sábado, 16 de março de 2013

QUESTÕES HERMENEUTICAS PRELIMINARES - Parte I

Hans Jörg Sandkühler

Tradução Frank Svensson

Artigo extraído de Praxis und Geschichtsbewusstsein;  Studie zur materialistischen Dialektik, Erkenntnistheorie und Hermeneutik (Prática e consciência histórica; Estudos sobre dialética materialista, Teoria do conhecimento e Ermenêutica. pp 51 a 83, (Edition Suhrkamp, Frankfurt/M. 1973, ISBN 3-518-00529-4).


A hermenêutica é até hoje — sem que ninguém o conteste — um domínio das ciências humanas. O é tanto para a hermenêutica como procedimento de interpretação que permita entender os registros da consciência como para a hermenêutica como teoria filosófica da percepção sensível. Uma hermenêutica científica ciente de seu lugar no sistema de classificação da dialética materialista não existe. Ou não existe ainda? Não. Ainda não existe uma hermenêutica materialista. Por quê? Hermenêutica e materialismo são excludentes uma em relação ao outro? É impossível, no intuito de encontrar uma alternativa materialista para a hermenêutica burguesa, apoiar-se em citações dos clássicos do marxismo.

O termo não aparece mais do que uma vez, circunstancialmente e num sentido pejorativo, em 1858, numa carta de Marx para Engels. Marx então critica Lasalle e sua leitura de Hegel, marcada pelo hábito jurídico da hermenêutica. A reconstrução materialista histórico-lógica da história real não pode reduzir a explicação da matéria histórica aos produtos — transmitidos por escrito e obtidos somente nas fontes textuais — que se apresentam como o reflexo de práticas pretéritas.

A Crítica da economia política de Marx é, além de seu significado como anatomia da ciência burguesa e do modo de produção capitalista, o paradigma de uma hermenêutica materialista. É a hermenêutica de todo o conhecimento, de todo o reflexo categorial do modo de produção capitalista, do qual Marx encontrou os documentos nas fontes da economia nacional clássica na Inglaterra. Seria negativo não considerar, metodológica e teoricamente, esse instrumento hermenêutico produzido pela teoria materialista da história e afinado depois pela lógica dialética. O veto imposto até agora pelo marxismo para com a hermenêutica é claro: A hermenêutica é recusada como fenômeno oriundo do idealismo e do irracionalismo burguês. Como não se lhe atribui nem objeto nem campo específicos no sistema da dialética materialista, remete-se os temas cientificamente constantes da hermenêutica principalmente à metodologia, à teoria do conhecimento e à semiótica.1

Esse veto não pode suscitar nem um pouco uma outra pesquisa em matéria de herme-nêutica marxista se não se leva em conta que não concerne outra hermenêutica que não a tradicional, seu idealismo e seu irracionalismo. Poderia ser mantido se uma hermenêutica marxista devesse conduzir à revisão ou mesmo à substituição dos elementos essenciais da teoria marxista. Este estudo coloca insistentemente a questão do lugar a ser dado à hermenêutica no interior do sistema de classificação da dialética marxista. Essa hermenêutica não pode ser teoricamente de uma abrangência geral do sentido atribuído ao significado materialista, mas é, ao contrário, o método adequado a seu objeto -- os documentos -- para explicar as formas e os conteúdos que os mesmos refletem.

No quadro da hierarquia classificatória da ciência marxista pode-se atribuir à hermenêutica marxista o seguinte lugar: entre as ciências definidas pela unidade do lógico e do histórico, a hermenêutica materialista funciona como aplicação do princípio de reconstrução da dialética da gênesis das formas-reflexo que se materializam e se objetivam por meio dos instrumentos da linguagem. Ela explica os instrumentos da língua -- segundo a gênese da língua da forma como a concebe o materialismo histórico -- como funções de apropriação da realidade. É possível delimitar o campo da hermenêutica materialista. Ela utiliza os resultados:

1) da ciência das formas de trabalho e de produção, materiais e práticas, determinadas pela realidade em sua estrutura social (economia política);

2) da ciência das condições, tanto materiais e práticas corno psíquicas, da formação da consciência (percepção/conhecimento/ saber) e da determinação social dos documentos-reflexo individuais (teoria dialética do conhecimento);

3) da ciência do processo histórico do progresso graças à luta de classes (teoria materialista da história);

4) a ciência das funções cognitivas e normativas das ideologias como reflexo -- tomando sistematicamente partido -- dos interesses de classe e de relações de classes (crítica da ideologia).

A hermenêutica materialista não se pode basear a não ser como grandeza derivada dessas ciências, ou seja, seu organon, e este claramente delimitado por seu objeto (instrumentos da linguagem). Basta dizer que essa definição é provisória, programa e não descrição de uma situação. Qualquer outro comentário é inútil, mas compreende-se o quanto essa perspectiva de uma hermenêutica materialista é importante se se quer eliminar a extrema confusão que reina quanto à função e à definição de uma hermenêutica que se oponha à hermenêutica burguesa.

O termo hermenêutica materialista tornou-se moda ao longo de diversos episódios da disputa sempre presente com relação às ciências da literatura. Na antiga Alemanha Federal, um otimismo prudente alternava-se a uma condenação radical: É quando a hermenêutica se abre à perspectiva da totalidade social c que o marxismo admite a pertinência das experiências individuais que hermenêutica e marxismo parecem gerar novos meios cognitivo 2

Não se nega que a hermenêutica e o marxismo não sejam conceitos passíveis de comparação, que a hermenêutica, ciência humana, inclui a priori a perspectiva da totalidade social, e que o marxismo, por definição, é também a teoria da experiência individual. Nessa etapa inicial, contrapõe-se mais frequentemente a frase maximalista de esquerda: O fator comum entre as teorias comuns na Alemanha com respeito à estética marxista, à teoria marxista da literatura, à hermenêutica marxista, à estética das mercadorias encontra-se no fato de seus defensores afastarem-se tanto da história como da práxis da luta de classes.3

A hermenêutica marxista — onde é que existe? — colocou em primeiro plano — em contradição com o materialismo histórico — a questão do valor supra-histórico de uma obra de arte.4

Mas os defensores da hermenêutica não nos trazem nenhuma prova em apoio. Não existe. O radicalismo de esquerda não só reforça a separação burguesa tradicional entre a teoria e a prática mas também absolutiza o conceito de ideologia segundo o qual toda manifestação não-socialista da consciência seja uma falsa consciência. É uma realidade muito mais fácil — lemos em Marx a propósito da critica ideológica (da religião) — de encontrar o fulcro terrestre das formações nebulosas da religião, do que ao contrário, desenvolver a partir das condições de vida reais de cada época as suas formas idealizadas.5 

Percebe-se hoje apenas alguns pontos de partida promissores para a elaboração de uma hermenêutica materialista. Assim, desde os primeiros passos dados no rumo de urna hermenêutica materialista, sua formulação e sua justificativa confrontaram-se logo com a tradição da hermenêutica burguesa e seus representantes contemporâneos. As hermenêuticas dominantes podem ser reduzidas a um só denominador de burguesas, no quadro da propaganda, mas não no de urna crítica científica. Seu leque vai desde a supervalorização idealista da hermenêutica como aspecto universal da filosofia (Gadamer) ou como ciência da interpretação hermenêutica em formas canônicas, filológicas, onde a finalidade é a compreensão das formas do espírito objetivo (Betti), ultrapassando sua competência científica,6 até uma concepção que faz da hermenêutica a teoria da língua e da comunicação, baseada nas ciências sociais e na psicanálise (Apel; Habermas; Lorenzer) e onde se descortina a passagem para uma teoria marxista da socialização (Lorenzer).

O que é então a hermenêutica? 7 A hermenêutica é:

— A técnica da interpretação. — A ciência da compreensão de um texto.
— A exegese teológica das fontes normativas das revelações divinas.
— A metodologia das ciências humanas históricas.
— A explicação sistemática do ponto de vista da história da filosofia, da artificialidade da existência.
— A teoria filosófica universal da inteligibilidade da historicidade humana.

Levando em conta uma definição pertinente pode-se afirmar dessas hermenêuticas terem em comum a referência a formações do espírito objetivo. Essas formações são caracterizadas por uma dupla base, ou seja, elas apresentam-se à consciência, que as capta primeiro sob uma forma material e sensível, exterior objetivada — poder-se-ia chamá-la sua face documento —, a partir da qual é preciso extrair o momento intelectual, a significação, o sentido. Esse conteúdo intelectual pode ter uma existência efêmera na consciência do indivíduo ou num mundo inteligível qualquer. Para a comunicação intelectual (na vida ou na ciência) esse conteúdo deve ser expresso, ou seja, objetivado materialmente, seja numa articulação da língua falada, numa obra escrita, numa criação artística ou numa obra em geral. Isso só lhe assegura um valor controlável intersubjetivamente. A hermenêutica relaciona-se portanto, em primeiro lugar, aos procedimentos de aquisição de conteúdo dos sentidos a partir de documentos produzidos pelo homem, assim corno à relação entre os dois aspectos, mas também, indiretamente, à relação que as formações de sentidos mantêm entre si.8

Em decorrência da necessidade de universalidade da hermenêutica contemporânea de compreender ou de explicar as manifestações da consciência de toda a história passada, pode-se enunciar as duas seguintes afirmações: em primeiro lugar, as hermenêuticas dominantes na teoria do espírito abandonaram o principio da dialética entre passado, realidade presente e futuro — principio que caracterizou os filósofos da história da revolução burguesa — quando da origem da hermenêutica. O deslocamento do acento sobre o princípio passado pôs em questão toda a ideia de história, à qual estavam ligadas diretamente a resolução e a negação (da contradição).

A constância da compreensão é garantida ao preço da eliminação da idéia de progresso. Em segundo lugar, as mesmas hermenêuticas sucumbem à abstração necessária de ser construída com a compreensão da totalidade da origem histórica e do sentido da história, tendo em conta que reina a divisão capitalista entre produção material e reprodução ideal. Trata-se de uma volta a um estágio anterior ao da divisão do trabalho socialmente necessário e da divisão do conhecimento, o que é uma eliminação e não urna elaboração.

As hermenêuticas dominantes formam um museu imaginário de conteúdos desligados da história, um museu imaginário de intenções de sentidos, supostos ou reais, de documentos da consciência, elementos da reprodução ideológica, a uma época determinada. Como em seu inicio grego, a hermenêutica dá-se hoje pela função de transpor numa outra realidade um conjunto de sentidos originados num mundo que não o de hoje. O mundo das revelações divinas é assim separado do mundo da história do espírito humano. A história da hermenêutica 9  revela a alternância de fases em que é definida por uma compreensão objetiva de verdades objetivas com exigências normativas; por uma compreensão baseada num método seguro, nem subjetivo nem arbitrário, com fases onde ela é definida pela subjetividade que atualiza, de maneira intuitiva, um sentido sem referência normativa, o sentido do passado constituído por um único sujeito.

Com a exaltação dessa verdade dos tempos modernos a respeito da filosofia da história, a saber que o homem faz sua história e deve encontrar seu lugar no mundo, e não graças à interpretação de urna história divina de um ser que teria presença ontológica sobre a existência subjetiva e ao qual basta obedecer, a hermenêutica enfrenta a aporia (do grego oporia). Figura de retórica com que o orador mostra hesitar sobre o que há de dizer.  que hoje a domina: a dificuldade de assegurar o conhecimento hermenêutico. Mesmo que a consciência subjetiva construa sempre seu mundo em razão de sua autonomia, essa aporia do circulo que passa entre o todo e a parte, entre a realidade e a subjetividade, entre a historicidade e a espontaneidade tem uma outra por corolário: a dificuldade de continuar a tirar lições da história, independente da autonomia do sujeito.10 Da multiplicidade de tentativas feitas para dominar essas dificuldades podemos distinguir cinco:

1) A teoria psicológica idealista de uma compreensão hermenêutica da totalidade dos conteúdos dos sentidos da língua (Sehleiermacher; Dilthey).

2) A teoria idealista de uma metafísica histórica, na qual a hermenêutica é a análise da existência e da efetividade (Heidegger).

3) A hermenêutica universal, baseada numa apologia do julgamento preconcebido — concepção filosófica idealista (Gadarner).
4) A teoria da hermenêutica mareada pelas ciências sociais e pela psicanálise, a qual recusa o estado idealista de interpretação dos símbolos com base na comunicação e na interpretação linguística (Habermas/Lorenzer).

5) A crítica materialista — histórica e dialética — do modo de existência ideológica da consciência.
Em primeiro lugar — A hermenêutica moderna foi desenvolvida por Schleiermacher, em reação ao procedimento normativo da exegese, como teoria da compreensão, ou seja, da reconstituição da produção intelectual original por meio de uma intuição intelectual de mesma qualidade da do intérprete. Sua perspectiva de conhecimento é a possibilidade de expressão linguística do homem como meio sensorial: A hermenêutica só pressupõe uma coisa: a língua, e é a partir da língua também que tudo deve ser procurado — inclusive os outros pressupostos objetivos e subjetivos. A língua forma a totalidade do objeto da hermenêutica, uma totalidade feita de empregos linguísticos individuais, razão porque Schleiermacher questiona: É necessário encontrar a totalidade, ou seja, reconhecer aquilo que está à disposição de um autor; mas ao mesmo tempo é necessário considerar imediatamente a individualidade, ou seja, as características de emprego da língua. É da tensão entre a totalidade e a individualidade que nasce o problema hermenêutico: Toda a compreensão do particular é determinada pela compreensão do todo, (Schleiermacher). A aporia do círculo é resolvida, ocultando as determinantes materiais do objeto hermenêutico: as formas ideais da língua são retidas para o estudo, mas não a gênese material dos enunciados nem os seus conteúdos históricos e sociais.

O importante ensaio de Dilthey: O surgimento da hermenêutica (1900) é consagrado ao problema de saber como ante à irrupção constante do arbitrário romântico e da subjetividade céptica no domínio da história é possível construir teoricamente o valor universal da interpretação sobre a qual repousa toda a certeza da história. Qualquer hermenêutica pode ser reconhecida como que valha a conclusão tirada por Dilthey e Schleiermacher: Compreender não implica explicar só em face dos monumentos da língua e assim adquirir validade universal; porque a interioridade do homem não encontra sua expressão completa, exaustiva c objetivamente compreensível, a não ser na língua (...) a arte da compreensão tem seu centro na exegese, ou seja, na interpretação dos vestígios da existência humana contidos na escrita.

O problema da diferença criada pelo intervalo que separa no tempo a individualidade da exegese daquela do autor é resolvida por Dilthey não em virtude da regra objetiva da dialética histórica e do lógico, mas somente pelo reconhecimento do caráter antropológico existente na natureza da compreensão. Sobre a base da natureza humana em geral, todos dois se formam, o que permite aos homens ter entre eles algo de comum que torne possível o discurso e a compreensão. Definido de maneira totalmente não-histórica como estética da compreensão de manifestações da vida fixada por escrito, a hermenêutica encontra sua base científica na psicologia da vida da alma: A explicação psicológica parte do movimento dirigido rumo ao processo interior criador e continua rumo à forma exterior e interior da obra, até encontrar a unidade das obras no espírito e no desenvolvimento de seu criador.

A psicologia da criação deve extrair dessa limitação objetiva do singular as relações gerais que obedeçam às leis dos contextos mais amplos; a objetividade é garantida exclusivamente pela qualidade constante da natureza do psíquico, independente de quais sejam as diferenciações do sujeito histórico. A realidade a compreender hermeneuticamente não tem nada de comum com a realidade objetiva e a base material do psíquico: essa realidade é interioridade, realidade interior imediata, o que quer dizer não veiculada pelo mundo material, ela é urna relação vivida de dentro. É por isso que o conhecimento histórico permanece em oposição consciente ao conhecimento da natureza, uma função das ciências do espírito. Ela se distingue de todo conhecimento da natureza principalmente porque seu objeto não é um fenômeno dado nos sentidos, mas um simples reflexo na consciência daquilo que é real. Jamais foi formulado com maior rigor o idealismo de uma hermenêutica cujo objeto não seja ligado por nada à realidade material e prática, social e histórica. A aporia do círculo é sempre resolvida pela adoção de um desenvolvimento segundo leis da natureza do psíquico — o que constitui um pro-gresso no interior da hermenêutica idealista (Dilthey).

Em segundo lugar — A objetividade da descrição e da intuição puramente autógrafas se diferencia claramente da explicação -objetiva, própria das ciências da natureza, dos processos naturais que respondem a leis e não resistem por muito tempo à critica filosó-fica. É evidente que a teoria idealista e psicológica da compreensão falhou naquilo que caracteriza justamente o processo e o objeto hermenêutico: a historicidade da consciência e, com ela, a finalidade própria da hermenêutica burguesa: a reconstrução de um continuum de sentidos nos quais a consciência existente possa se identificar dentro de uma época determinada.

Com O ser e o tempo, de Heidegger (1927), entramos no terreno da hermenêutica como exegese das obras da consciência, independente de qual seja seu gênero, rumo a uma filosofia hermenêutica comportando uma exigência de universalidade na análise do existente. A metafísica, que não foi demolida de forma mais ou menos definitiva pelo criticismo de Kant, renasce como metafísica da história sob o nome de hermenêutica. Ela apresenta, com um radicalismo inusitado, a questão do sentimento de ser — questão que havia sido afastada à época do triunfo da ontologia racionalista. A hermenêutica é a questão sempre colocada do sentido do próprio ser. Ela é a explicação do ser humano em sua temporalidade e em sua historicidade.

A filosofia da tradição não tem — segundo Heidegger — conceitos adequados para tomar em conta a historicidade. Ela arrancou as raízes da historicidade do ser a tal ponto que, plena de interesses e de zelo por uma interpretação filológica objetiva, deixa de considerar as condições de possibilidade mais elementares, de uma volta real ao passado entendido corno apropriação criadora.11 

O ataque de Heidegger contra a cegueira da ontologia para com o ser pela historicidade constitui — apesar da lógica e da grandeza filosófica que inegavelmente as caracteriza — um dos sintomas mais importantes para o desenvolvimento da consciência histórica burguesa.12

Esta consciência histórica, como forma última da consciência de classe burguesa, não encontrando sua justificativa em nenhuma outra parte da filosofia, da história — fulcro da ideologia burguesa —, não é entendida de forma mais radical, ou seja, como alienação: Se (...) o destino constitui a historicidade original do ser, então a história não exerce seu peso nem no passado, nem hoje e nem em sua relação com o passado, mas no desenvolvimento próprio da existência que é gerada pelo futuro do Ser maior.  A história, como maneira de ser desse Ser, tem suas raízes tão essencialmente no futuro que a morte, como possibilidade caracterizada do mesmo, remete a existência que vai do passado à sua glorificação e confere assim o papel principal — para o que é da história — ao passado. O fato de ser consagrada à morte, ou seja, à temporalidade finita, constitui a razão oculta da história daquele ser.13

Pelo fato desse Ser possuir uma prioridade ontológica sobre todos os outros Seres (...) a hermenêutica, na medida em que é a explicação do ser desse Ser, adquire um (...) sentido (que é filosoficamente entendido, o primeiro): constitui uma análise da existencialidade da existência. (...) É nessa hermenêutica assim entendida que está arraigada — na medida em que explicita ontologicamente a historicidade do ser corno condição Mítica* da possibilidade da história — isso que se deve chamar de hermenêutica num sentido derivado: a metodologia das ciências históricas do espirito.14

O conceito de compreensão, que só é formulado psicologicamente pela hermenêutica de Dilthey ganha aqui uma acepção que abrange a metafísica histórica e compreende as projeções pelas quais o homem encontra seu ser como projeto de futuro: "compreender" é, assim, ser dirigido rumo a um poder-ser em função do qual o Ser maior existe";15       ou a compreensão participa , como existência e forma primeira, do domínio do futuro, do poder ser sempre em projeto 16

A objeção do círculo, Heidegger a recusa corno um mal-entendido. A compreensão inove-se num círculo a) de ideias pressupostas sobre a existência e o ser-lá,  b) interpretações do ser derivado dessas ideias e  c) de hipóteses sobre o ser finalmente projetadas a partir do conhecimento do ser-lá. Para Heidegger, este é um argumento sem consistência: O fato de falar de um 'circulo' da compreensão mostra um duplo desconhecimento, a saber: 1º a compreensão constitui ela mesma a natureza do 'ser' e do `ser-lá' e 2ª que esse ser caracteriza-se pelo desassossego. Negar este círculo, ocultá-lo ou mesmo querer superá-lo significa consolidar definitivamente tal desconhecimento. O esforço deve visar, isto sim, a entrar, desde o inicio e completamente, nesse circulo para se dar, desde o início da análise do ser-lá, a visão plena e inteira do ser circular do ser-lá.17

Nenhuma filosofia tem respondido de forma mais desesperada o salto de fora do domínio da necessidade para dentro do mesmo. A aporia do circulo não é mais vista como um problema difícil, mas reconhecido. O circulo é o destino ontológico da reflexão reflexiva no interior da facticidade do Ser-lá. Que a realidade e a existência humanas sejam feitas pelo homem é --  de um ponto de vista materialista – uma verdade chave para a compreensão da hermenêutica heidegeriana. Essa hermenêutica não é um episódio do irracionalismo, mas um tipo de hermenêutica que reflete o mundo de existência da burguesia numa relação capitalista, uma relação para com a morte.

Em terceiro lugar — O que resultou da herança deixada por aqueles que testaram a teoria é o que mostra o conjunto de elementos da sucessão de Dilthey e de Heidegger na hermenêutica de H. G. Gadamer. A teoria psicológica idealista da preconcepção e a apologia metafísica histórica da preconcepção unem-se na hermenêutica universal da filosofia de Gadamer, a qual é tão contestada quanto aceita. A hermenêutica não é somente uma disciplina da filosofia nem somente o sistema de métodos das ciências humanas, mas é a filosofia. Essa filosofia coloca a seguinte questão: Como é possível compreender? e responde com a construção do universo hermenêutico; coloca a questão: Qual é o alcance dessa interpretação da compreensão e sua possibilidade mesma de expressão linguística?  Pode ela assumir a implicação filosófica geral contida na frase: O ser que pode ser compreendido é a língua? Ela o responde na medida onde ela se posiciona ante o foro da tradição histórica ao qual pertencemos todos, dos hábitos da língua e do pensamento que o indivíduo forma na comunicação com o seu meio. O movimento ontológico da hermenêutica a partir do fio condutor da linguagem dá-se, para Gadamer, erguendo a historicidade da compreensão em princípio hermenêutico; a hermenêutica reconhece os julgamentos preconcebidos como condições da compreensão e se dedica à reabilitação da autoridade e da tradição.

Essa sujeição da filosofia (hermenêutica) à história dos efeitos dos sentidos transmitidos por tradição oral promete a si a abertura da realidade e um acesso compreensivo à realidade atual. Tudo, mesmo o que é pretérito, deve ser compreensível como unidade de sentidos, pois não pode ter realidade fora do que a língua apreende, é isso que essa sujeição deve legitimar. O reconhecimento mesmo de que sendo a partir de experiências e de campos de experiências limitadas que cada pesquisador surge não leva à supressão do que quer que seja do conceito de hermenêutica universal, pois, a não ser que renunciemos à exigência de sistema da hermenêutica filosófica, a teoria de Gadamer não é passível de revisão:

Porque a hermenêutica filosófica tem por objeto desnudar a dimensão hermenêutica em seu pleno e inteiro alcance e valorizar sua significação fundamental para nossa compreensão geral do mundo, sob todas as suas formas, desde a comunicação intersubjetiva até a manipulação social, da experiência do indivíduo na sociedade como a experiência que o mesmo faz da sociedade, da tradição edificada a partir da religião e do direito, da arte e da filosofia até a energia emancipacdora da reflexão da consciência revolucionária. Corno é que uma ontologia histórica da compreensão hermenêutica que necessita da apologia do julgamento preconcebido pode incorporar as formas da "consciência revolucionária" ?

Como é que uma ontologia histórica da compreensão hermenêutica que necessita da apologia do julgamento preconcebido pode incorporar as formas da consciência revolucionária? A resposta é um segredo de Gadamer, e não pode ser compreendido de outra forma que uma construção especulativa filosófica do fato e a maneira pela qual justamente essa teoria da historicidade da compreensão se subtrai à dificuldade advinda da diferença entre o objeto histórico do conhecimento e o sujeito atual do conhe-cimento: afirmar que um texto transmitido torna-se objeto da exegese significa também que o mesmo apresenta uma questão ao intérprete. A exegese contém a essa altura a relação essencial com a questão colocada e isso não é mais do que verbal no interior dessa ótica, a saber que não se pode compreender os acontecimentos históricos a não ser que se reconstrua a questão, para a qual cada ação histórica da pessoa constitui uma resposta.

A dialética da questão e da resposta deve permutar a causa e o efeito. a prática e o reflexo, ao encontro da dialética objetiva do trabalho e a tornada de consciência pela linguagem. Urna hermenêutica reduzida à simples compreensão das revelações intelectuais e linguísticas não tem mais o sentido da situação, da prática à qual um texto corresponde. Dessa forma, Albrecht Wellmer tem razão ao sugerir que se garanta o direito de cidadania aquilo que a hermenêutica esquece: que a conversação que nós somos, conforme Gadamer, é também um contexto de forças e por isso, precisamente, não é uma conversação. 18

A tentativa de Gadamer de resolver a aporia do círculo formada pela preconcepção e pela capacidade de conhecimento segue Heidegger para abandoná-lo logo em seguida: a categoria crítica da preconcepção, da qual deve partir toda hermenêutica, donde também a hermenêutica materialista, degenera na identificação com o teorema apologético do julgamento preconcebido. Mesmo a questão da legitimação e do valor dos julgamentos preconcebidos que Gadamer não rechaça nada mais é que uma negação de si mesma, pois mesmo quem indaga não encontra nenhum acesso ao círculo do julgamento preconcebido.

A afirmação prudente de F. Bollnows, segundo a qual essa posição corre o perigo de ser distorcida de maneira reacionária no sentido político também, bem como os julgamentos preconcebidos existentes, recebendo a partir da aparência uma legitimidade filosófica, significam claramente que essa posição é um documento da ideologia alemã no século XX. O interesse, do ponto de vista do conhecimento, dessa posição corresponde à necessidade da classe burguesa de se identificar com os julgamentos preconcebidos dessa classe e de assegurar seu valor filosófico, ou seja, ideológico. Essa posição mascara a especificidade do seu posicionamento inicial, além do elemento comum aparente seguinte: os julgamentos preconcebidos são feitos a priori — ou seja, antes de qualquer experiência concreta — e dirigem e determinam o conhecimento. A ficção burguesa clássica — que foi em seu tempo revolucionária — do valor universal e da força de convicção da razão transforma-se num instrumento contra a racionalidade cientifica do conhecimento histórico. A esse respeito podemos nos referir à análise de J. Habermas:

Do exame hermenêutico da estrutura de julgamento pre-concebido do conhecimento, Gadamer faz derivar uma reabilitação do julgamento preconcebido. Não percebe a oposição entre a autoridade e a razão. A autoridade da tradição não se impõe cegamente, mas somente por meio do reconhecimento refletido daqueles que, situados numa tradição, a compreendem e a continuam aplicando (..)   O reconhecimento dogmático de uma tradição significa aceitar a pretensão à verdade dessa tradição e não pode ser posto no mesmo plano que o conhecimento sem que a tradição em questão repouse sobre a falta de condicionantes e sobre um consenso total e sem reservas.  A argumentação de Gadamer pressupõe que o conhecimento e o consenso que legitimam e fundamentam a autoridade se exerçam sem violência. A experiência de uma comunicação sistematicamente deformada contradiz essa suposição. De qualquer forma, a violência implica permanência só para a aparência objetiva de falta de violência de um acordo pseudo-comunicativo.´
Essa critica é exata apenas parcialmente e está longe de ser suficiente. Com efeito: será que só a experiência da comunicação sistematicamente deformada contradiz o sonho de um consenso sem violência? O ataque de Habermas utiliza armas ineficientes, na medida em que descarta a análise do sistema que condiciona a uma reificação da comunicação. A recusa em si é superficial e ligada à critica ideológica no mau sentido do termo, ou seja, pondo em jogo os efeitos ideológicos sem mencionar as causas. Mas precisamente, o fato de entender a comunicação como a totalidade da prática e da língua corresponde à tentativa de Gadamer de limitar a ideologia a um julgamento preconcebido. Porque ele coloca o julgamento preconcebido como estrutura fundamental de nossonosso? Qual então? de que sujeitos, de que classe? — linguagem principalmenteprincipalmente — em que condições sociais e históricas? Ele inclui a critica ideológica na hermenêutica.

A critica ideológica quer desfazer os julgamentos preconcebidos com a ajuda da reflexão sócio-histórica, ou seja, deve tirar o véu que existe nos efeitos incontrolados desses julgamentos preconcebidos. É o papel próprio da reflexão hermenêutica para a qual a crítica ideológica nada mais é que uma forma particular. Desfazer os julgamentos preconcebidos não quer dizer aqui nada mais do que conviver conscientemente com os mesmos. Não se trata de suprimir as causas, trata-se, isto sim, de suprimir as conseqüências. No seio da crítica ideológica, trata-se, para a critica hermenêutica, de conhecer seu próprio esforço crítico em sua determinação e sua dependência e de levar à consciência as ilusões da reflexão: A reflexão hermenêutica exerce dessa forma sua própria crítica da consciência pensante, que traduz de volta todas as suas abstrações, mesmo aquelas que lhe propõem as ciências — na totalidade da experiência humana do mundo (Gadamer).

Há duas observações a fazer: primeiro o fato de que uma teoria, que conhece portanto   a aporia do círculo, fala tão livremente da totalidade da experiência do mundo; em seguida: como o conceito de     ideologia, reduzido à sua mais simples expressão (aqui: consciência falsa), transforma-se numa hermenêutica não-materialista, em sinônimo de julgamento preconcebido.19 O apelo para tomar consciência das ilusões da reflexão corresponde à exigência de uma teoria da comunicação consensualista, consistindo em considerar as formas linguísticas — reflexos transmitidos, portanto fragmentos da verdade — corno verdade em seu conjunto e só atribuir à tradição questões para as quais tenha resposta garantida pelos julgamentos preconcebidos — por julgamentos preconcebidos dominantes, nos quais os julgamentos dos dominados quase nunca entram.

As luzes de Gadamer sobre a história não têm mais nada em comum com a história das Luzes. A tradição da critica para com a restauração da autoridade e da tradição parece não ter importância para o contexto de sentidos procurado. Aqui, esclarecimento (Aufklãrung) por meio da liberdade do estado menor pelo qual somos responsáveis (Kant),  que confunde identificação e assimilação: Aufklärung por meio de autocensura.

Em quarto lugar. A teoria da exegese de E. Betti liga-se à tradição da hermenêutica como arte da exegese.20 Seu conceito diferenciado permite sem dúvida indicações precisas para a exegese, que são preciosas para a explicação das estruturas e das intenções do texto. A força dessa intenção é ao mesmo tempo a sua fraqueza, desde que atualmente é tudo menos representativa: a hermenêutica como técnica com um propósito cientifico não constitui uma exigência atual. O que se pede hoje em matéria de hermenêutica é que seja uma teoria, uma teoria filosófica da compreensão de si, fazendo apelo à tradição e ao julgamento preconcebido, elaborado por pensadores em tempos medíocres (Heidegger/Gadamer) ou - lá onde a filosofia é considerada um luxo improdutivo sociotecnológico -- como um acessório passível de emprego nas ciências sociais por uma teoria da experiência social que não quer renunciar à reflexão sobre seus próprios métodos e pressupostos sistemáticos. Na reação contra as teorias filosóficas universalistas da compreensão, um elemento permaneceu quase inalterado, a saber: que a hermenêutica como teoria constitui o sucedâneo das filosofias burguesas clássicas da história e que preenche, como substituto das mesmas, o papel de urna alternativa ao desaparecimento efetivo da especulação idealista relativa à história e à realidade, ou seja, ao materialismo histórico e dialético.

*  A distinção entre ôntico (ontisch) e ontológico (ontologisch) foi proposta por Heidegger. Por ôntico pode traduzir-se: que se refere aos entes e por ontológico: que se refere ao ser. Segundo Heidegger em Seio und Zeit (Q ser e o tempo), a descrição do ente intramundano (das innerweltlichen Seienden) é ôntológica.

N o t a s :

1. Ver o artigo "Hermenêutica", de W. R. Beyer em Dicionário filosófico, editado sob a direção de G. Klaus e M. Buhr, 6ª edição revista e corrigida, Leipzig, 1969, vol. 1, p. 475.

2. Hauff, Heller, Hüppauf, Kõhn, Philippi. Os autores dedicam-se a mostrar um enriquecimento recíproco do marxismo pela hermenêutica, da hermenêutica pelo marxismo. Eles não pensam ser necessário antes elaborar uma hermenêutica susceptível de ser integrada pelo marxismo.

3. Teses para o estudo materialista e histórico da ciência da literatura (União dos Estudantes Comunistas). Alternative, n° 82, Berlim, 1972, p. 15.

4. Coletivo de especialistas socialistas da literatura em Berlim Oriental, vol. p. 452.

5. Karl Marx, O capital, livro I, citado em Marx-Engels, Sobre a religião, Editions Sociales, Paris, 1972, p. 138.

6.  O desenvolvimento de Brinkman sobre hermenêutica materialista e histórica é desmentido ao levar em conta o formalismo de Rethel: Forma de mercadoria/ forma de pensamento. Em W. F. Haug: Teoria das falsas aparências estéticas (...) como base de uma hermenêutica da negação definida encontra-se uma contribuição à análise social da destinação da faculdade sensitiva e do desenvolvimento das necessidades na sociedade capitalista que pode ser considerada como o ensaio mais bem-sucedido do uso da crítica hermenêutica materialista aplicada ao fenômeno da estética das mercadorias (servindo a esconder a falta de valor de uso de uma mercadoria, dando-lhe um valor simbólico e/ou estético). Os pressupostos metodológicos e sistemáticos dessa hermenêutica da negação definida continuam sem formulação. No âmbito do Centro de Pesquisa Interdisciplinar, da Universidade de Bielefeld, um grupo composto de filósofos, de especialistas da literatura, de sociólogos e de juristas, por proposta do autor, começou seus trabalhos sobre a hermenêutica materialista realizando um colóquio sobre esse tema em outubro de 1972.

7. Seiffert entende por hermenêutica (...) todo método que permite captar com uma real compreensão das situações da vida como tais - tratar-se (...) de uma dor de dente, de uma sociedade num clima definido, do caráter de um apartamento. Essa hermenêutica baixa os braços ante a complexidade dos processos históricos e não sabe mais decidir se a hermenêutica é um substituto da inteligência analítica que não devemos ao desenvolvimento da história mundial ou o único método adequado para se chegar à história.

8. Artigo hermenêutico em Fischer-Lexicon Philosophie, editado por A. Diemer, I. Frenzel, Frankfurt sobre o Meno, 1971, p. 97.

9. Conferir Blass, Dilthey, Ebeling, Fuchs, Geldsetzer, Wach.

10. Com as palavras de Hegel: O indivíduo é um filho de seu povo, de seu mundo. [...] Não devemos crer que encontraremos nos velhos as respostas das questões de nossa consciência, os interesses do mundo atual.

11. Heidegger, L'etre et le temps (O ser e o tempo), Paris, Gallimard, 1964, p. 38.

12. Idem: A tese: 'o ser-lá é histórico' não significa somente o fato ôntico que o homem representa um 'átomo' mais ou menos importante no motor do mundo e que a ele resta o jogo das circunstâncias e dos acontecimentos, mas coloca um problema: em que medida e com base em que condições ontológicas a historicidade como essência constitutiva do ser pertence à subjetividade do sujeito histórico; comparar, L'etre et le temps §§ 45-53, 72-77, em Qu'est-ce que la métaphysique? Paris, Gallimard„ 1938.

13. Ibidem.

14. L'etre et le temps, p. 56.

15. Ibidem.

16. Ibidem.

17. Ibidem.

18. Albrecht Wellmer, A ciência social empírico-analítica e crítica, em Kritische Gesellschaftstheorie und Positivismus (Teoria critica da sociedade e positivismo), Frankfurt sobre o Meno,  1969, p. 48.

19. O antimarxismo pode se atribuir o mérito de haver salvo o conceito marxista de ideologia da concepção mecânica e econômica do qual se revestiu no tempo de Boukharin e de Stalin. Pôr em dúvida a ideologia como consciência falsa não é correto ao invocar o livro de K. Mannheim: Ideologia e utopia. A ideologia designa um modo de consciência e de reflexo da qual a estrutura lógica particular é determinada por uma estrutura de dominação de classe sócio histórica, caracterizando uma formação socioeconômica e que tem, como a expressão de interesse de classe, uma função de parti pris normativo quanto ao comportamento social. A ideologia é a consciência social necessária e - em certas condições que não se pode generalizar - necessariamente falsa do ser social.

20. Ver, por exemplo, Meier: A arte da exegese no seu sentido mais largo (...) é a ciência das regras por meio da observação das quais podemos reconhecer os significados a partir de seus signos; a exegese em seu sentido mais estreito (...) é a ciência das regras que devemos observar quando queremos reconhecer o sentido de um discurso e relatá-lo a outros.

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