terça-feira, 13 de novembro de 2012

DEPOIMENTO SOBRE A PRESENÇA DO PCB NA AFRICA E SOBRE A LIDERANÇA DE LUÍS CARLOS PRESTES QUANTO A DESENVOLVIMENTO E URBANISMO.


Frank Svensson – Professor aposentado da Universidade de Brasília e membro do CC do PCB.

O PCB na África
A repressão do regime militar no Brasil fez com que a direção nacional do PCB – exceto um ou dois de seus membros – saísse(m) do território nacional. Alguns foram para Moscou, outros para Praga (onde se  situava a editora da “Revista Internacional” e para outros países da Europa Ocidental. Era a época do eurocomunismo, originado na Suécia, na Grécia e na Espanha. Formaram-se “dois eixos” de opiniões, um entre os exilados brasileiros em Moscou e Lisboa e outro entre os em Milão e Paris. O primeiro eixo congregava mais sindicalistas e profissionais de partido, enquanto o outro era mais caracterizado por intelectuais e profissionais de formação universitária. Para intelectuais brasileiros da época, a Europa se resumia a Paris, desde Ascenso Ferreira, com seu poema “Oropa, França e Bahia”.

Maurício Seidl, oficial superior da FAB designado pelo governo brasileiro para comandar as tropas da ONU no Congo, cassado em 1964, refugiou-se em Paris e dali engajou-se no trabalho do PCB. Mudou-se para Argel, ajudando aquele país a formar pilotos para a recém-fundada Air Algerie. Comandando aviões ligava aquela cidade a várias capitais europeias e Havana, funcionando também como mensageiro do PCB. Anos depois iria treinar os novos pilotos da Air Moçambique.

A maioria dos intelectuais e universitários do PCB exilados na Europa Ocidental resistiam a se engajar nos partidos comunistas dos países locais e vivenciar seus problemas políticos. Via de regra reuniam-se entre si, a discutir como poderia ter sido e como poderia vir a ser no Brasil. Aos que vieram direto do Brasil chamávamos de autênticos; e aos que passaram pelo Chile, “chilenos”. Nessa atmosfera parisiense criou-se um grupo visando assessorar países do terceiro mundo. Firmou-se um convênio com o governo da Argélia e formou-se uma equipe de assessoramento liderada por Darci Ribeiro, para a construção de três cidades universitárias naquele país.
 
Nesse entretempo a Argélia descobriu que podia ser um dos maiores fornecedores de gás natural do mundo e passou a tomar atitudes “novo-ricas”, contratando empresas de consultoria norte-americanas. Coube-me desenvolver um centro de informática da Universidade Tecnológica de Argel, projeto de Oscar Niemeyer. Concorreram como fornecedores de equipamento uma firma soviética de baixo rendimento, mas insensível às condições climáticas; uma empresa francesa e duas norte-americanas.
A norte-americana que ganhou a concorrência exigia controle total das condições climáticas, temperatura, umidade e falta de poluição. Propôs um volume de equipamentos que era o dobro do necessário à Argélia, que alugaria a metade para a firma ganhadora utilizar a partir dos Estados Unidos. Como reação a essa cosmo politização tecnológica, cresceu o processo de arabização na Argélia.

Prestes, o líder
Meu contato com Luís Carlos Prestes deu-se em Brasília. Ainda estudante, eu estagiava no escritório dirigido por Niemeyer. Éramos quatro estudantes mineiros, já militantes do PCB, hospedados no apartamento do Dr. Geraldo Joffily, diretor nacional do Juizado de Menores, que um dia nos perguntou se queríamos conhecer Prestes. Uma enorme satisfação! À noite levou-nos à casa da poetisa Maria Las Casas, onde Prestes estava hospedado. Havia mais pessoas presentes. Falou-se de vários assuntos relacionados à nova cidade e principalmente de sua futura universidade. Depois Prestes perguntou-nos o que fazíamos e o que achávamos de Brasília. Respondendo dissemos que estávamos orgulhosos de conhecer a experiência de arquitetos brasileiros projetarem a capital de seu país. Ele nos disse haver passado pela região de Brasília com a Coluna, tendo o grupo ficado impressionado com a pobreza reinante. A interiorização do desenvolvimento mostrava-se indispensável. Lembrou-nos a necessidade de novas e autossustentadas cidades de trabalho industrial e agropecuário, algo já em andamento com o plano de assentamento de cidades-colônias agrícolas, proposto por antigos membros da Coluna, já no governo Vargas. Aconselhou-nos a interessar-nos pela experiência em andamento na então União Soviética.

Aí é que veio a grande surpresa. Prestes perguntou-nos se para desenvolver o interior do Brasil era preciso ali construir uma nova capital? Não se esqueçam, acrescentou ele, que estão tirando a condição de capital da cidade mais politizada do Brasil, o Rio de Janeiro. Empolgados com a oportunidade de projetar algo totalmente novo, não havíamos pensado nisso. Nesse instante começou a ficar claro que nos tínhamos deixado encantar por um enfoque simplesmente reformista. O PCB considera que a transformação da sociedade brasileira terá inevitavelmente de incluir a construção de novas cidades autossustentadas, dentro de um processo histórico que tenha como objetivo transformar o objeto social do país.em sujeito do mesmo

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