terça-feira, 8 de outubro de 2013

CONTRIBUIÇÃO DE MARX AO CONHECIMENTO HISTÓRICO


Frank Svensson – Brasília 2001.


Com base no desenvolvimento da filosofia clássica alemã, na economia política inglesa e em críticas e análises formuladas por socialistas utópicos e historiadores materialistas, Marx, discípulo de Hegel, dedicou-se a esclarecer a correspondência entre a base ma-terial da sociedade e a ciência social. Diferentemente de contemporâneos seus, Marx preocupou-se em encontrar resposta quanto à formação da materialidade social e também quanto ao futuro da sociedade humana. O materialismo histórico surge como teoria, um método de estudo das leis gerais do desenvolvimento socia1.21

Marx admite existirem leis que regem o desenvolvimento da sociedade, entende a história como processo natural, com leis objetivas e independentes das vontades individuais. Não exclui do homem o papel de ator da história, mas interpreta a ação dos indivíduos sobre o desenvolvimento histórico como relativa. Assegura-lhes a consciência de deverem considerar categorias, leis e princípios teóricos da história em favor do progresso material e espiritual da sociedade. A relatividade está ligada à lei da necessidade histórica, pela qual o conhecimento da necessidade objetiva e sua apli-cação no interesse dos homens constitui a liberdade. Do homem se reconhece a aptidão de influir na história e no destino da humanidade, mas ele só alcançará o máximo de liberdade com o mínimo de conflitos quando suas iniciativas satisfizerem necessidades históricas. Este enfoque conceitual é contra as teorias do liberalismo, do neoliberalismo e as diferentes formas de anarquismo.

No materialismo histórico destaca-se a lei da prioridade ontológica da matéria sobre o sujeito. Dela decorre a teoria do reflexo e do aprofundamento, que considera como forma de reflexo da realidade externa ao pensamento a consciência atingida pelo ser humano. Em busca da verdade, segue um aprofundamento que inclui a prática e o desenvolvimento de instrumentos próprios à capacidade de pensar dos homens.

Ao enunciar que a história das sociedades que existiram até os nossos dias é a história da luta de classes, Marx estabeleceu princípios fundamentais para estudar a sociedade: classe social e luta de classes. Do conceito de classe social e da teoria da luta de classes pode-se lograr uma análise objetiva da atividade dos homens na sociedade classista, torna-se impossível obter conhecimento fidedigno quanto a homens sem esclarecê-lo à luz do lugar que ocupam num sistema de relações e sem estabelecer suas diferenças, a partir de sua posição quanto a meios de produção. Indispensável definir o papel que desempenham na organização social do trabalho, o modo como e a proporção em que desfrutam da riqueza social. Por isto, o conceito de classe e a teoria da luta de classes constituem elementos do marxismo que o pensamento burguês do atual momento de decadência do capitalismo quer desvirtuar.

A existência de classes sociais revela-se na vida econômica e transcende-a para expressar-se no plano das políticas nacional, internacional e em toda a vida espiritual da sociedade, na esfera da ideologia. Como ação e conhecimento humano implicam ação recíproca entre sujeito e objeto, entre necessidade e realidade, o reconhecimento da existência de classes sociais e das contradições entre seus interesses é ponto de partida da abordagem de problemas da ação e do conhecimento humanos.

A Formação socioeconômica é a categoria de mais amplo conteúdo no sistema de categorias do materialismo histórico. Constitui o eixo sobre o qual se apoia esse sistema, unindo fenômenos e processo sociais. Congrega os elementos necessários à integração funcional das questões referentes a atividades humanas, da base produtiva ao modo de expressão na política e na arte. Considera condicionantes naturais para a vida em sociedade um meio ambiente geográfico e determinada quantidade de habitantes. Sem intercâmbio com a natureza, impossível pensar atividades produtivas. Mas o ambiente geográfico não é determinante para a vida social porque favorece ou dificulta o desenvolvimento social.

O montante populacional representa outra importante condição: a produção se dá com homens, cujo trabalho constitui a poderosa força capaz de submeter a Natureza às necessidades humanas. Da ação recíproca entre meio ambiente geográfico e população configura-se um modo de produção que caracteriza forças produtivas, meios de produção e relações de produção. Os homens ativos são a principal força de produção, contudo só exercem atividade dentro de formas socialmente organizadas, de relações de produção baseadas na propriedade dos meios de produção. Distribuição e usufruto dos bens produzidos também têm base na forma de propriedade desses meios. O conceito de formação socioeconômica permite diferenciar historicamente a escravagista, a feudal e a capitalista em que vivemos, além de delinear a sucessória, comumente caracterizada socialismo.

Como o movimento histórico obedece a tendências, perpassa uma multitude de concretos fatores históricos do desenvolvimento social humano. O mundo das ideias e das instituições, para o materialismo histórico, é a ação recíproca entre a infraestrutura ativa da formação socioeconômica e sua superestrutura. À superestrutura atribui-se independência relativa da infraestrutura que se expressa, inclusive na continuidade da primeira. Mudanças na superestrutura não são o desaparecimento instantâneo dos traços da antiga superestrutura. A estrutura modifica-se como globalidade, mas conserva resquícios da velha estrutura, principalmente os elementos úteis às novas classes.

A sociedade capitalista burguesa aproveita-se de elementos de dominação do feudalismo que lhe possam ser úteis para exercer o poder sobre o proletariado, a nova classe social. Para outras áreas de conhecimento, materialismo histórico significa unidade integradora entre teoria e método à qual relacionar o estudo da sociedade em suas formas particulares. Com seu auxílio garante-se eficiência à interdisciplinaridade. Arquiteto, economista, pedagogo, historiador podem orientar-se em seus campos integrando-se ao conhecimento do todo da realidade, em suas manifestações concretas. Por meio do materialismo histórico-dialético, a formação socioeconômica ulterior ao capitalismo se evidencia ligada ao reconhecimento de que as áreas do conhecimento humano formam entre si uma totalidade, reflexo da totalidade do mundo material.


N o t a s :

21 - Sobre materialismo histórico: V. Afanasiev -- Fundamentos da Filosofia Marxista. Gotemburgo, 1985;    V. Kelle e M. Kovalzon -- Le materialisme Historique; Essai sur la Théorie Marxiste de Ia .Societé. Moscou, 1972; Balibar -- Étades du Matérialisme Historique. Paris, 1974.

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