Frank Svensson – Brasília 2001.
Vista aérea da Villa Médicis, onde funcionava a Academia Francesa em Roma. Montigny, laureado bolsista do Prix de Rome, foi designado Secretário da Academia pelo Clube dos Artistas Revolucionários de Paris. In Falda: Giardini de Roma.
Estado da propriedade – Fim do século XVI, início do século XVII.
Acesso aos jardins da Academia. Da parte posterior do prédio vê-se |Roma.
Estado dos jardins no século XVII. Gravura de Falda.
A aproximação com a antiguidade
era entusiástica, porém desconexa. O reconhecimento da importância do
conhecimento histórico quanto à arquitetura implicava saber escolher, na grande
variedade de elementos arquitetônicos, os apropriados, corretos. Implicava
abandonar os cânones da composição da arquitetura clássica e discutir se
proporções e ordens enunciadas por um teórico eram preferíveis às enunciadas
por outro.
Sobretudo em mansões de
banqueiros ou outros favorecidos pelo capitalismo ascendente e contrariando
hábitos de velhos arquitetos, os jovens aplicaram com liberdade valores e
elementos observados na. arquitetura da antiguidade. À medida que a clientela
dos arquitetos aumentava, abandonava-se a padronização desses elementos que
constituíram a característica essencial da arquitetura clássica.
Em que pesem as implicações dos
câmbios econômicos, as mudanças de expressão arquitetônica ligaram-se a
questionamentos de ordem conceptual e a uma nova forma de saber: o conhecimento histórico.
Necessitava-se esclarecer como ordenar e dar praticidade às informações
advindas da leitura da arquitetura da antiguidade.
Voltaire (François Marie de
Arouet) é visto como pai da historiografia, primeiro historiador moderno. Seus
livros Luís XIV e sua Época (1751) e Ensaio de História Geral e dos Costumes
(1754) indicam um novo enfoque da história e permitem abrirem-se caminhos para
o pensamento arquitetônico.7
Voltaire mostra a transformação (el cambio) como elemento a ser
considerado fundamental pelo conhecimento histórico; que como expressão de
mudança da realidade o câmbio lhe é mais característico do que a condição
permanente. A história da arquitetura passou a se preocupar com sua evolução.
Em meados do século XVIII, os arquitetos veem a arquitetura como seqüência de
formas cambiantes. Passa-se a querer ajudar a história propondo formas novas
revolucionárias como as de Ledoux, Boulée e Lequeu.8
Tido como historiador social
pioneiro, Voltaire preocupava-se mais com o progresso cultural do que com
sucessos políticos e militares. Em Luís XIV e sua Época, nos 3 capítulos sobre
Belas Artes, quase não menciona a arquitetura. No artigo "Historia",
de A Enciclopédia, afirma que a
história da arte é a mais útil delas, e se torna o primeiro a incorporar a
história da arte à da civilização. O enfoque de Voltaire não favorece meramente
a descrição do havido. Inclui a crítica sobre o havido, excluindo de seu
interesse fábulas que julgara serem a base do fanatismo, da credulidade. No
havido estava o que devia ser valorizado e o que podia ser desprezado. Noutras
palavras, o conhecimento histórico exigia formulações teóricas que definissem o
que considerar prioridade. Ate então não se duvidara da explicação mítica de
Vitruvius nem da explicação de Tito Lívio sobre as origens de Roma.
C. N. Ledoux: Habitação para trabalhador rural. Maupertui, (-1780).
C. N. Ledoux: Habitação para trabalhador rural. Maupertui, (-1780).
E. L. Boullée: projeto de cenotáfio para Isaac Newton, 1784,
.
Como comprovar a autenticidade de
origens e fatos históricos substituiu as velhas mitologias pelos argumentos
racionais. As formas da antiguidade consideradas autênticas foram tomadas como
protótipos históricos reais. A pesquisa das origens históricas da arquitetura
passou a ser tanto ou mais importante que a leitura dos 10 livros de Vitruvius.9
Os textos de Voltaire reportam-se
à ideia de progresso como tendência, no sentido do aperfeiçoamento. O avanço na
ciência e na indústria estimulou os pensadores a sustentarem-no para as artes,
e Voltaire concebeu a história como universal. Antes dele, história universal
relacionava-se essencialmente a cristianismo. Do mesmo modo, o que se escreveu sobre
arquitetura ficou limitado às formas dos elementos de uso comum. Criticando
Bossuet por não haver mencionado muçulmanos e hindus, Voltaire abriu caminho
para estudos de todas as civilizações, à parte a relação com a cultura
greco-romana. A arquitetura, em qualquer cultura, passou a interessar ao
conhecimento arquitetônico.
A Idade Média chamou a atenção de
Voltaire. As teorias arquitetônicas da Renascença haviam desprezado a
arquitetura medieval. Ele englobava como importantes não só as culturas de todos
os povos, como as de todos os tempos. Mais tarde na Inglaterra (não na França)
desenvolveu-se rapidamente o interesse pela arquitetura medieval, induzindo os
novos industriais a quererem mansões em estilo neogótico. Deve-se a Voltaire a
atitude nova de respeito ao oriental e aquilo que os ocidentais viram como
exótico. A idealização daquilo que está distante no espaço e no tempo veio a
ser um dos principais traços do romantismo arquitetônico. A busca racionalista
de instrumentos teóricos para formular o conhecimento histórico surgia mesclada
de considerações sensoriais.
O pensamento de Voltaire integra
os câmbios ligados à ascensão da burguesia inicialmente progressista. O novo
conhecimento histórico desencadeado por suas teorias e vital para se entender a
arquitetura ligada às grandes revoluções democráticas burguesas e está também
na base da teorização do romantismo que tão fortemente a caracterizou.
Voltaire indicava a antiguidade como maior fonte do belo e do autêntico em arquitetura. Bonaparte queria transformar Roma em capital do Império Francês e do Mundo. Iniciava-se a História do restauro e da preservação arquitetônica.
Coliseu – Arena após escavações. S. Pomardi 1813. Bibliotecca degli Annali dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto C. Guidotti.
Coliseu – G. Balzar 1822. Bibliotecca degli Annali dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto C. Guidotti.
Forum Romano, 1822. L. Rossini - Bibliotecca degli Annali dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto G. Guidotti.
Forum Romano, 1829 G. Cottafavi - Bibliotecca degli Annali dell’ Instituto di correspondenza archeologica. Roma. Foto G. Guidotti.
N o t a s :
9. L. Hautecoeur - História
Geral da Arte. São Paulo, 1964.
10. P. Collins: Los Ideales
ele la Arquitectura Moderna; Evolución (1750-1950).
11. Ídem.
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