Frank Svensson – Brasília 2001.
Com base no desenvolvimento da
filosofia clássica alemã, na economia política inglesa e em críticas e análises
formuladas por socialistas utópicos e historiadores materialistas, Marx,
discípulo de Hegel, dedicou-se a esclarecer a correspondência entre a base
ma-terial da sociedade e a ciência social. Diferentemente de contemporâneos
seus, Marx preocupou-se em encontrar resposta quanto à formação da
materialidade social e também quanto ao futuro da sociedade humana. O
materialismo histórico surge como teoria, um método de estudo das leis gerais
do desenvolvimento socia1.21
Marx admite existirem leis que
regem o desenvolvimento da sociedade, entende a história como processo natural,
com leis objetivas e independentes das vontades individuais. Não exclui do
homem o papel de ator da história, mas interpreta a ação dos indivíduos sobre o
desenvolvimento histórico como relativa. Assegura-lhes a consciência de deverem
considerar categorias, leis e princípios teóricos da história em favor do
progresso material e espiritual da sociedade. A relatividade está ligada à lei
da necessidade histórica, pela qual o conhecimento da necessidade objetiva e
sua apli-cação no interesse dos homens constitui a liberdade. Do homem se
reconhece a aptidão de influir na história e no destino da humanidade, mas ele
só alcançará o máximo de liberdade com o mínimo de conflitos quando suas
iniciativas satisfizerem necessidades históricas. Este enfoque conceitual é
contra as teorias do liberalismo, do neoliberalismo e as diferentes formas de
anarquismo.
No materialismo histórico
destaca-se a lei da prioridade ontológica da matéria sobre o sujeito. Dela decorre
a teoria do reflexo e do aprofundamento, que considera como forma de reflexo da
realidade externa ao pensamento a consciência atingida pelo ser humano. Em
busca da verdade, segue um aprofundamento que inclui a prática e o
desenvolvimento de instrumentos próprios à capacidade de pensar dos homens.
Ao enunciar que a história das
sociedades que existiram até os nossos dias é a história da luta de classes,
Marx estabeleceu princípios fundamentais para estudar a sociedade: classe
social e luta de classes. Do conceito de classe social e da teoria da luta de
classes pode-se lograr uma análise objetiva da atividade dos homens na sociedade
classista, torna-se impossível obter conhecimento fidedigno quanto a homens sem
esclarecê-lo à luz do lugar que ocupam num sistema de relações e sem estabelecer
suas diferenças, a partir de sua
posição quanto a meios de produção. Indispensável definir o papel que desempenham
na organização social do trabalho, o modo como e a proporção em que desfrutam
da riqueza social. Por isto, o conceito de classe e a teoria da luta de classes
constituem elementos do marxismo que o pensamento burguês do atual momento de
decadência do capitalismo quer desvirtuar.
A existência de classes sociais
revela-se na vida econômica e transcende-a para expressar-se no plano das
políticas nacional, internacional e em toda a vida espiritual da sociedade, na
esfera da ideologia. Como ação e conhecimento humano implicam ação recíproca
entre sujeito e objeto, entre necessidade e realidade, o reconhecimento da
existência de classes sociais e das contradições entre seus interesses é ponto
de partida da abordagem de problemas da ação e do conhecimento humanos.
A Formação socioeconômica é a
categoria de mais amplo conteúdo no sistema de categorias do materialismo
histórico. Constitui o eixo sobre o qual se apoia esse sistema, unindo
fenômenos e processo sociais. Congrega os elementos necessários à integração
funcional das questões referentes a atividades humanas, da base produtiva ao
modo de expressão na política e na arte. Considera condicionantes naturais para
a vida em sociedade um meio ambiente geográfico e determinada quantidade de
habitantes. Sem intercâmbio com a natureza, impossível pensar atividades
produtivas. Mas o ambiente geográfico não é determinante para a vida social porque
favorece ou dificulta o desenvolvimento social.
O montante populacional
representa outra importante condição: a produção se dá com homens, cujo
trabalho constitui a poderosa força capaz de submeter a Natureza às
necessidades humanas. Da ação recíproca entre meio ambiente geográfico e
população configura-se um modo de produção que caracteriza forças produtivas,
meios de produção e relações de produção. Os homens ativos são a principal
força de produção, contudo só exercem atividade dentro de formas socialmente
organizadas, de relações de produção baseadas na propriedade dos meios de
produção. Distribuição e usufruto dos bens produzidos também têm base na forma
de propriedade desses meios. O conceito de formação socioeconômica permite
diferenciar historicamente a escravagista, a feudal e a capitalista em que
vivemos, além de delinear a sucessória, comumente caracterizada socialismo.
Como o movimento histórico
obedece a tendências, perpassa uma multitude de concretos fatores históricos do
desenvolvimento social humano. O mundo das ideias e das instituições, para o
materialismo histórico, é a ação recíproca entre a infraestrutura ativa da
formação socioeconômica e sua superestrutura. À superestrutura atribui-se
independência relativa da infraestrutura que se expressa, inclusive na continuidade
da primeira. Mudanças na superestrutura não são o desaparecimento instantâneo
dos traços da antiga superestrutura. A estrutura modifica-se como globalidade,
mas conserva resquícios da velha estrutura, principalmente os elementos úteis
às novas classes.
A sociedade capitalista burguesa
aproveita-se de elementos de dominação do feudalismo que lhe possam ser úteis
para exercer o poder sobre o proletariado, a nova classe social. Para outras
áreas de conhecimento, materialismo histórico significa unidade integradora
entre teoria e método à qual relacionar o estudo da sociedade em suas formas
particulares. Com seu auxílio garante-se eficiência à interdisciplinaridade.
Arquiteto, economista, pedagogo, historiador podem orientar-se em seus campos
integrando-se ao conhecimento do todo da realidade, em suas manifestações
concretas. Por meio do materialismo histórico-dialético, a formação socioeconômica
ulterior ao capitalismo se evidencia ligada ao reconhecimento de que as áreas
do conhecimento humano formam entre si uma totalidade, reflexo da totalidade do
mundo material.
N o t a s :
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