segunda-feira, 20 de maio de 2013

SOBRE A TEORIA LENINISTA DO REFLEXO E DO APROFUNDAMENTO -- PARTE III



Giulio Giorello (Milão, 1945 -- ),  Filosofo marxista, matemático, titular da cátedra de Filosofia da Ciência na Universidade de Milão. Colabora com o jornal Corriere dela Sera.


Tradução: Frank Svensson



III Como se articula a teoria do reflexo?

Materialismo e empiriocriticismo não trata tão só de questionar o ponto de vista de Mach ou da física fenomenológica, mas também do materialismo mecanicista, assim como das formas de realismo que se reclamam concepções mecanicistas.  Combate às críticas feitas ao materialismo pelas tendências de tipo fenomenológico é visto por Lenin como da maior urgência. Mesmo com tal enfoque é indispensável recusar o antigo materialismo na medida em que, paradoxalmente, é justamente graças ao dogmatismo dessa concepção que as tendências fenomenológicas se desenvolvem. Lenin reconhece a Rücker o mérito de haver sustentado o ponto de vista do matéria-lismo espontâneo, na medida em que o cerne de seu pensamento é que a teoria da física é uma cópia (sempre bem exata) da realidade objetiva.

O mundo é matéria em movimento o que aprendemos a conhecer mais e mais profundamente. 37

A inexatidão da filosofia de Rücker decorre de sua defesa da teoria mecanicista, bem como, da incompreensão das relações entre verdade relativa e verdade absoluta. Ele conclui: Só falta a esse físico o conhecimento do materialismo dialético.38

A explicação apresentada pelo materialismo mecanicista era uma explicação última, a qual não previa a possibilidade de explicações ulteriores. Uma vez admitida, por exemplo, que a verdadeira essência do calor é o movimento ou que as substâncias físicas são compostas de átomos ou de moléculas, como componentes últimos da realidade, parece impossível, desse ponto de vista se chegar mais longe. No entanto a concepção mecânica do calor será reexaminada, com reversamento importante de categorias físicas implícitas à redução de processos termodinâmicos da mecânica. O átomo será decomposto em componentes ainda menores, o elétron poderá ser considerado com boa razão inesgotável. O fenomenismo tem, portanto boas razões de criticar as pretensões absolutistas dessa forma de materialismo, Mas a constatação que um tal ponto de vista é insustentável não significa necessariamente o abandono de todo materialismo e a aceitação do fenomenismo do tipo Berkeley ou Mach.

Esta constatação é justamente o ponto de partida da crítica de Lenin aos defensores russos de Mach que atribuem ao materialismo de Marx e Engels os traços característicos do materialismo mecanicista. Hoje podemos pensar que tal crítica é eficaz na medida em que Lenin indica, em oposição ao antigo materialismo por um lado, e o fenomenismo por outro, a possibilidade de uma concepção que descartaria a tentação de aplicações definitivas sem com isso aceitar aas premissas de um modo naturalista de pensar.

Lenin transforma de maneira fundamental as observações de fundo que podem ser tiradas do relatório de Rücker (a respeito por um lado dos diversos enfoques de tipo mecanicista caracterizados por hipóteses particulares sobre as propriedades estruturais das partículas, por outro lado a análise por graus sucessivos) na ideia de que a admissão de diferentes níveis de hipóteses capazes de explicação não contradiz, mas completa esta concepção fundamental: A natureza é inteligível ao homem (Helmholtz).   Há níveis de explicação relativamente simples; outras mais refinadas; outras ainda, mais complicadas: que o calor é uma forma de movimento pode ser deduzido pela filosofia da natureza, determinado com Joule e Helmholtz de uma forma mais rigorosa, a do primeiro princípio da termodinâmica, pode enfim encontrar uma explicação na teoria cinética da matéria, como Boltzmann a desenvolveu no início do século XX, servindo-se essencialmente da noção de probabilidade física. O mesmo se dá com a constituição da matéria, com a decomposição das moléculas em átomos, depois se descobriu serem os átomos novos sistemas compostos e em consequência veio o descobrimento das propriedades dos elétrons. Ou seja: novas teorias podem fornecer interpretações de fenômenos já conhecidos, distintas daquelas já conhecidas num primeiro momento de modo a alterar mesmo a intuição do pesquisador. Alterar-se-ia mesmo a noção física da matéria? Não é de excluir: mas tal mudança profunda não implicará imediatamente o abandono do materialismo dialético, mas esta revisão de que falou Engels. A multiplicidade de teorias que pretendem explicar os fenômenos observados corrobora, e não recusa, a tese segundo a qual a ciência, cujo objetivo real é compreender a natureza, deve partir da ideia de que a natureza é compreensível.39

Admitida uma teoria ou um sistema de teorias como definitivas, como depositárias de uma verdade absoluta, todo limite dessa teoria ou desse sistema torna-se um limite imposto ao conhecimento possível da Natureza. . O materialista mecanicista em sua pretensão ao absoluto tornou absolutos os limites de certos contextos teóricos. Disso resulta que toda tese tendente a esclarecer seus limites aparece automaticamente como uma tese compatível somente com uma concepção fraca de explicação científica e incompatível com a afirmação do caráter compreensível da Natureza.
Por isso, para Lenin tal materialismo é metafísico.

O realismo de Rücker desconhece as relações entre verdade relativa e verdade objetiva. A ideia leninista do reflexo é que as teorias que relacionadas a essa realidade objetiva não têm nada a ver, nesta perspectiva, com a noção de copia tal como é apresentada no parágrafo I deste texto. Particularmente se entendemos por copia uma correspondência exata entre um objeto e sua imagem. Só um materialismo ingênuo, débil face o modo naturalista de pensar, pode pensar assim. Falar de uma realidade objetiva refletida em teorias significa ao contrário para Lenin afirmar que essas teorias permitem compreender um mundo que não se reduz às aparências o que na concepção dos adeptos de Mach, a teoria deve simplesmente resumir.  A ciência compreende o mundo na medida em que vise às verdadeiras teorias. Não se pode pretender – como quer o materialismo ingênuo – que ideias fundamentais como as do átomo ou do elétron expliquem de forma definitiva a essência dos fenômenos naturais. Nem mesmo quere passar tais noções por noção de observação; fazendo isso expor-nos-emos às críticas fáceis de tipo fenomenista.

Concordamos sempre com um antigo juízo de Engels, para quem as propriedades atômicas não se esgotam a não ser com o progresso do pensamento. Enfim, a afirmação segundo a qual a ciência visa teorias de verdade  -- como o  quer a teoria leninista do reflexo – não é desmentida pelo fato de não se poder afirmar de forma absoluta a verdade de uma teoria particular. A ciência progride em elaborando teorias que comparadas às precedentes podem ser consideradas como melhores aproximações da verdade.

A noção de reflexo é inseparável à de progresso por aproximações sucessivas que enviam finalmente à de aprofundamento. Aprofundamento em que as modalidades podem ser extremamente variadas: mesmo por mudanças qualitativas quase imperceptíveis como profundas modificações qualitativas, por exemplo; isso é só uma ilustração que assume distinção como a de Engels (que Engels mesmo não considerava absoluta). Esse ponto de vista – o qual consideramos como um dos pontos que distinguem o materialismo dialético de Lenin de outras formas de materialismo – é corroborada hoje por todas as considerações que mostram não existir pura aparência – pura observação e que a experiência nua, ao contrário do que é para a atitude naturalista, não passa de um primum, mas sempre o resultado de uma certa interpretação compreendendo teorias e hipóteses. Quando às intuições que proporcionariam garantias a um materialismo ingênuo, parecem mais ligadas às condições históricas do que tal materialismo não quer fazer crer. Aquilo que hoje parece intuitivo pode parecer muito menos no passado, quanto se dispunha de referencias históricas que permitiam construir modelos menos articulados de compreensão da realidade.

Isto posto, devemos dar outros esclarecimentos sobre o modo como se articula a teoria de um reflexo. Limitar-nos-emos a quatro pontos fundamentais:


III – 1. Reflexo e dialética.   
   
Do momento em que reflexo e aprofundamento aparecem em Lenin como dois aspectos tais que um não ser compreendidos sem fazer referência ao outro, certas teses de Materialismo e empiriocriticismo têm seu desenvolvimento natural em passagens de Cadernos Filosóficos.40  Lenin escreve nessa sua célebre observação a propósito da dialética:

A dialética como conhecimento vivo, multilateral (o número de lados aumenta perpetuamente), com uma quantidade de nuances por todos os modos de abordar, de se aproximar da realidade [...] vejam aí um conteúdo incomensuravelmente rico, em comparação com o materialismo metafísico cuja maior deficiência é ser incapaz de aplicar a dialética à “Bildertheorie”, ao processo e ao desenvolvimento do conhecimento.41
 
Novamente, o reflexo relacionado ao desenvolvimento do conhecimento: e lá onde Rücker teria visto somente insuperáveis limites, Lenin percebe uma quantidade de aspectos em perpétua aumentação. Ou, em outros termos, débil e exposta a todas as críticas que a taxam de resíduo metafísico. Quando se resta no contexto do antigo materialismo, a teoria do reflexo é corroborada pela história da ciência, bando de ensaio da dialética. Se a tese do reflexo significa em Lenin retomar numa nova perspectiva da objetividade como conhecimento científico, a garantia dessa objetividade é fornecida pela historicidade da ciência, compreendida através das categorias leninistas da aproximação e do aprofundamento. 
     

III – 2. Limites temporais e crítica do kantismo

Reconhecer os limites de um conhecimento científico, por exemplo do mecanicismo, não significa considera-lo como absoluto. Como já sublinhamos, esses limites, em torno do fato evidente de que eles condicionam a pesquisa científica, são eles mesmos condicionados: são limites temporais, determinados historicamente e claramente identificáveis em fazendo referência ao contexto científico de uma dada época. Não podemos fazer passar por barreiras insuperáveis, configurada pela Natureza contra o conhecimento, nem mesmo como limites inerentes de forma essencial ao sujeito conhecedor. Recusando a acusação dos adeptos russos de Mach, segundo a qual a admissão de limites em certos sistemas teóricos, bem como, a noção mesma de aproximação sucessiva reduziria o materialismo dialético a uma fora de kantismo, retomando a opinião segundo a qual o conhecimento jamais lhe compreenderia.42

Lenin em Materialismo e empiriocriticismo, relaciona a temática kantista ao agnosticismo. Uma breve observação de caráter histórico se impõe aqui. A segunda metade do século XIX, principalmente da Alemanha, foi uma época de retorno a Kant: E. Zeller, H. Cohen, F. A. Lange, etc. Num primeiro momento, Engels viu nesse movimento um primeiro passo rumo a uma descoberta da dialética racional. Fenômeno complexo, o Zurück zu Kant (retorno a Kant) apresentara vários aspectos; alguns de natureza política: a escola de Marburg (Cohen, Natorp etc.) tinham ligações com a socialdemocracia, por exemplo, por meio de Lange, um dos alvos dos ataques de Plekhanov.  A crítica de Bogdanov, portanto, tinha todo um significado particular. O quadro mostrou-se ainda mais complicado pelo fato do Zurück Zu Kant ter tido enorme eco junto aos mais brilhantes cientistas alemães, que ao invés de se identificarem com uma escola kantiana ou neo-kantiana particular viam non kantismo uma doutrina filosófica genérica (se isso não é simplesmente filosofia em francês) que servirá de alvo a suas atividades. O retorno a Kant significa no mais das vezes uma recusa a Hegel considerado como criador de um sistema absurdo no qual se pretendia construir à priori os resultados das ciências: estas são as palavras de Helmholtz, que via em Hegel o principal responsável pela cisão entre ciências da Natureza e Filosofia. O caráter unilateral de tal crítica foi denunciada por Engels, em particular em Dialética da Natureza, mas incontestavelmente, o kantismo parecia ser a melhor solução que, de uma parte, como Helmholtz, insistia sobre o caráter inteligível da natureza, como premissa indispensável à ciência  e ao mesmo tempo não ousava se aventurar até uma tese de caráter nitidamente materialista (Lenin fala a esse respeito de materialismo envergonhado).

O resultado final, como sublinha Lenin em Materialismo e empiriocriticismo, não pode ser outra coisa que a coisa em si, por demais que seja desconhecida. Em consequência, em inúmeras passagens de Cadernos Filosóficos, Lenin insiste sobre a necessidade de uma crítica do kantianismo (e do agnosticismo implícito na doutrina da coisa em si) não do ponto de vista do materialismo metafísico – como o fez essencialmente Plekhanov – que teve que recusar a priori as teses do criticismo, mas do ponto de vista do materialismo dialético, que tem por traz de si a mesma crítica de Kant por Hegel. Crítica que mostra, por Lenin, que O caráter findo, transitório, relativo, convencional do conhecimento humano (suas categorias, causalidade etc.) Kant tomou por subjetivismo e não como dialética da ideia (da sua própria natureza) quando ele separa o conhecimento do objeto.43

Os limites das teorizações científicas não se definem a não ser a preço dos limites do sujeito (no sentido kantiano). Consequentemente, os kantianos associam os materialistas aos dogmáticos, tanto que com menos coerência Bogdanov descobre no materialismo dialético o espectro da coisa em si. Na base deste duplo erro, há o fato para Lenin, que kantianos e fenomenista, com seus distintos pontos de vista, não compreendem o ponto fundamental que é o seguinte: O curso do conhecimento leva à verdade objetiva.44


III – 3.  Flexibilidade das categorias e teoria do conhecimento.

Nesta perspectiva estudaremos como Lenin vê no sujeito do criticismo kantiano uma forma vazia (uma representação por si) sem análise concreta do processo do conhecimento. Isso mostra já que toda tentativa de readaptar o marxismo à la gnoseologia kantiana será objetivamente anti-leninista. Além disso há um outro ponto fundamental de divergência. Se uma teoria do conhecimento (o termo Erkenntnistheorie nasceu do meio kantiano da segunda metade do século XIX, por exemplo, com Zeller) consiste no estudo de categorias ou se quisermos estruturas que tornem possível a constituição de objetos científicos que organizem à priori, por assim dizer a possibilidade da experiência e tornem possíveis as distintas ciências. O materialismo dialético não é uma teoria do conhecimento: não é a confrontação fora do tempo do sujeito e do objeto. Tal oposição limita para Lenin toda a filosofia crítica, Os conceitos lógicos são subjetivos – escreve Lenin nos Cadernos Filosóficos – na medida em que restam abstratos em sua forma abstrata, mas expressam também ao mesmo tempo as coisas em si. Os conceitos humanos são subjetivos em sua abstração, em seu isolamento, mas são objetivos na totalidade, no processo, na soma.46

Um pouco depois, a propósito das categorias kantianas, acrescenta: Kant não mostrou a passagem das categorias de uma à outra.47   Mas uma vez admitido que as categorias são flexíveis, uma vez que a teoria do conhecimento (o termo foi apresentado aos marxistas por Plekhanov) referindo-se ao desenvolvimento histórico do pensamento humano (Engels), a oposição entre coisas em si e coisas para nós perde seu caráter absoluto.

 Na teoria do conhecimento como em todos os domínios da ciência – observou Lenin em Materialismo e Empiriocriticismo – importa raciocinar dialeticamente, ou seja, não supor nossa consciência imutável e pronta, mas analisar [...] como o conhecimento incompleto, impreciso, fica completo e mais preciso. 48

Inúmeros exemplos mostram a transformação de coisas em si em coisas em nós. No entanto quando uma concepção estática de categorias é função de uma oposição estática do sujeito e do objeto, a aceitação da flexibilidade das categorias e de sua dinâmica interna permite achar as conclusões que ocorrem a todos os homens em sua vida e que o materialismo tem conscientemente como a base da gnoseologia, ou seja, fora de nós existem objetos, coisas, corpos e nossas sensações são imagens do mundo exterior.

Uma vez articulada assim a teoria materialista segundo a qual os objetos existem em torno de nós [entretanto que] nossas representações são suas imagens, esta discriminação entre [as imagens] verdadeiras e falsas dada por Lenin pela prática mostra-se ser um momento essencial do desenvolvimento do conhecimento, uma motivação mesmo de aprofundamento teórico. Isso não significa que Lenin esboce uma concepção pragmática da teoria ou que reduza o pensamento a simples momento de ação. A possibilidade de controlar uma teoria de uma parte por um cientista em laboratório – como a mesma possibilidade de realizações de caráter técnico – é garantida pelo fato que o conhecimento é o reflexo da natureza pelo homem, parafraseando uma fase dos Cadernos Filosóficos. Nessa perspectiva, as teorias científicas que conhecem um sucesso prático, por exemplo nos setores da tecnologia – como de resto as análises do socialismo científico no domínio da política econômica, da história – não podem ser aceitas como verdadeiras na medida em que elas tenham sucesso mas elas têm sucesso justamente porque são verdadeiras (naturalmente no sentido definido no início do parágrafo 3).


III - 4. Noção física de matéria e conceito de matéria em física.

Compreendemos como Lenin, já em Materialismo e Empiriocriticismo refere-se a Engels e Hegel. A afirmação apresentada acima implica aceitar a relatividade de nossos conhecimentos, mas não por isso abandonar a objetividade da ciência.

A dialética como já explicava Hegel, integra como um de seus momentos o relativismo, a negação, o cepticismo, mas não se reduz ao relativismo.  A dialética materialista de Marx e de Engels inclui sem contestar o objetivismo sem se reduzir a tanto; ou seja, admite a relatividade de todo conhecimento, não no sentido da negação da verdade objetiva, mas no sentido da relatividade histórica dos limites da aproximação de nossos conhecimentos em relação à verdade.49 

Nessa perspectiva não só compreendemos o erro do fenomenismo que pretende considerar as sensações em sua singularidade descoladas do processo do conhecimento de que fazem parte, mas ainda realizamos como toda sensação, mesmo suscitada por coisas em torno da consciência por sua ação sobre os órgãos do sentido não nos fornece uma primeira imagem aproximativa da realidade: trata-se de examinar com os instrumentos teóricos adequados o conjunto das imagens fornecidas pela sensação.

O pensamento -- é visto nos Cadernos filosóficos – arraigado na representação refletindo ele também a realidade.50  Consideramos que, por um lado, essas teses dos Cadernos são o resultado da aliança entre a noção de reflexo e aquela de dinâmica do conhecimento realizada em Materialismo e Empiriocriticismo. A utilização do relatório de Rücker ao mesmo tempo em que a crítica dos materialismos mecanicistas e ingênuos (ver. § 1 e 2) conduzem a uma concepção do reflexo extremamente articulada segundo a qual este reflexo não é simples, nem imediato, nem total, mas um processo feito de uma série de abstrações, que tomam forma de conceitos, de leis etc. esses conceitos e leis abarcam relativamente, aproximativamente, as leis universais da natureza em movimento e desenvolvimento perpétuo.51

Nesse contexto fica clara a distinção fundamental introduzida por Lenin: a distinção entre a matéria entendida como noção filosófica e a matéria como conceito científico.  A matéria tal qual é apresentada pelas teorias mecanicistas em física, pelas teorias atômicas, etc., é um conceito relativo à condição histórica das ciências. O conteúdo científico dessa noção muda com o desenvolvimento do conhecimento, ou seja com seu aprofundamento. A noção filosófica da matéria não muda, na medida em se afirma como observou Althusser,  a objetividade de todo conhecimento científico de um objeto. 52


N o t e s :

37. Sou eu que sublinho (G.G.)

38. Lênin, Materialismo e empiriocriticismo, p. 288.

39. Helmholtz, citado em Rücker, obra. cit., p. 21 573.

40. Não abordamos a questão da continuidade entre Materialismo e empiriocriticismo e Cadernos Filosóficos. Contra a tese dois filósofos de Lenin, ver os argumentos feitos por L. Geymonat em Histoire de la pensée philosophique et scientifique », Milan, Garzanti, 1972, v. VI, chap. IV, particularmente no que ele sustenta em pp. 114 et ss. Sobre o relatório teórico-prático e em pp.116-117 sobre o sentido da referência de Lenin à Hegel. Isto posto, a seguir abordaremos várias passagens de uma ou outra obra de Lenin, buscando mostrar como se articula de forma fundamentalmente certa a teoria do reflexo e do aprofundamento.

41. Lénine, « Cahiers philosophiques », CEuvres complètes, t. 38, p. 346.

42 -- Os materialistas, dizem-nos admitir qualquer coisa de impensável e de inconcebível, a coisa em si, a matéria além da experiência, além do nosso conhecimento. Caem num verdadeiro misticismo admitindo qualquer coisa além, situada fora dos limites da experiência e do conhecimento. Quando declaram que a matéria, agindo sobre os nossos órgãos dos sentidos suscitam sensações, os materialistas se baseiam sobre o desconhecido, sobre o nada, pois que eles mesmos – dizem eles – reconhecem nos sentidos como a única fonte de conhecimento. Os materialistas caem no kantismo [...] duplicam o mundo, apregoam o dualismo, pois que para eles, por trás dos fenômenos, há ainda a coisa em si, por trás dos dados imediatos dos sentidos admitem outra coisa, não se sabe que fetiche, um ídolo, um absoluto, uma fonte de metafísica, uma dublagem da religião (a santa matéria, como diz Bazanov) Lenin Materialismo e Empiriocriticismo, p. 20. 
   
43. Cahiers philosophiques, p. 197.

44. Ibidem, p. 192.

45. Ibidem, p. 194.

46. Ibidem, p. 198.

47. Ibidem, p. 199.

48. Lénine, Matérialisme et empiriocriticisme, p. 104.

49. Ibidem, p. 140.

50. Lénine, Cahiers philosophiques, p. 216.

51. Ibidem, p. 172.

52. Althusser. Lenine et la filosofie, Maspero, Paris 1969, p.33. 

OBS. Em seguida Parte IV

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