o terceiro milênio da era cristã sem poder manter a propriedade privada senão com a violação dos direitos de propriedade. Os homens de bem são os homens de bens. Para não submetê-los a formas coletivas de uso e de propriedade são forçados a constituir leis, exércitos e polícias que lhes assegurem a privacidade de seus bens. Não conseguem, no entanto, evitar aos destituídos o sentimento e a consciência de injustiça e de inveja e assim o surgimento de reações e de sucedâneos sob forma de vícios e de violências.

Já L. H. Morgan (1818-1881) homem de ciência, norte-americano, etnógrafo e historiador das sociedades primitivas fazia ver que só a democracia na administração, a fraternidade na sociedade, a igualdade de direitos e a instrução geral fariam despontar uma etapa superior da sociedade, para a qual tendam constantemente a experiência, a razão e a ciência.

O advento da sociedade industrial implicou nova distribuição social do trabalho. O moderno proletariado, o dos nossos dias, vivencia o seu trabalho, trabalho assalariado, gerador de mais-valia, como a base da sociedade burguesa capitalista, do consumo e da acumulação de capital. Por outro lado vê-se excluído da superestrutura da mesma, ou seja, do controle e do resultado de seu próprio trabalho, das decisões políticas, e da produção das ideologias dominantes. O atual componente proletário da sociedade burguesa é indispensável e fundamental à mesma, mas impotente à sua superação. Necessita ser re-socializado para passar da condição de objeto social para a de sujeito de uma nova sociedade mais justa e mais fraterna.
Conhecimento da ação recíproca entre a árvore e o bosque, entre a parte e o todo, entre o indivíduo e a sociedade é o grande desafio do nosso tempo. As formas socialmente organizadas, os coletivos de trabalho, e o conhecimento objetivo do que seja a sociedade burguesa são tão indispensáveis um como o outro para a superação da injustiça social. 

A socialização sem conhecimento a respeito não ultrapassará os limites do pensamento crítico. Mantendo a sociedade capitalista como modelo de desenvolvimento chegamos, na melhor das hipóteses, à condição de sociedade do bem estar, porém sem maior equidade social. A re-socialização da sociedade terá forçosamente que advir de seus segmentos obreiros, dos que vivem de seu salário, elevando os mesmos à condição de sujeito do planejamento social e econômico. Um desenvolvimento visando tornar todos burgueses é simplesmente inviável. Ter-se-á, portanto que inevitavelmente produzir conhecimento sobre como chegar a uma sociedade proletária.

A universidade surge historicamente como preciosa resposta à produção interdisciplinar de conhecimento para a solução dos problemas candentes da sociedade. Pondo-se a serviço dos interesses das elites desenvolve, no entanto, teorias desculpativas que lhe distanciam dos interesses de emancipação das classes inferiores. O conhecimento emanado da luta dos trabalhadores por uma sociedade equitativa não é aceito como fidedigno. Limita-se a uma atitude amiga do povo e de pena dos pobres, mas o aumento da violência nesta fase do capitalismo especulativo assusta e instiga a compreendermos sua essência e origem. Muitos são os fatores externos ao individuo cuja alteração leva a atos de violência. Um grupo de pesquisadores de distintas áreas do conhecimento e da ação humana atuantes na Universidade de Brasília resolveu estudar mais a fundo a ação recíproca entre violência e espaço urbano.

A tendência histórica do conhecimento sobre os lugares da vida é a de esclarecer a relação entre a mesma e seu cenário. Sobre como construir cenários há bastante conhecimento desenvolvido. Sobre como construir a vida bem menos. Sobre como alcançar a melhor relação entre a vida e seu cenário ainda menos. O sistema capitalista submete a configuração urbana a um crescente processo de coisificação que facilita a transformação dos componentes construtivos em mercadoria e o valor de uso em simples valor de troca. A cidade é vista como algo em si mesma desvinculada de sua ação recíproca com sua região.

A pesquisa proposta pelos autores desta publicação vai no sentido da universidade relacionar-se com as instituições da vida ativa na cidade. No sentido de estimular a participação como um dos componentes básicos de sua produção. Dentro da distribuição social de uma sociedade democrática levar conhecimento à comunidade, não substituí-la em seu poder de tomar decisões políticas, especialmente quando se trata de decisões locais. Conscientes de que não existem métodos universais senão técnica, social e ambientalmente adequada a cada realidade. Uma forma hodierna de amarmos uns aos outros e de nos unirmos em favor de uma sociedade igualitária e fraterna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário