quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SER MATERIALISTA


Frank A. E. Svensson
04.01.2009.



Todos temos origem e integramos processos. Dificilmente deixamos de perceber o decorrer da vida sem pensar em desenvolvimento. Fichte, Darwin e muitos outros o fizeram antes de nós.  Sermos idênticos e ao mesmo tempo únicos faz-nos questionar essa dualidade aproximando-nos do entendimento dialético. Pensadores na Grécia Antiga o fizeram antes de nós.

Não conseguimos contestar a cosmogonia de que fora do real só o irreal e imaginário. Nisso Hegel foi materialista. Face à abstrata noção de um todo maior torna-se imprescindível questionar a parte específica. Desse relacionamento surgem inúmeras e infindas categorias cognitivas como instrumentos indispensáveis à busca da verdade. Evidenciam que a mesma nunca será encontrada em forma absoluta mas deve ser intensamente procurada.

Encanta-me o pensamento positivista tentando organizar, a partir da observação e da contemplação, o conteúdo do todo maior. Ajuda-nos a reconhecer situações. Pertenço à geração que intensamente viveu o plano de Brasília. Não o condeno. É uma importante contribuição cognitiva para esclarecer o relacionamento das partes entre si. Por muito tempo restará referência para a ordenação urbana no Brasil. 

Reconheço também a importância de ser objetivamente existencialista. Sou o principal instrumento cognitivo de que disponho para fazer a realidade chegar a mim objetivando o quanto sou parte integrante da mesma. Uma coisa é ignorar a presença de minha subjetividade no processo cognitivo, outra é ver o real como resultado da ação recíproca entre sujeito e objeto.

Augusto Comte, engenheiro militar, professor da Ecole Politechnique, pai da sociologia, pretendeu ater-se somente ao objetivo. Daí as limitações de sua engenharia social. Seu apego à constatação de situações castra o trabalho dos cientistas sociais de uma efetiva participação na proposta de mudanças e superação do que tenham constatado de negativo e destruidor. Dificulta, ainda, aceitar a existência de consciência coletiva, por parte de formas socialmente organizadas contraditórias entre si, p. ex. a consciência de classe.

Engels, alma gêmea de Marx, afirma, ao criticar o posicionamento positivista de Düring: a matéria é movimento. Não admite nada externo ao real empurrando a matéria pondo-a em movimento. Ela é movimento em si por força de suas intrínsecas contradições. Engels e Marx eliminam assim as noções de início e de fim. O real é reconhecido como eterna mutação por força de contradições próprias.

Dotado de razão o ser humano dispõe da aptidão de desenvolver o conhecimento com ajuda da imaginação. É incapaz de imaginar o não existenciado, mas é capaz de imaginar o inexistente a partir do conhecimento do existente.  Não importa se consciente ou inconscientemente. O arriscado é tomar o imaginado por verdade concreta. A verdade passa pela prática afirma Lênin, notório por seu posicionamento materialista. Por muitas formas de prática.

Os materialistas não somos ateus. Para nós os deuses existem, mas só na imaginação das pessoas em busca de conhecimento sobre o desconhecido. Cada cultura produz suas próprias divindades e fantasia à sua maneira o habitat das mesmas. Para muitos o céu tem ruas calçadas de ouro... Para outros o socialismo é uma fatalidade... Aos jovens-bomba são prometidas virgens no além... Há os que admitem estágios intermediários antes de subirem ou descerem ao estágio final... Outros imaginam infindas reencarnações...

No capitalismo, somos hoje envolvidos numa crise evidenciando o impasse entre a economia real e uma economia virtual. Desafia-nos fazer voltar o domínio da economia real ou aceitar a barbárie. Não basta ser amigo do povo e ter pena dos pobres, Urge, a todos níveis, reconciliação com o pensamento objetivo crítico.


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