terça-feira, 19 de março de 2013

UM BARRACÃO, JOVENS PROFESSORES E UM PROJETO DE UNIVERSIDADE – INTELECTUALIDADE NACIONAL: A UNB A PARTIR DO OLHAR CRITICO DE HERON DE ALENCAR



Carla Patrícia Santana

Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II Alagoinhas, Alagoinhas-BA - carlapsantana@hotmail.com





Resumo / abstract

Um barracão, jovens professores e um projeto de
universidade-intelectualidade nacional: a UnB a partir
do olhar do crítico literário Heron de Alencar.

Muitos foram os brasileiros, oriundos de distintos lugares, envolvidos na construção da UnB, daí porque esta ocasião de comemoração dos seus 50 anos ser propícia à emergência das memórias dos que ali estiveram em 1962. Parte dessa memória pode ser conhecida através do acervo do professor e crítico literário Heron de Alencar que contém seus ensaios sobre a Universidade, documentos, organograma do curso de letras, cartas e programa de aulas. Destacarei algumas reflexões evidentes em parte deste material.
Palavras-chave: memória; Heron de Alencar; UnB; manuscritos.


A warehouse, young professors and a national
project of university-intellectuality: UnB from the
perspective of the literary critic Heron de Alencar

Many Brazilian people, hailing from different places, including some exiled by the military coup of 1964, were involved in the construction of UnB, which is why this occasion for the celebration of its 50 years is conducive to the emergence of memories of those who were there in 1962. Part of this memory can be known through the biography and archives of the professor and literary critic Heron de Alencar, which include his essays about the University, documents, organizational charts of the course in Portuguese, letters and classes programme. I will highlight here some reflexions evident in part of this material.
Keywords: memory; Heron Alencar; UnB; manuscripts.



Introdução

Entre os muitos brasileiros saídos de diferentes lugares do país que estiveram envolvidos no projeto de construção da Universidade de Brasília assumindo diferentes tarefas e alguns envolvidos na concepção do seu curso de Letras, estava Heron de Alencar, professor de literatura brasileira, jornalista e crítico literário.

Nesta ocasião de comemoração dos 50 anos da Universidade de Brasília e do curso de Letras desta Instituição, retomo os papéis recolhidos durante anos de pesquisa sobre esse intelectual, pois, dentre as mais de cinco mil folhas e centenas de imagens, parte copiada e parte digitalizada, do acervo da família e doadas por intelectuais entrevistados, se encontram muitos textos sobre a Universidade de Brasília: documentos, longos textos, o organograma da estrutura do Curso de Letras, bilhetes, programa de aulas, além de estudos sobre literatura, alguns publicados e outros inéditos.

Entre esses estudos destaco aqui: “José de Alencar e a ficção romântica”, publicado em A literatura no Brasil (COUTINHO, 1ª ed., 1956; 2ª ed. 1969); Literatura – um conceito em crise (1952); “O Romance Modernista e Contemporâneo” (1953); “Esquema para o estudo do tema do índio na literatura brasileira” (1957); “Aspectos de uma interpretação das Memórias Póstumas de Brás Cubas”, veiculado na Revista Estudos Universitários (1962); e uma série de manuscritos sobre “A temática de Machado de Assis: a consciência da frustração. Frustração e alienação da chamada elite brasileira, na segunda metade do século XIX” (1963)1. Há também pronunciamentos sobre a ditadura militar no Brasil, resultados de conferências e entrevistas durante o exílio, como “O intelectual brasileiro e a ditadura militar: conferencia”, Cuba (1965) e “Sobre el gorilazo en Brasil” (Cuba, 1965). Todo este material ainda está por ser adequadamente tratado e preservado por uma instituição.

Aqui, descreverei e chamarei a atenção para algumas das reflexões que emergem de uma pequena fração desse material: a sua concepção para a Universidade Brasileira e a Universidade de Brasília.

* * * * *

Nascido em 1921 em Crato, Ceará, ainda menino, Heron de Alencar se mudou para a Bahia. Em Salvador, atuou na imprensa local como redator da Página de Literatura do, hoje, maior jornal do Norte-Nordeste, o A Tarde, onde manteve uma coluna de divulgação e crítica literária, além de ter se envolvido em inúmeros movimentos culturais locais, tornando-se uma referência na cidade. Ingressou na Universidade como professor de literatura e ganhou relevo no meio acadêmico por ter desempenhado um papel de destaque naquele espaço a partir de 1950, como assessor do então Reitor Prof. Edgar Santos. Foi então que se iniciou seu processo de pensar a Universidade, quando apresentou propostas de mudanças para o desempenho da instituição na sociedade, destacando-se, também, neste campo. Aliás, desde essa época preocupava-se com a formação de um grupo consolidado que atuasse de maneira sistematizada dentro da Universidade. Daí ao convite feito por Darcy Ribeiro para se engajar no grande projeto da nova universidade foi um pulo: fez parte da comissão de organização da fundação da Universidade de Brasília2.

Para lá ele foi, em 1962, juntar-se ao grupo de professores e estudantes alojados no imenso galpão, um grande barracão, onde fervilhavam ideias.

Estando em Brasília, começou a trabalhar com a equipe convocada por Cyro dos Anjos, então responsável pela coordenação do Instituto Central de Letras, o qual, seguindo as instruções da Reitoria convidou para ocuparem a função de Consultores Heron de Alencar, Agostinho da Silva, Aryon dall’Igna Rodrigues, Ennio Sandoval Peixoto, Manuel Rodrigues Lapa e Antônio Cândido de Melo e Sousa Heron assume as funções de coordenador das atividades de Pós-Graduação e de professor de Literatura Brasileira e Cultura Brasileira, além de exercer o cargo de secretário-executivo do curso de Letras Brasileiras 4.

Sobre essa experiência, escreveu muito, antes e depois do exílio político a que foi submetido em consequência da “invasão norte-americana no Brasil”: elabora o texto “Estrutura da Universidade de Brasília”, para a Comissão de Estudos sobre a Reorganização da Universidade do Brasil, situada no Rio de Janeiro e, para a Conferência Nacional de Educadores, “A Universidade de Brasília, projeto nacional da intelectualidade brasileira”, publicado como Apêndice I no livro de Darcy Ribeiro (1969), A Universidade necessária.

Assim como muitos outros brasileiros, viu esses planos serem interrompidos pelo golpe militar de 64, sua biblioteca foi destruída, seus colegas foram perseguidos e ele próprio enclausurado, junto com dezenas de outros companheiros, na embaixada do México. Do México, passa por Cuba, Tchecoslováquia, Paris, Argélia, Tchad. Em cada lugar, faz pronunciamentos que versavam sobre a realidade brasileira, a experiência da UnB, projetos de outras universidades e de resistência à invasão no Brasil. Como Delegado convidado à Assembleia Mundial da Educação, realizada em setembro do mesmo ano, no México, apresenta o texto “A Universidade Brasileira e a Universidade de Brasília”.

De volta, só em fins de 1971, pelas mãos de Oscar Niemeyer – seu amigo irmão, companheiro desde Brasília e nos projetos das universidades da Argélia. Vitimado por um câncer, é entregue a Paulo Niemeyer, que o leva ao hospital, vigiado pelo polícia política. Falece no primeiro dia do ano de 1972, no Rio de Janeiro, não podendo, portanto, retornar à Bahia nem a Brasília.


Um barracão, jovens professores, estudantes e muitas ideias: memórias da construção do projeto da UnB, “Projeto de formação de uma intelectualidade nacional”, a partir da biografia de Heron de Alencar 

Heron de Alencar viu — e não apenas ele, mas um grande número de pensadores —, com a construção da Universidade de Brasília, novas perspectivas de se pensar uma Universidade diferente. O convite, feito pessoalmente por Darcy Ribeiro, que viajou a Salvador com este propósito, foi intermediado pelo Reitor Edgar Santos, de quem Heron fora assessor na década de 1950. Naquele almoço, num dia de domingo, iniciou-se a parceria significativa.

Foi assim que, em fevereiro de 1962, Heron deixou a Universidade da Bahia, o seu programa televisivo de entrevistas, o Clube de Debates, da recém-inaugurada rede dos Diários Associados, e seu trabalho no periodismo impresso e se dirigiu a Brasília, para onde também estava migrando significativa parcela da intelectualidade nacional.

Inicialmente alojados em barracões no campus de uma instituição em formação, muitos professores debatiam ideias e projetos na sala de estar comum a todos ou no único refeitório do lugar, junto com os alunos 5. Sobre o processo de construção da Universidade de Brasília, Heron de Alencar escreveu textos e deixou muitas anotações em rascunhos. Em um destes seus textos, escrito após a invasão e a ocupação militar de 1964, refletiu:

A Universidade de Brasília era um fato novo no processo da cultura brasileira. Sua criação foi o resultado de tomada de consciência coletiva no sentido de uma resposta realista para os movimentos orgânicos da sociedade brasileira. Ela não foi, portanto, uma imposição à realidade. Ela não nasceu desta alienação tão conhecida em nosso passado, até mesmo de um passado próximo, que consistia em se querer, nem que fosse de forma aparente, no mesmo nível material, tecnológico e científico que as Universidades dos países ditos desenvolvidos. Ao contrário, o projeto da UnB resultava da convergência de experiências de um grande número de professores e pesquisadores, cada um deles se expressando a partir de sua confrontação muitas vezes dramática com a problemática brasileira, fosse ela universitária, social, política ou econômica. Isto é: em vez de se alienar, de perder de vista as necessidades e as possibilidades de seus contextos de trabalho, eles traziam para a elaboração do projeto da UnB novos dados e categorias de trabalho, oriundos de uma análise muito concreta e incessantemente aprofundada de suas situações vividas, tanto a nível universitário quanto a nível nacional (ALENCAR, 196?, sobre a Universidade de Brasília).

Ele ressalta uma característica de extrema importância e que está de acordo com a sua história pessoal: a de que a UnB era um projeto coletivo “oriundo de um vivo diálogo a nível nacional e elaborado com um rigor científico de método e de critérios, num contexto onde o intelectualismo individualista e as fantasias da imaginação pessoal da cultura colonizada beiravam o ridículo”. Ele pensava na concepção gramsciana da relação dos intelectuais com a organização da cultura, de uma intelectualidade orgânica, o que correspondia, nas suas palavras, a uma “consciência de pertencimento militante a uma sociedade” 6.

Para Heron de Alencar, a Universidade de Brasília tornaria possível o estabelecimento das “condições perfeitamente realistas, a formação orgânica dos intelectuais que a sociedade brasileira necessitava”, com o aproveitamento das experiências concretas da cada um daqueles participantes. O sentido era o de somar conhecimentos e forças para a construção de uma proposta de independência cultural e intelectual para o País.

Depois que passou a ocupar a função de Secretário-executivo do Curso de Letras Brasileiras da Universidade de Brasília e de Coordenador das Atividades de Pós-Graduação, a partir de 1962, Heron de Alencar começou a montar sua equipe de trabalho. Convidou, insistiu com amigos para que eles se integrassem ao projeto, para que sonhassem juntos na construção daquilo que era um grande projeto de ensino e pesquisa de nível superior no País – para o projeto de formação de uma intelectualidade nacional.

Um desses amigos, talvez o principal dessa fase, foi Nelson Rossi, um dos seus grandes, raros amigos, por quem sentia admiração devido a suas posturas corretas e firmes. Da correspondência de Heron de Alencar encontrada em seu acervo, a maior parte é constituída por cartas recebidas e trocadas com Nelson Rossi. Nelas está evidente que Rossi foi referência para Heron de Alencar durante os anos em que este esteve exilado. Ele representava a resistência, era a pessoa de sua inteira confiança na Universidade de Brasília nos primeiros anos da intervenção militar. A ligação entre ambos se iniciara na Bahia quando Rossi começara a ensinar na então Universidade da Bahia7.

Algumas outras relações de amizades começaram também a se formar durante o processo de construção da UnB e vão ter continuidade pela vida afora. Como exemplo, a sua amizade com Oscar Niemeyer, iniciada no princípio dos anos 1960, em Brasília, e continuada durante os anos seguintes.

Estiveram juntos no período do exílio, mantiveram contato por meio de cartas 8 e trabalharam juntos na construção e implantação da reforma do ensino superior na Argélia. Niemeyer se referiu a Heron de Alencar em alguns textos, um deles quando teve notícias do seu falecimento e, apesar da censura do período da ditadura, conseguiu publicar um texto sobre o amigo, ou melhor, sobre quem ele considerava um irmão:

Conheci Heron em Brasília, quando organizávamos a Universidade do Distrito Federal. Juntos colaborávamos nessa obra esplêndida que marcou um momento decisivo do ensino em nosso país, quebrando velhas rotinas, preconceitos e normas superadas; abrindo para a Universidade um campo novo, atualizado e flexível, capaz de atender a todas as solicitações da vida brasileira.

Recordo seu entusiasmo e a convicção com que lutava pelas reformas indispensáveis, e a clareza com que defendia seus pontos-de-vista, baseados em muitos anos de estudo e saber. E o fazia dentro de uma linha política progressista, visando a grandeza de nossa pátria, sua independência econômica e política [...]
(NIEMEYER, 1972).

Alguns anos depois, em uma entrevista publicada na revista Arte Hoje, de 1979, Niemeyer faz referência a Heron de Alencar como uma pessoa das suas relações de amizade em Paris e quando perguntado sobre os anos em que esteve no exterior, afirmou que não podia se queixar da estadia na Europa porque, além de conhecer muita coisa, de ter lido e estudado, pôde contar com amigos brasileiros:

– Quais eram esses companheiros?

Heron de Alencar, que dirigia o Departamento de Letras da Universidade de Brasília; Luiz Hildebrando Pereira da Silva, biólogo, que ainda hoje chefia um Departamento do Instituto Pasteur de Paris; Ubirajara Brito, físico nuclear, dirigindo também um laboratório de física; Evaldo Mattos, psicólogo; e outros que, eventualmente, convocávamos para os projetos que fazíamos. Uma equipe perfeita, de muito debate. (NIEMEYER, 1979).


Concepção de universidade

As ideias de Heron sobre a formação de uma intelectualidade começaram a amadurecer, a partir de 1954, quando esteve na Europa, inicialmente como estudante de pós-graduação e, em seguida, como Leitor Brasileiro na Sorbonne, onde acompanhou uma campanha por reformas. Nesse período formulou reflexões sobre a Universidade Brasileira, dando início ao processo que denominou de consciencialização, ou seja, a tomada de consciência da necessidade de se estudar a realidade nacional e seu processo histórico, um neologismo que sugere a ideia de um processo, daquilo que se vai construindo e tomando sentido. Esta experiência, que é parte do distanciamento, provocou, diz ele, uma “[...] revisão de conceitos e preconceitos, de noções e ideias que eu supunha umas poucas e variáveis e outras definitivas” (ALENCAR, 1961a, p. 11) sobre o País, que era uma ideia muito mais
mítica do que fruto de estudo e conhecimento.

Ao retornar ao Brasil, após uma estadia de sete anos na Europa, apresenta a proposta de regionalização das Universidades Brasileiras sobre a qual discorre na aula inaugural da Universidade da Bahia que profere no ano de 1961. Essa aula foi noticiada em jornal local (“Aula Inaugural da Universidade”, Jornal da Bahia, 1961). Segundo a notícia, o professor Heron de Alencar versou sobre vários aspectos das universidades brasileiras: “[...] fez um verdadeiro exame crítico da situação do nosso ensino universitário, sublinhando o espírito de reforma que vem presidindo as Universidades existentes em todo o mundo e defendendo a tese de regionalização das Universidades”.

Há outros textos, incluindo entrevistas sobre o assunto, mas que não podem ser detalhados aqui em virtude do curto espaço. Apenas os listo:

 “Confronto dos sistemas de ensino França e Brasil” (A Tarde, 1961), para o qual há uma resposta, em um bilhete seu escrito a Jorge Calmon, sobre o teor dos comentários e em que avalia distorção do que havia dito; no jornal suplemento do Diário de Notícias foram publicadas notas e uma entrevista concedida ao “inquieto, louco e gastador de talento” Glauber Rocha — “Veio de Paris para ficar e diz que Brasil está assombrando Europa: Heron de Alencar”.

Em “Universidade: Urgência de renovação” (1961), Flávio Costa expõe com seriedade e clareza as principais questões levantadas por Heron de Alencar (expostas posteriormente em Universidade: Região e alienação cultural, 1961) e ressalta outros aspectos discutidos por Heron, dentre eles a assertiva de que a crise universitária não era um problema particular do Brasil, porque também outros países em fase de expansão e crescimento enfrentavam este problema. Chama a atenção para a postura de Heron de Alencar de defesa de um processo renovador nas universidades do País e de uma articulação da instituição com o desenvolvimento nacional e diz que a proposta de regionalização buscava solucionar este impasse, na medida em que representava um esforço para o entendimento das realidades de cada região, além de ser o reconhecimento da diversidade do Brasil. Diz ainda que a solução dos problemas nacionais deveria ser pensada levando-se em consideração as particularidades, logo, não haveria solução, mas sim, soluções.

Regionalização significava compromisso com a construção de soluções para os problemas regionais e seria o caminho para a construção de uma autonomia cultural, qual seja, da valorização da nossa cultura e das particularidades de cada região (1961a, p. 11). A justificativa para essa idealização estava na “variedade de quadros geográficos e geológicos” do País, o que favorecia “extraordinários campos de exploração, no domínio das ciências naturais”; nas “diferenças de culturas regionais que apresentam um rico acervo tradicional, como o humanismo e a arte colonial em Minas ou na Bahia, ou as tradições populares afro-índias” (ALENCAR, 1961a).

Segundo ele, as especificidades de cada região poderiam refletir no campo universitário, o que daria nova vida às instituições de nível superior porque a cultura elaborada no seu meio seria uma “[...] cultura orgânica, assimilada e recriada pelo próprio povo”, tendo como consequência uma “nova mentalidade” construída pela “permeabilidade”. São esses os seus pensamentos quando lhe é apresentada a proposta da Universidade de Brasília 9.

Seguindo esta nova concepção, Heron de Alencar acreditava ser necessário repensar a Universidade no Brasil. Suas reflexões quanto a isto estão registradas em alguns de seus textos, como o já citado discurso proferido em 1961, nos escritos sobre a UnB, e em alguns textos, que ainda hoje permanecem inéditos, produzidos durante o exílio, seja em função do projeto de construção da Universidade da Argélia ou de continuar pensando e buscando divulgar o projeto da Universidade de Brasília.

O que é comum em todos eles, e que já aparecia esboçado no projeto da UnB, é a crença de que a missão da universidade é a de “[...] elaborar o saber como experiência de saber, de ser uma comunidade de professores e alunos capaz de criar uma cultura contemporânea como instrumento de assimilação e domínio da realidade” (1961a, p. 18). Por isto, propunha a criação de uma comunidade acadêmica, ou seja, um sentimento de comunidade dentro da universidade, formada por professores, alunos e administradores.

Segundo ele, isto não existia no País: “Não há no Brasil, não apenas uma tradição, não há mesmo um exemplo isolado de comunidade universitária” (1962). Isto teria sido possível na Universidade de Brasília, instituição que era o resultado de uma consciência crítica da intelectualidade brasileira. Não é uma impostura à realidade nem nasceu do alienado desejo de nivelamento cultural e científico com Universidades dos chamados países desenvolvidos. Longe disso, o seu projeto [...] resultou da convergência e experiências de numerosos intelectuais brasileiros, cada um deles focalizando um setor através de uma vivência pessoal e muita vez dramática da realidade brasileira.9 Posteriormente, em autocrítica, se assume como um intelectual nacionalista. Segundo suas próprias palavras, era alguém que tinha uma “visão exageradamente otimista da realidade brasileira” e a quem ainda “faltavam estudos suficientes sobre a constituição histórica e ideológica do país” (196-a). Estes estudos vão se desenvolver, gradualmente, durante a sua vida, a partir de estudos isolados e do contato com outras realidades e com outras formas de pensar o nacional.

Isso quer dizer que cada um deles, em lugar de alienar-se, tinha alma e corpo banhados de uma experiência de afrontamento com a problemática brasileira, fosse ela universitária, social, política, econômica. E se é verdade que nem todos eles tinham o mesmo grau de experiência, é verdade, também, que todos eles sabiam da carga pejorativa que no contexto brasileiro recai sobre a expressão que os designava – intelectuais – e todos eles não escondiam a disposição de modificar essa carga mediante ação participante e transformadora do nosso processo social e político. Por outras palavras: recusando a torre de marfim e a condição de anjo, que fazem do intelectual tradicional um homem fora de seu espaço e de seu tempo, eram todos eles comprometidos com a sorte de mais de quarenta milhões de brasileiros analfabetos e miseráveis, pelos quais se sentem em parte responsáveis. Por outras palavras, ainda: todos eles estavam empenhados na edificação da nação efetivamente livre e emancipada que o povo brasileiro está, historicamente, chamado a construir (ALENCAR, 1964d, 1969).

Trata-se da formação do projeto de criação de uma intelectualidade nacional a partir da Universidade, uma ideia que tem como suporte as concepções gramscianas sobre a criação de categorias especializadas para o exercício da função intelectual em uma sociedade. Esse projeto nacional buscava agregar intelectuais, ao mesmo tempo em que trabalhava com a ideia de formar novos quadros que atuassem organicamente na sociedade. Sua proposta era formar uma intelectualidade autônoma, um grupo social que pensasse o País, capaz de criar alternativas e propor soluções aos problemas nacionais a partir da análise de situações próprias e não mais importando modelos europeus. São essas as suas reflexões que se estavam consolidando na práxis quando o Brasil foi ocupado militarmente, em 1964. Avançando nessa proposta, surge a ideia, já no exílio, de criação de uma organização universitária que congregasse professores universitários argentinos e brasileiros10.

Esta organização universitária, reunindo a comunidade intelectual da América Latina, conseguiria ultrapassar fronteiras e poderia pensar em soluções, porque, para Heron de Alencar: “A universidade é a corporação e a estrutura de formação e organização dos intelectuais nacionais. Por isso os intelectuais precisavam apresentar-se capazes de assumir a consciência de seus interesses corporativos, universitários” (196-e).

Essa articulação serviria para o fortalecimento de países que sempre estiveram à margem do centro de poder do Ocidente. A valorização, ou melhor, a construção de uma autonomia cultural nesses países só poderia ser feita de forma coletiva, pois nenhum dos países da América Latina tinha condições de, sozinho, provocar mudanças significativas. Era preciso enxergar a América Latina como um todo, não apenas do ponto de vista geográfico, mas, principalmente, no sentido de que os países viviam semelhantes desigualdades decorrentes do processo de colonização, mas observando e respeitando suas particularidades econômicas e culturais. Porém, as consequências da ditadura militar instaurada no Brasil e a vida que esses brasileiros passaram a levar no exterior dificultaram qualquer tipo de organização e suas tentativas acabaram sendo frustradas. Continuaram atuando dentro das possibilidades de cada um e das possibilidades oferecidas pelos países que os acolheram.

O golpe militar persegue, humilha, prende e expulsa professores suspendendo o projeto inicial da UnB. Heron de Alencar havia deixado Brasília no dia anterior ao golpe, por sugestão do jornalista Darwin Brandão, baiano radicado no Rio de Janeiro desde 1950 e seu amigo desde a atuação na revista Caderno da Bahia. Seu envolvimento com o Partido Comunista e o fato de ser assessor de Miguel Arraes de Alencar, então governador de Pernambuco e seu primo, além de sua ligação com Darcy Ribeiro o deixavam em situação delicada. Ele teria sido encarcerado, em abril de 1964, caso tivesse sido encontrado.

Sua esposa, Wanda de Alencar, recorda o clima que envolvia a todos na UnB naquele período: Fiquei só, em Brasília, com meus quatro filhos. Foram momentos de grande ansiedade e inquietação decorrentes do clima de repressão e autoritarismo que se instalou repentinamente na Universidade de Brasília. Levei alguns dias sem nenhuma notícia do Heron. No dia 3 de abril, a Universidade foi ocupada por tropas armadas do exército, efetuando a prisão de 11 professores, que permaneceram 17 dias incomunicáveis. Nos primeiros nomes da lista dos professores a serem presos figurava o do professor Heron de Alencar.

Nos dias anteriores à invasão corriam boatos e rumores criando uma atmosfera de insegurança total. A biblioteca particular do Heron, que há dois anos estava sob a guarda da UnB, no Departamento de Letras, foi invadida e dela retirados livros considerados “subversivos”, como Le Rouge et le Noir de Stendhal, fato que se tornou anedótico, porém verdadeiro (A Biblioteca Central ficou interditada, e eu e nossos colegas impedidos de lá penetrar). Dias antes, três policiais vieram ao nosso apartamento, na Asa Sul, SQ 305 à procura do Heron. Eu estava na UnB (ALENCAR, Wanda de, 2003).

Vivia-se um período de muita tensão. Já no Rio de Janeiro, Heron pediu asilo na Embaixada do México (em 9 de abril). Além dele, também pediram asilo: Félix Athayde, amigo de Heron, e , posteriormente, seu irmão Inácio de Alencar. Heron permaneceu por 51 dias sob a proteção da Embaixada, de onde saiu direto para o aeroporto rumo ao México 11.

Limitadas ao pequeno espaço onde foram obrigadas a conviver, sobrava um angustiante tempo para que pessoas de diferentes correntes políticas da esquerda organizassem reuniões, escrevessem, tentassem compreender o que se passava no País e criassem hipóteses para os dias seguintes. Durante quase dois meses, o único contato estabelecido por estas pessoas com o mundo fora da Embaixada foi por meio dos que iam chegando aos poucos e de suas esposas, que insistiam em tentar ver e falar com seus maridos. Wanda de Alencar conseguiu ver seu marido algumas vezes e a ele levava notícias dos filhos e da situação da universidade.

Rodolfo Konder, um desses brasileiros que também estiveram nessa situação e que havia chegado à Embaixada dois dias depois de Heron, recorda esses momentos em uma de suas crônicas:

Ao fim de dois meses de insuportável confinamento, chegou uma nova lista de salvo-condutos concedidos pelos militares. Meu nome estava nela, ao lado de amigos como Heron de Alencar, Osmildo Stafford, Humberto Menezes, Luis Villegas [Viegas] da Mota Lima, Josias Muniz, entre outros. Dois automóveis, com uma escolta policial, levaram-nos até a pista do aeroporto do Galeão, junto à escada do avião que decolaria para o México. Assim, com uma pequena maleta de mão, um cigarro na boca e algum dinheiro na carteira, iniciei o longo percurso do meu primeiro exílio (KONDER, 2000).

Assim chegara ao México o primeiro grupo de brasileiros exilados, praticamente sem nada no bolso ou nas mãos e assim lá chegou também Heron de Alencar.

Segundo documentos consultados nos arquivos do DOPS e CENIMAR disponíveis no Arquivo Público do Rio de Janeiro, mais especificamente em uma pasta que traz uma lista com os nomes dos brasileiros que solicitaram asilo na Embaixada do México, foram, ao todo, 27 brasileiros que saíram do País entre os dias 6 e 27 de abril de 1964, a maior parte deles nesta última data. A concessão do asilo a Francisco Heron de Alencar e Félix de Athayde ocorreu em 11 de abril12.

Heron de Alencar desembarcou no México em 1º de junho acompanhado por mais três exilados políticos. A eles se somaram depois mais 28 e, no mesmo mês, foi fundada a Organização dos Sindicalistas Brasileiros Exilados (OSBE), com a finalidade de se ajudarem mutuamente para a resolução de seus problemas pessoais no exílio. Esta organização mantinha um boletim semanal, o Correio Braziliense. O subtítulo do Correio Braziliense era: Segunda fase do jornal fundado por Hipólito José da Costa, durante seu exílio em Londres no século XIX. O jornal de Hipólito da Costa, que circulou entre 1808    e 1822, discutiu problemas econômicos, literários e científicos e fez críticas aos governos português e brasileiro e, certamente por isso, foi proibido de circular nestes países (PAES; MOISES, 1967). Considerado o primeiro jornal brasileiro, tinha circulação mensal, e foram editados 175 números; deixou de circular após a independência.

O boletim dos exilados no México teve seu primeiro número lançado em 9 de julho de 1964. Aparentemente, tinha um caráter informativo, e era concebido, provavelmente, por pessoas de diferentes facções políticas da esquerda. O destaque dado ao caráter informativo do periódico serviria também para evitar possíveis problemas com o Governo do país. No primeiro número, o jornal estampou sua finalidade:

Correio Braziliense é o órgão cultural dos exilados brasileiros no México. Será distribuído semanalmente e veiculará todas as informações pertinentes às atividades da Organização dos Sindicalistas Brasileiros Exilados, à qual é subordinado. Divulgará ainda as principais notícias sobre o que se passa no Brasil e outras pertinentes à vida dos exilados no México. Não tratará de política: seu objetivo é apenas e unicamente informar.

O Correio divulgava, semanalmente, as principais notícias do que se passava no Brasil e outras pertinentes à vida dos exilados no México. Deixou de circular a partir de 27 de outubro de 1964, quando sai seu último número, em edição especial, com 80 páginas, com um panorama da situação do Brasil. Vê-se que o exílio não impediu aqueles brasileiros de continuarem a lutar pela democracia no País 13.

9 horas, pelo voo n° 810 da Varig, saindo do Aeroporto Internacional do Galeão. Neste mesmo documento, consta que pediram asilo na Embaixada do México, em 29 de maio de 1964, o jornalista Mário de Loyola Alencar Filho, assessor de imprensa do ex-Governador Miguel Arraes, na mesma missão diplomática (Na verdade, trata-se de Inácio de Alencar, irmão de Heron de Alencar).

Opto por registrar essas informações por acreditar que essa atitude colabora com todos que lutam para trazer à tona questões ainda não esclarecidas de um dos períodos mais tenebrosos da nossa história.

Ainda está por ser publicado um trabalho que estou preparando sobre esse periódico. Nos seis meses que Heron de Alencar permaneceu no México, apesar de não conseguir encontrar trabalho, proferiu conferências e participou de seminários. Na Universidade do México, discutiu os problemas políticos e educacionais do Brasil, em uma comunicação intitulada “Los estudiantes y los intelectuales brasileños en el proceso de las grandes masas” (1964). Também participou como delegado na Assembleia Mundial de Educação realizada naquele país em setembro de 1964, onde apresentou o projeto da Universidade de Brasília, do qual reproduzi trecho acima.

Depois, quando já estava em solo cubano, escreveu e publicou alguns ensaios e reflexões sobre o golpe no Brasil. No texto “Sobre el gorilazo en Brasil”, publicado no jornal Hoy, faz um balanço da situação experimentada pelo país e em “Perspectivas políticas”, a análise das forças potencialmente revolucionárias no país, incluindo o PCB, apontando algumas possíveis estratégias de resistência. Ainda em Cuba, foi entrevistado pela mídia impressa — jornais Hoy, Revolución, El Mundo e Revista Bohemia — e radiofônica.

Ainda em 1964, começou a escrever o livro Problemática, dialética, conhecimento, perspectivas da revolução brasileira, indicado como de autoria coletiva, mas não há informações a respeito dos outros autores.


Pós-64: da UnB para outros projetos de universidade

Niemeyer, que, desde 1967, havia se instalado em Paris, também se referiu aos trabalhos realizados na Argélia, em especial aos planejamentos da Universidade de Constantine, da Universidade Científica de Argel e da Universidade de Ciências Humanas, esta última projetada em 1969. Além dos intelectuais e pesquisadores citados por ele, Darcy Ribeiro também foi convocado para prestar sua colaboração nesses projetos.

Segundo Inácio de Alencar, Ribeiro entrou no período de finalização do trabalho, a pedido de Heron, para substituí-lo e representá-lo, já que estava em fase adiantada da doença que logo o levaria à morte e quando nem sequer conseguia mais escrever com a mão direita. Enquanto Niemeyer se concentrava no projeto arquitetônico, Heron de Alencar trabalhava,
em equipe, na parte de organização e implantação da Universidade.

O sentimento desses profissionais brasileiros, que não podiam trabalhar para o desenvolvimento de sua pátria, pode ser percebido a partir da leitura das palavras de Niemeyer em um artigo publicado ainda no período de fechamento democrático no Brasil, curiosamente na secção de cartas do Jornal Opinião:

É nossa arquitetura que se expande, invadindo outros continentes, levando ao estrangeiro um pouco de nossa experiência construtiva, um pouco desse élan, essa vontade de crescer e se afirmar que marca os países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. É isso que dá uma visão melhor de nossa cultura, de nossas possibilidades de trabalho e criação. De outro lado, esse êxodo de técnicos e cientistas desfalca nossos quadros, levando para fora do país homens que nele deveriam permanecer, dando como sempre deram, valiosa contribuição. E lembro-me, então, da equipe de brasileiros que a meu pedido organizou os programas para as universidades argelinas, trabalho que se estende por solicitação de Benaya, ministro do Ensino Superior da Argélia, no campo da reforma pedagógica daquele país. Trata-se de um longo período de estudos e pesquisas, de seminários e reuniões sucessivas – não raro com a participação de técnicos de outros países – no qual nossos irmãos brasileiros se impuseram com sua sólida experiência universitária, com seus pontos de vista filosóficos sempre presentes, vendo a Argélia, como também a vejo, não como um local de trabalho qualquer, mas como o nosso, do terceiro mundo, que luta, cresce e se liberta como uma força da natureza. Mas nesses momentos de satisfação em que via homens como Heron de Alencar compreendidos e respeitados, invadia-me sempre indefinível tristeza, vendo como eles poderiam ser úteis ao nosso país, intervindo nos problemas de ensino e da cultura que tanto os atraía e aos quais dedicaram toda a vida. [...] E como a Universidade de Constantine cumpre seus objetivos, cria surpresas e atrações – bela, compacta e diferente – outras universidades nos foram confiadas: a Universidade Científica de Alger, a de Ciência Humanas e a de Blida (NIEMEYER, 1972).

Está evidente, então, que o vínculo de Heron de Alencar com projetos de implantação de cursos de nível superior não cessou por conta das imposições do regime militar. Depois de superar as dificuldades iniciais para encontrar trabalho no exílio, conseguiu se envolver em projetos que exploravam seus conhecimentos e lhe proporcionavam imenso prazer. Assim, os trabalhos para a concretização da Universidade da Argélia preenchiam uma lacuna aberta quando o trabalho na UnB foi interrompido.

Sobre essas Universidades, escreveu um estudo para ser apresentado em um Seminário específico sobre a universidade, em 1970, para o Ministro de Educação Nacional da República Argeliana, e como uma introdução à proposta apresentada, na mesma ocasião, por Luis Hildebrando Pereira da Silva, juntamente com outro professor não citado, que se supõe ser Ubirajara Brito ou Evaldo Matos.

Há três versões desse texto. Uma delas chegou a ser publicada naquele mesmo ano, como uma plaqueta, pela Revista Développement et Civilisations, com o título “L’Université, pour quoi faire?”. Dividido em quatro partes – I. Universidade e sociedade; II. Universidade e desenvolvimento; III. Universidade e subdesenvolvimento; e IV. Universidade e saber –, este texto apresenta uma concepção de Universidade e os princípios gerais que a norteariam. Também elaborou um estudo, a pedido do Ministério da Educação e da Pesquisa Científica da Argélia, intitulado “La Facultad de Ciencias Humanas y de la Planificación Social de Argel”, em colaboração com Darcy Ribeiro, que se integrou posteriormente ao grupo. Esse estudo foi publicado, em 1972, como separata, pela Direção Geral de Difusão Cultural da UNAM, México.

* * * * *

Para finalizar, é preciso afirmar que poderia ter enveredado ainda sobre os estudos de Heron de Alencar sobre Literatura, a partir de um dos textos citados nas páginas iniciais. Porém, oportunidade do tema da revista encaminhou outro recorte. Ficando os demais temas para outra ocasião.


Referências bibliográficas De Heron de Alencar:

ALENCAR, Heron de. Bilhete a Jorge Calmon sobre matéria veiculada no jornal A Tarde, a respeito de sua conferência de abertura do ano letivo da Universidade da Bahia, Salvador, 1961. 1f. manuscrito.

______. “Sobre a criação de uma organização Universitária da América latina”. s.l., 196-e, 1 f., Manuscrito.

______. “A Universidade de Brasília: projeto nacional da intelectualidade brasileira”. In: RIBEIRO,
Darcy. A universidade necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. p. 213-238.

______. A Universidade de Brasília; projeto nacional da intelectualidade brasileira. México, ago. 1964 d. 2 cópias, uma com 30f e outra com 31f). Datilografado.

______. Autocrítica do intelectual brasileiro. Europa, 196-b, 3f. Manuscrito.

______. “Caleidoscópio (1947-1952)”. A Tarde, Salvador, 1947-1952.

______. Problemática da cultura brasileira — esquemas para desdobramento. Europa, 1964c, 3 f. Datilografado, capa manuscrita, e sem emendas.

______. Ufanismo e indianismo na formação da cultura brasileira: programa de curso. Faculdade de Letras da Universidade da Brasília. Brasília, 1964a. port. 12f. 2 versões: Datilografada – 1964 a; manuscrita – 1964b. Universidade: região e alienação cultural. Salvador: Fundação Gonçalo Muniz, 1961.

AULA inaugural da Universidade. Jornal da Bahia, Salvador, 1961. Recorte de periódico, com fotografia, sobre aula proferida por Heron de Alencar.

CONFRONTO dos sistemas de ensino França e Brasil. A Tarde, Salvador, 1961. Recorte de jornal, com fotografia, sobre aula proferida por Heron de Alencar na Sessão de abertura do ano letivo da Universidade Federal da Bahia.

COSTA, Flávio. “Universidade: urgência de renovação”. Jornal da Bahia, Salvador, 1961, Coluna Mosaico. 1f. Recorte de jornal, com fotografia, sobre aula proferida por Heron de Alencar na sessão de abertura do ano letivo da Universidade Federal da Bahia.

DE VOLTA a Paris o professor. Jornal do Comércio, Recife, 22 nov. 1956. Recorte de jornal.

FOI ensinar na Sorbonne. Estado da Bahia, Salvador, 6 [7] jan. 1956.

LUCAS, Fábio. Literatura e Sociologia. s.l., s.d., port., 4 f, datilografado.

PROFESSOR Bahiano (do Ceará) faz importante descoberta. (publicado em um periódico católico). Salvador, 1961. Recorte de jornal.

RC, 1961. Recorte de periódico. Assunto: retorno de HA à Bahia.

ROCHA, Glauber. Heron. Diário de Notícias, Salvador, 18 fev. 1961. Caderno 1: Rosa dos Ventos, p.4. Recorte de jornal.

______. “Veio de Paris para ficar e diz que Brasil está assombrando Europa”. Diário de Notícias, Salvador, 1961. Recorte de jornal.

SANTANA, Carla Patrícia. “Configuração de um intelectual se pensando: considerações e autocrítica de Heron de Alencar”. In: LIMA, Ari; COSTA, Edil. (org.). Estudos de crítica cultural: diálogos e fronteiras. 1ª ed. Salvador: Quarteto, 2010, v. 1, p. 29-58.

______. “Divergências em torno da prosa romântica brasileira: Heron de Alencar e outros críticos literários”.

Interdisciplinar – Revista de Estudos em Língua e Literatura, Departamento de Letras de Itabaiana – UFS. Ano VII, v. 15, n. 15, jan.-jun. 2012.

TAVARES, Luiz Henrique Dias. “Uma lição de mestre”. Jornal da Bahia, Salvador, 2 mar. 1961. Coluna: Cidade – Homens e Bichos. Recorte de jornal.

VAI ensinar na Sorbonne. A Tarde, Salvador, 5 jan. 1956.
Entrevistas utilizadas ALENCAR, Inácio de. Re: Questionário-depoimento sobre Heron de Alencar. Resposta enviada à pesquisadora, ago. 2003.

ALENCAR, Wanda de. Re: Questionário sobre Heron de Alencar. Resposta enviada à pesquisadora,  maio 2003.

______. Entrevista concedida à pesquisadora. Salvador, 2006.



Outros

RISÉRIO, Antônio. Avantgard na Bahia. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995.


N o t a s :

1 - Sobre o conteúdo destes textos venho publicando alguns artigos. Exemplo: “Divergências em torno da prosa romântica brasileira: Heron de Alencar e outros críticos literários”, 2012 (Revista Interdisciplinar, UFS). Nesse estudo, discuto a recepção à crítica contemporânea e póstuma a seu estudo intitulado “José de Alencar e a ficção romântica”, publicado em A literatura no Brasil (1ª ed., 1956). Da recepção contemporânea, destaquei Eduardo Portella, Adonias Filho e Rui Bloem. Da recepção póstuma, Alfredo Bosi e Nelson Werneck Sodré, salientando o que predominou nessas críticas, as réplicas (textos publicados e inéditos, incluindo manuscritos) e o nível de aproximação teórica e metodológica entre os autores.

2 - Parte das informações que constam aqui estará também na biografia intelectual sobre Heron de Alencar, que estou preparando prevista para o final de 2012.

3 - Ofício enviado por Cyro Versiani dos Anjos ao então reitor da Universidade de Brasília, Darcy Ribeiro, em 19 de fevereiro de 1962. Documento encontrado no acervo de Heron de Alencar.

4 - Neste mesmo período, foi membro da comissão de estudos para a reorganização da Universidade Brasileira e das Faculdades de Letras do Brasil, no Ministério da Educação. Foi membro do Conselho Diretor da Fundação Cultural de Brasília e do Conselho Federal de Educação, da Presidência da República. Como decorrência, participou de inúmeros eventos: Conferência Nacional de Educadores do Ministério da Educação, em Brasília, Simpósio sobre Organização Universitária, Simpósio sobre Organização e Estrutura das Faculdades de Filosofia e Simpósio sobre o Estatuto do Professor Universitário, todos estes promovidos pela Diretoria do Ensino Superior, MEC.

5 - Informações de Ivia Alves que esteve, no ano de 1963, fazendo um estágio de 15 dias, como bolsista de Iniciação Científica do CNPQ, assistindo aulas de Letras e alojada com os professores,

6 - Acerca de suas considerações sobre o assunto publiquei “Configuração de um intelectual se pensando: considerações e autocrítica de Heron de Alencar”, em 2010.

7 - Dessa correspondência, soma um total de sete cartas trocadas entre Heron de Alencar e Nelson Rossi. De Alencar para Rossi: 1) Embaixada do México, 1964, 4f; 2) México, 25 jun. 1964, 2f; 3) Paris, 7 out. 1966, 3f; 4) Paris, 22 out. 1966, 5f. De Rossi para Alencar: 1)Brasília, 30 mai 1964, 1f; 2) Brasília, 8 jan. 1965, 4f., 3) s.l.,196-, 6p. Observei que suas esposas também se corresponderam nesse período, pois há no acervo, uma carta datada de 1º nov. 1965, 3f, enviada pela esposa de Rossi - para Wanda de Alencar.

8 - No acervo de Heron de Alencar, estão algumas das cartas trocadas com Niemeyer entre os anos de 1965 e 1969.

9 - A sua percepção sobre esta situação se dará, posteriormente, no exílio. Será a partir da experimentação da condição de exilado que conseguirá ter abertura para realizar uma leitura de si próprio e dos significados dos seus posicionamentos.  

10 - Das reuniões de idealização da proposta, participaram: Oscar Niemeyer, Celso Furtado, Waldir Pires, Leite Lopes, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Heron de Alencar e, de passagem, Rolando Garcia, então vice-reitor da Universidade de Buenos Aires e que havia sido espancado pela polícia argentina. Também foram consultados sobre essa proposta: Fernando Henrique Cardoso, exilado no Chile, para onde levou uma cópia do documento, Octávio Ianni, Florestan Fernandes e Nelson Rossi, que recebeu uma cópia para apreciação.

11 - As informações sobre os brasileiros que solicitaram asilo na Embaixada do México em abril de 1964 constam na pasta intitulada Secreto – pasta 6, f. 164. Informe n. 1691 / SFICI (SAS / 337 / 23 maio 64).

12 - Seu nome aparece também em outras pastas: na pasta sob o título Administrativo 39, dossiê 2, na folha 5, revela-se que, em um documento recebido pelo DOPS, em maio de 1965, há a indicação dos exilados em diferentes países. No México, aparecem: Francisco Heron de Alencar, Inácio de Loyola Alencar Filho e mais 72 nomes de outros exilados; na pasta intitulada Administrativo 37, Dossiê 2, há uma declaração de que o “serviço” recebera as informações sobre a partida de asilados
políticos para alguns países, fornecido salvo-conduto para, entre outros, Félix de Athayde, em 29 de maio de 1964, e que partiu para o México, em 2 jun de 1964, às 8 horas; Francisco Heron de Alencar e outros viajaram em 1º de junho de 1964, às

13 - Os exemplares consultados desse boletim foram fornecidos para cópia por Wanda de Alencar.

Um comentário:

  1. Em 1970, alunos da Fau-Usp, liderados por José Fábio Zamith Calazans, formaram um barracão em Pinheiros, São Paulo na rua Miguel Isasa, 155. Uma tentativa de desenvolver um trabalho em comunidade. Participaram, dentre outros, Márcia Benevento, Chico e Paulo Caruso, Roberto Saruê, David Pennington, Ricardo Piva, Salles, Willy, Edú,... éramos 25, em busca de projetos de cunho social, à margem da Faculdade. Foi uma experiência seminal - o sonho de uma vida construtiva em comunidade. Um enorme salão cheio de pranchetas e debates até tarde da noite. Isto em pleno 1970.

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