domingo, 29 de setembro de 2013

INTERESSE PELO ANTIG0 – Parte II.

Frank Svensson – Brasília 2001.



Vista aérea da Villa Médicis, onde funcionava a Academia Francesa em Roma. Montigny, laureado bolsista do Prix de Rome, foi designado Secretário da Academia pelo Clube dos Artistas Revolucionários de Paris. In Falda: Giardini de Roma.

Estado da propriedade – Fim do século XVI, início do século XVII.

Acesso aos jardins da Academia. Da parte posterior do prédio vê-se |Roma.


Estado dos jardins no século XVII. Gravura de Falda.

A aproximação com a antiguidade era entusiástica, porém desconexa. O reconhecimento da importância do conhecimento histórico quanto à arquitetura implicava saber escolher, na grande variedade de elementos arquitetônicos, os apropriados, corretos. Implicava abandonar os cânones da composição da arquitetura clássica e discutir se proporções e ordens enunciadas por um teórico eram preferíveis às enunciadas por outro.

Sobretudo em mansões de banqueiros ou outros favorecidos pelo capitalismo ascendente e contrariando hábitos de velhos arquitetos, os jovens aplicaram com liberdade valores e elementos observados na. arquitetura da antiguidade. À medida que a clientela dos arquitetos aumentava, abandonava-se a padronização desses elementos que constituíram a característica essencial da arquitetura clássica.

Em que pesem as implicações dos câmbios econômicos, as mudanças de expressão arquitetônica ligaram-se a questionamentos de ordem conceptual e a uma nova forma de saber: o conhecimento histórico. Necessitava-se esclarecer como ordenar e dar praticidade às informações advindas da leitura da arquitetura da antiguidade.

Voltaire (François Marie de Arouet) é visto como pai da historiografia, primeiro historiador moderno. Seus livros Luís XIV e sua Época (1751) e Ensaio de História Geral e dos Costumes (1754) indicam um novo enfoque da história e permitem abrirem-se caminhos para o pensamento arquitetônico.7

Voltaire mostra a transformação (el cambio) como elemento a ser considerado fundamental pelo conhecimento histórico; que como expressão de mudança da realidade o câmbio lhe é mais característico do que a condição permanente. A história da arquitetura passou a se preocupar com sua evolução. Em meados do século XVIII, os arquitetos veem a arquitetura como seqüência de formas cambiantes. Passa-se a querer ajudar a história propondo formas novas revolucionárias como as de Ledoux, Boulée e Lequeu.8


Tido como historiador social pioneiro, Voltaire preocupava-se mais com o progresso cultural do que com sucessos políticos e militares. Em Luís XIV e sua Época, nos 3 capítulos sobre Belas Artes, quase não menciona a arquitetura. No artigo "Historia", de A Enciclopédia, afirma que a história da arte é a mais útil delas, e se torna o primeiro a incorporar a história da arte à da civilização. O enfoque de Voltaire não favorece meramente a descrição do havido. Inclui a crítica sobre o havido, excluindo de seu interesse fábulas que julgara serem a base do fanatismo, da credulidade. No havido estava o que devia ser valorizado e o que podia ser desprezado. Noutras palavras, o conhecimento histórico exigia formulações teóricas que definissem o que considerar prioridade. Ate então não se duvidara da explicação mítica de Vitruvius nem da explicação de Tito Lívio sobre as origens de Roma.



C. N. Ledoux: Habitação para trabalhador rural. Maupertui, (-1780).




E. L. Boullée: projeto de cenotáfio para Isaac Newton, 1784,
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Como comprovar a autenticidade de origens e fatos históricos substituiu as velhas mitologias pelos argumentos racionais. As formas da antiguidade consideradas autênticas foram tomadas como protótipos históricos reais. A pesquisa das origens históricas da arquitetura passou a ser tanto ou mais importante que a leitura dos 10 livros de Vitruvius.9

Os textos de Voltaire reportam-se à ideia de progresso como tendência, no sentido do aperfeiçoamento. O avanço na ciência e na indústria estimulou os pensadores a sustentarem-no para as artes, e Voltaire concebeu a história como universal. Antes dele, história universal relacionava-se essencialmente a cristianismo. Do mesmo modo, o que se escreveu sobre arquitetura ficou limitado às formas dos elementos de uso comum. Criticando Bossuet por não haver mencionado muçulmanos e hindus, Voltaire abriu caminho para estudos de todas as civilizações, à parte a relação com a cultura greco-romana. A arquitetura, em qualquer cultura, passou a interessar ao conhecimento arquitetônico.

A Idade Média chamou a atenção de Voltaire. As teorias arquitetônicas da Renascença haviam desprezado a arquitetura medieval. Ele englobava como importantes não só as culturas de todos os povos, como as de todos os tempos. Mais tarde na Inglaterra (não na França) desenvolveu-se rapidamente o interesse pela arquitetura medieval, induzindo os novos industriais a quererem mansões em estilo neogótico. Deve-se a Voltaire a atitude nova de respeito ao oriental e aquilo que os ocidentais viram como exótico. A idealização daquilo que está distante no espaço e no tempo veio a ser um dos principais traços do romantismo arquitetônico. A busca racionalista de instrumentos teóricos para formular o conhecimento histórico surgia mesclada de considerações sensoriais.

O pensamento de Voltaire integra os câmbios ligados à ascensão da burguesia inicialmente progressista. O novo conhecimento histórico desencadeado por suas teorias e vital para se entender a arquitetura ligada às grandes revoluções democráticas burguesas e está também na base da teorização do romantismo que tão fortemente a caracterizou.

Voltaire indicava a antiguidade como maior fonte do belo e do autêntico em arquitetura. Bonaparte queria transformar Roma em capital do Império Francês e do Mundo. Iniciava-se a História do restauro e da preservação arquitetônica.


Coliseu – Arena após escavações. S. Pomardi 1813. Bibliotecca degli Annali  dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto C. Guidotti.

Coliseu – G. Balzar 1822. Bibliotecca degli Annali  dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto C. Guidotti.

Forum Romano, 1822. L. Rossini - Bibliotecca degli Annali  dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto G. Guidotti.

Forum Romano, 1829 G. Cottafavi - Bibliotecca degli Annali  dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto G. Guidotti.

Forum Romano. Plano de G. Valadier. 1821. Archivo di Statto Romano. Foto J. Jonsson.

Trabalho forçado em Roma. Foto T. Thomas. Paris 1830.


Escavação do templo de Júpiter Stator, com trabalhos forçados. Bridgens, 1820. Foto Museu di Roma.


N o t a s :

9. L. Hautecoeur - História Geral da Arte. São Paulo, 1964.

10. P. Collins: Los Ideales ele la Arquitectura Moderna; Evolución (1750-1950).

11. Ídem.

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