Escrito por Frank Svensson* - 04 de Dezembro de
2009
Para desencanto de
conservadores e de progressistas ortodoxos a História não se repete em suas
particularidades. Feitos e fatos havidos, sempre condicionados à subjetividade
do novo, tornam-se, no entanto, referências para melhor entendimento do
presente e da antevisão do futuro.
A cidade de Versalhes
surgiu por força da necessidade de novos locais para melhor administração da
França face o emergente período industrial do capitalismo. Um dos motivos
também considerados para Brasília substituir o Rio de Janeiro como capital do
Brasil. Os governos de ambos os países foram retirados de suas mais politizadas
cidades. As novas capitais como civitas e não urbs resultaram praticamente sem
produção material, sem lutas trabalhistas de proletários pela satisfação de
suas necessidades, pela reivindicação de seus direitos e pela imposição do seu
modo de vida e de sua ética de classe.
O ideário que passou a
predominar nessas novas civitas foi o de uma alta classe média como sempre em
crise existencial, querendo se aburguesar sem poder e negando-se a aceitar as
vantagens sociais da emancipação proletária.
Cidades povoadas por
funcionários públicos de formação universitária livresca e diletante - distante
da vivência da solução de problemas práticos concretos -, de lobistas flanando
nos corredores de palácios e ministérios, ciosos de serem convidados a
participar das vantagens em projetos nacionais ou mesmo de festas nas
embaixadas dos países ricos. Terreno fértil para, com seu falso glamour, atrair
pobres e destituídos em busca de melhores condições de vida. Condições marcadas
pelo ideário da troca e do lucro fácil, a um passo do embuste e da
criminalidade de pequeno porte. Dessa para a participação na de grande porte
basta um pulo.
Versalhes chegou a ser
cenário da Revolução Francesa. Não foram poucas as cabeças que ali rolaram.
Será este o destino de Brasília? Seus representantes políticos – governadores,
senadores e parlamentares em geral, mesmo os que se anunciam de esquerda - nem
os deuses sabem como tiveram suas campanhas eleitorais financiadas. Suspeitas
não esclarecidas vão se enfileirando ao longo da chamada Nova República.
Sou daqueles que
involuntariamente estiveram ausentes de Brasília por um longo período. Muita
coisa não vivenciei in-loco, mas já
de volta até hoje espero pelo esclarecimento dos mais variados escândalos: o do
governo Collor, o da ASEFE, o dos Jogos Pan-americanos, o da Universidade de
Brasília, o de depostos ou autodemitidos senadores, o do metrô de Brasília, e
agora o do denunciado atual governo do Distrito Federal.
O Brasil de hoje já
alcançou sobejamente as condições objetivas para uma nova ordem econômica
marcada pela justiça social. A questão é a falta das condições subjetivas para
tanto. Como adquiri-las?
Em Versalhes não bastou
querer melhorar o regime monarquista transformando-o de Absolutista em
Federativo. Foi necessária a Revolução Francesa com os movimentos que lhe
sucederam. É de se perguntar se basta querer melhorar o regime capitalista
brasileiro? Estamos hoje plenamente integrados em sua fase imperialista
internacional.
A contradição
fundamental que sofremos hoje se dá diretamente entre capital internacional e
trabalho. Encontramo-nos entre escolher o caminho da reforma ou o da ruptura.
No caso de Versalhes houve ruptura. E no nosso caso em Brasília? Em sendo necessário há
que se inteirar de como romper não se contentando somente em reformar!
* Frank Svensson é professor titular aposentado da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB), membro do CC do PCB.
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