Arnold Ljungman – Militante
escritor sueco do GRUPO CLARTÈ – formado na França por Phillippe B. Barbusse –
de pensadores suecos marxistas do período entre guerras. Sua obra destaca A
Visão de Mundo do Marxismo (1947), O Problema Kierkegaard (1964) e A Estética
de Gyorgy Lukács (1967).
Tradução
– Frank Svensson
Anterior
às luta entre girondistas e jacobinos, a contradição entre a corrente moderada e
a revolucionária da burguesia mostra-se primeiro na literatura. Dá-se pela
oposição sensorial ao Iluminismo.
Preparada em círculos puritanos e pietistas (meados do século XVIII), com a
violência de uma intempérie, irrompe na Inglaterra como no continente, em
romances de Richardson e na crítica de Diderot. A filosofia social de Rousseau
e a epopeia religiosa de Klopstock ganham as primeiras expressões, correntes de
caráter radicalmente distinto da iluminista. A respeito de Voltaire, Brunetière
disse que grande parte dos iluministas limitou-se à crítica intelectual
cautelosa e prudente das instituições estabelecidas, enquanto se movia com a
liberdade de peixes em água no mundo dos salões, le bourgeois gentilhomme. A oposição passava a objeto de
sentimentos e vontades, a atingir toda a personalidade. Muito mais que antes
ligava-se às revoltas religiosa e moral da burguesia contra a degenerescência
da vida aristocrata. Contra a libertinagem erótica dos nobres e da corte opõe a
exaltação do. idílio incorruptível da vida familiar burguesa, de hábitos
inocentes e antiquada devoção, esta última uma postura que perpassa as artes e
alcança na pintura de Chardin a mais eloquente equivalência. No fim do século,
com os ataques à podridão da cultura cortesã, principalmente no teatro, em frequente
e aberta pregação revolucionária, como sugeriam Emitia Galotti, de Lessing, ou Intrigas
e Amor, de Schiller.
O novo
conteúdo propicia a exigência de uma configuração mais livre: a burguesia em
geral interpreta como ultrapassada e incômoda a submissão dependente da pseudo-morfose
aos ideais e imagens clássicas. Na história da literatura, a mudança é vista
como reação germânica contra o domínio exclusivo do gosto francês. Quando Lessing
- em Lakoon - e em Dramaturgia hamburguesa
- na Alemanha - ataca as formas classicistas, funda seus mais eficazes
argumentos em Diderot, não em Aristóteles. Ideológica como estilisticamente, o
mais precursor representante da tendência revolucionária é o francês Rousseau.
Na luta
entre o velho e o novo na literatura, a reavaliação estética das iniciativas
pretéritas tem séria importância. Acertando contas com a pseudomorfose, com
instinto histórico a burguesia volta a quando a jovem criação burguesa era
limitada à camisa-de-força do classicismo: retorna à Renascença, que é
atualizada em consciente polêmica com os representantes do absolutismo e do Iluminismo.
Entretanto, não se entenda esta reavaliação como de caráter científico. Claro,
há o lado objetivo; e há que reconhecer que só agora a crítica descobre a
grandeza de Shakespeare, Rembrandt e Spinoza, o que não significa que suas
obras devam incluir-se na pretensão de validade eterna. Revelam muito mais
transformarem-se em fermento de uma realidade viva e orgânica, sendo senha,
grito de guerra, uma bandeira. Como nas conquistas produtivas, o interesse
filológico é sobrepujado pelo pragmático.
Verifica-se
na forma tratada por Spinoza. Em aparentes clareza e integridade, Spinoza é
indubitavelmente dos mais complicados personagens da história do pensamento
ocidental, homem cujos posicionamentos implicam elementos os mais
inconciliáveis. No aspecto formal, acerca-se do método racionalista de Descartes
e pode ser responsabilizado como representante das tendências teóricas básicas
do absolutismo. Sua teoria sobre a submissão das emoções ao intelecto evidencia,
inclusive, parentesco com o entendimento psicológico do classicismo. Ao mesmo
tempo Spinoza tem profundo e sofrido engajamento pessoal e envolvimento na
patologia dos sentimentos humanos, cuja intensidade distingue-se
fundamentalmente do clássico. Na realidade, é de natureza renascentista. Quem
leu o terceiro livro de sua Ética
supreendeu-se pela semelhança com as tragédias de Shakespeare, com a sobrecarga
de sentimentos tencionados ao extremo.
Sua
visão da natureza é igual. Spinoza representa uma tendência fortemente mecânica
e determinista que supera o cartesianismo e aponta para o materialismo das
ciências naturais do fim do século XIX, circunstância que bem explica sua
extraordinária influência sobre o mundo sucedâneo. A partir do marxismo,
supervalorizou-se a dimensão mecânica do spinozismo (Thalheimer, Deborin),
esquecendo-se que Spinoza preenche uma tendência frontalmente oposta, como
último grande precursor da filosofia renascentista da natureza, com mística
panteísta e enfoque organicista. Pode-se questionar qual dimensão é a mais
importante, mas para o sentimento de vida revolucionário burguês a vinculação com a Renascença é determinante. Em Herder e Jacobi, que na Alemanha
desencadearam a reavaliação de sua obra, a visão de mundo de Spinoza se desvia
para o subjetivo e o sensorial, remetendo a Ellen Key, de cem anos depois.
Goethe expressa que Spinoza o salvou, libertou-o do materialismo estéril e
desalmado de A Natureza como sistema, de Holbach.
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