Tradução
Frank Svensson
Artigo
extraído de Praxis und
Geschichtsbewusstsein; Studie zur materialistischen Dialektik,
Erkenntnistheorie und Hermeneutik (Prática e consciência histórica; Estudos
sobre dialética materialista, Teoria do conhecimento e Ermenêutica. pp 51 a 83,
(Edition Suhrkamp, Frankfurt/M. 1973, ISBN 3-518-00529-4).
A
hermenêutica é até hoje — sem que ninguém o conteste — um domínio das ciências humanas. O é
tanto para a hermenêutica como procedimento de interpretação que permita
entender os registros da consciência como para a hermenêutica como teoria
filosófica da percepção sensível. Uma hermenêutica científica ciente de seu
lugar no sistema de classificação da dialética materialista não existe. Ou não
existe ainda? Não. Ainda não existe uma hermenêutica materialista. Por quê?
Hermenêutica e materialismo são excludentes uma em relação ao outro? É
impossível, no intuito de encontrar uma alternativa materialista para a hermenêutica
burguesa, apoiar-se em citações dos clássicos do marxismo.
O termo
não aparece mais do que uma vez, circunstancialmente e num sentido pejorativo,
em 1858, numa carta de Marx para Engels. Marx então critica Lasalle e sua
leitura de Hegel, marcada pelo hábito
jurídico da hermenêutica. A reconstrução materialista histórico-lógica da história real não pode reduzir a
explicação da matéria histórica aos produtos — transmitidos por escrito e
obtidos somente nas fontes textuais — que se apresentam como o reflexo de
práticas pretéritas.
A
Crítica da economia política de Marx é, além de seu significado como anatomia
da ciência burguesa e do modo de produção capitalista, o paradigma de uma hermenêutica materialista. É a
hermenêutica de todo o conhecimento, de todo o reflexo categorial do modo de
produção capitalista, do qual Marx encontrou os documentos nas fontes da
economia nacional clássica na Inglaterra. Seria negativo não considerar,
metodológica e teoricamente, esse instrumento hermenêutico produzido pela
teoria materialista da história e afinado depois pela lógica dialética. O veto
imposto até agora pelo marxismo para com a hermenêutica é claro: A hermenêutica é recusada como fenômeno
oriundo do idealismo e do irracionalismo burguês. Como não se lhe atribui
nem objeto nem campo específicos no sistema da dialética materialista,
remete-se os temas cientificamente
constantes da hermenêutica principalmente à metodologia, à teoria do
conhecimento e à semiótica.1
Esse
veto não pode suscitar nem um pouco uma outra pesquisa em matéria de
herme-nêutica marxista se não se leva em conta que não concerne outra hermenêutica
que não a tradicional, seu idealismo e seu irracionalismo. Poderia ser mantido
se uma hermenêutica marxista devesse conduzir à revisão ou mesmo à substituição
dos elementos essenciais da teoria marxista. Este estudo coloca insistentemente
a questão do lugar a ser dado à hermenêutica no interior do sistema de
classificação da dialética marxista. Essa hermenêutica não pode ser
teoricamente de uma abrangência geral do sentido atribuído ao significado materialista, mas é, ao contrário, o
método adequado a seu objeto -- os documentos -- para explicar as formas e os
conteúdos que os mesmos refletem.
No
quadro da hierarquia classificatória da ciência marxista pode-se atribuir à
hermenêutica marxista o seguinte lugar: entre as ciências definidas pela
unidade do lógico e do histórico, a hermenêutica materialista funciona como
aplicação do princípio de reconstrução da
dialética da gênesis das formas-reflexo que se materializam e se objetivam
por meio dos instrumentos da linguagem. Ela explica os instrumentos da língua --
segundo a gênese da língua da forma como a concebe o materialismo histórico --
como funções de apropriação da realidade. É possível delimitar o campo da
hermenêutica materialista. Ela utiliza os resultados:
1) da
ciência das formas de trabalho e de produção, materiais e práticas,
determinadas pela realidade em sua estrutura social (economia política);
2) da
ciência das condições, tanto materiais e práticas corno psíquicas, da formação
da consciência (percepção/conhecimento/ saber) e da determinação social dos
documentos-reflexo individuais (teoria dialética do conhecimento);
3) da
ciência do processo histórico do progresso graças à luta de classes (teoria
materialista da história);
4) a
ciência das funções cognitivas e normativas das ideologias como reflexo --
tomando sistematicamente partido -- dos interesses de classe e de relações de
classes (crítica da ideologia).
A
hermenêutica materialista não se pode basear a não ser como grandeza derivada dessas ciências, ou
seja, seu organon, e este claramente
delimitado por seu objeto (instrumentos da linguagem). Basta dizer que essa
definição é provisória, programa e não descrição de uma situação. Qualquer
outro comentário é inútil, mas compreende-se o quanto essa perspectiva de uma
hermenêutica materialista é importante se se quer eliminar a extrema confusão
que reina quanto à função e à definição de uma hermenêutica que se oponha à
hermenêutica burguesa.
O termo hermenêutica materialista tornou-se moda
ao longo de diversos episódios da disputa sempre presente com relação às
ciências da literatura. Na antiga Alemanha Federal, um otimismo prudente
alternava-se a uma condenação radical: É
quando a hermenêutica se abre à perspectiva da totalidade social c que o
marxismo admite a pertinência das experiências individuais que hermenêutica e
marxismo parecem gerar novos meios cognitivo 2
Não se
nega que a hermenêutica e o marxismo não sejam conceitos passíveis de
comparação, que a hermenêutica, ciência humana, inclui a priori a perspectiva
da totalidade social, e que o marxismo, por definição, é também a teoria da
experiência individual. Nessa etapa inicial, contrapõe-se mais frequentemente a
frase maximalista de esquerda: O fator
comum entre as teorias comuns na Alemanha com respeito à estética marxista, à
teoria marxista da literatura, à hermenêutica marxista, à estética das
mercadorias encontra-se no fato de seus defensores afastarem-se tanto da
história como da práxis da luta de classes.3
A hermenêutica marxista — onde é que existe? — colocou
em primeiro plano — em contradição com o materialismo histórico — a questão do valor supra-histórico de uma
obra de arte.4
Mas os
defensores da hermenêutica não nos trazem nenhuma prova em apoio. Não existe. O
radicalismo de esquerda não só reforça a separação burguesa tradicional entre a
teoria e a prática mas também absolutiza o conceito de ideologia segundo o qual
toda manifestação não-socialista da consciência seja uma falsa consciência. É uma
realidade muito mais fácil — lemos em Marx a propósito da critica
ideológica (da religião) — de encontrar o
fulcro terrestre das formações nebulosas da religião, do que ao contrário,
desenvolver a partir das condições de vida reais de cada época as suas formas
idealizadas.5
Percebe-se hoje apenas
alguns pontos de partida promissores para a elaboração de uma hermenêutica
materialista. Assim,
desde os primeiros passos dados no rumo de urna hermenêutica materialista, sua
formulação e sua justificativa confrontaram-se logo com a tradição da
hermenêutica burguesa e seus representantes contemporâneos. As hermenêuticas
dominantes podem ser reduzidas a um só denominador de burguesas, no quadro da propaganda, mas não no de urna crítica
científica. Seu leque vai desde a supervalorização idealista da hermenêutica
como aspecto universal da filosofia
(Gadamer) ou como ciência da interpretação hermenêutica em formas canônicas,
filológicas, onde a finalidade é a compreensão
das formas do espírito objetivo
(Betti), ultrapassando sua competência científica,6 até uma concepção que faz da hermenêutica a teoria da língua e da
comunicação, baseada nas ciências sociais e na psicanálise (Apel; Habermas;
Lorenzer) e onde se descortina a passagem para uma teoria marxista da
socialização (Lorenzer).
O que é
então a hermenêutica? 7 A hermenêutica é:
— A
técnica da interpretação. — A ciência da compreensão de um texto.
— A
exegese teológica das fontes normativas das revelações divinas.
— A
metodologia das ciências humanas históricas.
— A
explicação sistemática do ponto de vista da história da filosofia, da
artificialidade da existência.
— A
teoria filosófica universal da inteligibilidade da historicidade humana.
Levando
em conta uma definição pertinente pode-se afirmar dessas hermenêuticas terem em
comum a referência a formações do
espírito objetivo. Essas formações são caracterizadas por uma dupla base, ou seja,
elas apresentam-se à consciência, que as capta primeiro sob uma forma material
e sensível, exterior objetivada —
poder-se-ia chamá-la sua face documento —, a partir da qual é preciso extrair o
momento intelectual, a significação, o sentido. Esse conteúdo intelectual pode
ter uma existência efêmera na consciência do indivíduo ou num mundo inteligível
qualquer. Para a comunicação intelectual (na vida ou na ciência) esse conteúdo
deve ser expresso, ou seja,
objetivado materialmente, seja numa articulação da língua falada, numa obra
escrita, numa criação artística ou numa obra em geral. Isso só lhe assegura um
valor controlável intersubjetivamente. A hermenêutica relaciona-se portanto, em
primeiro lugar, aos procedimentos de aquisição de conteúdo dos sentidos a
partir de documentos produzidos pelo homem, assim corno à relação entre os dois
aspectos, mas também, indiretamente, à relação que as formações de sentidos
mantêm entre si.8
Em
decorrência da necessidade de universalidade da hermenêutica contemporânea de compreender ou de explicar as manifestações da consciência de toda a história
passada, pode-se enunciar as duas seguintes afirmações: em primeiro lugar, as
hermenêuticas dominantes na teoria do espírito abandonaram o principio da
dialética entre passado, realidade presente e futuro — principio que
caracterizou os filósofos da história da revolução burguesa — quando da origem
da hermenêutica. O deslocamento do acento sobre o princípio passado pôs em questão toda a ideia de história, à qual estavam ligadas
diretamente a resolução e a negação (da contradição).
A constância da compreensão é garantida ao
preço da eliminação da idéia de progresso. Em segundo lugar, as mesmas hermenêuticas
sucumbem à abstração necessária de ser construída com a compreensão da totalidade da origem histórica e do sentido da
história, tendo em conta que reina a divisão capitalista entre produção
material e reprodução ideal. Trata-se de uma volta a um estágio anterior ao da
divisão do trabalho socialmente necessário e da divisão do conhecimento, o que
é uma eliminação e não urna elaboração.
As
hermenêuticas dominantes formam um museu imaginário de conteúdos desligados da
história, um museu imaginário de intenções de sentidos, supostos ou reais, de
documentos da consciência, elementos da reprodução ideológica, a uma época
determinada. Como em seu inicio grego, a hermenêutica dá-se hoje pela função de
transpor numa outra realidade um conjunto de sentidos originados num mundo que
não o de hoje. O mundo das revelações
divinas é assim separado do mundo da
história do espírito humano. A história da hermenêutica 9 revela a
alternância de fases em que é definida por uma compreensão objetiva de verdades objetivas com exigências normativas; por uma
compreensão baseada num método seguro, nem subjetivo nem arbitrário, com fases
onde ela é definida pela subjetividade que atualiza, de maneira intuitiva, um
sentido sem referência normativa, o sentido do passado constituído por um único
sujeito.
Com a
exaltação dessa verdade dos tempos modernos a respeito da filosofia da
história, a saber que o homem faz sua história e deve encontrar seu lugar no
mundo, e não graças à interpretação de urna história divina de um ser que teria
presença ontológica sobre a existência subjetiva e ao qual basta obedecer, a
hermenêutica enfrenta a aporia (do grego oporia).
Figura de retórica com que o orador mostra hesitar sobre o que há de dizer. que hoje a domina: a dificuldade
de assegurar o conhecimento hermenêutico. Mesmo que a consciência subjetiva
construa sempre seu mundo em razão de sua autonomia, essa aporia do circulo que passa entre o todo e a parte, entre a
realidade e a subjetividade, entre a historicidade e a espontaneidade tem uma
outra por corolário: a dificuldade de continuar a tirar lições da história,
independente da autonomia do sujeito.10 Da multiplicidade de tentativas feitas para dominar essas
dificuldades podemos distinguir cinco:
1) A
teoria psicológica idealista de uma compreensão
hermenêutica da totalidade dos conteúdos dos sentidos da língua
(Sehleiermacher; Dilthey).
2) A
teoria idealista de uma metafísica histórica, na qual a hermenêutica é a
análise da existência e da efetividade (Heidegger).
3) A
hermenêutica universal, baseada numa apologia do julgamento preconcebido —
concepção filosófica idealista (Gadarner).
4) A
teoria da hermenêutica mareada pelas ciências sociais e pela psicanálise, a
qual recusa o estado idealista de interpretação dos símbolos com base na
comunicação e na interpretação linguística (Habermas/Lorenzer).
5) A
crítica materialista — histórica e dialética — do modo de existência ideológica
da consciência.
Em primeiro lugar — A hermenêutica moderna foi desenvolvida por Schleiermacher, em
reação ao procedimento normativo da exegese, como teoria da compreensão, ou
seja, da reconstituição da produção intelectual original por meio de uma
intuição intelectual de mesma qualidade da do intérprete. Sua perspectiva de
conhecimento é a possibilidade de expressão linguística do homem como meio
sensorial: A hermenêutica só pressupõe
uma coisa: a língua, e é a partir da língua também que tudo deve ser procurado
— inclusive os outros pressupostos objetivos e subjetivos. A língua forma a
totalidade do objeto da hermenêutica, uma totalidade feita de empregos linguísticos
individuais, razão porque Schleiermacher questiona: É necessário encontrar a totalidade, ou seja, reconhecer aquilo que
está à disposição de um autor; mas ao
mesmo tempo é necessário considerar
imediatamente a individualidade, ou seja, as características de emprego da língua. É da tensão entre a totalidade
e a individualidade que nasce o problema hermenêutico: Toda a compreensão do particular é determinada pela compreensão do todo,
(Schleiermacher). A aporia do círculo
é resolvida, ocultando as determinantes materiais do objeto hermenêutico: as
formas ideais da língua são retidas para o estudo, mas não a gênese material
dos enunciados nem os seus conteúdos históricos e sociais.
O
importante ensaio de Dilthey: O
surgimento da hermenêutica (1900) é consagrado ao problema de saber como ante à irrupção constante do arbitrário
romântico e da subjetividade céptica no domínio da história é possível
construir teoricamente o valor universal da interpretação sobre a qual repousa toda a certeza da história. Qualquer
hermenêutica pode ser reconhecida como que valha a conclusão tirada por Dilthey
e Schleiermacher: Compreender não implica
explicar só em face dos monumentos da língua e assim adquirir validade
universal; porque a interioridade do
homem não encontra sua expressão completa, exaustiva c objetivamente compreensível,
a não ser na língua (...) a arte da compreensão tem seu centro na exegese, ou
seja, na interpretação dos vestígios da existência humana contidos na escrita.
O
problema da diferença criada pelo intervalo que separa no tempo a individualidade da exegese daquela do
autor é resolvida por Dilthey não em virtude da regra objetiva da dialética
histórica e do lógico, mas somente pelo reconhecimento do caráter antropológico
existente na natureza da compreensão.
Sobre a base da natureza humana em geral,
todos dois se formam, o que permite aos homens ter entre eles algo de comum que
torne possível o discurso e a compreensão. Definido de maneira totalmente
não-histórica como estética da compreensão de manifestações da vida fixada por
escrito, a hermenêutica encontra sua base científica na psicologia da vida da
alma: A explicação psicológica parte do
movimento dirigido rumo ao processo interior criador e continua rumo à forma
exterior e interior da obra, até encontrar a unidade das obras no espírito e no
desenvolvimento de seu criador.
A
psicologia da criação deve extrair dessa
limitação objetiva do singular as relações gerais que obedeçam às leis dos
contextos mais amplos; a objetividade
é garantida exclusivamente pela qualidade constante da natureza do psíquico, independente de quais sejam as diferenciações
do sujeito histórico. A realidade a compreender hermeneuticamente não tem nada
de comum com a realidade objetiva e a base material do psíquico: essa realidade é interioridade, realidade interior imediata, o que quer
dizer não veiculada pelo mundo material, ela é urna relação vivida de dentro. É por isso que o conhecimento histórico
permanece em oposição consciente ao
conhecimento da natureza, uma função das ciências do espírito. Ela se
distingue de todo conhecimento da natureza principalmente porque seu objeto não é um fenômeno dado nos
sentidos, mas um simples reflexo na consciência daquilo que é real. Jamais
foi formulado com maior rigor o idealismo de uma hermenêutica cujo objeto não
seja ligado por nada à realidade material e prática, social e histórica. A aporia do círculo é sempre resolvida
pela adoção de um desenvolvimento segundo
leis da natureza do psíquico — o que constitui um pro-gresso no interior da
hermenêutica idealista (Dilthey).
Em segundo lugar — A objetividade da
descrição e da intuição puramente autógrafas
se diferencia claramente da explicação -objetiva, própria das ciências da
natureza, dos processos naturais que respondem a leis e não resistem por muito
tempo à critica filosó-fica. É evidente que a teoria idealista e psicológica da
compreensão falhou naquilo que caracteriza justamente o processo e o objeto
hermenêutico: a historicidade da consciência e, com ela, a finalidade própria
da hermenêutica burguesa: a reconstrução de um continuum de sentidos nos quais a consciência existente possa se
identificar dentro de uma época determinada.
Com O ser e o tempo, de Heidegger (1927),
entramos no terreno da hermenêutica como exegese das obras da consciência,
independente de qual seja seu gênero, rumo a uma filosofia hermenêutica
comportando uma exigência de universalidade na análise do existente. A
metafísica, que não foi demolida de forma mais ou menos definitiva pelo
criticismo de Kant, renasce como metafísica da história sob o nome de
hermenêutica. Ela apresenta, com um radicalismo inusitado, a questão do sentimento de ser — questão
que havia sido afastada à época do triunfo da ontologia racionalista. A
hermenêutica é a questão sempre colocada do sentido do próprio ser. Ela é a
explicação do ser humano em sua temporalidade e em sua historicidade.
A
filosofia da tradição não tem — segundo Heidegger — conceitos adequados para
tomar em conta a historicidade. Ela arrancou as raízes da historicidade do ser a tal ponto que, plena de interesses e de zelo por uma interpretação filológica objetiva, deixa de considerar as
condições de possibilidade mais elementares, de uma volta real ao passado
entendido corno apropriação criadora.11
O ataque de Heidegger contra a cegueira da ontologia para com o ser pela historicidade constitui — apesar da lógica e da grandeza filosófica que inegavelmente as caracteriza — um dos sintomas mais importantes para o desenvolvimento da consciência histórica burguesa.12
O ataque de Heidegger contra a cegueira da ontologia para com o ser pela historicidade constitui — apesar da lógica e da grandeza filosófica que inegavelmente as caracteriza — um dos sintomas mais importantes para o desenvolvimento da consciência histórica burguesa.12
Esta
consciência histórica, como forma última da consciência de classe burguesa, não
encontrando sua justificativa em nenhuma outra parte da filosofia, da história
— fulcro da ideologia burguesa —, não é entendida de forma mais radical, ou
seja, como alienação: Se (...) o destino
constitui a historicidade original do ser, então a história não exerce seu peso
nem no passado, nem hoje e nem em sua relação com o passado, mas no desenvolvimento
próprio da existência que é gerada pelo futuro do Ser maior. A história, como maneira de ser desse Ser, tem
suas raízes tão essencialmente no futuro que a morte, como possibilidade
caracterizada do mesmo, remete a existência que vai do passado à sua
glorificação e confere assim o papel principal — para o que é da história — ao
passado. O fato de ser consagrada à morte, ou seja, à temporalidade finita,
constitui a razão oculta da história daquele ser.13
Pelo
fato desse Ser possuir uma prioridade ontológica sobre todos os outros Seres
(...) a hermenêutica, na medida em que é a explicação do ser desse Ser, adquire
um (...) sentido (que é filosoficamente entendido, o primeiro): constitui uma
análise da existencialidade da existência. (...) É nessa hermenêutica assim
entendida que está arraigada — na medida em que explicita ontologicamente a
historicidade do ser corno condição Mítica* da possibilidade da história — isso
que se deve chamar de hermenêutica
num sentido derivado: a metodologia das ciências históricas do espirito.14
O
conceito de compreensão, que só é
formulado psicologicamente pela hermenêutica de Dilthey ganha aqui uma acepção
que abrange a metafísica histórica e compreende as projeções pelas quais o
homem encontra seu ser como projeto de futuro: "compreender" é,
assim, ser dirigido rumo a um poder-ser
em função do qual o Ser maior existe";15 ou a compreensão participa , como existência e
forma primeira, do domínio do futuro, do poder ser sempre em projeto 16
A
objeção do círculo, Heidegger a recusa corno um mal-entendido. A compreensão
inove-se num círculo a) de ideias pressupostas sobre a existência e o ser-lá, b) interpretações do ser derivado dessas ideias e c) de hipóteses sobre o ser finalmente projetadas a partir do conhecimento do ser-lá. Para Heidegger, este é um
argumento sem consistência: O fato de
falar de um 'circulo' da compreensão mostra um duplo desconhecimento, a saber:
1º a compreensão constitui ela mesma a natureza do 'ser' e do `ser-lá' e 2ª que
esse ser caracteriza-se pelo desassossego. Negar este círculo, ocultá-lo ou
mesmo querer superá-lo significa consolidar definitivamente tal
desconhecimento. O esforço deve visar, isto sim, a entrar, desde o inicio e
completamente, nesse circulo para se dar, desde o início da análise do ser-lá,
a visão plena e inteira do ser circular do
ser-lá.17
Nenhuma filosofia tem
respondido de forma mais desesperada o salto de fora do domínio da necessidade
para dentro do mesmo. A aporia do circulo não é mais vista como um problema difícil, mas
reconhecido. O circulo é o destino ontológico da reflexão reflexiva no interior
da facticidade do Ser-lá. Que a realidade e a existência humanas sejam feitas
pelo homem é -- de um ponto de vista
materialista – uma verdade chave para a compreensão da hermenêutica
heidegeriana. Essa hermenêutica não é um episódio do irracionalismo, mas um
tipo de hermenêutica que reflete o mundo de existência da burguesia numa
relação capitalista, uma relação para com
a morte.
Em terceiro lugar — O que resultou da herança deixada por aqueles que testaram a
teoria é o que mostra o conjunto de elementos da sucessão de Dilthey e de
Heidegger na hermenêutica de H. G. Gadamer. A teoria psicológica idealista da
preconcepção e a apologia metafísica histórica da preconcepção unem-se na
hermenêutica universal da filosofia de Gadamer, a qual é tão contestada quanto
aceita. A hermenêutica não é somente uma disciplina da filosofia nem somente o
sistema de métodos das ciências humanas, mas é a filosofia. Essa filosofia coloca a seguinte questão: Como é possível compreender? e responde
com a construção do universo hermenêutico;
coloca a questão: Qual é o alcance dessa
interpretação da compreensão e sua possibilidade mesma de expressão linguística?
Pode ela assumir a implicação filosófica
geral contida na frase: O ser que pode
ser compreendido é a língua? Ela o responde na medida onde ela se posiciona
ante o foro da tradição histórica ao qual
pertencemos todos, dos hábitos da língua e do pensamento que o indivíduo forma
na comunicação com o seu meio. O
movimento ontológico da hermenêutica a partir do fio condutor da linguagem
dá-se, para Gadamer, erguendo a
historicidade da compreensão em princípio hermenêutico; a hermenêutica
reconhece os julgamentos preconcebidos
como condições da compreensão e se dedica à reabilitação da autoridade e da tradição.
Essa
sujeição da filosofia (hermenêutica) à história dos efeitos dos sentidos
transmitidos por tradição oral promete a si a abertura da realidade e um acesso compreensivo à realidade atual.
Tudo, mesmo o que é pretérito, deve
ser compreensível como unidade de sentidos, pois não pode ter realidade fora do que a língua apreende, é isso que essa
sujeição deve legitimar. O reconhecimento mesmo de que sendo a partir de experiências e de campos de experiências
limitadas que cada pesquisador surge não leva à supressão do que quer que
seja do conceito de hermenêutica universal, pois, a não ser que renunciemos à
exigência de sistema da hermenêutica filosófica, a teoria de Gadamer não é
passível de revisão:
Porque a hermenêutica filosófica tem por objeto
desnudar a dimensão hermenêutica em seu pleno e inteiro alcance e valorizar sua
significação fundamental para nossa compreensão geral do mundo, sob todas as
suas formas, desde a comunicação intersubjetiva até a manipulação social, da
experiência do indivíduo na sociedade como a experiência que o mesmo faz da
sociedade, da tradição edificada a partir da religião e do direito, da arte e
da filosofia até a energia emancipacdora da reflexão da consciência
revolucionária. Corno é que uma ontologia histórica da compreensão hermenêutica
que necessita da apologia do julgamento preconcebido pode incorporar as formas
da "consciência revolucionária" ?
Como é
que uma ontologia histórica da compreensão hermenêutica que necessita da
apologia do julgamento preconcebido pode incorporar as formas da consciência revolucionária? A resposta é
um segredo de Gadamer, e não pode ser compreendido de outra forma que uma
construção especulativa filosófica do fato e a maneira pela qual justamente
essa teoria da historicidade da compreensão se subtrai à dificuldade advinda da
diferença entre o objeto histórico do conhecimento e o sujeito atual do conhe-cimento:
afirmar que um texto transmitido torna-se
objeto da exegese significa também
que o mesmo apresenta uma questão ao intérprete. A exegese contém a essa altura
a relação essencial com a questão colocada e isso não é mais do que verbal
no interior dessa ótica, a saber que não se pode compreender os acontecimentos históricos a não ser que se reconstrua a
questão, para a qual cada ação histórica da pessoa constitui uma resposta.
A
dialética da questão e da resposta deve permutar a causa e o efeito. a
prática e o reflexo, ao encontro da dialética objetiva do trabalho e a tornada
de consciência pela linguagem. Urna hermenêutica reduzida à simples compreensão das revelações intelectuais
e linguísticas não tem mais o sentido da situação, da prática à qual um texto
corresponde. Dessa forma, Albrecht Wellmer tem razão ao sugerir que se garanta
o direito de cidadania aquilo que a hermenêutica
esquece: que a conversação que
nós somos, conforme Gadamer, é também
um contexto de forças e por isso, precisamente, não é uma conversação. 18
A
tentativa de Gadamer de resolver a aporia
do círculo formada pela preconcepção e pela capacidade de conhecimento
segue Heidegger para abandoná-lo logo em seguida: a categoria crítica da preconcepção, da qual deve partir toda
hermenêutica, donde também a hermenêutica
materialista, degenera na identificação com o teorema apologético do
julgamento preconcebido. Mesmo a questão da legitimação e do valor dos
julgamentos preconcebidos que Gadamer não rechaça nada mais é que uma negação
de si mesma, pois mesmo quem indaga não encontra nenhum acesso ao círculo do julgamento
preconcebido.
A
afirmação prudente de F. Bollnows, segundo a qual essa posição corre o perigo de ser distorcida de maneira reacionária no
sentido político também, bem como os julgamentos preconcebidos existentes,
recebendo a partir da aparência uma legitimidade filosófica, significam
claramente que essa posição é um documento da ideologia alemã no século XX. O interesse, do ponto de vista do
conhecimento, dessa posição corresponde à necessidade da classe burguesa de se
identificar com os julgamentos preconcebidos dessa classe e de assegurar seu
valor filosófico, ou seja, ideológico. Essa posição mascara a especificidade do
seu posicionamento inicial, além do elemento comum aparente seguinte: os
julgamentos preconcebidos são feitos a priori — ou seja, antes de qualquer
experiência concreta — e dirigem e determinam o conhecimento. A ficção burguesa
clássica — que foi em seu tempo revolucionária — do valor universal e da força
de convicção da razão transforma-se num instrumento contra a racionalidade cientifica
do conhecimento histórico. A esse respeito podemos nos referir à análise de J.
Habermas:
Do exame hermenêutico da estrutura de
julgamento pre-concebido do conhecimento, Gadamer faz derivar uma reabilitação
do julgamento preconcebido. Não percebe a oposição entre a autoridade e a
razão. A autoridade da tradição não se impõe cegamente, mas somente por meio do
reconhecimento refletido daqueles que, situados numa tradição, a compreendem e
a continuam aplicando (..) O
reconhecimento dogmático de uma tradição significa aceitar a pretensão à
verdade dessa tradição e não pode ser posto no mesmo plano que o conhecimento
sem que a tradição em questão repouse sobre a falta de condicionantes e sobre
um consenso total e sem reservas. A
argumentação de Gadamer pressupõe que o conhecimento e o consenso que legitimam
e fundamentam a autoridade se exerçam sem violência. A experiência de uma
comunicação sistematicamente deformada contradiz essa suposição. De qualquer
forma, a violência implica permanência só para a aparência objetiva de falta de
violência de um acordo pseudo-comunicativo.´
Essa
critica é exata apenas parcialmente e está longe de ser suficiente. Com efeito:
será que só a experiência da comunicação
sistematicamente deformada contradiz o sonho de um consenso sem violência?
O ataque de Habermas utiliza armas ineficientes, na medida em que descarta a
análise do sistema que condiciona a uma reificação da comunicação. A recusa em
si é superficial e ligada à critica ideológica no mau sentido do termo, ou
seja, pondo em jogo os efeitos ideológicos sem mencionar as causas. Mas
precisamente, o fato de entender a
comunicação como a totalidade da prática e da língua corresponde à
tentativa de Gadamer de limitar a ideologia a um julgamento preconcebido. Porque ele coloca o julgamento
preconcebido como estrutura fundamental
de nosso — nosso? Qual então? de
que sujeitos, de que classe? — linguagem
principalmente — principalmente —
em que condições sociais e históricas? Ele inclui a critica ideológica na hermenêutica.
A critica ideológica quer desfazer os
julgamentos preconcebidos com a ajuda da reflexão sócio-histórica, ou seja,
deve tirar o véu que existe nos efeitos incontrolados desses julgamentos
preconcebidos. É o papel próprio da reflexão hermenêutica para a qual a crítica
ideológica nada mais é que uma forma particular. Desfazer os julgamentos preconcebidos não quer dizer aqui nada
mais do que conviver conscientemente com os mesmos. Não se trata de suprimir as
causas, trata-se, isto sim, de suprimir as conseqüências. No seio da crítica
ideológica, trata-se, para a critica hermenêutica, de conhecer seu próprio
esforço crítico em sua determinação e sua dependência e de levar à consciência
as ilusões da reflexão: A reflexão
hermenêutica exerce dessa forma sua própria crítica da consciência pensante,
que traduz de volta todas as suas abstrações, mesmo aquelas que lhe propõem as
ciências — na totalidade da experiência humana do mundo (Gadamer).
Há duas
observações a fazer: primeiro o fato de que uma teoria, que conhece portanto a
aporia do círculo, fala tão livremente da totalidade da experiência do mundo; em seguida: como o conceito de ideologia,
reduzido à sua mais simples expressão (aqui: consciência falsa), transforma-se
numa hermenêutica não-materialista, em sinônimo de julgamento preconcebido.19 O apelo para tomar
consciência das ilusões da reflexão
corresponde à exigência de uma teoria da comunicação consensualista,
consistindo em considerar as formas linguísticas — reflexos transmitidos,
portanto fragmentos da verdade — corno verdade em seu conjunto e só atribuir à
tradição questões para as quais tenha resposta garantida pelos julgamentos
preconcebidos — por julgamentos preconcebidos dominantes, nos quais os julgamentos
dos dominados quase nunca entram.
As luzes
de Gadamer sobre a história não têm mais nada em comum com a história das
Luzes. A tradição da critica para com a restauração da autoridade e da tradição
parece não ter importância para o contexto
de sentidos procurado. Aqui, esclarecimento (Aufklãrung) por meio da
liberdade do estado menor pelo qual somos
responsáveis (Kant), que confunde
identificação e assimilação: Aufklärung por meio de autocensura.
Em quarto lugar. A teoria da exegese de E. Betti liga-se à tradição da
hermenêutica como arte da exegese.20 Seu conceito diferenciado permite sem dúvida indicações precisas
para a exegese, que são preciosas para a explicação das estruturas e das
intenções do texto. A força dessa intenção é ao mesmo tempo a sua fraqueza,
desde que atualmente é tudo menos representativa: a hermenêutica como técnica
com um propósito cientifico não constitui uma exigência atual. O que se pede
hoje em matéria de hermenêutica é que seja uma teoria, uma teoria filosófica da
compreensão de si, fazendo apelo à tradição e ao julgamento preconcebido,
elaborado por pensadores em tempos
medíocres (Heidegger/Gadamer) ou - lá onde a filosofia é considerada um
luxo improdutivo sociotecnológico -- como um acessório passível de emprego nas
ciências sociais por uma teoria da experiência social que não quer renunciar à
reflexão sobre seus próprios métodos e pressupostos sistemáticos. Na reação
contra as teorias filosóficas universalistas da compreensão, um elemento
permaneceu quase inalterado, a saber: que a hermenêutica como teoria constitui
o sucedâneo das filosofias burguesas clássicas da história e que preenche, como
substituto das mesmas, o papel de urna alternativa ao desaparecimento efetivo
da especulação idealista relativa à história e à realidade, ou seja, ao
materialismo histórico e dialético.
* A
distinção entre ôntico (ontisch) e ontológico (ontologisch) foi proposta
por Heidegger. Por ôntico pode
traduzir-se: que se refere aos entes
e por ontológico: que se refere ao ser.
Segundo Heidegger em Seio und Zeit (Q ser e o tempo), a descrição do ente intramundano
(das innerweltlichen Seienden) é ôntológica.
N o t a
s :
1. Ver o
artigo "Hermenêutica", de W. R. Beyer em Dicionário filosófico, editado sob a direção de G. Klaus e M. Buhr,
6ª edição revista e corrigida, Leipzig, 1969, vol. 1, p. 475.
2.
Hauff, Heller, Hüppauf, Kõhn, Philippi. Os autores dedicam-se a mostrar um enriquecimento recíproco do marxismo
pela hermenêutica, da hermenêutica pelo marxismo. Eles não pensam ser necessário
antes elaborar uma hermenêutica susceptível de ser integrada pelo marxismo.
3. Teses para o estudo materialista e histórico
da ciência da literatura (União dos Estudantes Comunistas). Alternative, n°
82, Berlim, 1972, p. 15.
4.
Coletivo de especialistas socialistas da literatura em Berlim Oriental, vol. p.
452.
5. Karl
Marx, O capital, livro I, citado em
Marx-Engels, Sobre a religião, Editions Sociales, Paris, 1972, p. 138.
6. O desenvolvimento de Brinkman sobre
hermenêutica materialista e histórica é desmentido ao levar em conta o
formalismo de Rethel: Forma de
mercadoria/ forma de pensamento. Em W. F. Haug: Teoria das falsas
aparências estéticas (...) como base de uma hermenêutica da negação definida
encontra-se uma contribuição à análise
social da destinação da faculdade sensitiva e do desenvolvimento das
necessidades na sociedade capitalista que pode ser considerada como o
ensaio mais bem-sucedido do uso da crítica hermenêutica materialista aplicada
ao fenômeno da estética das mercadorias
(servindo a esconder a falta de valor de uso de uma mercadoria, dando-lhe um
valor simbólico e/ou estético). Os pressupostos metodológicos e sistemáticos
dessa hermenêutica da negação definida
continuam sem formulação. No âmbito do Centro de Pesquisa Interdisciplinar, da
Universidade de Bielefeld, um grupo composto de filósofos, de especialistas da
literatura, de sociólogos e de juristas, por proposta do autor, começou seus
trabalhos sobre a hermenêutica
materialista realizando um colóquio sobre esse tema em outubro de 1972.
7.
Seiffert entende por hermenêutica
(...) todo método que permite captar com
uma real compreensão das situações da vida como tais - tratar-se (...) de uma
dor de dente, de uma sociedade num clima definido, do caráter de um apartamento.
Essa hermenêutica baixa os braços
ante a complexidade dos processos históricos e não sabe mais decidir se a
hermenêutica é um substituto da inteligência analítica que não devemos ao
desenvolvimento da história mundial ou o
único método adequado para se chegar à história.
8. Artigo hermenêutico
em Fischer-Lexicon Philosophie, editado por A. Diemer, I. Frenzel, Frankfurt
sobre o Meno, 1971, p. 97.
9. Conferir Blass, Dilthey, Ebeling, Fuchs,
Geldsetzer, Wach.
10. Com
as palavras de Hegel: O indivíduo é um
filho de seu povo, de seu mundo. [...] Não devemos crer que encontraremos nos
velhos as respostas das questões de nossa consciência, os interesses do mundo
atual.
11.
Heidegger, L'etre et le temps (O ser
e o tempo), Paris, Gallimard, 1964, p. 38.
12.
Idem: A tese: 'o ser-lá é histórico' não
significa somente o fato ôntico que o homem representa um 'átomo' mais ou menos
importante no motor do mundo e que a ele resta o jogo das circunstâncias e dos
acontecimentos, mas coloca um problema: em que medida e com base em que
condições ontológicas a historicidade como essência constitutiva do ser
pertence à subjetividade do sujeito histórico; comparar, L'etre et le temps §§ 45-53, 72-77, em Qu'est-ce que la métaphysique? Paris, Gallimard„ 1938.
13. Ibidem.
14. L'etre et le temps, p. 56.
15. Ibidem.
16. Ibidem.
17.
Ibidem.
18. Albrecht Wellmer, A ciência social
empírico-analítica e crítica, em Kritische Gesellschaftstheorie und
Positivismus (Teoria critica da sociedade e positivismo), Frankfurt sobre o
Meno, 1969, p. 48.
19. O
antimarxismo pode se atribuir o mérito de haver salvo o conceito marxista de
ideologia da concepção mecânica e econômica do qual se revestiu no tempo de
Boukharin e de Stalin. Pôr em dúvida a ideologia como consciência falsa não é
correto ao invocar o livro de K. Mannheim: Ideologia e utopia. A ideologia
designa um modo de consciência e de reflexo da qual a estrutura lógica
particular é determinada por uma estrutura de dominação de classe sócio
histórica, caracterizando uma formação socioeconômica e que tem, como a
expressão de interesse de classe, uma função de parti pris normativo quanto ao
comportamento social. A ideologia é a consciência social necessária e - em
certas condições que não se pode generalizar - necessariamente falsa do ser
social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário