segunda-feira, 19 de agosto de 2013

HÁ MALES QUE VEM PRA BEM! *


Claude Méril Schnaidt (* 23. Junho 1931 em Genebra; † 22. Março 2007 em Paris), militante comunista franco-suiço, arquiteto e teórico da arquitetura.*



Tradução: Frank Svensson


Há males que vem pra bem. Ao contrário de muitos outros, este dito popular não é falso. Os males da queda dos países do Leste europeu, da guerra do Golfo, da nova ordem mundial, tiveram a vantagem de nos abrir os olhos.

Do rio Elba aos montes Urais, o socialismo pôs-se de joelhos por haver decidido alcançar o capitalismo. Como assim? Como concebido no século passado, o socialismo deveria superar o capitalismo mais desenvolvido, industrialmente falando. A História fê-lo começar em países atrasados, semi colonizados, arruinados por guerras, exceção feita da Checoslováquia. Desestruturados por penúria e agressões de toda sorte. O socialismo teve que se organizar enfrentando carência econômica e superar penúria acreditando poder alcança-lo com mudanças radicais. Implicou um método de acumulação pública acelerado e planificado, certamente eficaz, mas muito desgastante quanto ao teor humano. A democracia na base foi subordinada à realização de planos impostos. O produtivismo lançou às calendas gregas a abolição do trabalho desumanizante. Necessidades não levadas em conta foram censuradas.

Tal política foi vista como legítima na medida em que correspondia a uma etapa inevitável na criação das forças produtivas indispensáveis à elevação do nível de vida. No que viria após essa etapa perdeu-se de vista -- a profundidade da perspectiva do comunismo poder ser desencorajante e desmobilizante -- o socialismo leste-europeu, ao invés de antecipar outra civilização, se pôs pouco a pouco a imitar a produção e o consumo capitalista. Um caminho que só poderia resultar em fracasso por, de uma parte não dispor do sistema de exploração planetária próprio do capitalismo, e de outra ter que financiar suas realizações com atrativos como os de países capitalistas. Privados de outras medidas, as massas dos países do Leste europeu passaram a considerar o acesso ao bem-estar suposto dos seus vizinhos ocidentais como um fim em si. Obtendo poucas soluções originais dos problemas de desenvolvimento, o socialismo reduziu suas iniciativas. Não ultrapassando o capitalismo nesse terreno deixou de se afirmar como uma força de futuro. Pensando fazer prova de realismo, estreitando seu horizonte, perseguiu uma quimera incapaz de sobreviver sem devorar seus concorrentes.

A hidra capitalista mal digerira os bom-bocados eslavos, húngaros, romenos e alemães lançou-se sobre o prato oriental que lhe preparara Sadam Hussein. O pais desse antigo favorito dos gendarmes do mundo pagou por haver se imposto como uma forte potencia do Oriente Médio, defendendo seus interesses pela força e querendo assumir a liderança dos Árabes contra todas as humilhações por eles sofridas. A emergência de potencias regionais ativando uma politica autônoma se foi tolerável quando USA e URSS disputavam zonas de influencia e mantinham em respeito pela ameaça nuclear que tornava uma confrontação geral relativamente improvável, não o é hoje, sendo uma região principalmente de interesse econômico e estratégico vital para o imperialismo.

A invasão do Kuwait deu pretexto aos Americanos e seus aliados para uma intervenção militar, destinada num primeiro momento a abater o Iraque, e depois a longo termo submeter a região à sua tutela, ou seja sua ocupação direta. Os Estados Unidos transformaram imediatamente a crise numa situação exemplar que lhes permitisse mostrar aos olhos do mundo inteiro que o período desmontado das lutas de libertação dos povos aos olhos do mundo inteiro cessou e que uma nova ordem mundial, baseada na dominação dos países capitalistas desenvolvidos, sob a direção dos Estados Unidos, se instaurara. Foi isso que explicou George Bush após a guerra:

O espectro do Vietnam foi enterrado para sempre nas areias do deserto da península árabe (...) Hoje nosso moral é tão alto que nossa bandeira e nosso futuro tão brilhante como a tocha da liberdade. A nova ordem internacional passou seu primeiro exame. O duro trabalho da liberdade nos aguarda.

A mensagem transmitida a todos os povos do planeta, notadamente do terceiro-mundo, é bem clara:

Podeis ser bilhões, mas nós somos os mais fortes. Vossos exércitos podem ser os mais numerosos; nós os reduziremos a pó sem derramamento de sangue nosso. Podeis vos proteger sob metros de concreto; nós faremos saltar vossos abrigos. Podeis chamar os Russos, mas é a nós que deveis vos render. Podeis fugir em debandada e implorar absolvição; sereis exterminados sem piedade se decidirmos vos punir. Trata-se de um complemento essencial ao silogismo adotado de há muito. A nau dos ricos está superlotada. Aceitar pobres a bordo significaria naufragar a todos. Deixemos os pobres se afogarem. Considero de minha parte, muito reconfortante constatar que no momento em que o capitalismo jubila e proclama o fim da História (todas as viagens estando repletas e conscientes do fim das mesmas), os fatos atestam que sua civilização, por sua natureza cada vez mais predatória, é estritamente reservada a uma pequena minoria da humanidade.
  
O capitalismo ainda dispõe de recursos, mas não tem futuro. É sinônimo de retorno à barbárie. É incompatível com a perpetuação da espécie humana. Fundado sobre ganancia e sobre acumulação do capital produtor de lucro, condicionado a produzir e vender cada vez mais, é incapaz de suprimir a carência. Deslocando-a, reproduzindo incessantemente a insatisfação de necessidades alimentando desigualdades ao ponto de ameaçar hoje a morte de três-quartos da humanidade.

Cubanos, não pensem que a fronteira entre os ricos e os pobres, entre colonizadores e colonizados, só passa separando o Norte do Sul. Ela serpenteia também no interior de cada nação do Norte. Na França, por exemplo, 10% dos mais afortunados dispõem de 54% do patrimônio de nosso povo, os 50% menos afortunados repartem entre si 6%. Quase 3 milhões de desempregados, centenas de milhares de idosos, de trabalhadores imigrantes encontram-se na miséria. Nossas províncias são as colônias das multinacionais e da metrópole parisiense. Nossos campos são saqueados pelos bancos, pelos trustes da indústria alimentar, por pastagens, para alimento do gado que integra a economia rural, privando-o de desenvolvimento autônomo apropriando-se da mais valia para reinvestir fora da agricultura e fora da região produtora.

Em todo o mundo capitalista se instaura uma sociedade a duas velocidades: de um lado os que se apropriam, os que têm e participam do trabalho; do outro os destituídos, os desempregados, os miseráveis, os desnecessários, economicamente inúteis.

Aqui um hipermercado, de diferenciados artigos de alto custo; lá escolas decadentes, salas de aula superpovoadas, centros urbanos deficientes, transporte coletivo saturado. O capitalismo não é só gerador de desigualdades e de desumanização. É propriamente inviável no sentido que sua logica de crescimento gera um imenso desperdício de recursos insubstituíveis, deterioração do meio ambiente, poluição e destruição dos processos naturais à preservação da vida.  Como jamais se viu multidão de homens se comprazer na escravidão e se alegrar com a morte, como é pouco provável que ceifemos um dia nosso trigo em outro planeta, estamos autorizados a pensar que a nova ordem mundial não será tão inabalável como deseja George Bush. Podemos mesmo afirmar, como bons dialéticos, que os ares triunfantes apresentados pelos capitalistas são destinados a mascarar as sérias angustias existenciais e a prevenir o surgimento de uma gigantesca aspiração de mudança.

Os revolucionários não são mais os únicos a querer ultrapassar o modo de produção, de consumo e de vida do capitalismo, Ao sentimento de intolerância imediata do sistema pelas massas se ajunta a conscientização dos condicionantes ecológicos e antropológicos que enfrenta. Um exemplo entre milhares à escala mundial, o modelo de indústria agroalimentar francesa ou americana absorverá para seu funcionamento a totalidade de grãos disponíveis na terra, o que seria uma aberração.

Marx esclareceu o porquê e o como do esgotamento da terra e do trabalhador pelo capital, Não pode, no entanto, prever que o desenvolvimento universal das forças produtivas atingiriam tão rapidamente limites que não contradizem sua análise, mas evidenciam, ao contrário, a urgência de um outro tipo de crescimento. O tempo urge. Sabeis algo disso em Cuba, por terem atravessado a mais dura prova de vossa história recente. Chamou a atenção de milhões de observadores. Alguns por ódio. Outros por uma curiosidade malsã -- Por quanto tempo resistirão? – ou por uma boa-vontade interesseira – É o momento de firmar contratos com eles.

Em todos os outros constatamos o respeito pela coragem, o reconhecimento pela solidariedade internacional, pela honra salva no Conselho de Segurança. O credito do qual beneficiais no mundo não é indiferente à questão do futuro da civilização. Muita gente compreendeu vossa contribuição depois de trinta anos com respostas decisivas a esta questão. Vosso desenvolvimento tem de novo ser o desenvolvimento de todos os homens, do Homem todo, e não unicamente a valorização de coisas, que em si não passam de um meio. Recusou o lucro, a rentabilidade financeira das empresas como único critério de gestão para substituí-los pelo de riqueza social. Não vos deixastes seduzir pelos encantos do mercado. Vosso desenvolvimento não vem daí. Ele nasceu no interior de vosso povo o qual aprendeu a contar principalmente com suas próprias forças e a exercer o poder com grandeza.

Sim compañeros, estão no bom caminho e tendes muitos amigos que vigiam para que não seja interrompido.

Quando despontam pressupostos de um novo mundo através de uma exacerbação de antagonismos ou de outros que os marxistas percebam a urgência de uma civilização diferente, basta, voltar aos ideais revolucionários, considerar o projeto intermediário de um socialismo a meio caminho? 1

Eu digo não sem hesitar a esta questão posta pelo filósofo Lucien Sève. A advertência dos guardiões da ortodoxia do socialismo cientifico é previsível: Camarada, não sonhe, não se queimam etapas.

É verdade que entre o capitalismo e o comunismo ocorre uma fase intermediária que chamamos de socialismo. Pois se tratando de uma transição, convém definir o socialismo em relação ao comunismo, senão o socialismo não será transição nem mesmo socialista.  Donde a fórmula de Marx:

O socialismo é a fase inferior do comunismo.

Do que se pode deduzir que o comunismo é a fase superior do socialismo. Apesar das aparências, essas duas fórmulas não são equivalentes. A primeira implica a modéstia e a ação; a segunda justifica a autossatisfação e o voluntarismo. É isso que sem duvida conduziu Marx a preferir a noção de fase inferior do comunismo à de socialismo por William Morris: o socialismo (ele acrescenta sistematicamente de Estado) é uma etapa de transição inevitável que ele prevê com uma apreensão resignada. Ele teme os excessos de poder, a burocracia de um Estado fortemente centralizado e autoritário, o risco de que não se tenha outra ambição do que de atingir o nível de vida da burguesia refinada de hoje, só subtraindo-lhe o poder de viver do trabalho de outrem.2

Àquilo que Morris mais reage, é a possibilidade do primeiro estágio da revolução, o socialismo de Estado, se tornar um fim em si mesmo, o que bem expressa o velho Hammond em Noticias de lugar nenhum quando diz a seu interlocutor que nesse caminho a geração revolucionária iria dar num atoleiro.Quero lembrar que essas linhas foram escritas a exatamente cem anos. Com todo respeito por William Morris, pena que os dirigentes dos países do Leste europeu não o tenham tido como livro de cabeceira.

Em Cuba nunca se deixou em quarentena o projeto de uma sociedade comunista. È isso que gera vossa força e vos autoriza a me dizer: O comunismo pressupõe a abundancia que ainda estamos longe de conhecer. Assim somos mais prudentes que tú. Percebo que pode ser inconveniente de minha parte introduzir o tema da abundância, Espero no entanto merecer vossa indulgência quando souberes que meu único luxo é o de fumar vossos puros quando posso encontra-los com abatimento.

Abundância é a quantidade superior à necessidade.4  Entender o que são necessidades é muito difícil, porque antes de definir que coisas, estas implicam situações diferentes umas das outras. O que o indivíduo sente espontaneamente como uma necessidade, crê ser uma necessidade, não lhe é exclusivo. É da configuração global da sociedade que depende ter tal ou tal necessidade. As necessidades não são dadas pela natureza. São determinadas pelo mercado e acima de tudo pelo modo de trabalho. Um exemplo: Os desejos de consumo opulentos solicitados pelo capitalismo avançado só em parte são artificiais. Por outra parte são os desejos do trabalhador decomposto e mutilado, que impossibilitado de se interessar e se dedicar a seu trabalho, é presa fácil, fora do trabalho pelos mercadores de divertimento, de conforto, de compensações privadas aos traumatismos que lhe inflige a atividade social.5

Nossa abundancia capitalista é um oculta-miséria ilusionista.  Quando Marx escreveu que a condição do comunista é quando todas as fontes de riqueza coletiva jorrarem com abundância ele certamente não imaginava supermercados, sedes e clubes sociais alemães do fim do século XX.  Marx não podia estimar o preço e as consequências que nosso viria ter o que ele chamava desenvolvimento das forças produtivas donde logicamente pressupor abundancia. Soubera ele o que sabemos hoje, que os recursos da terra não são infinitos, teria sido o primeiro a proclamar que sempre querer mais dessa terra é um criminoso absurdo. A bulimia, a orgia quotidiana não são as características da Inglaterra comunista imaginada por William Morris em Noticias de lugar nenhum.  A abundancia reina no país como resultado da supressão das fabricações inúteis (os artigos de luxo para os ricos e os artigos de má qualidade, as pacotilhas, para os pobres famintos) e da volta à produção de desocupados, intermediários mercantis e parasitas da antiga sociedade. Energia disponível por toda parte em quantidade ilimitada. O dinheiro deixou de existir. O valor das coisas volta a ser o de seu uso. Não se pesam mais as mercadorias, mas as pessoas não tomam sem ceder o que precisam. A comida é copiosa e delicada, mas não se deseja comer salmão todos os dias.  Esses ingleses vivem de modo simples, não diferentemente dos trabalhadores de Las Terrazas de hoje. Construir o comunismo desde hoje, é trabalhar pela fusão da cidade e do campo. Nesse domínio, vós estais, um século adiante. Eu não tenho nada a vos ensinar, senão que lendo os textos dos fundadores do marxismo, descobri que a posição dos mesmos foi ainda mais radical do que geralmente se crê. Considerando o Anti-Düring, os Princípios do Comunismo, A questão da habitação, a Ideologia alemã verão que as palavras são claras e precisas: Fusão (Verschmelzung) da cidade e do campo comparece inúmeras vezes.

O exercício da agricultura e da indústria pelos mesmos homens é condição necessária da associação comunista.A civilização nos deixou, com as grandes cidades uma herança que exigirá muito tempo e esforço para eliminar. Mas terá que ser eliminada e o será (Aber sie müssen und werden beseitigt vverden) mesmo sendo um processo de longa duração.7

A outra civilização que iremos produzir confere a esses enunciados uma atualidade impressionante. Se é verdade que pô-la em prática será extremamente custoso, e por consequência irrealista, mesmo permitindo economias de escala substanciais. As comunidades agroindustriais não exigem o emprego de meios pesados e sofisticados inerentes a enormes combinados. O tratamento dos dejetos, a economia de energia, a adução e evacuação de águas aí são mais fáceis que nas grandes aglomerações. Nenhuma perda de tempo no deslocamento entre o domicilio e o local de trabalho. Vocês certamente fizeram contas interessantes a esse respeito. Não insistirei quanto a isso. 

O povo cubano já reconhece largamente ser nas comunidades agroindustriais à escala humana que há adequação a necessidades. E de necessidades a recursos, bem como, o manuseio do meio ambiente, podem ser atender decisões D. (mais democráticas que sob diretivas burocráticas).

O comunismo, não é a equiparação no trabalho; é o fim do trabalho desumanizante. Sabemos já que este não começa automaticamente com a propriedade coletiva dos meios de produção e com o poder da classe trabalhadora. Se ao longo da fase inferior do comunismo os homens continuam a trabalhar como abelhas, a sociedade resta um instrumento de acumulação e o trabalho resta uma atividade puramente utilitária, sendo inútil esperar que um belo dia se chegue à fase superior.
 
Se organizar mais racionalmente, trabalhar menos, ganhar mais, tudo é bom, mas não suficiente. A superioridade fundamental do socialismo sobre o capitalismo não pode residir fora da liberação do trabalhador ao nível do ato produtivo e das relações de produção. Tal liberação não é conquistada antes que a propriedade coletiva das empresas signifique também que o trabalhador aí esteja e se sinta integrado, porque detém o poder de regular a economia, tanto pelo que é produzido como pelo modo de produzir.

No combate pelo trabalho emancipador, as técnicas têm sua importância. Fomos todos marcados por uma versão do materialismo histórico elaborado no momento da industrialização da URSS segundo o qual o movimento da história é essencialmente determinado pelo desenvolvimento das forças produtivas. Forças produtivas destinadas a elaborar os bens materiais necessários à vida, e que, além de sua função ecxistencial fundamental, são externas e anteriores à consciência e à vontade dos homens. Em 1968, quando eu era questionado pelos esquerdistas sobre o caráter de classe da técnica e da ciência, eu resistia  ainda firmemente sobre esta posição e me satisfazia a retorquir que as leis que condicionam a forma de um perfil metálico não as mesmas na China como no EEUU. 

Depois eu me vi obrigado a trocar as lentes dos meus óculos. Como permanecer insensível aos sintomas de demência da nossa civilização, ao questionamento sobre o sentido do progresso? Eu reli com proveito Lewis Mumford 8  que antes me aborrecia. Eu me incomodava com advertências como as de Chup Friemert.9  

Deixei de duvidar da lucides de William Morris. Não. As forças produtivas, as ciências, as técnicas não são neutras, não crescem como flores  no campo, independente da vontade dos homens. Não basta mais, no fim do século XX, acusar o dano feito pelo capital. Sua concepção mesmo, oriunda de condutas de potencia e dominação, deve ser posta em questão. Pois no momento em que os poderes concedidos a humanidade ultrapassa o que os indivíduos e a terra podem suportar, a questão é o que fazer? para que esta Terra continue habitável e a condição humana possível.

Nós outros marxistas, não amamos o Estado. Pensamos que nele – nascido da divisão da sociedade em classes antagonistas – o homem vê separar de si e voltar contra si suas próprias forças sociais. Consideramos o Estado socialista como um rodeio que convém encurtar o mais rápido possível. Nosso objetivo é a democracia direta, a autogestão, a passagem do governo dos homens para a administração das coisas.

As gentes – no dia após a enésima morte anunciada do comunismo – nos dão razão. Se os do Norte tendem a se unir contra os famintos do Sul que ameaçam apropriar-se de sua parte das riquezas, insurgindo também contra as grandes maquinas que lhes desagregam. Vejam como corre um fio unindo o deslocamento da URSS, o avanço dos movimentos separatistas, a recusa de Noruegueses e Suíços de provar das delicias do Espaço Econômico Europeu, a indignação dos camponeses, o fatigar dos comités de cidadãos de todo tipo, a transformação da ação reivindicatória sindical, a erosão dos partidos políticos tradicionais ...?

As gentes aspiram, frequentemente confusamente e à revelia do bem senso, decidir eles mesmos, lá onde estão, à partir de seus próprios empreendimentos, particularmente  a edificação de seu modo de vida. Algo que nos concerne diretamente como arquitetos. A arquitetura de uma outra civilização em gestação no tumulto do fim do século XX será obra, felizmente imperfeita, do povo soberano da terra. Falta do que, a abertura de valas comuns da nova ordem mundial poderão ser a única e ultima ocupação dos arquitetos.

Avante compañeros, Ce n’est pas fini. Venceremos !


N o t e s :

* HÁ MAL QUE VEM P’RA BEM (À OUELOUE CHOSE MALHEUR EST BOM) Texto oriundo da conferência feita de mesmo título na Faculdade de Arquitetura do Instituto superior politécnico José Antonio Echeverria de Havana; publicada com o mesmo título in: Schnaidt, Claude: Ce n’est pas fini/No se acabò. Paris/ La Habana, École d’architecture Paris-Villemin/ /Instituto superior politécnico José Antonio Echeverria 1999, pp. 9-17. Partes desse texto foram usados em conferencia feita sob título Der Anfang vom Ende des Produktivisrnus no atelier « Positionen zur Gestaltung » da Escola Superior de Arteede la Hochschule für Künste Bremen, 30 de novembro de 1993;  reproduzida em versão abreviada sob o mesmo título in : positionen zur gestaltung. Brême, Hochschule für Künste Bremen 1995, pp. 58-67.

1. Sève, Lucien: Communisme: quel second souffle ?, Paris, Messidor/Éditions sociales 1990, P. 96.

2. Meier, Paul La pensée utopique de William Morris. Paris, Éditions sociales 1972, P. 441.

3, Morris, William : Nouvelles de nulle part, Paris, Éditions sociales 1961, p. 202.

4. É interessante notar que em dicionários antigos (le Larousse do século XIX, por exemplo), a abundancia é definida como o estado em que se desfruta de tudo que é necerrário à vida, bens, riquezas, etc.

5. Gorz André Le socialisme difficile. Paris, Seuil 1967, p. 37.

6. Engels, Friedrich: „Grundsatze des Kommunismus,“ in Karl Marx, Friedrich Engels : Werke,   t. 4. Berlin, 1959, p. 376-377.

7. Engels, Friedrich: Anti-Dühring. ln: Karl Marx, Friedrich Engels: Werke, t. 20. Berlin, 1962, pp. 276-277.

8. Mumford, Lewis: La cité à travers l'histoire, Paris, Seuil1964 ; Le mythe de la machine, Paris, Fayard 1974; Technique et civilisation, Paris, Seuil 1950, pp.17-18: As técnicas e a civilização, tomadas como um todo, são resultado de escolhas humanas, de atitudes e esforços, deliberados mesmo que inconscientes, frequentemente irracionais, mesmo que aparentemente objetivos e científicos. E apesar, quando sob controle, não são exteriores. A escolha se manifesta na sociedade tanto por pequenas adições e decisões quotidianas do que por lutas ruidosas e dramáticas ( ... ). A técnica não constitui um sistema independente como o universo: ela existe como elemento de cultura humana. Ela implica o bem ou o mal na medida em que os grupos sociais implicam o bem ou o mal. A maquina em si mesma não apresenta nenhuma solicitação e não estabelece nenhuma promessa: é o espirito humano que solicita e cumpre promessas.


9. Friemert, Chup :„Zu kulturellen Aspekten der industriellen Massenproduktion“. In: Wissenschaftliche Zeitschrift der Hochschule für Architektur und Bauwesen Weimar, Weimar (1987) 4-6, pp. 210-212; „Zur Kritik des industrialismus”. Oder: „Weiteres zur anmassenden Etescheidenheit“, in: Wissenschaftliche Zeitschrift der Hochschu le für Architektur und Ba uwesen Weimar, Weimar (1 990) 1-3, PP. 46-48.

Nenhum comentário:

Postar um comentário