Carla Patrícia Santana
(Profa. da Universidade do Estado da Bahia. Doutora em
Letras)
Ensaio publicado no livro Lima, Ari; Costa, Edil.
(Org.). Estudos de crítica cultural:
diálogos e fronteiras. 1 ed.Salvador : Quarteto, 2010, v.01, p. 29-58.
RESUMO
Este
trabalho pretende trazer parte das considerações de um exilado político
brasileiro, formuladas nas décadas de 1950 e 1960 sobre o processo de formação
e função do intelectual, particularmente explicitadas em “Notas para uma
possível autocrítica do intelectual brasileiro”. Heron de Alencar (1921-1972.
Crítico literário, professor, escritor) viveu o exílio entre 1964 até o ano de
sua morte, quando então retornou ao país, saindo do aeroporto direto para o
hospital, sob a vigilância policial, onde faleceu. São desse período seus
textos (manuscritos e datiloscritos) que evidenciam uma autocrítica sobre o
papel desempenhado enquanto intelectual. Idéias alinhadas às concepções
gramscianas e ao que posteriormente Edward Said discutirá em Representações
do intelectual, 2005. Este não é um debate novo. Norberto Bobbio faz um
mapeamento do tema (Os intelectuais e o poder, 1997). O que cabe aqui é
mostrar e refletir sobre um discurso, ou a ressonância deste debate em um
brasileiro que tentava fomentá-lo no Brasil, seja analisando as representações
dessa figura em textos literários, seja em análise da sociedade brasileira por
meio de crítica literária, manifestos ou conferências. Em um momento em que sua
angustiante situação, de exílio político forçoso, o levava a uma reflexão
profunda sobre a nossa formação cultural e sobre si.
Palavras-chave: formação cultural –
intelectualidade - representação
Inicio este
texto com um depoimento de Eduardo Portella. Ele consegue, em poucas palavras,
configurar o perfil do Heron de Alencar [1]
intelectual, dando destaque ao que considera a função do intelectual na
sociedade, que é a preocupação diária, orgânica, com os problemas políticos,
econômicos, sociais e culturais do país. Não somente preocupado com o seu
local, mas um intelectual que sabe que a ação no seu lugar também interfere no
geral, ser local e saber-se cosmopolita ao mesmo tempo, no sentido de uma
responsabilidade. Não se trata de construir fórmulas prontas, aplicáveis a
qualquer tempo e lugar, mas do exercício de pensar e propor, do comprometimento
em buscar soluções para que as pessoas possam ter melhores condições de vida e
de existência.
Depois vem o Heron de Alencar intelectual de
uma maneira geral. Ele como um intelectual... Heron pensava as questões do
Brasil e as questões do mundo. Ele acompanhava assim, quase que dia-a-dia ou
minuto-a-minuto a vida nacional. Mesmo quando estava no estrangeiro, ele estava
preocupado com o que estava acontecendo no Brasil. Então ele era um brasileiro
fulgaz. O tempo todo, portanto, nas vezes em que foi obrigado a sair do Brasil,
e mesmo nas vezes em que saiu espontaneamente do Brasil, em qualquer missão –
foi leitor de Estudos Brasileiros fora do Brasil -, ele também foi um ser
humano que não deixou, em nenhum momento, de se preocupar com o projeto
brasileiro, com o projeto nacional, com o que fazer e para aonde vai o Brasil.
De maneira que esse é um intelectual comprometido com a solidariedade humana,
mas localizado no espaço brasileiro. Ele também era comprometido com a
solidariedade humana de uma maneira geral, onde quer que estivesse em jogo os
direitos do homem, ou o direito à liberdade, ou o direito de ir e vir, ou o
direito de ser, o direito de estudar, de se educar. Todos esses grandes
direitos faziam parte da preocupação dele. (PORTELLA, Entrevista
concedida-gravada na Academia Brasileira de
Letras, especialmente para essa pesquisa, 2004).
Além dos depoimentos
recolhidos sobre quem era o Heron de Alencar intelectual, há uma quantidade
significativa de textos do seu acervo que dão uma noção da sua capacidade de
compreensão e interpretação dos acontecimentos e questões centrais da cultura e
política do País. É possível também saber do seu posicionamento e das sugestões
para a resolução de problemas, quando isto era possível, do que ele pensava
sobre a intelectualidade brasileira, e como se via enquanto um integrante desta
categoria.
Destaco, em
especial, dois para esse momento: o manuscrito intitulado “Notas para uma
possível autocrítica do intelectual brasileiro”, texto preparado para sua
intervenção em um seminário intitulado “Encontros brasileiros”, nome dado a um
grupo de estudos do qual fez parte, e uma entrevista concedida à rádio (rede
RDB) em Cuba, no segundo semestre de 1964. Também retomo textos publicados por
ele no jornal A Tarde, em final da
década de 1940.
Heron de Alencar
deixa claro que ao discorrer sobre o intelectual brasileiro está falando de si.
Os exemplos dos quais se utiliza são de sua própria experiência. Essa atitude é
o que Norberto Bobbio vai chamar de duplicação. O mais recorrente nos textos
que tratam do intelectual é que a fala se inicie pela avaliação do outro; quem
fala age como se não pertencesse àquela “confraria” sobre a qual se refere.
Heron de Alencar faz o inverso, inicia por si (autocrítica), já se anunciando.
Bobbio afirmou que “só esta inconsciente duplicação permite a um intelectual
falar tão mal dos outros intelectuais” (p. 8). Em Heron de Alencar, é a
consciência de si, que permite a duplicação. Daí o título desse texto:
configurações de um intelectual se pensando.
Como havia
anunciado, o debate sobre a natureza e função do intelectual não é novo, mas é
sempre atual. A discussão aqui tem a particularidade de ser feita por um
intelectual brasileiro exilado politicamente, em um momento de revisão de suas
práticas. Alguém que está próximo e distante ao mesmo tempo.
Para dialogar
com Heron de Alencar, além do depoimento de Portella (em entrevistas), tomo de
empréstimo as concepções de três pensadores, Antônio Gramsci, Norberto Bobbio e
Edward Said. Neles encontro reflexões e conceituações do que é ser um
intelectual, de suas representações e função na sociedade, e sobre como se
travam as relações com o exercício do poder. A escolha deve-se ao fato de
trazerem considerações que podem ser articuladas com as posturas e idéias de
Heron de Alencar.
Acrescento a
essa justificativa o fato de Said também salientar que há muitos estudos que
definem o que é intelectual, porém pouca atenção foi dada à imagem dessa
figura, suas características pessoais, sua maneira de intervir e seu
desempenho. E é a estas questões que pretendi conceder mais espaço neste
trabalho.
Gramsci (Os intelectuais e a organização da cultura,
1978, p.7), ao discutir a formação dos intelectuais – cada grupo social cria
para si uma ou mais camadas de intelectuais –, afirma que a categoria
intelectual é uma função social essencial para
o funcionamento da sociedade moderna: “Todos os homens são intelectuais,
poder-se-ia dizer então; mas nem todos os homens desempenham na sociedade a
função de intelectuais”. Ele considera que em todo e qualquer tipo de trabalho,
são exigidos um mínimo de qualificação técnica e um mínimo de atividade
intelectual, assim sendo não existem pessoas não-intelectuais. Da mesma forma,
não existe uma capacidade intelectual inata, porque, se cada grupo social cria
seus intelectuais, significa que estes são forjados pela sociedade.
Se é possível
definir um intelectual pelas suas idéias e por sua práxis, afirmo que vejo Heron
de Alencar como um militante intelectual tradicional orgânico capaz de
transitar pelos tipos desta categoria estabelecidos por Gramsci. Tradicional,
segundo a classificação gramsciana, é o intelectual que desempenha a função de
literato, professor, filósofo, artista e jornalista, funções estas que
conseguem se manter estáveis numa escala de tempo. Segundo ele, estas funções
não seriam suficientes para atender às exigências do mundo moderno, porque o
novo tipo de educação técnica, de trabalho industrial e as novas profissões
impuseram a necessidade de um novo tipo de intelectual. Ele concebe a idéia de
um militante orgânico. A idéia de um militante orgânico é aquele indivíduo que,
seja ele um intelectual, operário, estudante, independentemente da função que
desempenhe, tem uma atuação, está envolvido na sociedade e disputa idéias.
Vejo também que
a concepção de militante orgânico não traz em si uma valoração, porque todos os
indivíduos desempenham uma função na sociedade e toda função é pensada em
articulação com outras e como parte do funcionamento da sociedade. Mas deve-se
considerar que a sociedade valora o tempo todo, por isso o intelectual é visto,
muitas vezes, com desconfiança por outras categorias. Explicarei melhor quando comentar o exílio de
Heron de Alencar.
Edward Said, em Representações do intelectual (2005), interessa-se pelo
intelectual enquanto figura representativa. Pensa o intelectual como um “[...] indivíduo dotado de uma vocação
para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto de vista, uma
atitude, filosofia ou opinião para (e também por) um público” (p.25). Sua
concepção segue o sentido gramsciano sobre o papel do intelectual.
Para desempenhar esse papel, escreve Said, é preciso alguém cuja raison
d´être seja a de representar todas as pessoas e todos os problemas que são
sistematicamente esquecidos ou varridos para debaixo do tapete. Os princípios
são universais: “[...] todos os seres humanos têm direito de contar com padrões
de comportamento decentes quanto à liberdade e à justiça da parte dos poderes
ou nações do mundo, e que as violações deliberadas ou inadvertidas desses
padrões têm de ser corajosamente denunciadas e combatidas” (Said, 2005, p.26).
Norberto Bobbio (Os intelectuais e
o poder, 1997), declarando a não homogeneidade dessa categoria, afirma-se
fiel às suas conclusões de 1955 (Política
e Cultura). Para ele, o intelectual mediador, aqui já tratando da função do
intelectual, é aquele que promove o dialogo racional, o debate, possui e exerce
o poder ideológico. Bobbio (p.97) tipifica: “intelectuais ideológicos” e intelectuais
“expertos”. Estes fornecem conhecimentos técnicos, aqueles fornecem princípios
guia (as ideologias).
Heron de Alencar
defendia o engajamento, uma postura ativa da intelectualidade brasileira, no
sentido de pensar a realidade que constrói o homem e que é construída por suas
ações. Alguns dos seus artigos e de seus
textos no jornal A Tarde estão
marcados por uma postura firme e consciente na defesa dessas concepções. Para
ele, novos símbolos seriam necessários para a construção de uma nova maneira de
pensar as coisas e o mundo, para a criação de uma outra mentalidade:
A
responsabilidade que, nos dias de hoje, cabe ao intelectual, seja ele escritor,
pintor, músico, cientista, seja o que for, é daquelas que exigem pronunciamento
imediato e nunca vacilante. Ou o intelectual participa do grande drama
universal, contribuindo para que a paz no mundo e entre os homens seja cada vez
mais firme, ou será ele posto à margem, como inútil, destituído de qualquer
valor — voz que não se ouve, palavras que não são lidas. Não vai nisso nenhum
exagero. Aliás, para ser mais exato, ninguém pode, hoje, deixar de participar
da luta, seja pela paz, seja pela guerra. Ficar de cima, preso à
torre-de-marfim, já não é mais possível. De tal forma se agravaram as condições
do mundo, que todos os homens, por mais humildes e menores, são obrigados,
mesmo sem que disso tenham consciência, de contribuir, de uma forma ou de
outra. E o intelectual, mais do que qualquer outro, tem a obrigação de assim
proceder, marchando à frente de seu povo e de seu tempo no caminho da paz, que
não é de rosas... (ALENCAR,
1948b).
Aqui está um dos
textos no qual aparece a melhor conceituação de Alencar sobre a representação
do intelectual. É o intelectual gramsciano: militante. Heron de Alencar
posiciona-se claramente contra a figura do intelectual desarticulado ou alienado
da sociedade. Mas ainda não consegue perceber que o intelectual que atua no
sentido Gramsciano também pode ser entendido como um marginal, aquele que está
à margem porque segue contra a corrente do status quo, do estabelecido.
O que ele
denomina de responsabilidade pode ser lido como engajamento. Bobbio faz uma
distinção entre ambos. Ao pensar essas questões, prefere deslocar a discussão
para a primeira. O conceito de responsabilidade como dever de calcular, antes
de agir, as conseqüências das próprias. Para ele importa saber mais de que modo
se dá o engajamento, se assume todas as “responsabilidades da sua escolha e das
consequências que dela derivam”. Mas é preciso ressaltar que não é possível ter
a exata certeza do que resultarão nossas ações, por mais variáveis que se
levantem, apenas especulamos.
A compreensão do intelectual, ou da formação da mentalidade intelectual,
de Heron de Alencar vai sofrer alterações. Aquela sua visão de que os
intelectuais deviam estar inseridos na sociedade e apontando os rumos, para, em
conjunto com a sociedade, mudar perspectivas, vai ser repensada anos depois,
mais precisamente a partir de 1964, ou seja, durante os anos de ditadura
militar no Brasil, quando, analisando a ingenuidade da conscientização da
realidade e de sua possível mudança. Como inserir se estava na condição de
exilado político? Em “Notas para uma possível autocrítica do intelectual
brasileiro”, Heron de Alencar diz de si, qual o seu lugar de fala;
posiciona-se. Diz de sua idéia de Brasil: ufanista, baseada na tradição
e em uma visão mítica da
realidade brasileira:
Não vim aqui teorizar, nem pronunciar uma
conferência. Conversar (talvez certa decepção, porque não formularei soluções).
Conversa que é, em certo sentido, uma autocrítica, porque nela há muito, ou
tudo, de uma experiência pessoal.
Experiência, possivelmente ainda não madura,
de alguém que, longe do Brasil, sentiu um dia que a sua idéia de Brasil, de
alguns aspectos e fenômenos brasileiros, não tinha base real, concreta. Porque
a) não se fundamentava em fatos, em evidências. Quanto
muito, fundamentava-se em fatos mal interpretados, deturpados por uma visão
perigosamente otimista, ufanista, da realidade brasileira e de seu processo
histórico;
b) era uma idéia recebida por tradição: os
antigos retratos de família e a idéia que os acompanha; essa idéia recebida, na
escola e em casa, só em parte seria modificada dentro de mim mesmo, e, ainda
assim, sem uma análise crítica, de base.
c) era, enfim, uma idéia que tinha quase o
misterioso prestígio de uma verdade absoluta. Ou melhor, era uma idéia que
participava da natureza do mito.
Essa natureza mítica da realidade brasileira,
que eu carregava em mim, mão me permitia que eu me aproximasse da verdadeira
realidade, para estudá-la e conhecê-la.
Era uma fatalidade histórica, que eu deveria
aceitar sem exame. O máximo que se me permitia, era lamentá-la como quem
lamenta o irremediável. (ALENCAR, [1960-a], p.1).
Nesse texto, ele
se recusa a incorporar a figura daquele que apresentaria respostas prontas, acabadas
para os problemas em debate e posiciona-se como aquele que está aberto a uma
conversa, a uma troca de idéias. Define-se como um intelectual de província e
compara-se com o personagem de Caeté, de Graciliano Ramos, que se percebe um
selvagem: “[...] ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora,
conseqüência de 400 anos de civilização, outras raças, outros costumes”. Assim
era o intelectual brasileiro, assim era ele, um caeté. Um intelectual que só
enxergava o seu próprio país, como se ele fosse absoluto, isolado ou
desarticulado do resto do mundo.
Essa tomada de
consciência de si, do seu lugar e do seu percurso, leva-o a uma autocrítica. E
ressalto que foi justamente no exílio que isto aconteceu. Ele, ao encarnar a condição de exilado, responde à
lógica da representação da mudança
(Said, 2005, p.70), repensa sua posição e a da maioria dos intelectuais
brasileiros. Foi preciso o distanciamento para que conseguisse elaborar um novo
olhar sobre a realidade brasileira. Ele que, aliás, já vinha desenvolvendo
estudos sobre as conseqüências de uma visão mítica da realidade do Brasil (em
seu estudo sobre o tema do índio), e sobre a idéia de tradição, só conseguiu
enxergar a si e sua atuação quando se viu confrontado com os últimos acontecimentos
políticos do País, sendo obrigado a desenvolver novas reflexões e redirecionar
seus projetos.
Heron de Alencar
se vê como intelectual, sabe do seu lugar de fala, o que naquele momento não
era comum aos intelectuais brasileiros. Ele afirma que esses: “Quando
muito, têm consciência de pertencerem a uma elite privilegiada, categorizada
socialmente”.
Para ele, o comprometimento desta categoria com os problemas do País era um
dever, uma responsabilidade profissional:
Particularizo o que desejo dizer, com um
exemplo: como jornalista e professor universitário, o meu papel de intelectual,
de que eu tanto inicialmente me orgulhava, não implicava maiores deveres ou
responsabilidades. Dava-me porém: a) em primeiro lugar, categorização social;
b) em segundo lugar, uma soma de direitos e privilégios que eu entendia ser uma
obrigação da sociedade, dada a minha simples condição de intelectual.
Pensariam outros desse modo? Sim.
(uma ressalva: não pretendo generalizar, ao
ponto de afirmar que todos os intelectuais brasileiros pensam e agem desse
modo).
Um fato que me parece indiscutível: a imensa
maioria deles age como se assim pensasse.
Quando muito, têm consciência de pertencerem
a uma elite privilegiada, categorizada socialmente. Mas, de modo geral, não têm
consciência das responsabilidades e dos deveres de uma elite nacional. Não têm,
e isso é extremamente grave, uma consciência profissional. (ALENCAR,
[196-a], p.2).
Mais uma vez,
suas considerações estarão afinadas com o que, quase trinta anos depois, vai
afirmar Said. Segundo este, os intelectuais se vêem como privilegiados, como
pertencente a uma comunidade à parte. Heron de Alencar, ao fazer essa
autocrítica, toma-se como representante da maneira de pensar de uma categoria: “Pensariam outros desse
modo? Sim. [...] a imensa maioria deles age como se assim pensasse”. A concepção de que o
intelectual tem responsabilidades junto ao seu país, já havia sido explicitada
por ele, anos antes, em alguns dos seus textos publicados em sua coluna de
crítica literária no jornal A
Tarde (1948b). Naquele momento, exigia uma tomada de posição dos intelectuais em relação aos
problemas políticos e sociais. A diferença é que agora, depois de 1964, ele
analisa quais as bases de formação do seu pensamento. Antes, via-se como um
privilegiado, como pertencente a uma camada, a superior, da sociedade. Agora se
percebia como integrante de uma categoria ou condição, mais uma entre tantas outras, o que sugere mobilidade
e comunicação.
Dando seqüência,
HA explicita que para compreender “o drama” do intelectual brasileiro (para ele
o intelectual brasileiro vivia um drama), seria preciso pensar sobre a formação
das elites brasileiras enquanto um grupo privilegiado. Para tal, dever-se-ia
levar em consideração as seguintes questões: o processo de colonização e suas
conseqüências; a educação jesuítica, completamente desligada de uma realidade
problemática; a visão portuguesa do mundo, ou seja, a visão européia da terra e
do homem brasileiro; a herança romântica[2]. A
partir daí, levanta as seguintes questões: Existirá uma elite brasileira? Qual
a sua origem e quais as suas características?
Neste momento,
recorro mais uma vez a Said (2005) na sua afirmação de que o intelectual
reflete não apenas sobre o estado atual das coisas, mas pensa no processo, em como
o mundo, as pessoas, as instituições e a mentalidade de uma sociedade
tornaram-se o que são; estuda o percurso. O interesse de Heron de Alencar em
saber sobre a elite brasileira era o de saber da sua constituição, de suas
fontes e do seu contexto histórico, como ela se tornou o que era. Assim,
poderia descobrir como lidar com esta formação[3].
Segundo HA,
havia a necessidade de uma tomada de posição por parte do intelectual, e isso
requeria: “coragem moral, honestidade consigo próprio e com os
demais, e humildade, para descer da condição de `eleito`, do
estado de ´anjo´e colocar os pés na terra como qualquer mortal” (1960-b).
Ele exige uma responsabilidade do escritor em relação ao que escreve, em face
do público e em face da sociedade, devendo o intelectual participar,
ativamente, do processo da realidade brasileira.
Essas
considerações aparecem também em outros textos anteriores que abordam a criação
do que seria denominado de Encontros Brasileiros. Esses encontros serviriam[4] para
reunir os brasileiros que estivessem na França debatendo temas relacionados com
a realidade e a troca de idéias: “Encontros brasileiros se dirige a todos os
estudantes brasileiros que têm consciência da importância dos nossos problemas
sociais próprios, e que, por conseguinte, se interessam por uma discussão séria
desses problemas”[5].
Tal postura revela um sentimento de pertencimento a uma nação que, segundo HA,
necessitava da atuação responsável de seus intelectuais.
Nas
considerações sobre as representações do intelectual, Said (2005) chama a
atenção para a condição de marginalizado que o intelectual ocupa na sociedade.
Ele caracteriza o intelectual como um exilado e marginal em virtude de pensar
que este tem como dever a busca por uma relativa independência em relação às
instituições e aos poderes, de um modo geral.
Nesse sentido
apontado por Said, Heron de Alencar pode ser visto como um intelectual
duplamente exilado. Exilado por ser um intelectual e exilado porque esteve por
duas vezes na posição de um brasileiro exilado, fora de seu país. A primeira
vez que saiu foi para estudar na Europa,
onde permaneceu por longos sete anos, logo após o seu ingresso na então
Universidade da Bahia, após defesa da tese intitulada “Literatura: um conceito
em crise”, 1952 (naquela época, requisito para o ingresso na carreira, com
entrega de 100 exemplares). Este foi o seu primeiro exílio, mas por
determinação pessoal e em busca de conhecimento. O segundo exílio foi nos anos
da ditadura militar no Brasil, quando foi obrigado a sair do País. É ainda com
Said que se articula esse discurso do exílio:
O exílio é um dos destinos mais tristes. Nos
tempos pré-modernos, a deportação era um castigo particularmente terrível, uma
vez que significava não apenas anos de vida errante e desnorteada longe da família
e dos lugares conhecidos, como também ser uma espécie de pária permanente,
alguém que nunca se sentia em casa, sempre em conflito com o ambiente que o
cercava, inconsolável em relação ao passado, amargo perante o presente e o
futuro”. (SAID, 2005, p.55).
Mas acredito que
é preciso considerar também que o exílio não representa apenas o apagamento ou
uma relação amarga com o presente ou futuro. O próprio Said é quem me fornece a
chave para pensar assim, ao afirmar que, no exílio e na marginalidade, colhem-se
algumas coisas de positivo e uma delas é o que ele denomina de prazer de ser
surpreendido, do desenvolvimento de uma capacidade de produzir intelectualmente
em circunstâncias de instabilidade. Outro aspecto, também percebido por Heron
de Alencar e que aparece na sua produção, é assim expresso por Said (2005, p.
67-68):
Uma segunda vantagem para o que, de fato, é o
posto de observação do exilado para o intelectual é que tende a ver as coisas
não apenas como elas são, mas como se tornaram o que são. Isso significa
observar as situações como contingentes e não como inevitáveis, encará-las
enquanto resultado de uma série de escolhas históricas feitas por homens e
mulheres, como fatos da sociedade construída por seres humanos e não como
naturais ou ditadas por Deus e, por conseqüência, imutáveis, permanentes,
irreversíveis.
Também ressalto
que Said, nesse momento, já não está se referindo apenas ao exílio de fato, ao
não poder estar em lugar concreto, marcado geograficamente, mas à situação
ocupada pelo intelectual, no sentido de que está à margem, de quem se coloca à
parte para enxergar e entender a sociedade, os acontecimentos, e poder assim
analisar e posicionar-se independentemente, fazendo-se de intérprete de um
grupo ou de grande parte da sociedade. Este exílio é visto como uma forma de
liberdade, de poder fazer as coisas de acordo com os próprios princípios, sem
amarras a modelos já construídos. Tomo aqui suas considerações porque elas são
apropriadas ao que exponho aqui.
Do tempo do
primeiro exílio de Heron de Alencar, época de muita dedicação aos estudos,
quando saiu para cursar uma pós-graduação, relembro do comentário de Jorge
Calmon em depoimento por telefone, a respeito das queixas de Heron de Alencar
sobre o frio que sentia em Paris, e penso que tanto quanto físico, ou talvez
mais que físico, o frio que sentia era psicológico, conseqüência da saudade das
relações afetivas que aqui foram construídas, em especial dos amigos.
A segunda vez
que deixou o País foi por imposição das forças políticas que o ocuparam
militarmente em 1964. Este foi o seu segundo exílio. Em entrevista concedida a
uma rádio (rede RDB) em Cuba, Heron de Alencar fala dessa situação vivida pela
maioria dos intelectuais brasileiros, mas particulariza: “No meu caso pessoal, sou
professor universitário, um intelectual que teve de abandonar seu país para não
ser degradado de sua condição humana pela violência e pelo terror mais bestiais
já ocorridos na história do Brasil” (ALENCAR, 1964c). Nesta mesma entrevista,
analisa as conseqüências imediatas da ditadura militar na vida das pessoas:
De um ponto de vista pessoal: a
desorganização familiar, os pais separados dos filhos, os filhos sem
assistência e sem meios de sobrevivência, sem compreenderam porque seus pais
estão sendo perseguidos, os pais jogados nos cárceres e torturados, ou tendo de
enfrentar, como muitos de nós, o drama do exílio, desempregados, sem poder
trabalhar.
Do ponto de vista nacional: a tentativa de
liquidação das fontes de criação da vida nacional.
Distante dos
filhos, que permaneciam no Brasil enquanto ele e sua esposa deslocavam-se de um
país para outro, buscando um lugar para viver e para onde pudesse levar as
crianças enquanto perdurasse a situação de invasão no Brasil, via-se em uma
situação de incertezas quanto ao futuro.
Heron de Alencar
compreendia que o pessoal é também político. Para o intelectual, estas duas
faces não podem ser dissociadas, a sua vida privada é também pública. Heron de
Alencar falava da sua situação e, mais uma vez, suas considerações servem para
evidenciá-lo como representante de um grupo. Porque assim é que vê a sociedade,
tecendo os fios, articulando idéias, estudando os processos de constituição das
situações concretas. Assim se posiciona o intelectual, o exilado, de acordo com
Said (2005, p.67): “O exilado vê as coisas tanto em
termos do que deixou para trás como em termos do que de fato acontece aqui e
agora; através dessa dupla perspectiva, ele nunca vê as coisas de maneira
separada ou isolada”.
As dificuldades
do exílio não foram apenas financeiras, muito maiores e mais difíceis foram as
dificuldades de adaptação e em lidar com os sentimentos e a frustração de não
poder intervir nos acontecimentos. É difícil definir o que foi pior para
aqueles brasileiros expatriados, a ausência física ou o silenciamento imposto.
Para a maioria, o impasse era grande, tanto que eles fizeram o impossível para
regressar, mesmo sabendo o perigo que isto significava; outros resolveram fazer
o possível a partir do lugar onde estavam e das condições que conseguiram
criar.
Não ter presença,
ou ter uma presença negada na terra natal e na terra estrangeira, não ter voz
e, ao mesmo tempo, a consciência de ser um exilado – esta era a situação de
Heron de Alencar (e de todos os brasileiros exilados). Tudo isto poderia ser
minimizado se não fosse a consciência de si. Isso realçava as questões que o
afligiam como exilado: o saber-se marginal. Segundo Said (2005, p.57):
Para a maioria dos exilados, a dificuldade
não consiste só em ser forçado a viver longe de casa, mas, sobretudo, e levando
em conta o mundo de hoje, em ter de conviver o tempo todo com a lembrança de
que ele realmente se encontra no exílio, de que sua casa não está de fato tão
distante assim, e de que a circulação habitual do cotidiano da vida contemporânea
o mantém num contato permanente, embora torturante e vazio, com o lugar de
origem.
Essa situação é
particularmente acentuada para quem estava impossibilitado de atuar no seu
país, o que era vital para um intelectual gramsciano como Heron de Alencar. Sem
poder intervir diretamente nos acontecimentos, sem poder fazer-se presente no
seu país e na sua comunidade, a única opção possível para não se sentir pior,
para escapar da sensação de impossibilidade, seria, e foi, a congregação de
todos que viviam a mesma situação, a articulação dos exilados.
Tentativas de
fazer-se ouvir surgiram da organização e da cooperação entre eles. Buscaram
fazer-se ouvir por meio do Correio Brasiliense.
As notícias que chegavam do Brasil, as propostas de ajuda mútua, as
reflexões que debatiam em reuniões, os seus pontos de vista, tudo isto se fazia
presente em letras impressas. O Correio Brasiliense foi muito mais que um
boletim, foi uma ação e uma presença. Foi a maneira que encontraram para se
manterem vivos[6].
Mas a
instabilidade, o movimento de saída e entrada em diferentes países, dificultou
a manutenção de qualquer forma de organização. Assim foi que a organização de
brasileiros exilados no México – primeiro país a acolher Heron de Alencar e
tantos outros brasileiros – desfez-se. O exílio, nas palavras de Said, ao
associar o intelectual inconformado com a condição de exilado, é desassossego,
é movimento.
Também difícil
foi ser um intelectual no grupo que era constituído por sindicalistas que
ocupavam diferentes funções, sendo que alguns tinham um olhar desconfiado para
a figura do intelectual. Este era visto como se pudesse ser mais facilmente
cooptado pelo poder dominante. Mesmo levando em consideração o fato de Gramsci
denominar o sindicato de intelectual coletivo (ou os que escrever as teses,
formulam no sindicato, os dirigentes políticos, que ocupam cargos na sua
estrutura organizativa). Este olhar é conseqüência da valoração que a sociedade
brasileira faz do trabalho mental em detrimento do manual e da associação desta
figura com privilégios ou modo de vida burgueses; da própria postura de alguns
intelectuais e da dificuldade das
categorias mais proletarizadas enxergarem-se também como componentes ativos da
sociedade. Para saber a mentalidade de um grupo social não basta analisar suas
posses, mas também, e principalmente, seus desejos e suas aspirações.
Como um
intelectual orgânico, Heron de Alencar buscava atuar dentro dos espaços nos
quais estava inserido. Como professor universitário, refletiu sobre a construção
e o papel das universidades brasileiras, militando em prol de uma nova
concepção de ensino superior. Pensava que a Universidade tinha um papel
fundamental no estudo da realidade nacional e seu processo histórico. Dali
sairiam as novas propostas para a superação dos problemas e construção de uma
autonomia da cultura nacional.
Iniciou
sua atuação nas Universidades no início da década de 1950. No mesmo ano em que
ocupa a função de professor contratado, passa a ocupar também a função de
assessor do então Reitor Prof. Edgar Santos, dando início a seu processo de
pensar a Universidade. Desde essa época
preocupava-se com a formação de um grupo consolidado que atuasse de
maneira sistematizada dentro da Universidade.
Mas as suas
idéias sobre a formação de uma intelectualidade começaram a amadurecer a partir
de 1954, quando esteve na Europa, inicialmente como estudante de pós-graduação
e, em seguida, como Leitor Brasileiro na Sorbonne. Seu contato com o sistema
universitário francês proporcionou-lhe novas reflexões sobre a Universidade
brasileira, principalmente por ter presenciado lá uma campanha pela Reforma
realizada por professores e estudantes. Foi desse contato que se iniciou o
processo que o próprio HA denominou de “consciencialização”,
ou seja, a tomada de consciência da necessidade de se estudar a realidade
nacional e seu processo histórico. Este neologismo sugere a idéia de um
processo, daquilo que se vai construindo e tomando sentido. Essa experiência,
que é parte do distanciamento, provocou uma “[...] revisão de conceitos e
preconceitos, de noções e idéias que eu supunha umas poucas e variáveis e
outras definitivas” (ALENCAR, 1961a, p.11) sobre o País, que era uma idéia
muito mais mítica do que fruto de estudo e conhecimento.
Ao retornar para
o Brasil, após uma estadia de sete anos na Europa, apresenta a proposta de
regionalização das Universidades brasileiras. Discorre sobre esta proposta na
aula inaugural da Universidade da Bahia que profere no ano de 1961. Idealizava
uma universidade regionalizada, preocupada com a construção de soluções para os
problemas regionais. Este seria o caminho para a construção de uma autonomia
cultural, qual seja, o de valorizar a nossa cultura e as particularidades de
cada região (1961a, p.11). Segundo ele, as especificidades de cada região
poderiam refletir no campo
universitário. Isto daria nova vida às instituições de nível superior, porque a
cultura elaborada no seu meio seria uma “[...] cultura orgânica, assimilada e recriada pelo próprio povo”,
tendo como conseqüência uma “nova
mentalidade” construída pela “permeabilidade”. Essa considerações foram explicitadas
no texto intitulado Universidade, região e Alienação Cultural (1961)
O Heron de
Alencar dessa época era um nacionalista, um intelectual nacionalista como ele
se autodenominou posteriormente. Segundo suas próprias palavras, era alguém que
tinha uma “visão exageradamente otimista da realidade brasileira”, e a quem
ainda “faltavam estudos suficientes sobre a constituição histórica e ideológica
do país” ([196-a)]. Estes estudos vão-se desenvolver gradualmente durante a sua
vida a partir de estudos isolados e do contato com outras realidades e com
outras formas de pensar o nacional. A sua percepção sobre esta situação vai-se
dar, posteriormente, no exílio. Será a partir da experimentação da condição de
exilado que conseguirá ter abertura para realizar uma leitura de si próprio e
dos significados dos seus posicionamentos.
A
principal modificação que se processou na maneira de pensar desse intelectual
foi a aceitação de que o estado de crise
e conflito pelo qual estava
passando proporcionava-lhe uma consciência de sua realidade, sendo, portanto,
um elemento positivo na sua formação porque provocava uma inquietação. Esta,
por sua vez, desassossegando-lhe, poderia conduzi-lo ao conhecimento e à ação.
É a partir da idéia de crise como
atitude construtora que ele passa a refletir sobre a realidade brasileira.
Seguindo essa
nova concepção, Heron de Alencar acreditava ser necessário repensar a
Universidade no Brasil. Tais reflexões estão registradas em alguns de seus
textos, como o discurso proferido em 1961, nos escritos sobre a UnB e em alguns
textos que ainda hoje permanecem inéditos e que foram produzidos durante o
exílio, seja em função do projeto de construção da Universidade da Argélia ou
em função de continuar pensando e de divulgar o projeto da Universidade de
Brasília. O que é comum em todos eles, e que já aparecia esboçado no projeto da
Universidade de Brasília, é a crença de que a missão da universidade é a de “[...]
elaborar o saber como experiência de saber, de ser uma comunidade de
professores e alunos capaz de criar uma cultura contemporânea como instrumento
de assimilação e domínio da realidade” (1961a,
p.18)[7]
Por isso, propunha a
criação de uma comunidade acadêmica, ou seja, um sentimento de comunidade
dentro da universidade, construída por professores, alunos e administradores.
Segundo ele, isto não existia no País: “Não
há no Brasil, não apenas uma tradição, não há nem mesmo um exemplo isolado de
comunidade universitária” (1962). Isto teria sido possível na Universidade de Brasília, instituição que era:
O resultado de
uma consciência crítica da intelectualidade brasileira. Não é uma impostura à
realidade nem nasceu do alienado desejo de nivelamento cultural e científico
com Universidades dos chamados países desenvolvidos. Longe disso, o seu projeto
[...] resultou da convergência e experiências de numerosos intelectuais
brasileiros, cada um deles focalizando um setor através de uma vivência pessoal
e muita vez dramática da realidade brasileira. Isso quer dizer que cada um
deles, em lugar de alienar-se, tinha alma e corpo banhados de uma experiência
de afrontamento com a problemática brasileira, fosse ela universitária, social,
política, econômica. E se é verdade que nem todos eles tinham o mesmo grau de
experiência, é verdade, também, que todos eles sabiam da carga pejorativa que
no contexto brasileiro recai sobre a expressão que os designava – intelectuais
– e todos eles não escondiam a disposição de modificar essa carga mediante ação
participante e transformadora do nosso processo social e político. Por outras
palavras: recusando a torre de marfim e a condição de anjo, que fazem do
intelectual tradicional um homem fora de seu espaço e de seu tempo, eram todos eles
comprometidos com a sorte de mais de quarenta milhões de brasileiros
analfabetos e miseráveis, pelos quais se sentem em parte responsáveis. Por
outras palavras, ainda: todos eles estavam empenhados na edificação da nação
efetivamente livre e emancipada que o povo brasileiro está, historicamente,
chamado a construir. (ALENCAR, 1964d, 1969).
Trata-se da
formação do projeto de criação de uma intelectualidade nacional a partir da Universidade. Esta idéia
tem como suporte as concepções gramscianas sobre a criação de categorias
especializadas para o exercício da função intelectual em uma sociedade. Esse
projeto nacional buscava agregar intelectuais, ao mesmo tempo em que trabalhava
com a idéia de formar novos intelectuais que atuassem organicamente. A proposta
era formar uma intelectualidade autônoma, um grupo social que pensasse o País,
capaz de criar alternativas e propor soluções aos problemas nacionais a partir
da análise de situações próprias e não mais importando modelos europeus.
São essas as
suas reflexões, que se estavam consolidando na práxis quando o Brasil foi
ocupado militarmente em 1964. Avançando nessa proposta, surge a idéia, já no
exílio, de se criar uma organização universitária latino-americana que
congregasse professores universitários argentinos e brasileiros[8]. A
criação de uma Organização Universitária reunindo a comunidade intelectual da
América Latina conseguiria ultrapassar fronteiras, e juntos poderiam pensar em soluções. Porque
para Heron de Alencar: “A universidade é a corporação e a estrutura de formação
e organização dos intelectuais nacionais. Por isso os intelectuais precisavam
apresentar-se capazes de assumir a consciência de seus interesses corporativos,
universitários” ([196-e]).
Essa articulação serviria
para o fortalecimento de países que sempre estiveram à margem do centro de
poder. A valorização, ou melhor, a construção de uma autonomia cultural nesses
países só poderia ser feita de forma coletiva, pois nenhum desses países da
América Latina tinha condições de, sozinho, provocar mudanças significativas.
Era preciso enxergar a América Latina como um todo, não apenas do ponto de
vista geográfico, mas principalmente no sentido de que os países viviam
semelhantes desigualdades decorrentes do processo de colonização, mas observando
e respeitando suas particularidades econômicas e culturais.
Porém, as
conseqüências da ditadura militar instaurada no Brasil e a vida que esses
brasileiros passaram a levar no exterior dificultaram qualquer tipo de
organização. Suas tentativas acabaram sendo frustradas. Continuaram atuando
dentro das possibilidades de cada um e das que os países que os acolheram
ofereciam.
Nos seis meses que Heron de Alencar permaneceu no
México, apesar de não conseguir encontrar trabalho, proferiu conferências e participou de
seminários. Na Universidade do México discutiu os problemas políticos e
educacionais do Brasil, em uma comunicação intitulada “Los estudiantes y los intelectuales
brasileños en el proceso de las grandes masas” (1964). Também participou como delegado na Assembléia
Mundial de Educação realizada naquele país em setembro de 1964, onde apresentou
o projeto da Universidade de Brasília, do qual reproduzi trecho acima.[9]
Esse intelectual também atuou em outros diferentes
espaços, mas manteve-se geralmente ligado às áreas de atuação de um intelectual
tradicional no sentido gramsciano[10].
Se, durante o exílio, o principal
periódico no qual Heron de Alencar participou foi o Correio Brasiliense,
antes desse período trabalhou em outros jornais. Aliás, seu nome aparece na
cena literária e cultural do País por meio de um jornal. Estreou na Bahia, como
o redator da Página Literária do jornal A
Tarde, de Salvador, substituindo Carlos Chiacchio na tarefa de divulgação e
crítica; assinou uma coluna de crítica literária, intitulada “Caleidoscópio”,
neste jornal. A Página Literária era uma espécie de suplemento literário do
jornal que atraía tanto os jovens intelectuais que estavam em busca de espaço,
quanto aqueles de gerações anteriores. Para Inácio de Alencar (2003), “[...] a página literária do A
Tarde criada por HA é o
primeiro sopro renovador do movimento cultural baiano do após-guerra na chamada
grande imprensa”. [11]
No
A Tarde, noticiava eventos que
aconteciam na Cidade, comentando e incentivando a participação nos congressos,
exposições, debates que movimentavam a cena cultural de Salvador. Abordando as
artes em geral, sua coluna faz dele um mediador e promotor da cultura. E o
público assim percebia, basta ler o depoimento do Dr. José Maria Magalhães
(2001): “Orientava os mais moços na
literatura e nas artes em
geral. Estimulava os artistas, dentre os quais Jenner Augusto
da Silveira, Mário Cravo”.
Também
participou ativamente de revistas. Esse foi também o período de surgimento de
muitas revistas de literatura e artes, como assinala João Carlos Teixeira Gomes
(1979, p. 189).
A
defesa de um maior espaço de divulgação das publicações é uma marca constante
na coluna de HA. O fato de a Bahia parecer defasada, em relação a outros
Estados, na publicação de revistas é visto com pesar. A idéia de que era
necessária uma revista local é expressa constantemente na coluna
“Caleidoscópio” e é por essa razão que HA comemora o lançamento da revista Caderno
da Bahia (ALENCAR, 1948d), a qual, segundo João Carlos
Teixeira Gomes, marca a segunda fase
do modernismo na Bahia.
Evidencia que a revista não se restringia à literatura, mas
também se preocupava com as artes plásticas, com a música e se propunha a
discutir temas não canônicos, como os estudos afro-brasileiros. Segundo Ivia
Alves (2000, p.2):Caderno da Bahia
tem como prioridade incluir e discutir a cultura afro-baiana, procurando
inserir esses elementos que se eram os mais explícitos e concretos da cultura
local vinham sendo relegados inteiramente”. Sobre este aspecto, discutia, entre
outros assuntos, a produção literária de escritores negros, seus problemas,
como o grau de analfabetismo da população negra, os estereótipos e preconceitos
da conservadora sociedade branca baiana. Cadernos da Bahia foi estudada em
dissertação de mestrado de Karina Nascimento (1999). Segundo ela (p.35), era
realizado um trabalho conjunto entre a revista e o jornal: “Percebe-se que era feito um trabalho
complementar entre a revista e o jornal, pois a revista procurava mostrar uma
outra maneira de se fazer arte, e, no jornal, os escritores discutiam o
cotidiano e os preconceitos sofridos pelos artistas que trabalhavam com a arte
moderna”.
Mesmo
após o encerramento da publicação da revista, segundo João Carlos Teixeira
Gomes (1979, p. 189), “O grupo, de certa forma, teve
a sua continuidade assegurada no suplemento literário do jornal A Tarde,
que passou a ser editado por Heron de Alencar”.
Também participou de
O Povo, 1948-1949, como co-fundador e redator-chefe. Foi um dos
grandes incentivadores e redator do grupo de Caderno da Bahia (CB),
fundado, em 1948, por Cláudio Tuiuti Tavares, Vasconcelos Maia, Darwin Brandão. Em 1948, foi co-fundador da
revista de cultura brasileira intitulada Revista Brasiliense, editada em São Paulo. Seu nome
também aparece no corpo editorial da segunda fase de publicação da revista Seiva (1950), como um dos redatores.
Importa mostrar
que Heron de Alencar esteve envolvido com as atividades editoriais e culturais
durante os anos em que viveu na Bahia. A geração de HA, alimentada pelas idéias
socialistas e de democratização do País, trazia novas perspectivas que iriam
alimentar modificações nas áreas da cultura, educação e política.
Também atuou na
mídia televisiva, fato revelador da sua atenção aos novos veículos de
intervenção. A sua inserção neste tipo de mídia se dá no início da década de
60. De volta à Bahia, HA recebe o convite de Odorico Tavares para assumir um
programa semanal na primeira emissora de televisão da Bahia. A TV Itapoan, que
pertencia aos Diários Associados, era a sensação da Cidade do
Salvador, “o potin da cidade, o tititi
de todas as bocas” (ALENCAR, Inácio de, 2003). O Clube de Debates era um
programa de entrevistas veiculado ao final da tarde e contava com a
participação de personalidades do meio artístico em geral. (MAGALHÃES NETO,
2001). Era uma oportunidade de atingir um público maior que o do jornal e
ampliar as discussões sobre cultura. Inácio de Alencar (2003) ressalta o fato
de os debates acontecerem ao vivo (naquele tempo não havia nada gravado), em geral,
eram convidados 03 a
04 nomes da “intelligentsia local (ou nacional ou mesmo internacional se
estiver em passagem pela cidade) para debater em frente das câmeras, ao vivo
[...] um assunto do momento que ele próprio seleciona”. Deixa o Programa para
seguir Darcy Ribeiro no projeto de criação da UnB.
Heron de Alencar
fez parte desse momento importante do cenário cultural da Bahia e ajudou a
dinamizar as culturas que aqui conviviam e que resultou em estudiosos e
cineastas como Glauber Rocha. Rubim (2000) vai-nos chamar a atenção para a
compreensão do que ele denominou os “circuitos culturais que então se
configuravam na Bahia”. Os jornais, por exemplo, em parte, estavam tomados por
jovens intelectuais que “(re)criavam a Bahia”, num processo de articulação entre
estas mídias e a cultura. Isto era possível porque alguns dos jornais que
circulavam na capital àquela época estavam integrados à dinâmica cultural
baiana, “[...] seja através da divulgação dessa cultura, seja pelo debate
crítico de suas obras e seus contextos”.
Por
essas questões torna-se importante ressaltar a incorporação, por Heron de
Alencar, desta atividade de apresentador de programa de televisão voltado para
a discussão dos assuntos culturais. O fato de ter sido convidado para esse
trabalho é revelador do seu prestígio no cenário local e como estava antenado
com as inovações da época.
Esta
atividade, juntamente com a de jornalista e de professor, o mantém no modelo de intelectual gramsciano, que, por
conta da sua formação e militância à esquerda, o faz representante de um grupo
social.
Para encerrar,
retomo uma fala de Said (2005; p. 27): “Na profusão de estudos sobre
intelectuais tem havido demasiadas definições do intelectual, e pouca atenção
tem-se dado à imagem, às características pessoais, à intervenção efetiva e ao
desempenho, que juntos, constituem a própria força vital de todo verdadeiro
intelectual”.
Referências
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Entrevistas/depoimentos
ALENCAR, Inácio de. Re: Questionário-depoimento sobre Heron de Alencar.
Resposta enviada à pesquisadora, ago 2003.
ALENCAR, Inácio de. [mensagem pessoal]. Mensagens recebidas. 2003.
ARAÚJO, Guido. Entrevista concedida à
pesquisadora. Salvador, ago 2005.
MAGALHÃES NETO, José Maria. Ago. 2001. Entrevista-depoimento concedida à pesquisadora.
Salvador.
PORTELLA, Eduardo. Entrevista concedida à pesquisadora. Rio de Janeiro,
maio 2004.
[1]
Francisco Heron de Alencar (Crato, 1921, RJ, 1972) foi crítico literário,
jornalista, escritor e professor universitário. A sua biografia foi parte da
minha tese de doutorado intitulada Heron de Alencar: perfil intelectual e
discurso literário, defendida em 2006. Escrevi sobre sua chegada em Salvador,
ainda adolescente, sua formação, atuação na imprensa baiana, no movimento
cultural de Salvador, em meio à segunda fase do modernismo na Bahia, do
prestígio que gozava nos circuitos acadêmico-culturais participação e fomento a
criação de revistas literárias, televisão; papel desempenhado na Universidade
da Bahia como assessor de Edgar Santos, ida a Brasília, a convite de Darcy
Ribeiro, para ajudar na criação da UnB, o exílio político, trajetória como
exilado, participação em organizações fora do país, articulações políticas,
entre tantas outras atividades. E a importância de se trazer à tona essa
presença, ao tempo em que retomava parte da história cultural de Salvador, já
que sua experiência foi forjada em
parceria com diversos atores que construíram a cena cultural de cidade de
meados dos anos 40, do século XX, até aos anos 60. E também de um período
conturbado da nossa história, os anos de ditadura militar. Parte também da tese
foi seu trabalho como crítico literário, as discussões que antecipou nos
estudos sobre Machado de Assis e José de Alencar.
[2] Algumas
dessas questões vão aparecer nos seus estudos sobre literatura.
[3]
Esse raciocínio será aplicado à análise que faz do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
[4] Não
consegui descobri se esses encontros chegaram a acontecer.
[5] Circular
sobre a criação de um Centro de Encontros Brasileiros, Paris, 1957.
[6]
CORREIO BRASILIENSE. Cidade do México, ano 1, n. 1, 9 jul. 1964. Periódico mantido pela OSBE –
Organização dos Sindicalistas Brasileiros Exilados, fundada em junho de 1964
pelo grupo de cerca de 31 brasileiros exilados no México até aquela data
divulgava as principais notícias do que se passava no Brasil e outras
pertinentes à vida dos exilados no México. Um projeto de estudo sobre esse
periódico, do qual adquiri exemplares, está em formatação.
[7] Texto
transcrito como no original: o saber como
experiência de saber.
[8] Das reuniões de idealização da proposta,
participaram: Oscar Niemeyer, Celso Furtado, Waldir Pires, Leite Lopes, Luiz
Hildebrando Pereira da Silva, Heron de Alencar e, de passagem: Rolando Garcia –
então vice-reitor da Universidade de Buenos Aires e que havia sido espancado
pela polícia argentina. Também foram consultados sobre essa proposta: Fernando
Henrique Cardoso, exilado no Chile para aonde levou uma cópia o documento, Octávio Ianni, Florestan Fernandes e Nelson Rossi, que recebeu uma cópia
para apreciação.
[9] Depois, quando já estava em solo cubano, escreveu e
publicou alguns ensaios e reflexões sobre o golpe no Brasil. No texto “Sobre el
gorilazo en Brasil”, publicado no jornal Hoy, faz um balanço da situação
experimentada pelo País, e em “Perspectivas políticas”, faz a análise das
forças potencialmente revolucionárias no país, incluindo o PCB,
apontando algumas possíveis estratégias de resistência. Ainda em Cuba, foi
entrevistado pela mídia impressa — jornais Hoy, Revolución, El
Mundo e Revista Bohemia — e
radiofônica. Foi ainda em 1964 que HA iniciou a escrita do livro Problemática,
dialética, conhecimento, perspectivas da revolução brasileira, indicado
como de autoria coletiva, mas não há informações a respeito dos outros autores.
[10] A
novidade vai-se dar na mídia televisiva. Foi apresentador de um programa de
entrevistas na então iniciante televisão na Bahia, depois substituído por
Glauber Rocha, seguem mais comentários adiante.
[11]
Sobre o assunto escrevi um ensaio em Eu
vim contar outras coisas da Bahia – Estudos críticos de literatura e
cultura, publicado pela Quarteto, 2007. A estréia de Heron de Alencar como
crítico literário do Jornal A Tarde, entre os anos de 1947 e 1952, foi
objeto de estudo da minha dissertação de mestrado, defendida em 2003.
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