Frank
Svensson, 16.04.2000.
Espiritualizar a
matéria cósmica com a ajuda da ideia idealista não é uma solução verdadeira. Pois justamente, para ser verdadeira, a
solução deverá ser real e participar da mesma realidade que o homem; para ser
verdadeira, a solução deverá ser humanamente real.
Uma dialética puramente
teórica, que só faz transformar, no plano das ideias, a matéria cósmica em
espírito, não dá nenhuma solução; ela é apenas o ponto de partida para a
solução. Não basta libertar o homem da
crença na matéria. A ideia idealista
deve se encarnar em uma dialética que, ultrapassando o plano teórico, se
transforme em uma dialética real, cujas etapas devem se tornar históricas no
sentido pleno da palavra.
Pois vivemos exatamente
em meio a uma civilização construída sobre a materialidade do homem e cujas
instituições todas têm por fim manter o homem na materialidade. A solução do problema da liberdade é portanto
inseparável da destruição real, isto é, histórica, desses instrumentos de
materialização: a dialética não pode, portanto, avançar em direção à
espiritualidade do homem, a não ser sobre as ruínas desses instrumentos. Ora, essa destruição só pode ser operada pelo
próprio homem. A dialética de que falo é
bem concreta, pois que, em um momento dado, o homem concreto deve intervir para
fazê-la avançar: resumindo, a dialética da liberdade implica etapas que são
revoluções. (Georges Politzer, em A filosofia e os mitos).
A
base econômica do liberalismo
Denominamos
"liberalismo" o ideário surgido num momento em que o moderno
capita-lismo industrial estava iniciando e que o elemento básico do novo
sistema de produção era o empresário privado individual. Depois disso o liberalismo e a burguesia que
lhe concerne sofreram significativas mudanças, mas a base de sustentação desse
sistema produtivo continua o mesmo: ao capitalista é permitida a liberdade de
dispor dos meios de produção sob sua propriedade, e o Estado e as leis devem
garantir a posse e o usufruto de tal propriedade privada. Esse é o fulcro ideológico do liberalismo,
sua irredutível base de sustentação. Em
torno do mesmo as opiniões quanto ao econômico e ao social podem variar até
quase o irreconhecível, desde que se mantenha o fulcro. O liberalismo pode até exigir intervenções
estatais desde que assegurem a manutenção da liberdade e da segurança da
propriedade privada, do acúmulo de capital e da concretização de mais-valia. Apesar de louvar a liberdade de expressão o
liberalismo tolera que poderosos interesses particulares manipulem a formação
de opinião por meio do domínio econômico da mídia.
Mesmo sendo democrático
o liberalismo não se opõe a que as empresas privadas delibe-rem sobre o bem
estar de milhares de pessoas e até mesmo de povos e nações inteiras. O poder na sociedade é distribuído de forma muito desigual e o
continuará sendo enquanto o sistema de produção desigualizante persistir. Os teóricos do liberalismo defendem, no
entanto, o capitalismo como a única ordem plausível para as relações
sociais. O programa do liberalismo pode
ser resumido numa só palavra: "propriedade, ou seja, posse privada dos
meios de produção... todas suas demais demandas derivam dessa exigência
central".1
No campo do liberalismo
encontramos uma tendência de considerar as leis que regulam as mudanças
internas do sistema capitalista como sendo leis naturais e o capitalismo como a
forma natural de produção. Quer-se com
isso afirmar que: 1) a ideia de uma formação ulterior à do capitalismo, e
socialmente justa, vai de encontro à natureza, e que cada intervenção no livre
jogo das forças econômicas deve ser punida;
2) condicionando-nos, no entanto, às denominadas leis naturais da
economia, as contradições entre distintas necessidades e o contínuo conflito
entre os interesses públicos e privados se dissolverão numa abrangente
harmonia. Com essa redução da sociedade
em naturalidade procura-se encobrir a irracionalidade de uma ordem social
contraditória no intuito de mantê-la como tal.
Não esqueçamos, no entanto, que o liberalismo é por princípio
racionalista, enquanto que sua evolução para as fases do capitalismo decadente
é nitidamente irracionalista. As crises
inerentes ao capitalismo forçam-no a apelar para medidas irracionais, haja
visto, por exemplo, o nazismo e o fascismo que desembocaram na Segunda Grande
Guerra. A livre concorrência entre
empresas formam grandes consórcios, trustes e cartéis, exigindo novas formas de
exercício de poder. Na fase imperialista
do capitalismo o ideário liberal da livre concorrência evidencia-se
inteiramente inadequado. À tendência de
concentração do capital e do domínio econômico do capital monopolista segue a
exigência de desmantelamento das organizações obreiras e o apelo às camadas intermédias
da sociedade, atingidas por inflação, falência e desemprego de universitários,
técnicos e funcionários, para passarem a constituir a massa da nova ordem
social. Um estado apoiado em princípios
do liberalismo não dispõe dos meios necessários para esmagar, eliminar e
desmoralizar uma classe social composta por
milhões de pessoas. A história
mostra que para tanto é necessário um movimento de massas no sentido contrário à
mesma, altamente manipulado pelos aparelhos formadores de opinião.
Durante o período entre
guerras tais movimentos desenvolveram-se em torno de "heróis" que
demagogicamente iludiram as massas com suposta genialidade política. Hitler, Mussolini e Hiroíto são os nomes mais
lembrados. Na América Latina tivemos
Batista, Somoza, Stroessner, Peron e, entre nós, Vargas. Hoje não é tão fácil atribuir genialidade a
líderes políticos como naquele tempo. A
moderna psicologia e a ciência marxista solaparam o conceito de gênio. Autores como Freud, Kretschmer e Lange
Éichbaum desnudaram a duvidosa relação entre grandeza e genialidade, por um
lado, e loucura, e componentes psicopatológicos bionegativos por outro
lado. O enfoque histórico do marxismo
mostrou os limites impostos pela realidade social à atuação pessoal. O capitalismo tardio afastou-se do princípio
da livre concorrência propugnado pelo
liberalismo gerando o novo capitalismo imperialista e agressivo da oligarquia
monopolista e dos gigantes financeiros que nos nosso dias só fazem crescer e
concentrar-se.
Com o apoio dos regimes
fascistas do período entre guerras os traços mais obscuros da Idade Média como
que ressurgiram dentro de uma modernidade que se queria marcada por
cálculatória racionalidade e a mais sóbria cientificidade. Em carta a Roman Roland, Sigmund Freud lembra
que todos os níveis culturais percorridos pela humanidade -- o da Idade Média,
o da Pré-história animista, o da Idade da Pedra
-- ainda vivem sua vida nas grandes massas; e Adolf Loos caracterizou os
arquitetos de Viena como os malandrões da história por tosquiarem todos os
estilos e sítios da arquitetura: juntos e na mesma época convivem pessoas as
quais mentalmente e espiritualmente pertencem a distintas épocas e formas de
conhecimento. Ernst Bloch em sua obra Ehrschaft dieser Zeit (1935) caracteriza
isso como o fenômeno da incontemporaneidade. Pessoas, grupos sociais inteiros, vivem no
seu tempo mas também em outro com o qual são ligados pela tradição. Na economia bem como na consciência dos
homens sobrevivem restos não superados do passado; nesse sentido a Alemanha,
que nunca superou plenamente o feudalismo e o absolutismo e onde um capitalismo
supermoderno foi inserido numa estrutura marcada por status e autoritarismo,
tornou-se o cenário clássico da incontemporaneidade.
A ideologia da incomtemporaneidade mostrou-se útil às
classes dominantes da Alemanha bem como dos países cujas estruturas eram a
conjugação de distintos estágios de desenvolvimento. Seria de se pensar que assim os regimes
ditatoriais do período entre guerras combateriam o liberalismo, mas não,
rapidamente surgiram sinais de conciliação no plano econômico. Como já afirmamos foram regimes gerados para
garantir o direito da propriedade privada e a nova intensidade de concentração
do capital. De fato foi só no plano
ideológico que os regimes ditatoriais combateram o ideário do liberalismo:
liberdade, igualdade e fraternidade.
A
oposição ao racionalismo
Georg Lukács faz ver em
Introdução a Machiavelli que não
existe visão de mundo inocente. Os
principais filósofos defensores do irracionalismo -- como Schelling,
Schopenhauer, Nietsche, Scheler, Simmel e Dilthey -- não podem, naturalmente,
ser tachados de fascistas. Mas o
direcionamento filosófico dos mesmos implicou uma traição à obrigação de
comedimento e sensatez, humanismo e racionalidade por parte da filosofia
levando-os a capitularem ante obscuras
forças sócio ideológicas. O
posicionamento a favor ou contra a razão não é somente um posicionamento
filosófico -- é também um posicionamento em face de racionalidade ou
irracionalidade da vida em sociedade.
Definindo conceitualmente e delineando um certo direcionamento do
desenvolvimento social, a filosofia favorece ou retarda o racional desenvolvimento
da existência rumo ao bem. O
irracionalismo na filosofia europeia, à partir do romantismo, ajudou a abrir o
caminho para a visão de mundo do fascismo, por meio da desintelectualização e
brutalização do pensamento, foi precursor dos motivos diretores do fascismo e
contribuiu para formar a visão do mesmo quanto ao homem, a natureza e a
sociedade. Assim como o conservadorismo
em geral, a filosofia reacionária da época dos movimentos de massa fez apelo a
que muitos constituíssem uma base para os seus anseios. Tornou-se cada vez mais difícil para seus
defensores preservar uma integridade com base no distanciamento para com as
massas. O pensamento dos filósofos
irracionalistas, não tendo por intenção educar os homens rumo à razão mas ao
questionamento da mesma, levaram à barbarização da filosofia -- a assim também
a da própria sociedade. Nesse sentido
não existe visão de mundo inocente.
A filosofia
irracionalista constitui uma reação ao realismo crítico, bem como, à
univer-salidade e ao humanismo do Iluminismo.
À partir de sua ancoragem inicial no feudalismo e no absolutismo
tornou-se, como visão de mundo, uma das motivações para a burguesia vitoriosa
sustentar a sociedade de classes em oposição ao ideário da emergente classe
operária como base do novo sistema de produção.
A reativação do método dialético por Hegel, bem como o reconhecimento da
razão e do método científico por Marx, foram as armas filosóficas com as quais
o proletariado enfrentaria a metafísica e o obscurantismo. Ao invés de reconhecer que o novo sistema
produtivo, com suas doutrinas sobre leis de mercado e sobre a livre
concorrência das empresas, não levaria à harmonia preconizada por ideólogos
como Adam Smith, preferiu-se obstruir o acesso a um enfoque objetivo das
relações vigentes. A razão crítica como
instrumento cognitivo foi substituída por posicionamento intelectual ou por
intuição, para poder descrever como a irracionalidade das relações sociais
tinha raízes na vida, na existência, ou mesmo no popular. Acontece que por toda parte onde se abdica de uma explicação
racional da realidade, abdicando-se do pensamento dialético, o irracionalismo
atua como apologética direta ou indireta das relações sociais estabelecidas na
sociedade de classes. Equiparar
entendimento e conhecimento, confundir os limites do entendimento com os
limites do conhecimento, instalar o suprarracional (intuição etc.) onde seja
possível ou necessário avançar com conhecimento racional afirma Lukács, é o
traço mais característico do irracionalismo filosófico.
O
surgimento do irracionalismo
Por força de seu atraso
econômico e social com relação à Inglaterra e à França, pela sua falta de
tradição democrática e de uma burguesia autoconsciente e progressista, a Alemanha
veio a ser o terreno mais fértil do irracionalismo. Já Frederico H. Jacobi (1743-1819), declarava,
em oposição ao Iluminismo e à clássica Escola Filosófica Alemã, existir um conhecimento divino imediato, uma intuição
liberta da razão e superior a qualquer órgão cognitivo. Mas é em Schelling, Schopenhauer e Nietsche
que os clássicos motivos do irracionalismo aparecem já plenamente
desenvolvidos. Enquanto o enfoque
intelectual em Kant ainda é menos essencial, em Schelling torna-se
central. Apresenta-se como órgão
cognitivo de uma filosofia não racionalista, reúne o pensamento
intuitivo-visionário, variando depois de diferentes formas em Scho-penhauer e
Nietsche, na psicologia descritiva de Dilthey, assim como na fenomenologia de
Husserl e no existencialismo de Heidegger.
Em Schelling o enfoque intelectual vai mais tarde ser substituído pela
religião, num esforço de salvar a religião positiva, depois substituída pelo
esforço de se estabelecer uma religião desinstitucionalizada, de conteúdo
abstrato: o ateísmo religioso em Schopenhauer e Nietzsche. Importante também é o fato de Schelling já
defender o conceito de tempo subjetivo
intuitivamente vivenciado.
O
vitalismo de Henri Bérgson
Para o conhecimento da
arquitetura desenvolvido no período pós-guerra, principalmente após o
"maio-vermelho" de 1968, são mormente os enfoques vitalistas que
serão considerados. O vitalismo é na
atual fase do capitalismo um fenômeno internacional em visível luta pelas almas
no campo do conhecimento arquitetônico.
Um dos seus principais teóricos é o influente filósofo francês Henri Bérgson
(1859-1941) que apresenta contra o positivismo e o materialismo mecanicista uma
filosofia idealista e anti-intelectualista que destitui do pensamento
conceptual a capacidade de alcançar a
essência da realidade e eleva a intuição à condição de órgão cognitivo somente
ele capaz de captar o espírito, a liberdade e o movimento. Segundo Bérgson a verdadeira realidade, o
tempo real, a duração, -- distinto do movimento como propriedade da matéria --,
só podem ser captadas por meio da intuição.
A inteligência, segundo ele, é incapaz de captar a vida em sua unidade,
em seu criativo desenrolar, bem como, a consciência em sua furtiva origem. Para Bérgson a inteligência só capta
plenamente o mundo dos corpos sólidos e do espaço; em si é somente um meio à
serviço da vida, comunica em si imagens momentâneas de uma realidade dinâmica e
mutável. A isso Bergson chama de duração
ou o tempo psicologicamente vivenciado, colocando-o em acentuada contradição
com o tempo matemático, astronômico, o qual para ele não passa de uma
construção auxiliar das ciências naturais e é entendido como uma dimensão do
espaço.
Para Bérgson a duração
constitui a real realidade, ou seja, as coisas em si. Para captar essa realidade espiritual em sua
pureza, é necessário um elemento cognitivo totalmente distinto do da
inteligência, ou seja, a intuição, a qual segundo Bérgson, constitui uma forma
mais desenvolta do instinto o qual, independente de qualquer conceito, capta o
livre impulso da vida em todas as suas formas existenciais e em nossa própria
vida espiritual. Desse impulso da vida,
onde tudo é intensidade e onde tudo penetra tudo, deriva uma longa sequência de
condições cada vez mais discursivas, fragmentadas e espacializadas que vão até
o mundo da matéria e do espaço homogêneo, ou seja, ao ponto final da
deterioração da energia espiritual.
A esse enfoque soma-se
a interpretação de Bérgson quanto à relação entre a alma e o cérebro. Ele despreza a teoria da psicofísica e abarca
um dualismo peculiar o qual vê no cérebro uma continuação da alma sob forma de
um órgão para a realização de nossos atos e a expressão pantomímica da vida
espiritual. Dessa forma Bérgson
retrocede da experiência à intuição, da fisiologia ao vitalismo,
encaminhando-se ao sobrenatural como força motriz do universo.
Em seu livro Duração e
simultaneidade, Bérgson resume as ideias de suas obras ante-riores. Entende a duração como continuidade da vida
interior do homem. O tempo do mundo
exterior forma "certa participação sentida, vivida, do mundo material que
nos rodeia, nesta duração eterna." (51 p. 48 Askim) Distinguindo-se do idealismo tradicional e,
diga-se de passagem, do materialismo dialético, declara que a realidade não é a
matéria, nem a idéia como tal, mas a duração.
Para ele a duração não é simplesmente real: apresenta-se como encarnação
da própria realidade, que se reduz àquela.
Ora, como a duração do ponto de vista de Bérgson, é algo subjetivo,
imanente à consciência, o resultado de toda a teoria consiste em subjetivar a
realidade.
Bérgson foi
contemporâneo de Einstein. No livro
antes mencionado é descrito como tentou contrapor-se à teoria da relatividade
do mesmo. Não só rechaçando-a como
tentando explicá-la a seu modo:
"A
essência da teoria da relatividade baseia-se em pôr num mesmo plano a visão
real e as visões virtuais".
Tornou-se inevitável o
choque aberto entre Bérgson e Einstein, o que realmente aconteceu no seio da
Sociedade Francesa de Filosofia, em abril de 1922. Bérgson, ao expor na presença do fundador da
teoria da relatividade, o conceito de duração, compreendida em seu limite como
certo tempo universal, tentou sustentar a ideia de que "não existe
antagonismo entre tal critério e a concepção relativista do tempo". Einstein, na sua resposta, replicou breve,
mas energicamente a Bérgson, manifestando não compartilhar em absoluto de suas ideias
acerca do tempo. Jean Becquerel, Louis de Broglie e outros físicos
posicionaram-se contra a doutrina idealista do tempo, defendida por Bergson,
por relacionar o tempo exclusivamente com a natureza viva e negar
categoricamente suas existente na natureza inerte. Mas não é isso o que afirma a ciência. Os resultados da geologia moderna, por
exemplo, partem da determinação do tempo geológico absoluto determinando a
idade das rochas e dos minerais.
Quando de seu enfoque
sociológico Bérgson justifica a exploração e a agressão militar, e apresenta a
dominação e a submissão de classe como o estado natural da sociedade, enquanto
a democracia baseada sobre princípios de liberdade e igualdade seria
antinatural. As guerras seriam a consequência
de inelutável lei da natureza, o que explica a sua ampla aceitação por teóricos
do nazismo alemão e do fascismo italiano.
Bérgson sobreviveu incólume a todo o período de ocupação nazista da
França enquanto que pensadores como George Politzer foram sumariamente
fuzilados por propagarem ideias avessas ao nacional-socialismo.
Teóricos idealistas da arquitetura invocam frequentemente
Bérgson em favor de uma arquiteturologia que não necessite ser molestada pelos
reflexos das contradições sociais na mesma.
Faz-se da intuição um conceito místico sob o pretexto de que a
consciência é capaz, às vezes, de encontrar, repentinamente, a solução deste ou
daquele problema. Na realidade, se a
consciência advinha por intuição a verdade, deve-o à experiência vivenciada,
aos conhecimentos concretos adquiridos precedentemente e não à intuição
concebida como uma espécie de conhecimento especial, inato, que não decorre da
vivência, excluindo a atividade lógica da consciência.
Uma coisa é entender
intuição como algo exclusivamente pessoal, algo que esperamos ser reconhecido
sem questionamento. Quem assim pensa
geralmente reage sensitivamente evitando crítica e ensinamento. O outro extremo seria o de querer pensar só
em termos de conceitos e habilidades profissionais. Não escorregar para tais extremos implica considerar o desenvolvimento
histórico do conhecimento à respeito. As
teorias sobre o inconsciente seguiram etapas lógicas sucessivas as quais, à
partir de concepções idealistas, hoje
situam-se intimamente ligadas à teoria moderna dos princípios de organização
funcional e dos mecanismos da atividade cerebral. A esfera do inconsciente é hoje estudada
como o domínio de processos cerebrais e de reações psicológicas pelos quais o
organismo humano responde aos sinais, sem que toda reação ou certas fases da
mesma sejam apreendidas pela consciência.
O inconsciente é também estuda-do num outro plano, do ponto de vista das
relações que se estabelecem em diferentes condições entre o mesmo e as
atividades da consciência. De ambos
planos decorre o problema de melhor conhecer os mecanismos e os limites das
influências exercidas pela regulação não consciente sobre a dinâmica das
distintas funções psicológicas e fisiológicas e sobre o comportamento em seu
conjunto. O enfoque
materialista-dialético desse problema é
o de reconhecer a consciência como de natureza social; decorre do trabalho e é
historicamente determinada. Com base
nesse princípio é que a teoria psicológica da consciência (vista como o
conhecimento de qualquer coisa, a qual como objeto se opõe ao sujeito que dela
toma conhecimento) tem facilitado enormemente o estudo ulterior das manifestações
não conscientes do psiquismo e da atividade nervosa superior.
Como trabalhadores da
arquitetura é fundamental o cuidado da nossa capacidade sensorial de vivenciar
o espaço arquitetônico, de tornar-nos sensorialmente o mais abertos à captação
das sinalizações e significados espaciais.
Como trabalhadores da arquitetura que fazem confiança ao enfoque
materialista dialético é natural que incluamos toda a materialidade e dinâmica
social no nosso conceito de espaço.
Nosso conceito de espaço é muito mais rico e complexo do que o daqueles
que veem o objeto da arquitetura limitado a uma questão de lugares a serem usados,
de continentes à espera de um conteúdo social abstrato e não objetivado. Não ampliamos a nossa capacidade de
compreensão da arquitetura simplesmente lançando o nosso olhar para à mesma,
mas procuramos conhecê-lo melhor por meio da experiência das mesmas. A experiência arquitetônica constitui um
ativo processo humano que implica em ser receptivo, em captar e demonstrar a
espacialidade da ação recíproca entre a vida e o seu cenário. Implica, outro tanto, em se adestrar quanto à
comunicação a si e a outrém do vivenciamento dessa espacialidade.
Como experimentamos a
arquitetura varia de indivíduo para indivíduo, além de variar pelo fato de que
o fazemos em distintas circunstâncias.
É relatando nossas experiências individuais à caracterização social de
nossa participação na sociedade humana maior -- às nossas qualidades como
integrantes de segmentos e classes sociais --, e às categorias de totalidade da
compreensão do real: cultura, história, democracia etc. que conseguimos
depassar as limitações do enfoque meramente individual e comumente
individualista da arquitetura. Para
tanto a história nos proporciona instrumentos coletivos, sob formas socialmente
organizadas, de produção da consciência coletiva. Só inserindo a nossa experiência individual
nessas formas socialmente organizadas avançamos para a produção de uma arquitetura que expressa,
em grau decrescente, os conflitos antagônicos da sociedade capitalista,
apontando, em grau crescente, para uma
sociedade melhor e mais justa.
A luta prática por uma
sociedade melhor implica uma luta correspondente ao nível das ideias. A filosofia de Bérgson, voltando os olhares
para o irracionalismo, foi dócil ao avanço do emprego do braço armado do
capitalismo em favor da propriedade privada, do melhor fluxo da concentração de
capital e da concretização de mais valia.
È da análise da atuação do Estado capitalista contra as forças
progressistas da sociedade que se esclarece o verdadeiro conteúdo e termina o
caráter abstrato da filosofia. Quanto a
isso produção filosófica de Bérgson decididamente não foi favorável à luta
pelas luzes, pela liberdade e pela autodeterminação dos povos.
Continúa em próxima postagem. . .
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