Roberta Marx Delson
Tradução:
Fernando de Vasconcelos Pinto
Roberta Marx Delson, nascida na cidade de Nova York, recebeu
o seu MA (Master of Arts, mestrado em Ciências Humanas) e o seu PHD (Philosophy
Doctor, doutorado) em Estudos Latino-Americanos e História na Universidade de
Colúmbia. Lecionou na Universidade Estadual de Rutgers (em New Brunswick,
estado de Nova Jersey) e na Universidade de Princeton (em Nova Jersey), e tem
trabalhado como consultora em programas de estudos latino-americanos e também
para o Serviço do Patrimônio Histórico do Estado de Nova Jersey. Atualmente é
lente da Academia da Marinha Mercante dos Estados Unidos. Suas obras publicadas
compreendem o presente livro, cuja edição original em inglês, data de 1979, Readings on Caribbean History and Economics
(Conferências sobre a História e a Economia do Caribe, 1980) e
Industrialization in Brazil: 1700-1830 (1991), esta em coautoria com John
Dickenson, bem como muitos artigos especializados. Presentemente está
elaborando The Sword of Hunger: A
Latin-American History (A Espada da Fome: Uma História da América Latina),
conjuntamente com o eminente brasilianista Robert M. Levine.
PLANIFICADORES E REFORMADORES
Nas últimas décadas do século
XVIII, embora o Amazonas fosse o objetivo principal das reformas pombalinas, a
faixa litorânea, o Sul e o Oeste do Brasil foram igualmente reavaliados.1 Nessas regiões, o êxito ou o
fracasso das novas povoações muitas vezes dependiam da personalidade e da
energia dos governadores que as administravam. Nas décadas de 1770 e 1780, a
tendência das autoridades dessas regiões era criarem redes de comunidades
semelhantes ao eixo Macapá--Mazagão, que fora formado no Norte. Algumas dessas
novas redes estavam orientadas para aglomerações urbanas tradicionais, que
elas abasteciam com um fluxo contínuo de produtos agrícolas. Outras redes foram
estabelecidas em zonas escassamente povoadas, proporcionando-lhes o desenvolvimento
de uma autarcia. Desse modo, mais uma dimensão de planejamento regional foi
acrescentada aos objetivos já explícitos do programa de construção de vilas. O
êxito desse plano diretor e
a sofisticação da metodologia empregada podem surpreender os planificadores
da atualidade, que parecem julgar que uma abordagem abrangente do
desenvolvimento é apanágio exclusivo do nosso século.2
Esse planejamento no nível
macroeconômico foi mais perceptível na comarca de Porto Seguro (na zona sudeste
da capitania da Bahia) que em qualquer outro lugar. Ali, foi planejado e
construído todo um sistema de sete centros urbanos. Neste caso, os abundantes
dados documentais e cartográficos existentes proporcionam não só uma intelecção
excepcional do processo de planejamento de vilas como também uma compreensão da
mentalidade do planificador.
Nos primeiros anos da década de
1760, a comarca de Porto Seguro estava sob a direção do ouvidor Tomás Canceiro
de Abreu, que estava interessado principalmente na criação das vilas indígenas
de Verde e Trancoso. Ele deixou plantas para a formação das novas vilas que
asseguravam um espaçamento regular entre as futuras casas. Além disso, procurou
criar uma ordem moral para os novos habitantes, exigindo que de então em diante
os índios deveriam viver em casas com:
... ao menos 6 quartos, um que lhe
servisse de sallinha, outro para os paes dormirem, outro para os filhos, o 4°
para as filhas, o 5° para a cozinha e o 6° para terem os seus effeitos.3
No seu zelo pela europeização dos
índios, Abreu só foi superado pelo seu sucessor, José Xavier Machado Monteiro,
que chegou a Porto Seguro por volta de 1768. Enquanto aquele admitiu ter tido
dificuldades em estabelecer as suas novas comunidades-modelo, Monteiro
conseguiu fundar vilas viáveis e que funcionavam bem. A chave do seu sucesso
foi a criação de comunidades com dois componentes raciais; nesse projeto,
colonos portugueses e índios deveriam viver juntos, exatamente no mesmo tipo de
moradia. Os europeus forneceriam padrões de comportamento, enquanto os índios,
no seu entender, teriam o privilégio de observar e aprender, imitando-os. Pelo
que foi dito anteriormente, já se sabe que esse esquema não foi concebido por
Monteiro; na realidade ele tinha sido a filosofia subjacente à política de Pombal
para o Amazonas de localizar aldeias indígenas junto a vilas européias. No
entanto, o ouvidor de Porto Seguro infundiu no programa um fervor quase
evangélico, impondo à população branca a obrigação moral de elevar os índios
aos seus padrões culturais. No seu relatório anual, ele escreveu: Com referência aos índios, estou procurando
civilizá-los.4 Para
tanto, Monteiro proibiu as mulheres índias de usarem blusas que mostrassem os
seios. Vedou aos homens e mulheres dançarem o sensual batuque, quer em público,
quer às ocultas.5 As
crianças de mais de três anos não podiam dormir no quarto dos pais, e os
meninos e meninas de sete anos para cima foram proibidos de tomar banho juntos.6
Fig. 15. Planta básica de Villa Viçosa, aproximadamente 1769.
O desenho das vilas de Porto
Seguro patrocinadas por Monteiro são mais uma confirmação da sua predileção
pela hiper-regulamentação. Para cada uma das três vilas criadas pelo ouvidor --Vila
Viçosa, 1768; Portalegre, 1769; e Prado, 1772 --, a disposição das edificações
foi planejada detalhadamente, desenhada e depois executada no local escolhido.
Inobstante Monteiro ter declarado com modéstia que, à falta de um arqui-teto,
as plantas foram traçadas pela sua mão
inábil,7 os
documentos cartográficos existentes revelam que ele tinha um conhecimento muito
profundo dos princípios de planejamento urbano do século XVIII, pois, conforme
ele admitiu depois, os seus projetos seguiam as normas habituais.8
Todas as três vilas de Monteiro
(Figuras 15, 16 e 17) compunham-se de quadras de área uniforme, cuja orla era
formada de casas rigorosamente alinhadas de frente para ruas de largura
idêntica.9 Os fundos das habitações dispunham
de pomares-hortas, criados por parcelamento do espaço interno de cada quadra.
Esse administrador utilizou nas suas três vilas o modelo de duas praças, um
desenho visto com frequência em cidades litorâneas do Brasil.10
Fig. 16. Planta básica de Portalegre, aproximadamente 1772
Monteiro estava firmemente
convicto de que a disposição ordenada resultante amansaria os índios que
estavam aos seus cuidados, que ele considerava os mais repulsivos e detestáveis do Brasil.11 Ele baseava essa pressuposição numa compreensão
pessimista e verdadeiramente hobbesiana da natureza humana. O ouvidor achava
que todos os habitantes tivesse exatamente as mesmas comodidades, inclusive
casas análogas, com o mesmo número de janelas e portas e quintais de área
padronizada, todas as causas de inveja e dissenção seriam eliminadas.12 Entretanto, diversamente dos sonhos
pretensamente socialistas das comunidades dos missioná-rios, Monteiro amenizava
suas ideias comunitárias com uma ênfase na unidade familial como o único
elemento social de grande importância. Enquanto os padres de mentalidade
socialista utópica (especialmente os jesuítas) frequentemente haviam agrupado
os seus protegidos em barracões comunitários, Monteiro insistia em que as unidades
habitacionais familiais eram indispensáveis para inspirar respeito pelo modo de vida europeu.
Fig. 17. Planta básica de Prado, aproximadamente 1772.
Ao redor de cada comunidade,
Monteiro mandou desmatar um anel da
largura de dois tiros. Essa disposição protegeria os colonos dos ataques de
índios hostis (que poderiam camuflar-se no mato) e, além disso, proporcionaria arejamento, aumentaria a área
de pastagem e afastaria as onças, cobras e mosquitos.13 As
comunidades dedicavam-se à agricultura, produzindo principalmente algodão e
cereais. Essa produção, junto com garoupas pescadas, era embarcada no cais
construído em cada vila e mandado para Salvador, onde contribuía
significativamente para o abastecimento daquela cidade e da zona açucareira
circunvizinha do Recôncavo. Ao mesmo tempo, as vilas de Porto Seguro
funcionavam como pontos de parada acessíveis e centros de fornecimento para
baianos em demanda das riquezas minerais de Minas Gerais.
Como se vê, a rede de vilas de
Porto Seguro constituía uma zona economicamente integrada que, por sua vez,
servia uma importante cidade colonial. Ela apresentava uma lógica de ponto
central básico que seria copiada em outras zonas da colônia com graus de
sucesso variados. Patentemente, a experiência das vilas de Monteiro foi bem
fundamentada; em 1803, um visitante expressou aprovação a essas pequenas
comuni-dades e elogiou os seus traçados ordenados. Embora Portalegre tivesse
sofrido uma perda de população devido a uma inundação pelo rio próximo, Vila
Viçosa e Prado ainda existiam e evidentemente mantinham a sua forma urbana
original.14
Fig. 18. Planta básica de Caraguatatuba, Paraná, final do Século XVIII.
O entusiasmo de Monteiro por um
estilo de vida europeu foi emulado por um contemporâneo seu no Sul do Brasil,
Luís Antônio de Souza. Pouco depois de assumir o governo de São Paulo, Souza
anunciou suas intenções de reformar comunidades antigas, reunindo pessoas
errabundas e estabelecendo novos núcleos urbanos por todo o Sul do Brasil.15
O resultado seria tornar a capitania de São Paulo econômica e
defensivamente mais forte, embora, como observou Dauril Alden, Souza também
estivesse interessado em notabilizar-se.16
Apesar de suas ambições irritarem vários de seus colegas
governadores de capitanias e de o seu atrevimento ter lhe valido ser
considerado um petulante pelo vice-rei, o Marquês de Lavradio, Antônio de Souza
prosseguiu vigorosamente com os seus planos de construção de vilas e obteve um
êxito razoável.
O programa de construção de novas
vilas no Sul foi dividido em três etapas: primeiramente seria criado um sistema
de vilas na estrada costeira e das montanhas do Sul; em segundo lugar, antigas
comunidades indígenas seriam transformadas em unidades urbanas viáveis; e,
finalmente, uma rede de fortificações seria construída e associada às
populações residentes
nas proximidades. A primeira fase foi iniciada pouco de-pois de Souza assumir o
seu cargo e foi objeto de uma extensa correspondência entre o governador e o
Marquês de Pombal. Em 25 de dezembro de 1766, Antônio de Souza escreveu ao
ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, o Marquês de Pombal,
comunicando que havia mandado construir seis novas comunidades em áreas
vantajosas pela localização estratégica,
conforto e fertilidade dos solos. A primeira delas seria localizada na
faixa arenosa onde o rio Piracicaba confluía com o Tietê, dez léguas a oeste da
última aglomeração fundada na zona. A segunda vila, Botucatu, seria edificada
na estrada de Cuiabá, na esperança de restituir a prosperidade que as terras
outrora cultivadas haviam tido antes da expulsão dos jesuítas. Uma terceira
comunidade, Faxina, seria fundada na estrada que ia de São Paulo a Curitiba,
mais a oeste de Sorocaba, já existente; propunha-se uma quarta, Lages, na
estrada que partia de Curitiba para o sul, em direção a Viamão, em Rio Grande
de São Pedro. As últimas duas vilas desse sexteto seriam comunidades pesqueiras,
uma na angra de Guaratuba, abaixo de Paranaguá, e a outra entre Iguape e
Cananéia.17
Não vem ao caso descrever os
muitos problemas com que o próprio governador se viu a braços.
Independentemente deles, é possível examinar o seu programa de construção de
vilas a fim de obter uma intelecção do processo urbano. A espinha dorsal do
plano de Souza era o agrupamento de todos os recursos humanos das áreas
assinaladas para o desenvolvimento urbano; ordenou-se que todo mundo vivesse em
povoações civis, por definição uma
localidade de mais de 50 lares (casas).18
Ao mesmo tempo, o governador
de São Paulo determinou que as novas vilas criadas sob os seus auspícios não
seriam apenas pontos de reunião de moradores, mas ostentariam toda a
sofisticação urbana e ordem do seu tempo. Essa predileção pelo desenvolvimento
urbano regulamentado é patente na correspondência de Souza com o juiz de fora
de Santos, em que este foi instruído a providenciar que de então em diante toda
construção naquela comunidade portuária obedecesse às normas urbanas
preceituadas. O pensamento do governador é claro e revelador:
Uma das coisas de que os países mais adiantados costumam cuidar
atualmente é da simetria e harmonia das edificações que estão surgindo em
cidades grandes e pequenas, de modo que, da sua aparência (disposição), resulte
não só o conforto público, mas também o prazer, com os quais as aglomerações se
tornam mais atraentes e apropriadas, sabendo-se da boa ordem com que essas
edificações são dispostas, da discipli-na [policia] e cultura de seus
habitantes?19
Para com as novas vilas que
patrocinou, Souza foi igualmente exigente no cumprimento dos alinhamentos
urbanos prescritos. Com referência a isso, é particularmente interessante
observar que, no caso de Mathias Leme, antigo fazendeiro que vivia no campo com
seus dois filhos, o governador determinou não só que ele se mudasse para uma povoação civil, mas para uma que já
estivesse arruada (demarcada).20 Consoante
o governador, só depois que um número suficiente de casas tivesse sido
demarcado ao longo de ruas alinhadas é que se poderia conceder oficialmente o título
de vila a uma povoação.21 Em concordância com isso, quando surgiu a
questão de optar entre Mogi-Guaçu e Mogi-Mirim para elevar à categoria de vila,
Souza escreveu às autoridades daquela povoação sugerindo sutilmente que, se
elas transferissem os seus habitantes para um local plano próximo e depois
construíssem casas em ruas demarcadas, então Mogi-Guaçu receberia o pelourinho
e todos os privilégios competentes, em vez de Mogi-Mirim, que na realidade
estava em melhores condições.22
Atrair povoadores para as suas
novas comunidades, apesar da sua aparência ordenada, não foi tarefa fácil para
o governador. Como estímulo para induzir colonos para o arraial de Guaratuba,
Souza mandou afixar cartazes na vila de Paranaguá, que ficava perto, anunciando
que o governo daria terra e instrumentos agrícolas aos voluntários. Além disso,
os novos habitantes seriam dispensados do recrutamento para o exército por um
período de dez anos, e não seriam obrigados a prestar qualquer outro serviço.23
Evidentemente o programa foi
bem-sucedido, pois em 1768 Souza pôde comunicar ao seu superior que a
comunidade tinha sido fundada com água
boa e com exposição ao sol do lado norte?24 Além disso, 70 casas já haviam sido alinhadas nas
ruas da comunidade (Figura 18).25 Dois anos depois a povoação foi
constituída em vila, e as autoridades locais foram instruídas a adaptar uma
casa da câmara e uma cadeia na sua conformação física. A outra comunidade
litorânea, Subaúna, fundada entre Iguape e Cananéia, também foi construída
"com modernidade", de acordo com um relatório de 1775, embora esse
documento mencione que suas edificações, em estado deplorável, estivessem em reparos.26
A criação da comunidade de Lages
apresentou empeços muito maiores. Em 1766 Luís Antônio de Souza nomeou o capitão-mor
Antônio Correa Pinto superintendente da construção daquele núcleo.27 Prometeu-lhe uma grande
residência na nova comunidade e pôs um pedreiro-canteiro e um carpinteiro a seu
serviço, tudo às expensas do governador. Este até doou uma estátua de Nossa
Senhora pintada a óleo, tirada da sua coleção particular, para a futura igreja.28
Mesmo assim, malgrado o evidente
entusiasmo do governador, os trabalhos na nova vila demoraram a começar, em
parte devido à relutância de Correa Pinto em se mudar para o novo local,29 mas também em decorrência dos litígios
jurisdicionais provocados pelos governos de Santa Catarina e São Pedro30 Dois anos depois, em
1768, o governador viu-se obrigado a manar todos os moradores. das
circunjacências de Lages a se mudarem para a nova comunidade, caso contrário
seriam expulsos da zona.31 Em-bora a comunidade finalmente
tenha sido fundada, há uma certa incerteza entre os historiadores quanto a se o
capitão-mor Correa Pinto cumpriu ou não as leis de planejamento urbano.32 Um relato do século XIX
afirma que a área foi arruada de acordo com as instruções do governador Souza;33 no entanto, Victor
Peluso, especialista em geografia urbana da atualidade, sustenta que a malha
urbana quadrangular só foi implantada em Lages no meado do século XIX.34 Outros ainda afirmam que a vila foi
deslocada do seu local primitivo, abrindo-se caminho, assim, para a instauração
da desordem urbana.35
O caso de Lages pode ser
considerado uma decepção para o governador de São Paulo. Mesmo assim ele não
desanimou de continuar aplicando suas idéias urbanas em larga escala. Seus
planos para antigas aldeias indígenas constituem excelentes exemplos da plena
amplitude da sua ambição. Por exemplo, para o extremo oeste do atual estado do
Paraná, ele concebeu um sistema de povoações que, segundo ele, poderiam
garantir o controle português no território. O núcleo desse plano era a serra
de Apucarana, uma zona triangular emoldurada pelos rios Paranapanema e Tibagi.
Em resposta a uma carta do seu superior proibindo os paulistas de procurarem
riquezas minerais nessa área montanhosa, Souza defendeu suas razões para implantar
urgentemente postos avançados nessa zona remota. Em segredo absoluto, ele
estabeleceria arraiais de índios e erradios a intervalos de dez léguas. Tomando
como modelo o grande número de vilas e aldeias criadas no Pará (e enaltecendo a
contragosto o êxito de Mendonça Furtado), o governador de São Paulo propunha-se
a criar arraiais agrícolas nos matagais, tão ricos e sedutores atrairiam não
apenas os habitantes das redondezas, mas até os índios das missões jesuíticas
espanholas próximas. Ele vaticinava que estes
nos virão procurar quando se derem conta de que entre nós eles são homens
como todo mundo e são tratados como tais, ao passo que os espanhóis os tratam
como animais, privando suas mulheres e filhos da liberdade e espoliando-os de
seus bens, sem deixá-los possuir nada.36
Poucos anos depois, Souza criou
coragem e escreveu diretamente a Mendonça Furtado, agora ministro das Colônias
em Lisboa, pedindo ao antigo urbanizador do Pará orientações sobre a
organização de comunidades indígenas. Na mesma carta, o governador,
aproveitando sagazmente a oportunidade, informou o ministro de que os recursos
disponíveis em São Paulo para a criação dessas vilas eram minguados. Tocando
num ponto sensível do modo de pensar do antigo administrador, Souza insinuou que
talvez os portugueses tivessem sido negligentes nas suas responsabilidades de
criar novas vilas e exortou-os a povoarem o Brasil na mesma medida em que os espanhóis haviam feito na América hispânica.37
O apelo do governador
provavelmente foi bem acolhido, pois no ano seguinte ele ordenou a criação da
aldeia indígena de Carapicuíba.38 Além disso, nessa mesma época o governador
começou a executar a sua proposta de povoações fortificadas no rio Iguatemy. Em
virtude de essa zona ficar a um alcance de tiro surpreendentemente curto das
terras dominadas pela Espanha, era forçoso que essas comunidades fossem
forti-ficadas, bem como autossustentáveis. Pequenos agrupamentos de sete ou
oito famílias seriam dispostos nas adjacências do forte a distâncias
especificadas; esses agrupamentos constituiriam uma linha de defesa avançada da
povoação principal.
Mesmo sofrendo oposição ao seu
plano,39 Souza conseguiu
ver o seu projeto executado. As plantas de Iguatemy mostram uma praça forte que
não difere das guarnições renascentistas do século XVI que os portugueses construíram
na Índia. Uma muralha inclinada com redentes (projeções triangulares) circunda
um conjunto uniforme de quadras internas; a praça principal não está exatamente
no centro (Figura 19).40
Fig. 19. Planta da praça forte de Iguatemy, aproximadamente 1785.
Durante toda a sua carreira, que
durou até 1775, Antônio de Souza lutou para cobrir o seu território com
comunidades primorosas e bem ordenadas. Perto do fim do seu mandato, ele
exortou os administradores que nomeara a terminarem as cidades planejadas nas
primeiras fases do seu programa41
e a iniciarem a construção de outras mais, em conformidade com os cânones em
voga do bom desenho urbano.42
O go-vernador atribuiu uma função a cada grupo de comunidades assim criadas. As
vilas situadas mais a oeste eram necessárias como trampolins para as terras
espanholas e também para fornecer suprimentos e servir de ponto de descanso
para mineradores esperançosos. Entre Cuiabá e Sorocaba, Souza esperava incentivar
o crescimento da produção pecuária e o fabrico de artigos de couro. Em relação
ao sul e às vilas mais antigas dentro do seu âmbito de influência, o governador
fomentou a agricultura intensiva baseada no cultivo de arroz, algodão e trigo.43
Como planificador de vilas,
Antônio de Souza pertence àquela classe especial de administradores que não
apenas patrocinaram povoações como procuraram dotar tais projetos de um
princípio diretor de base mais ampla. Junto com Mendonça Furtado, Luís Antônio
de Souza coloca-se entre os primeiros a aderirem ao axioma setecentista de que
o bom governo era favorecido pelo crescimento urbano supervisionado.
Fig. 20. Planta básica de Albuquerque, atualmente Corumbá,
Mato Grosso do Sul, 1784.
No Oeste do Brasil, Luís de
Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, governador de Mato Grosso e um dos
expoentes da planificação de vilas, não era menos entusiasta pela criação de
novas comunidades que seus confrades de Porto Seguro e São Paulo. O seu programa para transformar a capitania I numa
região viável e autossustentada do império portugueses estava estreitamente
ligado às ambições já sistematizadas do governo relativas à via fluvial
comercial Guaporé--Madeira--Belém. Como David M. Davidson mostrou no seu
excelente estudo do sistema comercial do Madeira,
os portugueses pretendiam pôr em prática uma espécie de projeto de
desenvolvimento regional à maneira Grosso do Século XVIII que... implicava em
graus mais detalhados de planejamento estatal para uma utilização racional de
recursos escassos.44
Segundo Davidson,45 enquanto o volume do comércio no rio Madeira
não satisfez às expectativas durante as décadas de 1750 e 1760, a Coroa
continuou a patrocinar a criação de feitorias (entrepostos comerciais) ao longo
do rio. Duas dessas comunidades, São Miguel e Balsemão, apresentadas
inicialmente como modelares da nova organização urbana, haviam sido construídas
na década de 1760.46 Nos anos 1770, quando Luís de Albuquerque
assumiu o seu posto, Pombal já havia traçado um programa abrangente para o rio
que visava a revitalizar a via comercial. A fim de consolidar o comércio e
evitar a má administração reinante, ele recomendou que Mato Grosso restringisse
o comércio com o Rio de Janeiro, Salvador e outros portos costeiros,
privilegiando a comunicação com Belém do Pará. Porém muito mais notável foi sua
sugestão de que o comércio tomaria maior impulso se se utilizasse essa via
fluvial para o tráfico de contrabando, sancionado pelo Estado, com as
províncias espanholas de Quito, do Peru e do Orenoco.47
Fig, 21 A -Planta básica e situação de Villa Maria do Paraguay, em Mato Grosso 1874.
Esse plano secreto estava em
operação quando Luís de Albuquerque foi nomeado governador. Sua função dentro
do plano do comércio pelo rio Madeira era fiscalizar o tráfego do rio e criar
comunidades que pudessem funcionar como entrepostos das mercadorias que
chegavam das missões espanholas próximas.
Fig. 21 B - Ilustração do dia-a-dia em Villa Maria do Paraguay.
O progresso dessas novas povoações
foi rápido, em boa parte devido ao zelo incansável do governador. Embora se
houvesse predito que logo os espanhóis forneceriam aos portugueses riquezas
preciosas (principalmente prata contrabandeada das minas do Peru), na prática o
comércio revelou-se medíocre. Como Davidson explica,
as missões forneciam quase que somente gado em pé,... que, embora
normalmente em falta em Mato Grosso,... era um sucedâneo decepcionante das
riquezas da América espanhola.48
Se hoje, decorridos mais de 200
anos, essa observação é de uma clareza meridiana, tal possibilidade certamente
não fora levada em conta nos cálculos do governador, que se apressava em
construir as suas comunidades na suposição de um futuro próspero garantido.
Dois dos centros de comércio projetados foram fundados na região do Pantanal ao
sul de Cuiabá, numa zona escassamente colonizada até aquela época. Albuquerque,
um arraial que representava o posto mais avançado do domínio português, foi
construído para abrigar tanto índios como soldados. Seu aspecto geral, de
disciplina e rígida organização militar (Figura 20),49 estava em conformidade com a sua função estratégica.
A segunda povoação, Vila Maria do Paraguay, localizada a sudoeste de Cuiabá, no
rio Paraguai, era formada por casais indígenas, embora o governador esperasse
posteriormente trazer famílias açorianas.50
Consoante as metas fixadas no
termo de fundação, a nova vila atuaria como um ímã para os colonos dispersos
nas circunjacências imediatas; na realidade, vários habitantes da comunidade
eram índios da província espanhola de Chiquitos atraídos pelos portugueses.51
Como Albuquerque, que recebeu o
sobrenome do governador, Vila Maria era um modelo de regularidade e
padronização (Figura 21).52 Supondo que o traçado seria seguido
fielmente, Albuquerque enviou um carpinteiro ao local junto com os engenheiros
militares de costume. Uma estampa da vila, desenhada algum tempo depois da sua
fundação, fornece um instantâneo notável da afanosa atividade cotidiana nas
novas povoações. Nesse escorço (Figura 21B), vê-se uma longa praça ladeada por
duas alas opostas de casas iguais. No primeiro plano, alguns índios estão
lavando roupa no rio, enquanto uma canoa conduzindo portugueses desliza diante
deles a impressão imediata é de uma prosperidade bucólica, um ideal que
Albuquerque evidentemente imaginava estar reservado a todos os seus projetos
urbanos. Em 1783, cinco anos depois da fundação de Vila Maria e Albuquerque, o
governador criou a comunidade de Casalvasco, num local oito léguas ao sul de
Vila Bela. O sítio era uma estância predileta do governador, que passava uma
temporada ali todo ano com seu círculo de amigos e sua família.53 Porém, do ponto de vista geopolítico, o mais
importante era que Casalvasco ficava numa zona recentemente arrancada dos
espanhóis pela comitiva de fronteiras responsável pela demarcação dos limites
do Tratado de 1777.54 Albuquerque estava ansioso por ocupar esse
território, principalmente depois que os espanhóis relocalizaram a sua Missão
de Santa Ana inquietantemente perto das terras reclamadas pelos portugueses.55 A comunidade de Casalvasco, uma pequena povoação vulgar dedicada
principalmente à criação de gado, desempenharia assim um papel duplo,
desencorajando as ambições espanholas observadas.56
Fig 22. Planta básica de Casalvasco, Mato Grosso do Sul, 1782.
A planta de Casalvasco, como
convinha à estação de férias do governador, era de um estilo quase monumental;
as edificações foram dispostas metodicamente em várias unidades bem definidas,
mas articuladas. A primeira delas, a Praça da Victoria, quadrada e com um lado
aberto, era contornada em três lados por uma fileira singular de árvores; nela
estavam habitações para índios que dantes foram súditos da Espanha, o quartel para os soldados, os
alojamentos dos oficiais, a residência do governador e o hospital. A segunda
praça, também aberta de um lado, era igualmente orlada de árvores, mas era de
natureza residencial. Atrás dessas praças ficava um largo passeio público
ajardinado ladeado por duas alas de habitações com as frentes voltadas para
ele; nos fundos de cada moradia havia um quintal para pomar nitidamente
demarcado (Figura 22).57
Longe de ser apenas uma pequena povoação vulgar, Casalvasco
revelou-se a única das três novas vilas que participou ativamente do tráfico de
contrabando com os espanhóis.58 Vila
Maria e Albuquerque, que se esperava desempenhassem um papel importante no
comércio, foram superadas por Vila Bela e a fortificação próxima de Príncipe da
Beira.59 Em contrapartida, as outras
comunidades, em conjunto, funcio-naram bem como um sistema de abastecimento e
comércio independente do tráfico de contrabando. É bem possível que o
governador realmente tenha previsto a possibilidade de fracasso da via fluvial
do Madeira e tenha planejado essa rede regional de vilas nas zonas sulinas da
sua capitania como uma precaução contra o desastre econômico. Acresce que, em
virtude de todas as mercadorias, por lei, terem de vir do Pará, numa demorada e
dispendiosa viagem, era sensato tornar a região de Mato Grosso tão
auto-suficiente quanto possível. A rede foi calculada meticulosamente:
Albuquerque produziria gêneros alimentícios e madeira para construção;
Casalvasco forneceria gado e sal, bem como salitre (nitrato de potássio ou
sódio) para o fabrico de pólvora para o Forte de Príncipe da Beira. Vila Bela,
dedicada ao comércio com as províncias espanholas, absorveria a produção de
Casalvasco, enquanto Vila Maria e Albuquerque serviriam o crescente mercado de
Cuiabá.60 Em 1786 um engenheiro em visita a
Albuquerque observou que essa povoação já havia produzido safras
extraordinárias de milho e feijão e tinha estabelecido uma indústria campestre
de tecelagem de algodão, cuja produção era barganhada em Cuiabá por artigos de
luxo.61
Fig 23. Planta básica de Corumbá (antiga Albuquerque), em Mato Grosso do Sul 1786.
A sabedoria do programa do
governador Albuquerque é patente ainda hoje: enquanto Vila Bela (o centro de
permuta de contrabando) teve a sua importância ofuscada, finalmente caindo em
decadência em meados do século XIX, os centros de abastecimento de Albuquerque
(hoje Corumbá, em Mato Grosso do Sul, Figura 23)62 e Vila Maria
(a atual Cáceres, em Mato Grosso) são cidades importantes. Não só dotando as
novas aglomerações de instalações excelentes, projetadas com vistas a perdurar,
como também assegurando uma função econômica diferente a cada uma delas, Luís
de Albuquerque revelou-se um dos melhores planificadores regionais do período
colonial.
Fig. 24 - Planta básica da Aldeia Maria para os índios Guaiapós. Goiás, 1782.
Um último administrador
esclarecido desse período é digno de menção: Luís da Cunha Menezes, governador
de Goiás de 1778 a 1783. Como seus coirmãos supra comentados, Menezes considerava
a disposição urbana ordenada como um instrumento eficaz para manter controle
sobre os seus governados. Isso é evidente na comunidade regulamentada que ele
planejou para os índios caiapós, recentemente pacificados (Figura 24),63 e em São José de Mossamedes (Figuras 25A e
25B),64 uma povoação indígena a oeste de Vila Boa. Em
Mossamedes, a monotonia costumeira das comunidades construídas pelo governo foi
atenuada pelo detalhe decorativo de cornijas festonadas nos prédios dos lados
norte e sul da praça principal. Além disso, o lado sul foi ornamentado com uma
arcada de dois estágios rebuscada que lembrava a entrada da praça do Comércio,
em Lisboa. Outro ornato original eram as torres localizadas nos cantos da
praça. Consoante a legenda da Figura 25A, a
perfeição tanto do exterior como do interior devia ser imputada ao
governador Menezes. Entretanto, os melhores esforços do governador no campo da
planificação urbana concentraram-se em Vila Boa, a capital da província. Apesar
de essa vila ter sido uma das primeiras comunidades subordinadas ao código
urbano, era dolorosamente claro para o governador, quando ele assumiu o governo
em 1778, que as ordens iniciais não haviam sido obedecidas. Seu antecessor no
governo de Goiás, José de Almeida de Vasconcelos, tinha tentado reformar um
pouco a vila durante o seu mandato (1772-1778), mas havia se contentado com
pequenos melhoramentos na pavimentação das ruas e com o reparo da ponte.65 Cunha Menezes atacou o
problema com seu extraordinário entusiasmo e sua predileção pela perspectiva
ordenada. Numa declaração clássica dos objetivos da planificação de vilas
portuguesas, o governador explicou ao ouvidor da comarca de Vila Boa as razões
por que a comunidade precisava ser realinhada. Relacionando a regularidade da configuração
das ruas com a regularidade do comportamento, Luís da Cunha Menezes expôs a
teoria de que a boa administração começava com a construção de vilas correta.
Se uma perspectiva agradável pudesse ser conseguida por meio do alinhamento das
ruas e da uniformização das fachadas, então se podia esperar que os habitantes
da localidade seguissem o exemplo mostrassem uma conduta civil decente. Assim
sendo, o governador propunha que daí por diante todos os prédios a construir e
reconstruir em Vila Boa se ajustassem a um plano diretor, para que a capital
provincial pudesse compartilhar do
sistema praticado em todas as nações mais civilizadas da Europa.66
Fig. 25 A, Detalhe de São José de Mossamedes, Goiás, 1801.
A intenção do plano diretor de
Menezes é enunciada claramente no parágrafo inicial da sua legislação de
planejamento:
Desejando evitar doravante a mesma irregularidade com que os fundadores
desta capital construíram os prédios, que estão estragados pelo desalinhamento,...
eu determino que a partir de agora a nova forma apresentada nos parágrafos a
seguir seja cumprida sem infrações, do que resultarão benefícios, não só para a
povoação em si como para os seus habitantes.67
A primeira prescrição da lista de
reformas urbanas do governador foi a exigência de que não se poderia mais
construir fora do perímetro urbano, visto que muitas das ruas já existentes
eram pouco povoadas. Além disso, todas as novas habitações não só tinham de ser
localizadas em ruas alinhadas como deveriam obedecer às normas relativas à
uniformidade das fachadas, a fim de manter uma
perspectiva agradável e a civilização. Para a praça da vila onde o alto
custo impedia a reconstrução das casas dentro das novas proporções, o governador recomendou que todos os prédios
fossem pintados numa mesma cor, obtendo-se assim uma aparência de regularidade.
O arruador da vila (fiscal demarcador) foi encarregado da execução do projeto;
ele seria orientado por um plano diretor 68 que continha desenhos de ruas
recém-mapeadas e de fachadas possíveis para os prédios da praça principal. A
regularidade dos novos elementos urbanos representava um contraste total com o
núcleo aleatório da vila, resultante da construção apressada dos anos 1730.
Fig. 25 B. Planta básica em perspectiva de S~]ao José de Mossamedis, 1801.
Como seus contemporâneos José
Xavier Machado Monteiro, Antônio de Souza e Luís de Albuquerque, Luís da Cunha
Menezes estava convicto da necessidade de regulamentar o desenvolvimento
urbano. Trabalhando em regiões geograficamente longínquas e economicamente
atrasadas da colônia, esses administradores conseguiram criar redes urbanas modernas e economicamente eficientes. Os
índios e os errabundos afetados por esses planos regionais foram submetidos a
um meio europeu até então desconhecido nas zonas provincianas. O objetivo final
desses administradores era aquele atributo impalpável de civilização; e uma comunidade urbana estritamente controlada era o
primeiro passo para introduzir aquele atributo no Brasil. Porém,
racionalizações altruísticas à parte, era claro que a Coroa é que tinha a
ganhar, como a maior beneficiária das mudanças introduzidas no interior; ordem
e regularidade no nível local assegurava o controle absoluto sobre toda a
colônia.
N o t a s :
(1) Uma grande parte do material deste capítulo foi publicada em Planners and Reformers: Urban Architects of
Late Eighteenth Century Brazil, de Roberta Marx Delson, in
Eighteenth-Centuol Studies,vol. 10, n" 1 (outono de 1976), pp. 40-51.
2) Ver também minha comparação dos planos de colonização
pós-1964 com as colônias subsidiadas do século XVIII. R. M. Delson, Colonization and Modernization, op.
cit., pp. 281- 313.
(3) Tomás Canceiro de Abreu, Relação
sobre as villas e rios da Capitania de Pôrto Seguro, in ABNRJ, vol. XXXII
(1914), p. 38.
(4) Relatório do Ouvidor de Porto Seguro, José Xavier Machado
Monteiro, Porto Seguro, abril de 1773. AHU-CA, Bahia, 8581.
(5) "Leis municipais e provinciais para o bom governo da
nova Vila Viçosa", de 24 de fevereiro de 1769. AHU-CA, 7974, apenso ao
7972.
(6) Essa determinação seguiu os padrões gerais de comportamento
estabelecidos pelos portugueses para as comunidades indígenas. Ela é mencionada
nas Instrucções para o governo dos Indios
da Capitania de Pôrto Seguro enviadas a Machado Monteiro, documento datado
de 27 de julho de 1777. AHU-CA, Bahia, 9494, anexo ao 9492.
(7) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto Seguro, 24 de
fevereiro de 1769. AHU-CA, Bahia, 7972.
(8) Ibidem, ". . . o devido formulário".
(9) Figura 15 - Planta básica de Vila Viçosa, aproximadamente
1769. AHU-Iria, n2 179; Figura 16 - Planta da nova vila de Portalegre,
aproximadamente 1772, AHU-Iria, n2 180; Figura 17 - Planta da nova vila de
Prado, aproximadamente 1772, AHU-Iria, n2 181.
(10) Ver a explanação sobre Macapá.
(11) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto Seguro, 10 de maio
de 1770. AHU-CA, Bahia, 8215.
(12) Por este modo ... todos
os moradores (ficão) huns sem inveja dos outros. In "Provimentos e instrucções
do Ouvidor... Machado Monteiro, relativos a fundação da Villa Viçosa",
Porto Seguro, 1768, AHU-CA, Bahia, 7975.
(13) "Relação individual do. . . Ouvidor da Capitania de
Porto Seguro... desde o dia 3 de maio de 1767 athé o fim de Julho de
1777", AHU-CA, Bahia, 9147.
(14) De acordo com o "Mappa e descripção da Costa, Rios e
seus terrenos, de toda a Capitania de Porto Seguro... feito e examinado pelo
Capitão-mor João da Silva Santos... Principiado em abril de 1803". AHU-CA,
Bahia, 27.113, apenso ao 27.008.
(15) Carta de Dom Luiz Antônio de Souza ao Conde de Oeiras (um dos
dois títulos nobiliárquicos do Marquês de Pombal), de São Paulo, 23 de dezembro
de 1766.
(16) Dauril Alden, Royal Government
in Colonial Brazil, p. 460.
(17) Carta de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de
dezembro de 1766, DIHSP, vol. XXIII, pp. 40-43.
(18) "Ordem para que os moradores se ajuntem em Povoações
civis de cincoenta vizinhos para cima". Souza faz referência a essa ordem
na sua correspondência com o Conde de Oeiras de 23 de dezembro de 1766. DIHSP,
vol. XXIII, p. 8.
(19) "Portaria que levou o D.or Juiz de Fora quando foi para
Santos", de São Paulo, 15 de se-tembro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fls.
67-68v.
(20) Mathias Leme tinha o prazo de 15 dias para se mudar para
"qualquer lugar arruado". São Paulo, 19 de setembro de 1768, BNRJ-RC,
Lista 1, fl. 164.
(21) Em 1769 Souza resolveu que o arraial de Faxina, situado entre
Curitiba e Sorocaba, tinha "bastante numero de moradores, e suficientes
cazas arruadas para se lhe poder dar o nome de Vila", BNRJ-RC, Lista 1,
fl. 164. São Paulo, 29 de junho de 1769.
(22) "Ordem p.a Se Suspender
a Capela de S. Ant.o de Mogiguasu...". São Paulo, 15 de novembro de 1769.
BNRJ-RC, Lista 1, fls. 178v-179.
(23) Correspondência do Ouvidor de Parnagoa [sie] a Luís Antônio
de Souza, de Santos, 2 de fevereiro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 24. Essa
isenção incluía tanto os ajudantes como os ordenanças.
(24) Correspondência de L. A. de Souza ao Conde de Oeiras, de São
Paulo, 9 de fevereiro de 1768, DIHSP, vol. XXIII, p. 418.
(25) Planta de Guaratuba in "Cartas Corographicas e
Hidrographicas de toda a Costa e Portos da Capitania de São Paulo... levantadas
pelo Coronel João da Costa Ferreira" (1790?). SGL, MS, n2 57.
(26) "Officio de José Custódio de Sá e Faria ao
Capitão-General Martim Lopes Lobo de Sal-danha", de São Paulo, 22 de
fevereiro de 1776. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 17.
(27) Correspondência de Luís Antônio de Souza ao Conde de Oeiras,
de São Paulo, 24 de de-zembro de 1766, DIHSP, vol. XXIII, p. 38. (28)
Correspondência de Luís Antônio de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24
de dezembro de 1766. DIHSP, vol. XXIII, p. 38.
(29) Esse fato foi assinalado por L. A. de Souza em sua carta ao
Conde de Oeiras de São Pau-lo, 27 de março de 1767. DIHSP,vol. XXIII, p. 150.
(30) Os termos (limites legais) de Curitiba, em Santa Catarina, e
Viamão, em Rio Grande de São Pedro, não haviam sido fixados definitivamente.
Assim sendo, quando Luís Antônio de Souza autorizou o capitão-mor Antônio
Correa Pinto a localizar uma nova comunidade entre esses dois núcleos urbanos
já existentes, automaticamente lançou o seu agente num litígio jurisdicional
inconcluso. Ver Américo Brasilense Antunes de Moura, "Governo do Morgado
de Mateus no vice-reinado do conde da Cunha: São Paulo restaurado", in
Revista do Arquivo Municipal (São Paulo), vol. LII (1938), pp. 9-155.
(31) "Ordem para que todos os moradores do Certão das Lagens
fação Cazas na Villa que se manda formar naquela paragem", de São Paulo, 6
de agosto de 1768. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 131v.
(32) Os conceitos de planejamento de L. A. de Souza para Lages
estão especificados na sua "Portr.a para formatura da nova Villa do Certão
das Lagens", de 1Q de agosto de 1768. BNRJ-RC, Lista 1, fl.131. Consoante
esse documento, o governador de São Paulo ordenou que "esta [Lages] seja
formada em quadras de sessenta, ou oitenta varas [metros] cada hua, e dahy para
cima, e que as ruas sejão de sessenta palmos de largura, mandando formar as
primeiras cazas nos angulos das quadras, de modo que fiquem os quintaes p.a
dentro a intestar huns com os outros". Esse desenho, em que os cantos das
quadras seriam chanfrados, pode parecer muito com a planta de Balsemão (cf.
Figura 10).
(33) Manuel Joaquim Almeida Coelho, Memória Histórica da Província
de Santa Catharina (Typographia Desterrense, Desterro, 1865), pp. 178-179. Um
esquema do século XVIII da comunidade encontrado no "Diário da rotina da
expedição exploradora chefiada pelo Brigadeiro José Custódio de Sá Faria,
1774-1776" (AHI, Lata 288, Maço 6, Documento 1) confirma o emprego de uma
disposição em malha ortogonal no traçado inicial. O governo atualmente proíbe a
reprodução desse mapa em virtude da categoria em que o documento foi
classificado.
(34) Victor Peluso Júnior, "Tradição e plano urbano: cidades
portuguesas e alemãs no estado de Santa Catarina", in Boletim Geográfico,
ano XIV, na 133 (1956), pp. 335, 352 et passim.
(35) DIHSP , vol. XXIII, p. 42, nº
1. Essa parece ser a explicação mais plausível.
(36) Correspondência do governador L. A. de Souza ao Conde de
Oeiras, de São Paulo, 17 de setembro de 1765. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 12.
A sua descrição mordaz da vida dos índios entre os jesuítas não é diferente da
de Robert Southey, que publicou um relato do Brasil no começo do século
seguinte. Ver o subtítulo "The Guarani Mission: The Despotic Welfare
State" (A missão guarani: o despótico Estado do bem-estar social) da sua
History of Brazil (2 vols., Londres, 1817), reeditado em Magnus Mõrner
(editor), The Expulsion of the Jesuits from Latin America (Alfred A. Knopf,
Nova York, 1965), pp. 55-62.
.
(37) Correspondência de L. A. de Souza a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, de São Paulo, 4 de julho de 1767. BNRJ-RC, Lista 2, f1.7.
(38) "Ordem p.a ser Director José Fry da Aldea de
Carapicuiba", São Paulo, 12 de julho de 1769. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 165v.
De acordo com essa ordem, os índios deveriam ser reunidos e receber casas em
ruas alinhadas a fim de poder viver com a "civilidade apropriada".
(39) Uma análise dessa oposição pode ser encontrada em Dauril
Alden, Royal Government in Colonial Brazil, pp. 462-465.
(40) Figura 10 -- "Demonstração da Praça de N. S.ra dos
Praseres", BNRJ-SI, Arq. 23-10-6 (o forte é mencionado ora como Praseres,
ora como Iguatemy, por causa do rio junto ao qual se situava).
(41) Ver "Portr.a p.a o Sargento-mor . . . completar a
erecção da nova V.a da Faxina no termo de seis mezes", São Paulo, 16 de maio
de 1772. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 312-313.
(42) Por exemplo, as ordens para usar de regularidade no desenho
das edificações são repetidas na "Ordem p.a o Sarg.to. . erigir hua
Povoação . chamada Caraguatatuba", São Paulo, 27 de setembro de 1770.
BNRJ-RC, Lista 1, fl. 205.
(43) Uma análise dos planos econômicos de L. A. de Souza para as
zonas a desenvolver pode ser encontrada em Ernâni Silva Bruno, Viagem ao Pais
dos Paulistas (José Olympio, Rio de Janeiro, 1966), pp. 83-104 et passim.
(44) David M. Davidson, op. cit., p. 145.
(45) Ibidem, pp. 140-227.
(46) Ver o Capítulo VIII, seguinte.
(47) David M. Davidson, op. cit., pp. 191-192.
(48) Ibidem, p. 198.
(49) Figura 20A — "Perfil da Povoação de Albuquerque",
1784, MU-CI n2 15; Figura 20B — "Plano da direcção e forma con que se acha
estabelecida a Povoação de Albuquerque", sem data, MU-CI, n2 16.
(50) "Termo de Fundação de Vila Maria do Paraguay", de 5
de junho de 1779, IHGB, Lata 61, Doc. 11.
(51) Carta de Luís de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres a
Martinho de Mello e Castro, apen-sa ao "Termo de Fundação", IHGB,
Lata 61, Doc. 11. Ver também J. C. Freitas Barros, Um Quadro e uma Figura: O
Mato Grosso e Luís de Albuquerque (Lisboa, 1951). Segundo esse relato, o número
de índios reassentados em Vila Maria foi de 78. Além deles, outros colonos
foram atraídos para a nova comunidade, e àquela altura a população total era de
239 habitantes (ver p. 13). Outra sinopse da fundação de Vila Maria pode ser
achada em "Vila Maria do Paraguay e providencias para o seu
engrandecimento", ia RIHGB , vol. XXVIII, n21 (1865), pp. 110-117.
(52) Figura 21A — "Planta de Villa Maria do Paraguay",
1784, MU-CI, n2 68A; Figura 21B — Villa Maria, sem data, MU-CI, n2 45.
(53) Virgílio Correa Filho, "Luiz de Albuquerque: fronteiro
insigne", in Anais do Terceiro Congresso de História Nacional (Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, 1942), p. 196.
(54) Isso está registrado nos ofícios do governador Luís de
Albuquerque a Martinho de Mello e Castro (1772-1800). AHI, Lata 266, Maço 1,
Pasta 12.
(55) Virgílio Correa Filho, As Raias de Mato Grosso (São Paulo,
1925), vol. IV, p. 99.
(56) Correspondência de Luís de Albuquerque a Martinho de Mello e Castro
(1772-1800) de 26 de novembro de 1763. AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 12, Doc. D.
(57) "Planta da nova povoação de Cazalvasco..., erigida no
anno 1782", MU-CI, n2 A1.
(58) vide M. Davidson, op. cit., assinalou diversas transações
ocorridas em Casalvasco já em 1784. Ver o seu Apêndice 4, Quadro K, p. 462.
(59) O Forte de Príncipe da Beira também foi construído sob a
orientação de Albuquerque. Para obter dados sobre as barganhas feitas no forte
e em Vila Bela, ver ibidem.
(60) O documento em que esse plano regional está exarado não tem
assinatura nem data, mas parece ser da lavra do governador Luís de Albuquerque.
Está contido em "Documentos com diversas anotações sobre a região, 1772-
1805", AHI, Lata 266, Maço 2, Pasta 4.
(61) "Diário da diligencia da Comissão chefiada pelo
Engenheiro Ricardo Franco, 1785- 1786". Essa observação foi feita em junho
de 1786. AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 21.
(62) "Planta da Vila de Corumbá. ... Outubro de 1876",
MIGE n2 1175.
(63) Figura 24 — "Plano projeto de hu [um] novo
estabelecimento de In:lios da Naçao Cayapo margem do Rio Fartura e denominado
Aldeya Maria... . 1782". AHU-Iria, n2 84.
(64) Figura 25A — "Perspectiva da Igreja e Quarteis da Aldeia
de S. Jozé de Mossamedes. 1801"; Figura 25B — "Aldeia de S. Jozé de
Mossamedes", aproximadamente 1801. Ambos os mapas pertencem ao acervo da
Biblioteca Municipal de São Paulo, MS D3.
(65) Ernâni Silva Bruno, Grande Oeste, vol. VI, História do
Brasil, pp. 66-67. O Capítulo IV contém uma análise da evolução de Vila Boa.
(66) Carta do governador Luís da Cunha Menezes ao Ouvidor Antônio
José Cabral de Almeyda contendo instruções sobre o realinhamento da vila,
datada de Vila Boa, 28 de dezembro de 1778. BNRJ, IV-13-14-10, Documento 17.
(67) Roteiro para o realinhamento de Vila Boa, sem assinatura nem
data. Esse documento provavelmente foi escrito em 1778 por Cunha Menezes. Faz
parte do acervo da BNRJ, IV-14-4-10, Documento 16.
(68) Ver as Figuras 5A e 5B, no Capítulo IV.