Frank Svensson – Professor aposentado da Universidade de
Brasília e membro do CC do PCB.
O PCB na África
A repressão do regime militar no Brasil fez com que a
direção nacional do PCB – exceto um ou dois de seus membros – saísse(m) do
território nacional. Alguns foram para Moscou, outros para Praga (onde se situava a editora da “Revista Internacional” e
para outros países da Europa Ocidental. Era a época do eurocomunismo, originado
na Suécia, na Grécia e na Espanha. Formaram-se “dois eixos” de opiniões, um
entre os exilados brasileiros em Moscou e Lisboa e outro entre os em Milão e
Paris. O primeiro eixo congregava mais sindicalistas e profissionais de
partido, enquanto o outro era mais caracterizado por intelectuais e
profissionais de formação universitária. Para intelectuais brasileiros da
época, a Europa se resumia a Paris, desde Ascenso Ferreira, com seu poema
“Oropa, França e Bahia”.
Maurício Seidl, oficial superior da FAB designado pelo
governo brasileiro para comandar as tropas da ONU no Congo, cassado em 1964,
refugiou-se em Paris e dali engajou-se no trabalho do PCB. Mudou-se para Argel,
ajudando aquele país a formar pilotos para a recém-fundada Air Algerie.
Comandando aviões ligava aquela cidade a várias capitais europeias e Havana,
funcionando também como mensageiro do PCB. Anos depois iria treinar os novos
pilotos da Air Moçambique.
A maioria dos intelectuais e universitários do PCB exilados
na Europa Ocidental resistiam a se engajar nos partidos comunistas dos países
locais e vivenciar seus problemas políticos. Via de regra reuniam-se entre si,
a discutir como poderia ter sido e como poderia vir a ser no Brasil. Aos que
vieram direto do Brasil chamávamos de autênticos; e aos que passaram pelo
Chile, “chilenos”. Nessa atmosfera parisiense criou-se um grupo visando
assessorar países do terceiro mundo. Firmou-se um convênio com o governo da
Argélia e formou-se uma equipe de assessoramento liderada por Darci Ribeiro,
para a construção de três cidades universitárias naquele país.
Nesse entretempo a Argélia descobriu que podia ser um dos
maiores fornecedores de gás natural do mundo e passou a tomar atitudes
“novo-ricas”, contratando empresas de consultoria norte-americanas. Coube-me
desenvolver um centro de informática da Universidade Tecnológica de Argel,
projeto de Oscar Niemeyer. Concorreram como fornecedores de equipamento uma
firma soviética de baixo rendimento, mas insensível às condições climáticas;
uma empresa francesa e duas norte-americanas.
A norte-americana que ganhou a concorrência exigia controle
total das condições climáticas, temperatura, umidade e falta de poluição.
Propôs um volume de equipamentos que era o dobro do necessário à Argélia, que
alugaria a metade para a firma ganhadora utilizar a partir dos Estados Unidos.
Como reação a essa cosmo politização tecnológica, cresceu o processo de
arabização na Argélia.
Prestes, o líder
Meu contato com Luís Carlos Prestes deu-se em Brasília.
Ainda estudante, eu estagiava no escritório dirigido por Niemeyer. Éramos
quatro estudantes mineiros, já militantes do PCB, hospedados no apartamento do
Dr. Geraldo Joffily, diretor nacional do Juizado de Menores, que um dia nos
perguntou se queríamos conhecer Prestes. Uma enorme satisfação! À noite
levou-nos à casa da poetisa Maria Las Casas, onde Prestes estava hospedado.
Havia mais pessoas presentes. Falou-se de vários assuntos relacionados à nova
cidade e principalmente de sua futura universidade. Depois Prestes
perguntou-nos o que fazíamos e o que achávamos de Brasília. Respondendo
dissemos que estávamos orgulhosos de conhecer a experiência de arquitetos
brasileiros projetarem a capital de seu país. Ele nos disse haver passado pela
região de Brasília com a Coluna, tendo o grupo ficado impressionado com a
pobreza reinante. A interiorização do desenvolvimento mostrava-se
indispensável. Lembrou-nos a necessidade de novas e autossustentadas cidades de
trabalho industrial e agropecuário, algo já em andamento com o plano de
assentamento de cidades-colônias agrícolas, proposto por antigos membros da
Coluna, já no governo Vargas. Aconselhou-nos a interessar-nos pela experiência
em andamento na então União Soviética.
Aí é que veio a grande surpresa. Prestes perguntou-nos se
para desenvolver o interior do Brasil era preciso ali construir uma nova
capital? Não se esqueçam, acrescentou ele, que estão tirando a condição de
capital da cidade mais politizada do Brasil, o Rio de Janeiro. Empolgados com a
oportunidade de projetar algo totalmente novo, não havíamos pensado nisso.
Nesse instante começou a ficar claro que nos tínhamos deixado encantar por um
enfoque simplesmente reformista. O PCB considera que a transformação da
sociedade brasileira terá inevitavelmente de incluir a construção de novas
cidades autossustentadas, dentro de um processo histórico que tenha como
objetivo transformar o objeto social do país.em sujeito do mesmo
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