Frank Svensson
Professor titular aposentado FAU-UnB
Professor titular aposentado FAU-UnB
Amai-vos uns aos
outros e proletários de todo o mundo
uni-vos são as conclamações historicamente mais significativas que de
distintas épocas ecoam em nossa cultura cristã ocidental capitalista. Uma varreu
mundo quando o conhecimento ainda era acentuadamente marcado pela imaginação do
desconhecido. Quando o mundo captado pelos sentidos levava a incipientes
abstrações. A outra conclamação é expressão do avanço técnico científico e da
resultante configuração social. Dá-se numa era em que já se dispunha de
poderosos instrumentos produtores de conhecimento objetivo crítico como a
universidade e as agremiações obreiras.
Ambas conclamações não perderam sua atualidade e não
perderão enquanto persistir mal resolvida a questão da propriedade privada.
Estamos adentrando o terceiro milênio da era cristã sem poder manter a
propriedade privada senão com a violação dos direitos de propriedade. Os homens
de bem são os homens de bens. Para não submetê-los a formas coletivas de uso e
de propriedade são forçados a constituir leis, exércitos e polícias que lhes
assegurem a privacidade de seus bens. Não conseguem, no entanto, evitar aos
destituídos o sentimento e a consciência de injustiça e de inveja e assim o surgimento
de reações e de sucedâneos sob forma de vícios e de violências.
Já L. H. Morgan (1818-1881) homem de ciência,
norte-americano, etnógrafo e historiador das sociedades primitivas fazia ver
que só a democracia na administração, a fraternidade na sociedade, a igualdade
de direitos e a instrução geral fariam despontar uma etapa superior da
sociedade, para a qual tendam constantemente a experiência, a razão e a
ciência.
O advento da sociedade industrial implicou nova distribuição
social do trabalho. O moderno proletariado, o dos nossos dias, vivencia o seu
trabalho, trabalho assalariado, gerador de mais-valia, como a base da sociedade
burguesa capitalista, do consumo e da acumulação de capital. Por outro lado
vê-se excluído da superestrutura da mesma, ou seja, do controle e do resultado
de seu próprio trabalho, das decisões políticas, e da produção das ideologias
dominantes. O atual componente proletário da sociedade burguesa é indispensável
e fundamental à mesma, mas impotente à sua superação. Necessita ser re-socializado
para passar da condição de objeto social para a de sujeito de uma nova
sociedade mais justa e mais fraterna.
Conhecimento da ação recíproca entre a árvore e o bosque,
entre a parte e o todo, entre o indivíduo e a sociedade é o grande desafio do nosso
tempo. As formas socialmente organizadas, os coletivos de trabalho, e o conhecimento
objetivo do que seja a sociedade burguesa são tão indispensáveis um como o
outro para a superação da injustiça social.
A socialização sem conhecimento a respeito não
ultrapassará os limites do pensamento crítico. Mantendo a sociedade capitalista
como modelo de desenvolvimento chegamos, na melhor das hipóteses, à condição de
sociedade do bem estar, porém sem maior equidade social. A re-socialização da
sociedade terá forçosamente que advir de seus segmentos obreiros, dos que vivem
de seu salário, elevando os mesmos à condição de sujeito do planejamento social
e econômico. Um desenvolvimento visando tornar todos burgueses é simplesmente
inviável. Ter-se-á, portanto que inevitavelmente produzir conhecimento sobre
como chegar a uma sociedade proletária.
A universidade surge historicamente como preciosa resposta à
produção interdisciplinar de conhecimento para a solução dos problemas
candentes da sociedade. Pondo-se a serviço dos interesses das elites
desenvolve, no entanto, teorias desculpativas
que lhe distanciam dos interesses de emancipação das classes inferiores. O
conhecimento emanado da luta dos trabalhadores por uma sociedade equitativa não
é aceito como fidedigno. Limita-se a uma atitude amiga do povo e de pena dos
pobres, mas o aumento da violência nesta fase do capitalismo especulativo
assusta e instiga a compreendermos sua essência e origem. Muitos são os fatores
externos ao individuo cuja alteração leva a atos de violência. Um grupo de
pesquisadores de distintas áreas do conhecimento e da ação humana atuantes na
Universidade de Brasília resolveu estudar mais a fundo a ação recíproca entre
violência e espaço urbano.
A tendência histórica do conhecimento sobre os lugares da
vida é a de esclarecer a relação entre a mesma e seu cenário. Sobre como
construir cenários há bastante conhecimento desenvolvido. Sobre como construir
a vida bem menos. Sobre como alcançar a melhor relação entre a vida e seu
cenário ainda menos. O sistema capitalista submete a configuração urbana a um
crescente processo de coisificação que facilita a transformação dos componentes
construtivos em mercadoria e o valor de uso em simples valor de troca. A cidade
é vista como algo em si mesma desvinculada de sua ação recíproca com sua
região.
A pesquisa proposta pelos autores desta publicação vai no
sentido da universidade relacionar-se com as instituições da vida ativa na
cidade. No sentido de estimular a participação como um dos componentes básicos
de sua produção. Dentro da distribuição social de uma sociedade democrática
levar conhecimento à comunidade, não substituí-la em seu poder de tomar
decisões políticas, especialmente quando se trata de decisões locais.
Conscientes de que não existem métodos universais senão técnica, social e
ambientalmente adequada a cada realidade. Uma forma hodierna de amarmos uns aos
outros e de nos unirmos em favor de uma sociedade igualitária e fraterna.
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