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Francesco La Regina foi professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade
de - Nápoles. Desenvolveu trabalhos e pesquisas na área do patrimônio histórico
arquitetônico e ambiental. È autor de trabalhos como: William Morris e
l'anti-restoration mouvement e Regioni: beni culturali e territorio (com R. di
Steffano e A. Aveta).
Estando em íntimo
contato com as transformações mais profundas da sociedade moderna, a
arquitetura deve reivindicar o caráter político como horizonte unitário da
própria relevância social. A crise da cultura arquitetônica moderna não é
somente a consequência das mudanças estruturais, ocorridas no âmbito da
produção da construção civil, mas sobretudo o resultado da ação consciente e
predisposta dos homens. Por essa razão, a exigência de desenvolver
criativamente as forças produtivas arquitetônicas e a urgência de modificar a
articulação das relações humanas no ambiente que nos acolhe encontram na
política sua unidade real. O projeto arquitetônico fica, dessa forma, fora de
todas as efêmeras reduções técnicas e de todas as prefigurações ideológicas.
Este projeto é parte integrante de um processo geral de transformação do real,
que se concretiza influenciando em todos os níveis que delineiam a profundidade
do presente histórico. Portanto, não deve haver dissolução da atividade
arquitetônica na atividade política, mas a integração orgânica de especificas
formas de produtividade social, que somente no encontro dos respectivos aspectos
positivos confirmam o aspecto criativo e difusor de uma na outra, e vice-versa.
A arquitetura não é urna atividade parcial e unilateral ou especialista que
convive ao lado de outras atividades, e nem mesmo é instrumento imediato para a
ação política. No momento em que a coletividade é chamada a conquista-la, a
atividade arquitetônica encarna-se espontaneamente no contexto de urna
experiência social consciente, sendo que nela a arquitetura não é um bem de
consumo indiferenciado e sujeito eternamente às leis do mercado e da
especulação, mas a transição e ao mesmo tempo a forma necessária do pleno
desenvolver-se e formar-se da cultura.
O principal aspecto
para a compreensão da realidade arquitetônica é o de constituir, nas atuais
condições. um "produto" necessariamente subordinado aos processos de
auto-organização e valorização do capital. Diante dessa constatação, não existe
outra escolha: deve-se tornar parte ativa no processo de renovação e
socialização da cultura arquitetônica. Apesar das aparências, a natureza
"política" da arquitetura não implica a dissolução e a renegação da
disciplina, mas a sua exaltação na de passagem de uma condição elitista a uma
condição de máxima socialização. Recusando todas as aspirações a visões de
conjunto onipresentes, a arquitetura genérica é a relevante possibilidade de
superar o pragmatismo especifico da hegemonia das classes dominantes e de
encontrar "outros" ângulos de observação, pelos quais a realidade
arquitetônica seja esclarecida até o fim, na extraordinária complexidade de
suas implicações. Nesse sentido, qualquer convite ao "respeito
integral" do especifico disciplinar ou a sua "recusa total" pode
revelar-se como uma provocação, ou como a ideologia adequada a uma fase não
desejada, defensiva da relação hegemônica política/cultura. Em torno dessa
relação, a arquitetura mostra a sociedade e suas contradições, e mostra como
nesta estão incorporados todos os momentos decisivos do presente histórico.
A nova dimensão da
arquitetura está hoje em um terreno fértil de conflito e encontro: de conflito
com a subordinação do produto arquitetônico e urbano aos interesses das classes
dominantes, e de encontro com as massas populares para a gestão social do
ambiente construído e edificável. Mas a reapropriação social da ar-quitetura
não se extingue no projeto de uma clientela e de urna gestão "desta
arquitetura", porque esta arquitetura reflete-se na qualidade dos seus
espaços e na articulação capitalista das relações humanas. A nova dimensão da
cultura arquitetônica aumenta como critica da estrutura geral do processo
social do trabalho arquitetônico, no amplo leque de suas articulações teóricas
e práticas. Na critica dessa estrutura deve-se hoje trabalhar também pela
requalificação da disciplina arquitetônica, como superação do processo de
máxima desvalorização e subordinação da arquitetura que descende da divisão
existente do trabalho.
Recordemo-nos do
ensinamento de Gramsci, onde no lugar de "arte" podemos entender
"arquitetura", se é necessário precisar. É necessário falar de luta
por urna "nova cultura", e não por urna "nova arquitetura".
Talvez não se possa nem mesmo dizer, para sermos exatos, que se luta por um
novo conteúdo da arte, porque isso não pode ser pensado de forma abstrata,
separado da forma. Lutar por urna nova arte significaria lutar para criar novos
artistas individualmente, o que é absurdo, pois não se pode criar
artificial-mente os artistas. Deve-se falar de luta por uma nova cultura, isto
é, por uma nova vida moral, que não pode deixar de ser intimamente ligada a uma
nova intuição da vida, até que esta se torne um novo modo de sentir e ver a
realidade, e portanto conectada intimamente aos ''artistas possíveis" e às
"obras de arte possíveis"; 6
Não deriva dessa
afirmação a ideia de liquidar a cultura arquitetônica, mas sim a necessidade de
ampliar a perspectiva de trabalho por meio do aprofundamento das condições nas
quais, no plano da elaboração disciplinar, é necessário determinar e
desenvolver as atribuições do significado deste ou daquele aspecto da
arquitetura. O comparecimento de determinados "prazos culturais" não
é nunca um fim em si mesmo, mas assume importância histórica de acordo com um
mecanismo inquietante, no qual comparece a urgência de atingir, o quanto antes,
uma confrontação sobre as questões centrais da problemática, eliminando lacunas
e atrasos quanto a intensidade da procura de um "ambiente diverso"
por parte da coletividade.
Hoje, o problema
fundamental é o da individuação e construção de um eixo de encontro político-cultural
ao longo do qual possam alinhar-se as forças culturais que saem desagregadas
das grandes lutas pelo arranjo do território, pela defesa do ambiente, pela
reforma da casa. A definição teórica desse eixo é preliminar à ligação e à
gestão política das lutas do ciclo arquitetônico urbano por causa da necessária
unificação e agregação dos grandes componentes democráticos e populares da
nossa sociedade em torno do núcleo operário e contemporaneamente por causa do
controle e guia do mesmo processo de reestruturação produtiva e cultural do
setor em torno de novas hipóteses de desenvolvimento.
É claro que o arco das
mediações culturais, que neste momento devem ser cobertas, é ainda mais amplo
que no passado. Trata-se de fazer desta crise de reestruturação produtiva e
cultural da arquitetura a ocasião definitiva para levar em conta, no cerne das
contradições abertas pelo mesmo processo de crise e reestruturação e pelas
lutas sociais, as perspectivas concretas de urna "nova síntese" do
espaço arquitetônico e urbano. A individuação do caráter desta "nova
síntese" e de sua "validade" política e cultural coloca-se entre
os problemas fundamentais para a nova organização da atividade e para a
"presença" arquitetônica no mundo de hoje.
Exatamente por isso não
se pode deixar desmoronar o processo renovador iniciado pelo Movimento Moderno:
responder àquele programa, tornando-o verdadeiro à luz de uma consequente
historicidade, significa trabalhar para que a arquitetura seja restituída a si
mesma na pesquisa de soluções que permitam a intervenção ativa na realidade
sócio-ambiental. Obviamente, trata-se de um compromisso a ser projetado em um
longo período, no qual se deve pesar a consciência do pavoroso vazio cultural
em que nos movemos hoje, e que nos expõe cotidianamente a inclinações
apologéticas e absolutizações liquidatárias. No momento, existe somente uma
escolha: encontrar o ângulo correto de observação e intervenção sob o qual o
inteiro processo arquitetônico seja esclarecido até o fim, com visão e
julgamento unilaterais. Estes nos são oferecidos pelo presente histórico,
dentro da sociedade capitalista, e qualquer tentativa de repropor em termos
"objetivos" a realidade arquitetônica é destinada a falir.
É claro que diante de
urna situação como a atual, tão complexa em seu dinâmico desenvolvimento, é
absurdo e perigoso continuar a perpetuar certos equívocos e a valer-se de
esquemas culturais inadequados e unilaterais. A própria condição da arquitetura
contemporânea predispõe-nos a uma ampliação orgânica das nossas experiências, o
que significa que não podemos ser redutivos e indiferentes na escolha dos
métodos e das vias que se oferecem à pesquisa disciplinar para tentar sair de
unia situação confusa e indeterminada. Mais do que nunca, a principal tarefa da
cultura arquitetônica é abrir-se para uma orgânica integração dos dados nos
quais se articula e se exprime uma construção moderna e coerente do espaço
antropológico. Todavia, também mais do que nunca, é necessário cumprir urna
função geral de orientação e de clareza, provocando os problemas da organização
ambiental de um ponto de vista específico: o ponto de vista do proletariado
moderno. Encaminhada nesse sentido, a pesquisa disciplinar readquire sua profundidade
teórica e contribui para o esclarecimento de como análise e projetação, método
e conteúdo, teoria e práxis da arquitetura tendem, em última instância, a
coincidir em um complexo nó de implicações políticas e tornam-se um modo
especifico de tomar parte, de assumir urna responsabilidade precisa com relação
ao problema geral de transformação do real. A cultura arquitetônica possui uma
relevância social — emancipa-se da condição subalterna de apêndice
"interno" ao sistema, irreversivelmente subordinada às escolhas do
capital — se através do seu desenvolvimento e radical renovação a classe
operária estende a própria hegemonia na luta para "mudar" o mundo,
para revolucioná-lo na qualidade de sua dimensão espacial.
N o t a s :
6 - Cf. S. Piccone Stella, Intelletuali e capitale nella società italiana dei do-po-guerra, De Donato, Bari, 1972.
N o t a s :
6 - Cf. S. Piccone Stella, Intelletuali e capitale nella società italiana dei do-po-guerra, De Donato, Bari, 1972.
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