sábado, 4 de fevereiro de 2017

A CLASSE MÉDIA E O PESADELO NEOLIBERAL Flávio Lyra (*). Brasília 20 de janeiro de 2017

OBS. Fomos Flávio e eu funcioários da SUDENE no tempo ainda de CelsoFurtado como superintendente da mesma. Fomos, ainda, camaradas de mmilitância político partidária. Incorporo prazeirozamente seus textos em meu BLOG: ARQUITETURA e ENGAJAMENTO

A camada da população brasileira, denominada de classe média, constituída pelo terço superior das rendas mais altas do país, excluído o 1% que constitui os realmente ricos, começa a sentir na própria carne as consequências da opção feita em favor do golpe legislativo que colocou Michel Temer e seu grupo no Poder.
Com oito meses à frente do governo, Michel Temer e seu grupo, impuseram ao país seu programa de corte neoliberal, “Uma Ponte para o Futuro”, cujas tônicas têm sido, a redução do papel do Estado na Economia, a anulação dos direitos conquistados pela classe trabalhadora, a desarticulação dos movimentos sociais, o desmanche da política externa independente e a venda predatória do patrimônio da Petrobras.
A economia brasileira, já de longa data, tem estado submetida um processo insano de endividamento público e privado, baseado em taxas de juros extorsivas que incidem sobre a população, as pequenas empresas e o governo em benefício dos bancos e dos rentistas, cuja riqueza financeira tem crescido ostensivamente.
As dívidas acumuladas são impagáveis e enquanto não for encontrado o caminho para reduzi-las substancialmente não será viável retomar o crescimento. O impeachment da Presidente Dilma foi articulado pelos segmentos credores, que tentam impor ao país uma política de contenção de gastos para evitar a desvalorização dessa dívida. A austeridade fiscal que está sendo posta em prática a “ferro e fogo”, tem a finalidade de liberar recursos fiscais para cobrir os serviços da dívida.
Para a classe média brasileira, em estado de alienação permanente dos reais problemas do país, a manutenção dos privilégios de que goza dependem do aprofundamento das enormes desigualdades sociais existentes. Ela, tampouco reconhece qualquer importância para o futuro do país na forma como a atividade econômica se organiza dos pontos de vista do controle nacional ou estrangeiro da propriedade, do grau de autonomia nacional da política econômica e de seu impacto sobre as condições de vida do povo.
Sob o manto de uma ideologia perniciosa, ela acredita que seu sucesso econômico é uma mera consequência dos méritos pessoais de cada um e que o povo deve ser mantido à distância e apenas chamado a ocupar os postos de trabalho que lhe são oferecidos graças ao espírito empreendedor da minoria que controla a riqueza.
Acontece que o sonho dourado que alimentou as marchas retumbantes que serviram de suporte para a derrubada do governo do PT, por várias razões, dá sinais de que está se transformando num pesadelo assustador.
Dois anos consecutivos de quedas drásticas nos níveis de produção e de emprego, com a perda de cerca de 8% na renda e a duplicação da taxa de desemprego para os atuais 20% da força de trabalho, já se fizeram sentir no poder aquisitivo da classe média.
Funcionários públicos de altos salários, pequenos e médios empresários e profissionais liberais etc. já estão sentido no próprio bolso as consequências dos cortes nos gastos públicos e a queda na procura por bens e serviços.
Infelizmente, trata-se ainda apenas do começo de uma crise de graves proporções que somente tende a agravar-se com a manutenção da atual política econômica, porquanto a redução do gasto público real prevista para os próximos 20 anos, com a posta em prática da tresloucada PEC 55, não oferece nenhuma chance de retomada significativa do crescimento.
A situação das finanças públicas estaduais é simplesmente caótica e não apresenta nenhuma perspectiva de modificar-se no futuro próximo, pois a queda da atividade econômica não possibilita o aumento da receita dos Estados, enquanto o governo federal os pressiona para conter despesas e reservar recursos para cobrir os serviços extorsivos das dívidas estaduais.
A explosão de violência nos presídios, que tantos mortos tem feito nos últimos dias, o aumento das mortes de policiais nas ruas, o aumento do número de pedintes e a deterioração dos serviços de saúde são apenas sintomas da violência potencial que está acumulada numa população pobre, desempregada e sem perspectivas de melhoria de condições de vida.
O sonho cor de rosa da classe média de que bastaria afastar Dilma do poder para que as forças de mercado rapidamente recuperassem o dinamismo econômico, tão pronto o país afastasse o vírus da corrupção, supostamente inoculado na sociedade pelo PT e seus governos, e que fosse reservada uma parcela crescente dos recursos fiscais para encher os bolsos dos bancos e rentistas, já começou a virar pesadelo.
O combate à corrupção, na forma estúpida como tem sido realizado, apenas agravou a crise, ao destruir a capacidade de produção das grandes empreiteiras de obras públicas e ao prejudicar a atuação da PETROBRAS.
Por ironia, com o impeachment de Dilma, o poder foi entregue aos corruptos do PMDB que, agora para salvar a própria pele, estão impondo ao país uma política de imensos sacrifícios, da qual começam a aparecer indícios de que são nocivas também a seus patrocinadores do empresariado.
Coitada da classe média que, em sua cegueira ideológica, não consegue perceber que, no contexto de crise atual, seus interesses estão atrelados muito mais aos interesses da maioria da população, do que aos da minoria da classe capitalista que ainda acredita que sacrificando mais o povo vai poder continuar aumentando sua riqueza.
*) Economista da Escola da UNICAMP. 
Ex-técnico do IPEA.   

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